Helena Blavatsky Vincula o Futuro
da Humanidade ao Futuro das Árvores
Carlos Cardoso Aveline
Existe desde
tempos imemoriais uma estreita relação entre as florestas e a sabedoria mística.
Os bosques são refúgios e fontes de inspiração para os sábios de todos os
tempos e nações. Sua destruição é a desgraça da humanidade. O oposto da floresta,
o deserto, simboliza a ausência de vida.
Na
tradição judaica, adotada pelos cristãos, o Paraíso é um bosque. A Lei da
Evolução criou primeiro as árvores e o mundo vegetal, para só depois fazer
surgir o ser humano (Gênesis, 1: 11-13). Não há ser humano sem florestas.
Jeová,
a personificação divina da lei universal, foi o primeiro plantador de árvores
de nosso planeta. Em clara alusão à sabedoria oriental, o Gênesis afirma:
“Jeová
Deus plantou um jardim em Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara.
Jeová Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas
de comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do
bem e do mal. Um rio saía de Éden para regar o Jardim e de lá se dividia
formando quatro braços”. (Gn. 2: 8-10)
Nesta
lenda carregada de simbolismo, Jeová, o plantador de árvores, criou uma bacia
hidrográfica para levar água ao bosque. E atribuiu uma função clara ao ser humano:
“Jeová
Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.”
(Gn. 2: 15)
O
ser humano deve sua vida às florestas. O seu dever existencial é cuidar delas. Como
resultado inevitável desse fato, destruir florestas é o mesmo que destruir a si
mesmo. Toda civilização que ataca os bosques está cometendo suicídio. No
entanto, a insensatez pode ser evitada pela redescoberta do equilíbrio na alma.
O que dá sentido ao mundo material é a presença nele do Espírito.
Apesar
do que pensam os ingênuos, a humanidade não está abandonada. Mas ela precisa
aprender a erguer-se por mérito próprio.
Uma fraternidade humana sem fronteiras de espaço nem de tempo guia a
alma das civilizações à medida que elas nascem, crescem, envelhecem, morrem - e
nascem outra vez.
A grande
comunhão universal dos santos e dos sábios ocorre como um fato natural graças à
lei da afinidade. Através dos séculos, os
sábios formam uma reserva moral e uma reserva
de lucidez para a humanidade, enquanto ela avança em meio a perigos e
ilusões de todo tipo. Instintiva e intuitivamente, os místicos mais lúcidos de
todos os povos amam as florestas e encontram nelas uma inspiração superior e
universal.
Assim,
os Adeptos, os Iniciados e os Mestres de Sabedoria que estão ligados ao
movimento teosófico antigo e moderno habitam florestas, e junto a elas estão os
seus refúgios.
Sylvia
Cranston narra um retiro de sete semanas feito por Helena P. Blavatsky em uma
selva dos Himalaias. Neste período de contemplação, Helena foi visitada apenas
pelo seu mestre:
“Em
uma carta a seus parentes (…), HPB contou que seu Mestre tinha profundo
respeito para com os ensinamentos de Cristo, e também que ela passou sete
semanas numa floresta, perto das montanhas Karakoram. Ali ficou isolada do
mundo, e só o seu instrutor vinha visitá-la diariamente, embora ela não tenha
dito se ele vinha astralmente ou de outro modo.” [1]
É devido a inúmeros fatores, portanto, que os bosques estão
ligados diretamente ao carma humano. Eles exercem uma influência determinante,
tanto fisicamente quanto no plano espiritual, sobre o futuro das comunidades. Não por acaso Blavatsky
escreveu em 1879:
“[O]
tema da preservação das florestas tem sido amplamente estudado nos países
ocidentais devido a uma terrível necessidade. Apesar da oposição de
obstrucionistas ignorantes e egocêntricos [2],
um país depois do outro tem dado os primeiros passos para restaurar os bosques
e selvas que haviam sido brutalmente destruídos, antes que a meteorologia e a
química se desenvolvessem, e antes que a economia política fosse elevada à
dignidade de uma ciência.” [3]
No
século 21 os obstrucionistas ignorantes continuam ativos no combate à ética e à
preservação da natureza. O despertar espiritual deve ser acelerado, eliminando
as causas da destruição ambiental e humana.
HPB
escreveu:
“Basta
olhar as páginas da história para ver que a ruína e a total extinção do poder nacional
seguem-se à destruição das florestas tão certamente como a noite segue o dia. A
Natureza dá os meios para o progresso humano; e suas leis nunca podem ser
violadas sem desastre.” [4]
O dever
dos cidadãos sensatos é agir com eficiência a partir da alma, provocando um
despertar cultural que garanta, no tempo adequado, a relação correta da
humanidade com as florestas e com todos os seres.
NOTAS:
[1] “Helena Blavatsky”, A Vida e a
Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno, Sylvia
Cranston, Editora Teosófica, Brasília, 1997, 678 pp., ver p. 129.
[2] “Obstrucionistas ignorantes e
egocêntricos” - que mais tarde passaram a ser conhecidos como “ecocéticos”.
[3] Traduzido de “The Theosophist”,
Adyar, Índia, novembro de 1879, p. 42.
[4] “The Theosophist”, Índia,
novembro de 1879, p. 42. O trecho é citado também no livro “A Vida Secreta da
Natureza”, de Carlos Cardoso Aveline, Ed. Bodigaya, Porto Alegre, 2007, 156
pp., ver capítulo quatro, p. 40.
000
Uma versão
inicial deste artigo foi publicada, sem referência ao nome do autor, em “O Teosofista”, setembro de 2016, pp.
11-12, sob o título “O Que a Teosofia Original Diz Sobre a Vida da Floresta”.
“A Teosofia das
Florestas”
foi publicado nos websites associados dia 26 de agosto de 2019.
000
Veja também “A Magia das Árvores”, “A Oração das Árvores”, “O Hino das Árvores” e “A Lenda da Árvore de Natal”.
Examine o poema
de Olavo Bilac intitulado “Velhas Árvores”, o poema de
Hermes Fontes “A Primeira Árvore” e o livro de
António Corrêa D’Oliveira “A Alma das Árvores”.
Leia o capítulo
dois, “Conversando com a Floresta”,
no livro “A Vida Secreta da Natureza”,
Carlos Cardoso Aveline, terceira edição, Ed. Bodigaya, Porto Alegre, Brasil,
2007, 157 páginas.
000