Um Cientista Francês Viaja Pelo Céu ao
Lado da Bela Urânia, Deusa da Astronomia

parcial de uma estátua em relógio pendular de Eugène Farcot, produzido em 1862
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Camille Flammarion (1842-1925) foi espírita e membro
do movimento teosófico enquanto Helena Blavatsky vivia.
Seus escritos são elogiados em uma das Cartas dos Mahatmas.
(CCA)
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Parte I
SONHO DA ADOLESCÊNCIA
Eu contava dezessete primaveras de idade. Ela se chamava Urânia.
Urânia era acaso alguma jovem loura de olhos azuis, um sonho de primavera, inocente, mas curiosa filha de Eva? Não, era simplesmente, tal qual outrora, uma das nove Musas, a que presidia à Astronomia, e cujo olhar celeste animava e dirigia o coro das esferas; era a ideia angélica que paira por sobre os erros terrestres; não possuía nem a carne perturbadora, nem o coração cujas palpitações se transmitem a distância, nem o tépido calor da vida humana; mas existia, entretanto, em uma espécie de mundo ideal, superior e sempre puro, e todavia era bastante humana, pelo nome, e pela forma, para produzir na alma de um adolescente impressão viva e profunda, para fazer nascer nessa alma um sentimento indefinido, indefinível, de admiração e quase de amor.
O jovem cuja mão não tocou ainda o fruto divino da árvore do Paraíso e cujos lábios se conservaram ignorantes, cujo coração ainda não falou, cujos sentidos despertam em meio do vago de novas aspirações, esse pressente, nas horas de solidão, e mesmo através dos trabalhos intelectuais com que a educação contemporânea lhe sobrecarrega o cérebro, o culto a que deverá bem depressa render sacrifícios, e personifica de antemão sob várias formas o ente sedutor que flutua na atmosfera dos seus sonhos. Quer, deseja alcançar esse ente desconhecido, mas não o ousa ainda, e talvez não o ousasse jamais, na candura de sua admiração, se algum avanço caridoso não lhe viesse em auxílio. Se Cloé não é instruída, cumpre que a indiscreta e curiosa Licênia se incumba de instruir Dafnes.
Tudo quanto nos fala da atração ainda desconhecida pode encantar-nos, impressionar-nos, seduzir-nos. Uma fria gravura, mostrando o oval de um puro semblante, uma pintura, mesmo antiga, uma escultura - principalmente uma escultura - desperta um movimento novo nos corações, o sangue se precipita ou detém, a ideia nos atravessa qual relâmpago a fronte enrubescida, e permanece flutuante em nosso espírito sonhador. É o começo dos desejos, é o prelúdio da vida, é a aurora de um belo dia de estio anunciando o nascer do Sol.
Pelo que me toca, o meu primeiro amor, a minha adolescente paixão tinha, não por objeto seguramente, mas por causa determinante... uma Pêndula!... É demasiado extravagante, mas é assim. Cálculos muito insípidos ocupavam minhas tardes todas, das duas às quatro horas: tratava-se de corrigir as observações de estrelas ou de planetas feitas na noite antecedente, aplicando-lhes as reduções provenientes da refração atmosférica, a qual depende também da altura do barômetro e da temperatura. Esses cálculos são tão simples quanto fastidiosos; são feitos maquinalmente, com o auxílio de tabelas preparadas, e pensando inteiramente em outra coisa.
O ilustre Le Verrier era então Diretor do Observatório de Paris. Nada artista, possuía, entretanto, no seu gabinete de trabalho, uma pêndula de bronze dourado, de muito belo estilo, datando do fim do primeiro Império e devida ao cinzel de Pradier. O soco dessa pêndula representava, em baixo-relevo, o nascimento da Astronomia nas planuras do Egito. Uma esfera celeste maciça, cingida do círculo zodiacal, sustentada por esfinges, dominava o mostrador. Deuses egípcios ornavam os lados. Mas a beleza dessa obra artística consistia, principalmente, em uma sedutora estatueta de Urânia, nobre, elegante, diria quase majestosa.
