A Filosofia Esotérica Leva a um
Respeito Incondicional pela Verdade
Carlos Cardoso Aveline
Uma paz
transcendente dirige todos os aspectos do mundo
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Cada
renascer é um momento perigoso e deve ser vivido com paz interior e vigilância.
À medida que algo novo surge, uma situação velha morre. Quando alguma forma de
segurança é alcançada, outro tipo de perigo se apresenta para desafiar a vida.
Deste modo ocorre a bênção da renovação do mundo.
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A vida profunda existe por fora do barulho. Se quiser compreender melhor o
mundo, o peregrino deve separar todo dia um tempo para estar em silêncio, para
experimentar a quietude e concentrar-se no que é transcendente. Nestes momentos
cabe não dizer coisa alguma e parar de pensar. Deixando de ser “alguém”,
vivemos de fato.
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Tudo depende do modo como olhamos as coisas. Para encontrar o Caminho
espiritual, é preciso ver o todo maior. As percepções isoladas têm resultados
precários. Antes de poder sustentar estavelmente uma perspectiva universal,
deve haver uma estrutura firme de hábitos, ações e prática. A beleza grandiosa
do Caminho pode inspirar o esforço de longo prazo, mas a caminhada é inevitavelmente
difícil, e pode parecer inglória, desde o ponto de vista do olhar fragmentado.
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À medida que você aprende mais, possui menos. Quanto mais sua consciência
alarga os horizontes, mais firmemente ficam os seus pés postos no chão. Quando
o significado do ensinamento sagrado se torna claro, aumenta o seu amor pelo
silêncio.
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Onde se encontra a teosofia ou sabedoria divina? Ela não pode ser localizada apenas
em palavras, em associações, em livros ou nas vidas de outros seres humanos,
embora todos eles possam ter partes dela. A teosofia pode ser encontrada
principalmente em nosso próprio coração, na contemplação do cosmo, no respeito
por cada forma de Vida.
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Em que consiste uma visão “prática” e “objetiva” da realidade? Cada aspecto da
nossa interação com a vida, inclusive nas suas dimensões físicas, resulta do
pensamento. Os sentimentos e pensamentos iluminam a ação e dão a ela o seu
rumo. É nossa atitude mental que faz com que tenhamos esta ou aquela
interpretação dos fatos, físicos ou não. Portanto, a tarefa primeira de quem deseja
a felicidade consiste em sentir e pensar de um modo correto.
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A Teosofia é eterna e universal e abrange todos os seres e situações. Ela tem
algo a dizer sobre cada aspecto da vida diária. O que a teosofia ensina leva o
indivíduo a um sentido de autorresponsabilidade diante do mundo, e a um
respeito incondicional pela verdade, seja ela confortável ou não.
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Tudo na vida consiste de padrões vibratórios, e eles são mutáveis. Você pode
pensar que conhece bem esta ou aquela pessoa, mas cada indivíduo tem um número
tão grande de possibilidades em termos de padrões de vibração, que é sábio não pensar
que se sabe inteiramente quais são a potencialidade, as limitações, as vitórias
ou escolhas a serem feitas pelos outros. Cada um pode controlar as suas
próprias atitudes diante da vida e das circunstâncias. Este é seu dever perante
a Lei, e constitui tarefa nem sempre fácil. É o processo de autorresponsabilidade
que capacita o peregrino a alcançar sabedoria.
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A ilusão da separatividade pessoal resulta de uma falta de informação sobre os
fatos da vida. Conhecendo a si mesmo, o peregrino compreende que não há
separação em nosso planeta ou no universo. Ao observar a unidade dinâmica de
tudo o que existe, o egoísmo desaparece e o altruísmo é reconhecido como
caminho para a felicidade. Ao fazer o bem para os outros, recebemos o bem nós
próprios. Na etapa atual do carma humano, porém, a prática do altruísmo traz ao
peregrino formas mais internas do que externas de felicidade. O caminho da
sabedoria é um caminho de sacrifício exterior e bem-aventurança na alma.
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Aqueles que trabalham pelo bem de todos os seres podem saber que a evolução
humana está progredindo corretamente e no rumo certo. Eles percebem que os
ciclos de decadência moral e mesmo as catástrofes são parte da aprendizagem de
longo prazo. De outro lado, quem não trabalha por uma causa nobre sofre de uma
espécie de miopia. Tem visão curta. Só consegue enxergar coisas pequenas e
assuntos egocêntricos. As filosofias clássicas do altruísmo oferecem uma cura
para esta doença, e o dinheiro não cumpre qualquer papel no processo de
regeneração. O preço a pagar pela cura é alto, mas não é monetário: consiste da
prática da sinceridade profunda consigo mesmo e com os outros.
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A esperteza egoísta é uma forma de infantilidade presente nos adultos que não
tiveram uma boa formação moral. A tentativa de colher coisas antes de
plantá-las é fácil de encontrar inclusive em círculos esotéricos. Mesmo aqueles
que tentam semear o bem não querem em muitos casos esperar pela germinação natural
das sementes. Por esse motivo o segredo da felicidade é conhecido por poucos.
Ele consiste em semear antes de colher. A chave da vida está em fazer o melhor
possível, com o devido respeito pelo ritmo próprio do carma e da natureza.
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Olhe além da superfície dos obstáculos que você pode estar enfrentando agora, e
verá a bênção da vida e do autoesquecimento.
