25 de fevereiro de 2019

Ideias ao Longo do Caminho - 17

Um Uso Sábio do Tempo Evita
Tanto a Pressa Como a Postergação

Carlos Cardoso Aveline




* Quando a alma aceita em paz a existência de um espaço psicológico vazio, o resultado é a liberdade interior. O “esvaziamento” é uma bênção. A pura inteligência presente no nada contém o universo manifestado. Todos os números estão contidos no zero, e cada som será encontrado no silêncio.

* Talvez seja porque as almas não têm peso que o caminho até o céu consiste de Espaço Vazio. Se “não temos coisa alguma” - isto é, se reconhecemos honestamente que no fundo não “possuímos” nada - então podemos alcançar a consciência da nossa unidade com o Cosmos.

* A eternidade está aqui e agora, e o aqui-agora existe na eternidade. Nós vivemos no tempo infinito. No entanto, não seria correto deixar para amanhã o que pode ser feito hoje.

* Cada momento deve ser completo em si mesmo. O equilíbrio e a firmeza interior são necessários em tudo.

* Concentração é a capacidade de um indivíduo de estar situado em seu próprio coração, ao mesmo tempo que permanece atento aos seus deveres e os cumpre tão bem quanto possível, sem nada esperar em troca, no plano pessoal.

* O estado do discernimento corresponde a um nível da mente que nos permite transferir o foco da consciência desde o mundo manifestado para o mundo da unidade interior. E a recíproca é verdadeira. Quando o estudante de teosofia deseja trilhar o caminho de volta, desde o mundo da unidade interior para o mundo da diversidade externa e do contraste, o discernimento é novamente a porta, a chave, e o instrumento decisivo.

* Quem está livre da ilusão infantil de ter “contato pessoal com mestres” sabe que os contatos verbais, visuais e do nível do eu inferior com Raja-Iogues dos Himalaias terminaram na última década do século 19. No entanto, é um fato que a voz do Mestre está disponível em toda parte, a qualquer momento. A voz do instrutor, um som sem som e sem palavras, é, basicamente a voz da sua própria alma, e da alma de todas as coisas.

* A nossa visão do mundo é um espelho do estado da nossa alma. Quando o contato de alguém com sua alma imortal está suficientemente forte e ativo, o indivíduo tem coragem de ver os fatos da vida de um modo severo e ao mesmo tempo mantém uma atitude positiva em relação ao futuro. Os outros podem, então, considerá-lo um otimista.

* Por outro lado, se alguém tiver sentimentos negativos em relação ao seu próprio futuro como alma, ou sofrer de pessimismo em relação ao futuro da humanidade (ou do seu país), cabe reexaminar a sua relação com os níveis superiores da sua consciência. O melhor é reforçar este contato.

* Em teosofia, criatividade implica um grau de indiferença em relação às coisas materiais. É necessária determinação para abrir um caminho ali onde aparentemente não há como avançar.

* A ação criativa não é algo óbvio ou fácil de ver. Significa aceitar a rotina até onde ela for inofensiva para o processo de renovação da vida. O indivíduo criativo é incondicionalmente paciente em situações saudáveis, não porque ele gosta da continuidade em si mesma, mas porque desenvolveu uma relação profunda com o Tempo, e possui desapego em relação às coisas de curto prazo.

* Toda linha de tempo possui esquinas e pedras angulares. Um estudante que sabe onde vai é capaz de provocar uma mudança súbita, se o carma da situação o exige, ou se a oportunidade é adequada; ou se a mudança vai produzir uma melhora durável na vida.

* Embora a filosofia esotérica use palavras, ela não pode ser compreendida no nível verbal. Em teosofia, os conceitos e as ideias são veículos externos da verdadeira compreensão. É estando em unidade com o objeto observado que realmente aprendemos sobre ele.

* As palavras são mensageiras da verdade, a menos que sejam a sua prisão. Ideias e frases podem apontar para os fatos: não podem substituí-los. Uma total sinceridade é necessária, para que haja comunicação de fato.