A Musa Celeste estava de pé. Com a mão direita media, por meio de um compasso, os graus da esfera estrelada; a esquerda, caindo, empunhava pequena luneta astronômica. Soberbamente panejada, dominava na atitude da majestade e da grandeza. Eu não tinha visto ainda semblante mais belo do que o seu. Iluminado de frente, esse puro semblante se mostrava austero e grave. Se a luz descia oblíqua, tornava-se ele meditativo. Se, porém, a luz vinha do alto e de lado, esse rosto encantado se iluminava de misterioso sorriso, o olhar se lhe tornava quase carinhoso, e essa esquisita serenidade se transformava subitamente em uma expressão de alegria, de amenidade e de ventura, que se tinha prazer em contemplar. Era como que um cântico interior, uma poética melodia. Essas mudanças de expressão faziam verdadeiramente a estátua viver. Musa ou deusa, era bela, era sedutora, era admirável. Cada vez que me chamavam para junto do eminente matemático, não era a sua glória universal que me impressionava mais.
Eu esquecia as fórmulas de logaritmos, e mesmo a imortal descoberta da obra de Pradier. Aquele belo corpo, tão admiravelmente modelado sob a sua antiga vestimenta, o gracioso ligamento do pescoço, aquela figura expressiva, atraíam meus olhares e cativavam meu pensamento. Muitas vezes, quando às quatro horas deixávamos o gabinete para reentrar em Paris, eu espreitava pela entreabertura da porta a ausência do diretor.
Às segundas e às quartas-feiras eram os melhores dias; aquelas, por motivo das sessões do Instituto, a que ele quase nunca faltava, ainda que a elas assistisse sempre com ar desdenhoso; as outras, por causa das do Gabinete das longitudes, a que ele fugia com o mais profundo menosprezo, e que o faziam deixar o Observatório expressamente para melhor acentuar o seu desprezo. Então, eu me colocava bem defronte da minha querida Urânia, contemplava-a à minha vontade, extasiava-me com a beleza de suas formas, e retirava-me mais satisfeito, porém não mais feliz. Ela me encantava, mas me deixava saudades.
Certa noite, a noite em que lhe descobri as mudanças de fisionomia conforme a luz, tinha achado o gabinete inteiramente aberto, uma lâmpada posta sobre a chaminé e iluminando a Musa sob um dos aspectos mais sedutores. A luz oblíqua acariciava docemente a fronte, as faces, os lábios e o colo. A expressão era maravilhosa. Aproximei-me e a contemplei, a princípio imóvel. Acudiu-me depois a ideia de tirar a lâmpada do local onde estava e de projetar a luz sobre as espáduas, sobre o braço, sobre o pescoço, sobre os cabelos. A estátua parecia viver, pensar, despertar e até sorrir. Sensação esquisita, sentimento estranho, eu estava verdadeiramente cativo; de admirador, eu me tornara enamorado. Muito me haveriam surpreendido então se houvessem afirmado que não era esse o verdadeiro amor, e que o meu platonismo era um sonho infantil.
O Diretor chegou, e não pareceu tão admirado da minha presença quanto eu pudera temê-lo (passava-se algumas vezes por aquele gabinete para ir às salas de observação). No momento, porém, em que eu depunha a lâmpada em cima da chaminé: - O senhor está demorando para a observação de Júpiter -, disse-me. E quando eu ia transpondo a porta: - Dar-se-á o caso que seja poeta? - acrescentou em tom de profundo desdém, demorando longamente na penúltima sílaba.
