Quando a Renovação Substitui a
Decadência
Carlos Cardoso Aveline
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O caminho
místico é um só, internamente, e com razão a sabedoria oriental afirma: “Não há
outro caminho a percorrer”. Externamente, no entanto, as estradas são tantas
quantos os grãos de areia no fundo de um oceano.
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A cada passo adiante, um novo caminho se abre trazendo milhares de
possibilidades que inspiram o peregrino e também testam perigosamente o seu
discernimento.
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Cada vida humana expressa a dinâmica do nosso sistema solar. Há três linhas
principais na evolução de um indivíduo: elas fluem em unidade com o Sol, a Lua
e a Terra, e correspondem à alma espiritual, à alma animal e à corporalidade
física. Nessa perspectiva, a anatomia da nossa alma é tríplice. Quando levamos
em conta outros planetas, vemos que somos setenários, assim como os raios de
luz vindos do Sol. Somos sete, somos três e somos um. Em cada caso, somos um
espelho refletindo o sistema solar.
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Quando esquecemos os ruídos terrestres, descobrimos a música das esferas.
Renunciando ao excesso de informações irrelevantes, percebemos o que é
essencial na vida.
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Os princípios centrais da filosofia esotérica não negam as pequenas realidades
da existência. O que é fundamental inclui e transcende o que é secundário. A
visão ampla dá um significado maior aos esforços concretos e de curto prazo.
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Não há motivo para ficar desanimado ou para perder a confiança no futuro, se
vemos níveis cada vez menores de ética e sinceridade na civilização atual. O
tempo não é unilinear. Ele tem várias dimensões. As horas mais escuras da noite
são com frequência as que vêm logo antes do amanhecer.
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Depois de uma longa madrugada, o novo dia emerge em poucos minutos. O fato de
sermos vigilantes não acelera a alvorada, e não haveria necessidade disso. No
entanto, os seres humanos atentos estão ativos logo no início da manhã, e podem
ajudar outros a acordarem do pesadelo da ignorância.
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Perseverança e desapego são igualmente necessários. O indivíduo deve concentrar-se
nos aspectos essenciais do seu dever. Cabe ser flexível diante do que tem menos
importância.
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Assim que alguém se torna rígido em relação a fatores externos da vida,
rompe-se a conexão interna com aquilo que é decisivo. Quando preservamos o
contato com a nossa própria natureza essencial, os fatores secundários tendem a
cuidar de si mesmos.
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No século 19, um Mestre de Sabedoria disse em uma carta que sermões podem ser
dados até mesmo através de pedras. A ideia significa que devemos aprender a
aprender de todos e de tudo na vida.
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O desafio é ir além da aparência. A sabedoria pode brilhar melhor em alguém que
não usa o rótulo de espiritual; e aqueles que se apresentam como “extremamente
espiritualizados” estão com frequência pensando mais em si mesmos do que em
alguma meta de fato nobre.
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A sabedoria não é algo que se compra ou se mostra, mas uma energia que
transcende o mundo do eu inferior.
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Observe com cuidado a quantidade de prazer em sua vida. O prazer artificial ou
exagerado amolece a vontade do indivíduo e faz com que a existência se torne
pouco satisfatória. O apego ao prazer expande o desejo, que é o oposto da
vontade. Portanto, é melhor não buscar por satisfação pessoal como fato isolado,
mas sim pela paz de consciência.
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A serenidade resulta do cumprimento das nossas obrigações. A simplicidade
voluntária liberta da mera busca de prazer, produzindo bem-aventurança interior.
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Se você agir corretamente, a paz irá até você. Busque pelo prazer, e o
sofrimento o encontrará.
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Quando o estudante de teosofia obtém uma compreensão razoavelmente profunda dos
ensinamentos originais, ele alcança a felicidade esquecendo seu eu inferior
enquanto contempla a verdade universal. Ele deixa de lado o mundo do egoísmo. É
natural para ele agir com base em uma visão filosófica do mundo. Ele visa acima
de tudo fazer o bem. É a partir deste momento que as suas ações e sua
sinceridade passam a ser especialmente incômodas
e irritantes para alguns dos que estão ao seu redor. Caberá examinar quem é
quem.
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Nos seus versos de abertura, o Dhammapada afirma que o modo como pensamos
define o nosso carma. O pensamento correto, portanto, é a fonte de bom carma ou
felicidade. E não se trata de mero “pensamento positivo”. O pensamento eficaz é
severo diante de toda forma de infantilidade e ilusão.
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Uma mente lúcida tem a coragem de enxergar os fatos e os fracassos como eles
são, porque percebe a bem-aventurança adormecida na alma humana e trabalha para
acordá-la através do amor pela verdade.
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É inevitável julgar situações e possibilidades. No entanto, não se pode fazer
um bom julgamento com base em um pensamento distorcido. Uma visão clara deve
ser impessoal.
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Não importa se os fatos são agradáveis ou irritantes. Antes de examiná-los, as
emoções devem ser acalmadas até que façam silêncio, ou deixadas de lado por um
ato da vontade. Ser carregado por apegos e rejeições é uma forma de falsidade
para consigo mesmo e resulta em frustração.
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O progresso espiritual se interrompe no momento em que começamos a pensar que
“já sabemos tudo o que é importante”. A sabedoria não consiste exatamente em
“ter” conhecimento. Consiste muito mais em “ser capaz de obter” conhecimento, e
de fazê-lo com rapidez e exatidão.
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Os buscadores da verdade não devem pensar que à medida que progredirem no
caminho será menos necessário enfrentar obstáculos surpreendentes e lições
duras. Na realidade, quanto mais aprendemos, mais claramente vemos a nossa
falta de sabedoria.
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A teosofia estuda a lei dos ciclos. Segundo ela, o universo inteiro obedece à
ondulação de marés, físicas e espirituais. Num indivíduo, assim como nos
planetas e nas civilizações, a renovação periódica da vida começa cada vez que a
tendência de redução das energias vitais chega ao seu final. É preciso estar
atento para perceber quando o inverno abre espaço para a primavera e conhecer o
momento em que a decadência dá lugar à renovação.
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Um alívio gradual substitui os tempos difíceis, cada vez que se espalha uma
pluralidade de sinais de esperança. A vida se expande outra vez. A meta deixa
de ser “a resistência às adversidades”. A ideia não é mais “ganhar tempo”. O objetivo
agora é construir o desejável. E mesmo assim não há pressa. A moderação aumenta
a eficiência no uso das energias disponíveis. Quem é firme na dificuldade deve
receber humildemente os tempos mais fáceis.
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O artigo acima foi publicado como texto
independente em 10 de abril de 2019. Uma versão inicial e anônima dele está
incluída na edição de março de 2016 de “O
Teosofista”.
Embora o título “Ideias ao Longo do
Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the
Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das
duas coletâneas de pensamentos.
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