A Dura Lição Ensinada
Pelo Sofrimento Coletivo
Steven H. Levy

“Luz
astral - a região invisível que rodeia nosso
globo, como
rodeia a todos os demais, e corresponde,
como segundo
‘princípio’ do Cosmos, (...) ao Linga-sharira
ou duplo
astral do homem. É uma Essência sutil,
visível
apenas
para um olho clarividente, e é o mais inferior,
exceto a
Terra, dos sete princípios Akáshicos
ou Cósmicos.
Eliphas
Levi denomina-a de A Grande Serpente
e Dragão,
da qual se
irradia sobre a humanidade toda influência má.
Assim é;
porém, por que não acrescentar que a luz astral
não emite
nada além do que recebeu; que ela é o grande
crisol
terrestre no qual as más emanações da Terra
(morais e
físicas), com as quais a Luz Astral é alimentada,
converteram-se
todas em sua essência mais sutil, e que
ela as
devolve intensificadas, convertendo-se assim
em causa
de epidemias morais, psíquicas e físicas?”
(Do “Glossário Teosófico”, de H. P.
Blavatsky,
Editora Ground, São Paulo, 778 páginas,
ver p. 330. O
fragmento foi revisado de acordo com o
original em inglês.)
Em março de
2020 o novo coronavírus 2019,
oficialmente denominado de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
propagou-se a dezenas de países em todo o mundo. A OMS diz que o mundo deve estar
preparado para uma pandemia.
As
consequências físicas de uma pandemia viral, por si sós, são bastante sérias.
Em fevereiro de 1957, um novo vírus influenza
surgiu no leste asiático, causando uma pandemia, a chamada Gripe Asiática.
Estima-se que foram causadas cerca de 1,1 milhão de mortes a nível mundial.
Oficialmente,
uma pandemia consiste na transmissão fácil - de pessoa a pessoa - de uma nova
doença, em muitos países; enquanto uma epidemia é uma ocorrência generalizada
de uma doença que acontece numa comunidade em um determinado momento.
Como
os estudantes de Teosofia sabem, a interdependência e a interconexão da
humanidade é um fato em todos os departamentos da natureza - físico, psíquico e
moral. Individual e coletivamente, os seres humanos estão sempre influenciando
uns aos outros, e recebem o impacto das influências físicas e morais sombrias,
assim como das influências inspiradoras.
Estes
contágios locais e generalizados têm uma propensão periódica determinada por
duas leis fundamentais da natureza - a lei da periodicidade, ou do retorno
cíclico de impressões; e a lei cármica de causa e efeito.
O
significado, a importância, e as consequências de uma pandemia são muito mais
complexos do que se poderia esperar, porque são frequentemente acompanhados de
uma “infecção” moral e psíquica. As pessoas precisam se preparar e organizar
apropriadamente. As pandemias criam tanto desafios como oportunidades para o
progresso.
Os
indivíduos que estudam a história das pandemias também reconhecem essa verdade.
Uma fonte valiosa sobre o tema é um novo livro escrito pelo historiador Frank
M. Snowden, “Epidemics and Society: From
the Black Death to the Present” (“Epidemias e Sociedade: da Peste Negra à
Atualidade”).
Frank
M. Snowden é um professor emérito de História e de História da Medicina em Yale
(Estados Unidos). Ele demonstra que as epidemias afetam todos os aspectos da
vida humana. As epidemias influenciam políticas, revoluções, e o ambiente. Elas
podem inflamar a discriminação racial e invocar reações desumanas dos governos.
As epidemias modificam sociedades e afetam as relações pessoais.
Acima
de tudo, o professor Snowden conclui que as pandemias e epidemias não são
eventos aleatórios que afetam as sociedades de forma indiscriminada, caótica e
sem aviso prévio. Uma sociedade produz sua própria vulnerabilidade diante das
epidemias virais através de sua estrutura, dos seus valores, do seu padrão de
vida e de suas prioridades políticas. Há um contágio oportunista que se move
através das falhas morais e mentais da sociedade. As epidemias manifestam-se
como uma corrente causal de eventos ordenados. Esta ideia é bem reconhecida e
compreendida pelo estudante de Teosofia. É um aspecto da lei universal do
Carma, chamado pelos antigos de corrente nidânica, o encadeamento incessante de
causas e efeitos.