Teria podido replicar-lhe com o exemplo de Kepler, de Galileu, de d’Alembert, dos dois Herschel, e de outros ilustres sábios, que foram poetas ao mesmo tempo que astrônomos; teria podido avivar-lhe mesmo a lembrança do primeiro Diretor do Observatório, Jean Dominique Cassini, que cantou Urânia em versos latinos, italianos e franceses; mas os alunos do Observatório não tinham o costume de replicar o que quer que fosse ao Senador-Diretor. Os senadores eram então personagens, e o Diretor do Observatório, cargo inamovível. E depois, seguramente, o nosso grande geômetra teria encarado o mais maravilhoso poema de Dante, de Ariosto, ou de Hugo, com o mesmo ar de profundo tédio com que um bonito cão da Terra-Nova olha um copo de vinho que se lhe aproxima ao focinho. Além disso, eu estava incontestavelmente em falta.
Aquela fascinante imagem de Urânia como me perseguia, com todas as suas deliciosas expressões de fisionomia! O seu sorriso era tão gracioso! E depois, seus olhos de bronze tinham às vezes um verdadeiro olhar. Não lhe faltava senão a palavra. Ora, na noite seguinte, apenas adormecido eu revi, diante de mim, a sublime deusa, e desta vez ela me falou.
Oh! estava bem viva. E que linda boca! Eu lhe teria beijado cada palavra... “Vem”, disse-me, “vem ao céu lá em cima, longe da Terra; tu dominarás este baixo mundo; contemplarás o imenso Universo em toda a grandeza. Olha, vê!”
Parte II
…Vi então a Terra que tombava nas hiantes profundezas da imensidade; as cúpulas do Observatório, Paris iluminada, desciam rapidamente; não obstante sentir-me imóvel, tive a impressão análoga à que se experimenta em balão, quando, elevando-se nos ares, se vê a Terra descer. Subi, subi durante muito tempo, arrebatado em mágica ascensão para o Zênite inacessível. Urânia estava junto de mim, um pouco mais elevada, fitando-me com doçura e mostrando-me os reinos terrestres. O dia voltara. Reconheci a França, o Reno, a Alemanha, a Áustria, a Itália, o Mediterrâneo, a Espanha, o oceano Atlântico, a Mancha, a Inglaterra. Mas toda essa liliputiana geografia diminuía rapidamente. Em breve o globo terráqueo reduzido às aparentes dimensões do plenilúnio, depois às de uma luazinha cheia.
- Eis aí, disse-me ela, o famoso globo terrestre sobre o qual se agitam tantas paixões, e que encerra em seu círculo estreito o pensamento de tantos milhões de seres cuja vista não se estende ao Além. Vê quanto a sua aparente grandeza diminui à proporção que o nosso horizonte se dilata. Já não distinguimos mais a Europa da Ásia. Eis ali o Canadá e a América do Norte. Quanto é minúsculo tudo aquilo!
Passando perto da Lua, eu havia notado as paisagens montanhosas do nosso satélite, os cimos radiantes de luz, os profundos vales cheios de sombras, e teria desejado deter-me para estudar de mais perto essa morada vizinha; mas, sem mesmo dedignar-se lançar para ela um simples olhar, Urânia me arrastava em rápido voo para as regiões siderais.
Subimos sempre. A Terra, diminuindo de mais em mais, à proporção que nos distanciamos, chegou a ficar reduzida ao aspecto de simples estrela, brilhando com a luz solar no seio da imensidade vazia e negra. Tínhamo-nos voltado para o Sol, que resplendia no Espaço sem iluminá-lo, e víamos, ao mesmo tempo que a ele, as estrelas e os planetas, que a sua luz não apagava, por isso que não ilumina o éter invisível. A deusa angélica mostrou-me Mercúrio, na vizinhança do Sol; Vênus, que brilhava do lado oposto; a Terra, igual a Vênus comparada em aspecto e em brilho; Marte, cujos mediterrâneos e canais reconheci; Júpiter, com as suas quatro luas enormes; Saturno, Urano...
