A Bênção Está em
Evitar as Causas da Dor
Arthur Schopenhauer

O filósofo Arthur Schopenhauer nasceu
dia 04 de março de 1788 e viveu até 1860
Creio que a regra
primeira e mais importante para uma conduta sábia na vida está contida numa ideia
a que Aristóteles se refere de passagem em “Ética a Nicômaco”, e que pode ser
expressada assim:
“Não
o prazer, mas a ausência de dor, é a meta do homem sábio.”
A
verdade desta afirmação resulta do caráter negativo da felicidade - isto é, do
fato de que o prazer é apenas a negação da dor, e de que a dor é o elemento
positivo na vida.
Suponha
que, com a exceção de uma só parte do corpo, que está dolorida, nós tenhamos
excelente saúde; a dor neste ponto do corpo absorverá completamente nossa
atenção, fazendo com que percamos o sentido geral de bem-estar e destruindo
todo o nosso conforto na vida.
Do
mesmo jeito, quando todos os nossos assuntos, menos um, se resolvem
favoravelmente, o único caso em que nossa meta não foi alcançada é um problema
constante para nós, mesmo que seja um problema bastante trivial. Dedicamos
muito tempo a ele, e pouca atenção a outras questões, mais importantes, nas
quais tivemos êxito. Nas duas situações, o que encontrou resistência é a
vontade; no primeiro caso, a vontade tal como ela está materializada no
organismo, no segundo caso, tal como ela se apresenta na luta pela vida. Nos
dois exemplos, fica claro que a satisfação da vontade consiste apenas em não
encontrar resistência.
A
satisfação, portanto, não é sentida diretamente; no máximo, podemos ter
consciência da satisfação quando refletimos sobre nosso estado. Mas aquilo que
se opõe à vontade ou a paralisa é algo positivo: algo que afirma a sua
presença. Todo prazer consiste apenas em remover este obstáculo; consiste, em
outras palavras, em libertar-nos da sua ação, e, portanto, o prazer é um estado
que nunca pode durar muito tempo.
Esta
é a verdadeira base da excelente regra de Aristóteles, citada acima, e que nos
ensina a não ter como meta o que é prazeroso e agradável na vida, mas evitar, tanto
quanto possível, os seus numerosos males. Se este não fosse o rumo acertado e
no qual se deve seguir, a afirmativa de Voltaire segundo a qual “a felicidade é um sonho, mas o sofrimento é
real” seria falsa; porém, na realidade, ela é verdadeira. Quem quiser
avaliar o livro da sua vida e determinar a proporção da sua felicidade deve
registrar, no seu levantamento, não os prazeres de que desfrutou, mas os males
que conseguiu evitar.
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O fragmento acima está
publicado nos websites associados desde o dia 13 de julho de
2020. Foi traduzido por CCA do livro “The Wisdom of Life and Counsels and
Maxims”, de Arthur Schopenhauer, Prometheus Books, New York, 1995. Ver as
páginas sete e oito da segunda parte do volume, “Counsels and Maxims”. Para
facilitar a leitura meditativa, os parágrafos mais longos foram divididos em
parágrafos menores.
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Sobre o mistério do
despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.

Com tradução,
prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85
páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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