* A superficialidade se expressa frequentemente através de um sentimento de pressa e da sensação de que não há tempo suficiente para fazer tudo o que deve ser feito. Um ponto de vista realista mostra que a ansiedade é desnecessária.

* Tentativas de acelerar artificialmente acontecimentos externos revelam que o peregrino não compreendeu o ritmo da vida e não está em harmonia com ele. Uma aceleração descuidada dos fatos produz perda de energia.

* O uso sábio do tempo evita tanto a procrastinação como a pressa. A ação correta pode ser rápida como o relâmpago, e firme como uma montanha rochosa diante do vento.

* A prática de Tapas, ou austeridade, protege quem busca adotar uma visão sábia do mundo. À medida que o estudante de teosofia desenvolve uma sensibilidade mais alta, ele precisa consolidar hábitos saudáveis nos níveis externos da existência.

* Enquanto o foco central é transferido dos aspectos físicos da vida para faixas mais sutis de vibração, o buscador da verdade se estabelece no bom carma de suas ações passadas. Ele combina a construção concreta de ritmos pessoais saudáveis com o desenvolvimento abstrato de percepções mais amplas da vida. Os bons hábitos semiautomáticos o protegem de armadilhas e ajudam em cada tarefa que desempenha.

* Segundo a Ioga de Patañjali, a mente e a alma do ser humano adotam a forma daquilo em que se concentram. A mente estreita é aquela que gira em torno de temas pequenos. A alma sábia é ampla porque está focada em temas universais. Em consequência disso, o estudo de obras teosóficas como “A Doutrina Secreta” e “Ísis Sem Véu” possui poderosos efeitos práticos sobre a vida diária do indivíduo. As suas consequências revolucionárias não são necessariamente visíveis no curto prazo.

* Há aspectos desafiantes no estudo de temas como a teosofia do cosmos e a evolução de longo prazo da nossa humanidade. Somos confrontados com ideias complexas, que só uma mente de horizontes largos, por um lado, e dotada de grande precisão, por outro lado, pode compreender.

* Enxergar a ética teosófica do eu superior e viver à altura dela é mais difícil do que parece à primeira vista. São os princípios éticos da teosofia que liberam o estudante de pontos de vista ilusórios, permitindo que ele compreenda de fato a filosofia esotérica.

* À medida que o peregrino estuda, a sua mente e o seu coração se ampliam, sua vida fica mais simples e ele começa a aprender o verdadeiro ABC da sabedoria mística.

* O peregrino que busca a verdade deve ter a audácia de quem é pessoalmente ambicioso, e o autoesquecimento daquele que nada deseja para si. A firmeza e o desapego irão brilhar em momentos diferentes, e podem ser invisíveis para os outros.

* As aparências enganam a maior parte das pessoas. A coragem generosa é vista com frequência como arrogância. A humildade é carimbada como ausência de valor. O fato é que a real sabedoria não tem proprietários e não pode ser facilmente detectada no plano visível.

* O conhecimento divino é como o ar que se respira: invisível para os muitos. Só a sabedoria presente na consciência de alguém pode ver a sabedoria presente nos outros, e permanecer livre da crença cega, e pensar o melhor.

* Por mais nobre que seja, uma vontade vaga e sem base sólida não basta. O altruísmo necessita eficiência. Cinco pessoas que sabem o que querem e trabalham com paciência pelo bem da humanidade exercem mais influência, num plano essencial, do que quinhentos indivíduos desinformados ou cinco mil mentes confusas.

* Uma visão integrada do mundo é essencial. É falsa a “espiritualidade” que nega as dificuldades da vida ou foge delas. A sabedoria do universo só pode ser compreendida em nossa existência diária.

* A cada ciclo de 24 horas encontramos fracasso, medo e ignorância. A verdadeira sabedoria ilumina e transcende cada sentimento da alma. Aprender teosofia significa olhar para todas as coisas desde o ponto de vista daquele nível de consciência, em nosso ser, que não nasceu - e não morrerá.  

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O artigo acima foi publicado como texto independente em 25 de fevereiro de 2019. Uma versão inicial e anônima dele está incluída na edição de janeiro de 2016 de “O Teosofista”.

Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.

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