- Todos esses mundos, disse-me ela, são sustentados no vácuo pela atração do Sol, em torno do qual giram com velocidade. É um todo harmonioso, gravitando em redor do centro. A Terra não é mais do que uma ilha flutuante, uma aldeia dessa grande pátria solar, e esse império solar não é, ele próprio, mais do que uma província no seio da imensidade sideral.
Subíamos sempre. O Sol e seu sistema distanciavam-se rapidamente; a Terra não era mais que um ponto; Júpiter mesmo, esse mundo tão colossal, mostrou-se diminuído, e assim Marte e Vênus, a um pontinho minúsculo, apenas superior ao da Terra.
Passamos à vista de Saturno, cingido dos seus anéis gigantescos, e cujo só testemunho bastaria para provar a imensa e inimaginável variedade que reina no Universo; Saturno, verdadeiro sistema por si, com seus anéis formados de corpúsculos conduzidos em uma rotação vertiginosa, e com os seus oito satélites acompanhando-o qual um celeste cortejo!
À medida que subíamos, o nosso Sol ia diminuindo de grandeza. Bem depressa desceu à categoria de estrela, depois perdeu toda a majestade, toda a hegemonia sobre a população sideral, e não foi mais do que uma estrela, apenas mais brilhante do que as outras.
Eu contemplava toda aquela imensidade estrelada, no meio da qual nos elevávamos sempre, e procurava reconhecer as constelações; estas, porém, começavam a mudar sensivelmente de formas, por motivo da diferença de perspectiva causada pela minha viagem; a Via-láctea estava submergida sob o nosso voo, qual catarata de sóis em fusão, tombando ao fundo do Infinito; as estrelas das quais nos aproximávamos emanavam rutilâncias fantásticas, derramando uma espécie de rios de luzes, irradiações de ouro e prata, cegando-nos de fulgurantes claridades. Acreditei ver o nosso Sol, transformado insensivelmente em uma estrelinha, reunir-se à constelação do Centauro, enquanto uma nova luz, pálida, azulada, bastante estranha, chegava da região para a qual Urânia me conduzia. Essa claridade nada tinha de terrestre, e não me recordava nenhum dos efeitos que eu havia admirado nas paisagens da Terra, nem entre os tons tão cambiantes dos crepúsculos depois da tempestade, nem nas brumas indecisas da manhã, nem durante as horas calmas e silenciosas do clarão da Lua no espelho do mar. Este último efeito era talvez aquele de que esse aspecto mais se aproximava, mas a estranha luz era, e cada vez se tornava mais verdadeiramente azul, não de um reflexo de azul celeste ou de um contraste análogo ao que produz a luz elétrica comparada à do gás, mas azulada igual a - se o próprio Sol fosse azul!
Qual não foi a minha estupefação, quando me apercebi de que nos aproximávamos, com efeito, de um sol absolutamente azul, igual a um disco brilhante que houvesse sido recortado nos nossos mais belos céus terrestres, e destacando-se luminosamente em um fundo todo negro, todo constelado de estrelas! Esse sol safira era o centro de um sistema de planetas iluminados pela sua luz. Íamos passar pertinho de um desses planetas. O sol azul crescia a olhos vistos; mas, novidade tão singular quanto a primeira, a luz com que ele iluminava o dito planeta se complicava de um certo lado com uma coloração verde. Olhei de novo para o céu e avistei um segundo sol e esse de um belo verde-esmeralda! Não acreditava em meus olhos.
- Estamos atravessando, disse Urânia, o sistema solar de Gama de Andrômeda, do qual ainda não vês mais do que uma parte, pois ele se compõe, na realidade, não desses dois sóis, mas de três, um azul, um verde, e um amarelo-laranja. O sol azul, que é o menor, gira em torno do sol verde, e este gravita com seu companheiro em redor do grande sol alaranjado que vais avistar dentro em pouco.