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O eu superior nos oferece um ponto de vista desde o qual podemos compreender que
a maior parte das situações da vida são boas. Uma paz transcendente dirige
todos os aspectos do mundo. Enquanto a injustiça não enxerga mais que um palmo à
sua frente, a boa vontade vê longe e aponta para o futuro. As pessoas egoístas
estão bêbadas com suas próprias ilusões. A Lei da Vida ensina altruísmo.
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Tudo é cíclico e pouco ou nada pode ser considerado permanente. A democracia, o
respeito coletivo pela Vida e a sinceridade dos jornalistas são três exemplos
disso. Os fatos mais óbvios terão de ser redescobertos a seu devido tempo e
vistos com grande surpresa. Tudo o que um povo aprende é esquecido e precisa
ser aprendido de novo, de modo mais eficaz. O que foi conquistado se perde e é obtido
outra vez. É necessário nascer de novo a cada dia.
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Os ingênuos pensam que a existência é uma coisa garantida. Estão ainda adormecidos
por dentro. Os mais bem informados conquistam a vida, um dia de cada vez, com o
devido esforço. Estes já estão acordando.
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A atitude das pessoas desinformadas em relação ao futuro tem como base o
princípio e a filosofia do “esperar para saber”. As pessoas que têm bom senso
trabalham de modo ativo por um futuro melhor. Cabe perguntar-nos diariamente a
que grupo de indivíduos nós queremos pertencer.
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O estudante de teosofia aprende a receber de modo adequado em seu mundo
psicológico os incessantes acontecimentos que a Vida traz até ele. Os novos
fatos harmonizam a si próprios assim que o indivíduo os coloca em seu contexto
correto. Deste modo o estudante desenvolve uma capacidade de lidar com
tendências de acontecimentos, mais do que com meros fatos isolados. Quando ele
identifica os padrões e os ciclos, pode prever as tendências futuras. Então a compreensão
correta substitui a “surpresa” e a ação adequada ocupa o lugar do comportamento
impulsivo.
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Há um critério seguro pelo qual se pode avaliar um processo de aprendizagem? O
conteúdo e o significado do conhecimento são indicados pela quantidade de ética
no modo como ele é usado. O conhecimento verdadeiro é empregado de maneira
moralmente responsável. O real saber provoca bem-estar: o conhecimento falso
leva a mais sofrimento.
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A existência consiste de música, ruído e silêncio. É feita também de ação
correta, ação errada e repouso. O prazer, o sofrimento e a sabedoria dominam o
dia-a-dia. A afirmação, a negação e um equilíbrio entre estas duas coisas são
outros fatores sempre presentes. Um diálogo secreto faz a ponte entre os lados
opostos do mundo. Algumas crianças já parecem velhas: ficarão mais jovens à
medida que passa o tempo. E muitos são aqueles que começam, aos setenta, a
conhecer a alegria da vida.
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Um lobo disfarçado de ovelha é suave e afetivo enquanto os seus interesses
prevalecem. Ele se comporta deste modo porque a camuflagem faz parte da guerra.
Os sepulcros caiados se apresentam como amáveis e bem-educados, e chamam de
“grosseiro” e deselegante aquele que ousa discordar do seu falso consenso.
Assim que a sua atitude é desmascarada, no entanto, eles se tornam
crescentemente agressivos. Eles agora chamam seus oponentes de “ridículos” e
“inaceitáveis”. Sua verdadeira natureza se torna visível. Há centenas de truques
emocionais semelhantes, e eles são em grande parte subconscientes.
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Os mecanismos emocionais de ilusão podem ser observados em seu ciclo inteiro de
falsa amabilidade, frustração e agressão. Devem ser conhecidos, discutidos
abertamente e transcendidos, durante o estudo da verdadeira teosofia. Todo ser
humano engana a si próprio de modo semelhante: conhecendo o funcionamento dos
níveis inferiores de consciência, o peregrino vai além deles e começa a viver em
níveis elevados.
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A hipocrisia tenta construir consenso e administrar as aparências, porque não
tem respeito pelos fatos em si mesmos. A sinceridade desafia o consenso
artificial e rompe a ilusão coletiva. A busca da verdade só pode ocorrer onde o
que se diz é sincero, e isso com frequência parece politicamente incorreto e
“impopular”.
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No século 21, os seres humanos estão cada vez mais perceptivos. Nenhuma técnica
de propaganda é capaz de enganá-los eternamente. A longo prazo, a honestidade é
popular e toda fraude acaba por ser desmascarada.
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Não é suficiente preservar a higiene física escovando os dentes, lavando as
mãos de vez em quando e tomando banho todos os dias. Na verdade, as impurezas
mentais e emocionais são mais graves que a sujeira física, e o fato é explicado
nas “Cartas dos Mahatmas”. [1]
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Melhor que escovar os dentes, é purificar os sentimentos e os pensamentos.
Algumas práticas de higiene diária são necessárias no nível psíquico e emocional.
Entre elas, a contemplação de ideias sagradas e universais, a concentração da
consciência em um sentimento de amor pela verdade, ou o calmo exame da substância
da gratidão por todos os seres.
NOTA:
[1] “Cartas dos
Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, Carta 5, vol. I, pp. 57 a 59.
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“Ideias ao Longo do
Caminho - 27” foi publicado como artigo independente em 12 de setembro de 2019. Uma
versão inicial e anônima dele faz parte da edição de novembro de 2016 de “O Teosofista”, pp. 13 a 15. A nota das
páginas 1-2, escrita pelo mesmo autor e publicada naquela edição, está incluída
no texto.
Embora o título “Ideias ao Longo do
Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the
Road”, também de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os
conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
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