Um Precursor do Iluminismo,
Escrevendo no Século Dezessete
Carlos Cardoso Aveline
Antônio Vieira, à esq.,
e Manuel Bernardes, com o bico de pena que
usava para escrever
Escrevendo no Século Dezessete
Nem todos os que são famosos são importantes, e nem todos
os que são importantes são famosos.
Manuel Bernardes não é, hoje, um best-seller. Mas Antônio Vieira, muito bem
conhecido, é sabidamente um dos maiores nomes da literatura lusófona de todos
os tempos.
Conta-se tradicionalmente que quando Vieira estava já próximo à morte - na
Bahia, em 1697 - ouviu entre os que o rodeavam alguém dizer que, depois dele, a
língua portuguesa ficaria desamparada. Mesmo débil, Vieira reuniu forças para
dizer aos amigos que, enquanto estivesse
vivo o padre Manuel Bernardes, ninguém precisava preocupar-se “com esta formosa
língua”. [1]
De fato, precursor do Iluminismo e amigo da sabedoria divina, Manuel
Bernardes tem livros extremamente úteis sobre a arte de viver. Graças à lei dos
ciclos, é possível que suas obras sejam outra vez valorizadas no século 21.
Antônio Vieira, por sua vez, nasceu em 1608 e passou grande parte da sua
vida no Brasil. Foi um jesuíta atípico, de pensamento independente. Considerado
herege, amigo de indígenas e judeus, alimentando ideias messiânicas e ousando
defender a ética na política, Vieira esteve preso durante anos nos cárceres da
Inquisição.
Já Manuel Bernardes (1644-1710) pertenceu à Congregação do Oratório,
linhagem de pensadores opostos aos jesuítas. O pensamento místico do oratoriano
soma naturalmente com o “herege” Vieira, embora os pensamentos dos dois sejam
bastante diferentes. Bernardes visa transcender e evitar ao máximo os
enfrentamentos, enquanto Vieira usa de uma forte ironia em inúmeras ocasiões.
Os oratorianos estimulavam o pensamento independente. Como Vieira, eram
amigos da filosofia platônica e clássica. Manuel Bernardes, embora suficientemente
prudente para não desafiar o autoritarismo do Vaticano, foi um verdadeiro aliado
da causa da humanidade e sua obra permanece hoje como um manancial de
espiritualidade à disposição do mundo ibérico.
NOTA:
[1] Do livro “Padre Manoel Bernardes, Excerptos”, trechos
reunidos por Antonio Feliciano de Castilho em dois volumes, B.L. Garnier
Editor, Rio de Janeiro, 1865, Tomo Segundo, pp. 281-282.
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O texto acima está
disponível como item independente nos websites associados desde 23 de fevereiro
de 2023. Faz parte também da edição de maio
de 2021 de “O Teosofista”, pp. 5-6.
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Informe sobre a
imagem:
Na ilustração de
“A Força Espiritual de Manuel Bernardes”,
vemos uma pena, instrumento chamado de “bico de pena”, na mão direita de
Bernardes. O fato nos remete à história da escrita. A Wikipédia informa: “O
bico de pena começou a ser utilizado para escrita no ano 700 da era cristã, sendo
feito das primeiras cinco penas de voo da asa esquerda de pássaros em muda,
dependendo da disponibilidade da pena. Depois de cuidadosamente selecionada, a
pena era sujeita a um meticuloso processamento em areia quente para
fortalecê-la, sendo afiada antes de ser
usada como instrumento de escrita.”
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Leia mais:
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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