29 de abril de 2020

Ideias ao Longo do Caminho - 31

Cabe Desenvolver uma Profunda Calma,
Vigilância Serena e uma Atenção Impecável

Carlos Cardoso Aveline


A Lagoa das Sete Cidades, na ilha de São Miguel, Açores





* As qualidades espirituais não pertencem ao terreno da aparência. Elas se desenvolvem desde dentro para fora, num processo alquímico. São estimuladas pelo Sol de um coração puro e alimentadas pela chuva e pelo vento da provação diária, enquanto crescem no chão duro da prática individual.

* A verdade não pertence a alguma organização ou indivíduo. Os indivíduos e as instituições é que podem pertencer à verdade. Está ao alcance deles dedicar suas existências à humilde busca da sabedoria, em um processo de longo prazo.

* Segundo um antigo axioma, a Luz vem ao mundo sempre que o seu surgimento é indispensável. É preciso levar em conta que a Luz brilha quando surge o momento correto para isso, e não quando algum ser humano deseja superficialmente que ela desça para iluminá-lo. A Luz costuma vir de maneiras não anunciadas. Ela surge através de acontecimentos incômodos e inesperados apesar de rejeitada pelos falsos sábios que se agarram à rotina do conforto pessoal.  

* Para ser capaz de ouvir a voz da minha própria consciência, preciso estar em completo silêncio no plano dos pensamentos e das emoções. A ausência de barulho é alcançável reduzindo a nada a dimensão psicológica da minha existência pessoal.

* Se quiser ouvir minha consciência, devo deixar de funcionar durante algum tempo como um eu separado, e deste modo suspender o sentido de personalidade. Dificilmente pode haver algo mais agradável do que escutar a voz silenciosa do vazio que contém a totalidade.

* A simplicidade voluntária é mais do que um conceito econômico ou uma necessidade social. A ideia é especialmente útil se quisermos adotar formas sustentáveis de desenvolvimento. No entanto, a simplicidade é também uma virtude do espírito.

* Só um coração simples pode elevar-se acima daqueles pequenos sentimentos cuja principal característica é que não ajudam em nada. A simplicidade voluntária pertence à alma e leva à sabedoria. Ela nos capacita a procurar e a encontrar aquilo que é elevado.

* A hipocrisia não está na diferença entre o ideal e a prática. Esta distância é perfeitamente humana. Significa que o indivíduo tem um ideal na vida. Talvez seja necessário um longo tempo para alcançá-lo. A falsidade consiste em não tentar reduzir a distância entre o ideal e a prática. A noção central de “fazer o melhor que se pode” define a direção do Carma. Aquele que não faz o seu melhor está marcando passo sem sair do lugar. Caminhar rápido ou lentamente não significa coisa alguma, mas é oportuno examinar se os esforços apontam para uma meta correta.

* É preciso ter olhos para ver, antes de perceber o cosmos atrás do aparente caos. Enquanto um prédio é reformado, o que pode ser visto pelo visitante é uma confusão extrema. Quando a dona de casa está fazendo uma limpeza doméstica, todas as coisas parecem fora do lugar.

* O tempo histórico avança por séculos: enquanto uma nova civilização da ética surge lentamente no meio das velhas estruturas materialistas, não são poucos os fatos que parecem absurdos. Antes que o egoísmo seja derrotado, as vitórias obtidas pela ignorância espiritual são celebradas pelos seus líderes como as maiores de todos os tempos.

* Aquela parte do eu inferior que reage contra a sabedoria tende a fabricar grandes dramas a partir do nada. Na verdade, os seres humanos não criam problemas que não possam resolver. Todas as dificuldades geradas terão as suas soluções no tempo certo. Cada indivíduo é a fonte invisível da maior parte da sua própria dor, e também o curador ativo de si mesmo. O universo não é governado por quaisquer sentimentos pessoais: é regulado pela lei impessoal do amor; pelo princípio da justiça e do equilíbrio; pelo sentimento de compaixão imparcial.

* Nosso ponto de vista central faz com que algumas coisas sejam fáceis de ver e outras se tornem invisíveis. Quando olhamos a vida desde diferentes perspectivas, podemos observar melhor a complexidade das situações.

* Alguns pontos de vista são complementares entre si. Outros são mutuamente excludentes. Cabe decidir com cuidado quais são os nossos principais ângulos de visão, porque eles determinam a relação do indivíduo com a vida e com o Carma.

A Primeira Condição

* Uma forma profunda e invisível de bênção ocorre quando somos capazes de detectar os mecanismos da ignorância espiritual em nós mesmos e naqueles que nos rodeiam, e permanecer livre deles; e desafiá-los; e preservar a paz em nossa alma.

* Infelizes são aqueles que se identificam com a ignorância. A felicidade espiritual começa com a decisão de pagar tranquilamente o preço por deixar de lado o apego a tudo o que é falso. Um amor incondicional à verdade é a primeira qualificação necessária para começar a jornada.

O Desafio da Boa Vontade

* Em todas as relações humanas, rigor e boa vontade são igualmente necessários. Em certas situações, porém, um destes fatores deve ter mais força prática, enquanto o outro permanece invisível, preservando o alicerce da ação correta.

* A boa vontade é algo muito diferente de fraqueza, mas em muitas ocasiões as pessoas desinformadas não querem perceber a diferença entre os dois fatores.

* Quando a boa vontade é vista como fraqueza pelo ignorante, o rigor é indispensável. E neste caso a severidade não pode ser confundida com falta de boa vontade: só as pessoas ingênuas e destituídas de discernimento não veem a diferença entre firmeza e má vontade.  

* A vida é dinâmica e inclui um constante jogo de contrastes entre fato e ilusão. O equilíbrio e o respeito pela verdade guiam o peregrino até a sabedoria, na medida em que a sua intenção fundamental e o seu propósito mais profundo forem nobres.

A Vida Como um Relógio

* Ao estudar em filosofia esotérica a Lei dos Ciclos, passamos a conhecer a ciência do uso do tempo. A prática da ação correta é também a prática do ritmo sábio.

* Em cada Duração, há alguns momentos adequados para uma mudança real. Quando esperar, quando agir, em que ritmo, e onde. Estas são questões que exigem uma profunda calma, uma vigilância serena, uma atenção impecável.

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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 31” foi publicado como item independente em 29 de abril de 2020. Uma versão inicial e anônima dele faz parte da edição de março de 2017 de “O Teosofista”, pp. 13-14. Da mesma edição, estão aqui incluídas as notas “A Primeira Condição” (p. 5), “O Desafio da Boa Vontade” (p. 7), e “A Vida Como um Relógio” (p. 14), que foram escritas pelo mesmo autor e também publicadas anonimamente.

Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.

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