Segundo
o professor Snowden, a história das pandemias revela uma verdade que os
estudantes de Teosofia enxergam a partir de sua experiência com as reações
interpessoais e individuais à ameaça - real e imaginária - do coronavírus. As
epidemias e as pandemias virais são um espelho que reflete quem realmente
somos, ou, pelo menos, deixa claras as fraquezas e as energias que estão
normalmente fora do nosso campo de visão. Isso não é surpresa para o teosofista
que compreende o trecho do “Glossário Teosófico” colocado na abertura deste
artigo. A luz astral que cerca e interpenetra o mundo é como uma sala de
espelhos que reflete de volta, de uma maneira acentuada, as emanações negativas
que ela recebeu da humanidade.
As
pandemias e as epidemias afetam-nos mentalmente, psiquicamente e moralmente, de
forma individual e coletiva. A experiência nos torna mais conscientes de nossa
atitude em relação à nossa própria mortalidade, à morte, às nossas vidas, ao nosso
ambiente.
Podemos
observar que o ambiente em que vivemos é criado por nós e esse ambiente reage a
nós. Tornamo-nos mais conscientes dos valores que moldam nossas vidas diárias e
de pequenos comportamentos que normalmente parecem insignificantes e imperceptíveis.
Será que nós nos preocupamos com as pessoas com quem trabalhamos, com os
pobres, os idosos, as pessoas doentes e vulneráveis do mundo? O modo como
respondemos revela nossos valores e compromissos morais.
Apesar
de todos os desafios, a vivência coletiva e individual de uma epidemia ou
pandemia pode constituir uma experiência de aprendizado e uma oportunidade
inigualáveis para o avanço de um indivíduo ou da sociedade.
Grandes
reformas e organizações humanitárias surgiram na sequência de epidemias. Para
os verdadeiros teosofistas, que tentam praticar os ensinamentos em suas vidas e
se preparam para melhor ajudar os outros, a experiência cria oportunidades para
derrubar paixões que essencialmente favorecem as tendências egoístas da
personalidade. A experiência oferece uma oportunidade para olhar os fatos da vida
cotidiana desde o ponto de vista da Sabedoria Divina, e acabar com a ilusão de
uma existência separada das outras.
As
pandemias parecem ensinar uma lição inevitável, que os sermões, as palestras, os
artigos e a mídia visual geralmente não conseguem transmitir com tanto vigor, e
que é a seguinte: independentemente de nossa raça, etnia, situação econômica,
credo, sexo, condição ou filiação organizacional, estamos todos unidos e precisamos
organizar nossas vidas de modo a beneficiar os outros, sacrificando algum
conforto pessoal.
Na
verdade, a saúde e o bem-estar daqueles que poderiam ser considerados como sem importância e mais vulneráveis são necessários para a saúde de todos. Como o
professor Snowden diz, estamos mais bem preparados para qualquer pandemia ou
epidemia quando percebemos que o que afeta uma pessoa em qualquer lugar afeta
todos em todos os lugares.
Nenhum
teosofista poderia dizer melhor.
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Steven H.
Levy é médico e membro atuante do movimento teosófico. Vive na Philadelphia,
Pensilvânia, Estados Unidos.
O artigo
acima foi publicado nos websites associados dia 11 de março de 2020. Texto
original em inglês: “The Meaning of a Pandemic”. A
tradução ao português é de Joana Maria Pinho, da Loja Independente de
Teosofistas.
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Veja a seção
temática “Transição Planetária e Civilização do Futuro”.
Leia o livro “Man and Society in Calamity”, de
Pitirim A. Sorokin, e o artigo “Preparando o Ponto Ômega”, de Carlos
Cardoso Aveline.
Conheça e
pratique a “Meditação pelo Despertar Planetário”.
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