Quando Adotamos um Ideal
Elevado, é Preciso Agir à Altura
Carlos Cardoso Aveline

Menno Simon, ou Menno Simons, o
honesto pensador anabatista do século 16
Numa era de igrejas que priorizam o marketing e - em
alguns casos - possuem um interesse religioso muito grande pela conta bancária
dos seus fiéis, é inspirador saber da existência pacífica e vitoriosa de um
pequeno movimento cristão cuja meta é viver de acordo com os ensinamentos do
mestre Jesus do Novo Testamento.
Os Amish, os Hutteritas, os Menonitas, preservam lições
valiosas a serem aprendidas por grupos humanos muito maiores, no momento
adequado.
O movimento teosófico tem o que aprender com eles. Como
estudante de filosofia esotérica, sou grato aos anabatistas pelo exemplo
vivencial brilhante que colocam diante de nós.
Os anabatistas sofreram os tipos mais variados de
perseguição por parte do clero e das autoridades cristãs da Europa. Serem
assassinados a sangue frio embora jamais oferecessem resistência faz parte da
sua história. Serem torturados até a morte como tentativa de destruí-los
moralmente era coisa muito comum no continente europeu durante os movimentos da
Reforma, e mesmo depois. Encontraram refúgio, principalmente, nos Estados
Unidos, onde vivem em paz.
Principal teólogo dos Anabatistas, o holandês Menno Simon
viveu de 1496 a 1561. Era a época dos descobrimentos, da Reforma e da
Renascença. Menno ensinava que ser cristão apenas nominalmente e na aparência é
pior que inútil. A devoção verbal não basta. Em um texto sobre o
arrependimento, ele escreveu:
“…Exortamos vocês usando a linguagem de Cristo: ‘Arrependam-se,
e acreditem no Evangelho’ (Marcos, 1: 15). Oh, fiel palavra da graça
divina! Tu és lida em livros, cantada em hinos, pregada com a boca na vida e na
morte e proclamada em muitos países, mas eles não desejam o teu poder, e mais
que isso, todos aqueles que te recebem e te ensinam corretamente são
perseguidos em todo o mundo. Infelizmente, caros senhores, não tem utilidade
alguma que sejamos chamados de cristãos, e que nos envaideçamos do sangue
oferecido pelo Senhor, pela sua morte, pelos seus méritos, pela graça divina e
pelo Evangelho, enquanto não nos afastarmos desta vida maldosa, ímpia e
vergonhosa. É em vão que nós nos chamamos de cristãos; que Cristo morreu; que
nós nascemos num dia da graça; e que somos batizados com água, se nós não
vivemos de acordo com a Lei do Senhor, de acordo com o seu conselho, com suas
advertências, com a sua vontade e com as suas instruções, e se não obedecemos à
sua palavra.” [1]
Durante décadas as autoridades católicas tentaram em vão
capturar e matar Menno. Pretendiam puni-lo porque ele denunciava as fraudes do
Vaticano e as ilusões do cristianismo convencional.
Menno viveu na clandestinidade, sem sossego. Com a esposa
e os filhos, ajudado pelos amigos, mudava constantemente o local de moradia.
Morreu aos 66 anos de idade, de causas naturais, e o fato
de que escapou à perseguição foi em si mesmo uma vitória dos anabatistas. Seus
escritos demonstram grande coragem e completa devoção ao mundo divino. Menno
compartilha com seus leitores um compromisso supremo de busca da verdade, de ajuda
mútua e de espírito comunitário. O movimento anabatista é ainda hoje uma das
experiências religiosas e sociais mais valiosas de que se tem notícia.
Por outro lado, o movimento teosófico e a Loja Independente de Teosofistas valorizam os aspectos positivos da mística cristã nas igrejas de grande porte. Estas fontes parciais de luz podem ser vistas no movimento dos Templários, antes da sua falsificação pelos jesuítas no início do século 19. São encontradas nas obras e nas vidas de São Francisco de Assis, de Tomás de Kempis, de Nicolau de Cusa, de Martim Lutero, Antônio Vieira, William Wilberforce, Teilhard de Chardin, Anthony de Mello, Santo António de Lisboa e Pádua, e nas obras do padre português Manuel Bernardes, entre outros pensadores.
Não foram poucos os católicos perseguidos pela
intolerância do Vaticano.
O massacre dos templários no início do século 14 é um
exemplo notável. Os franciscanos dos primeiros séculos depois de Francisco foram
brutalmente perseguidos. Antônio Vieira, o padre e pensador luso-brasileiro,
passou vários anos preso nos cárceres da Inquisição do Vaticano. E assim
sucessivamente.
Neste vasto contexto, os movimentos anabatistas são uma
fonte de luz e uma experiência vitoriosa do espírito de paz, da sabedoria da
alma.
NOTA:
[1] “The Complete Works of Menno Simon”, University of Michigan, USA, Library,
Historical Reprint Series. Trata-se de uma reprodução fac-similar da edição de 1871
impressa em Elkhart, Indiana, EUA, por John F. Funk and Brother. Ver primeiro
volume, com 288 páginas, página 17.
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O texto “A Lição dos Anabatistas” foi publicado nos
websites associados dia 05 de agosto de 2020.
As obras completas de Menno
Simon estão disponíveis em uma edição em dois volumes: “The Complete Works
of Menno Simon”, University of Michigan, USA, Library, Historical Reprint
Series. Trata-se de uma reprodução fac-similar da edição de 1871 impressa em
Elkhart, Indiana, EUA, por John F. Funk and Brother. Primeiro volume, 288 páginas;
segundo volume, 452 páginas.
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Veja o artigo “A Filosofa Prática dos Amish”.
Leia “Francisco, o Santo Panteísta”,
“A Imitação de Cristo” e “Reencarnação Consciente e Imediata”.
Examine “O Mistério dos Templários”, “Reuchlin, o Pai da Reforma”, “Se Cristo Voltar Neste Natal” e
“A Ética de Antônio Vieira”.
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