Com efeito, vi logo aparecer um terceiro sol, colorido dessa ardente irradiação, cujo contraste com seus dois companheiros produzia a mais estranha das claridades. Conhecia bem tão curioso sistema sideral, por tê-lo mais de uma vez observado com o telescópio; mas, não suspeitava sequer o seu verdadeiro esplendor. Que fornalhas, que deslumbramentos! Que vivacidade de cores nessa estranha fonte de luz azul, nessa iluminação verde do segundo sol, e nessa irradiação de ouro fulvo do terceiro!
Mas, havíamo-nos aproximado, conforme disse, de um dos mundos pertencentes ao sistema do sol safira. Tudo era azul: paisagens, águas, plantas, rochedos, levemente esverdeados do lado que recebia luz do segundo sol, e apenas tocadas dos raios do sol alaranjado que se erguia no horizonte longínquo. À medida que penetrávamos na atmosfera desse mundo, uma suave música, deliciosa, erguia-se nos ares à semelhança de um perfume, de um sonho. Jamais eu ouvira coisa igual. A doce melodia, profunda, distante, parecia vir de um conjunto de harpas e violinos sustentado por um acompanhamento de órgão. Era um canto delicado, que inebriava desde o primeiro momento; que não carecia de análise para ser compreendido, e que enchia a alma de volúpia. Parecia-me que teria ficado uma eternidade a ouvi-lo; não ousei dirigir a palavra ao meu guia, tanto receava perder-lhe uma nota. Urânia apercebeu-se. Estendeu a mão para um lago e com o dedo indicou um grupo de seres alados que pairavam por cima das águas azuis.
Não tinham a forma humana terrestre. Eram criaturas evidentemente organizadas para viver no ar. Pareciam tecidas de luz. De longe, tomei-as, a princípio, por libélulas: tinham-lhes a forma esbelta e elegante, as vastas asas, a vivacidade, a ligeireza. Mas, examinando-as de mais perto, notei seu porte, que não era inferior ao nosso, e reconheci, pela expressão dos olhares, que não eram animais.
As suas cabeças pareciam-se igualmente com as das libélulas, e, à semelhança dessas criaturas aéreas, não tinham pernas. A música deliciosa que eu ouvia não era senão o ruído de seu voo.
Eram numerosíssimas, vários milhares talvez.
Viam-se, nos cimos das montanhas, plantas que não eram nem árvores, nem flores. Erguiam débeis hastes a enormes alturas, e esses talos ramificados sustentavam, parecendo braços estendidos, amplas taças em forma de tulipas. Essas plantas eram animadas, pelo menos no grau das nossas sensitivas, e mais ainda; e, igual ao desmódio (planta que tem forma de borboleta) de folhas móveis, manifestavam por movimentos as suas impressões interiores. Esses pequenos bosques formavam verdadeiras cidades vegetais. Os habitantes daquele mundo não tinham outras moradas além de tais plantas, e era no meio dessas perfumadas sensitivas que repousavam, quando não flutuavam nos ares.
- Este mundo parece fantástico, disse Urânia, e a ti próprio perguntas que ideias podem ter tais seres, que costumes, que história, que espécie de artes, de literatura e de ciências. Longo seria responder a todas as perguntas que poderias fazer. Fica sabendo unicamente que seus olhos são superiores aos melhores telescópios; que seu sistema nervoso vibra à passagem de um cometa e descobre eletricamente fatos que na Terra jamais se conhecerão. Os órgãos que estás vendo abaixo das asas lhes servem de mãos, mais hábeis que as vossas. Por imprensa têm eles a fotografia direta dos acontecimentos e a fixação fônica das próprias palavras. Não se ocupam, de resto, senão de pesquisas científicas, isto é, do estudo da Natureza. As três paixões que absorvem a maior parte da vida terrestre, o ávido desejo da riqueza, a ambição política e o amor lhes são desconhecidas, porque de nada carecem para viver, nem há divisões internacionais, nem outro governo além de um conselho de administração, e por que são andróginos (ambisséxuos).
- Andróginos! Repliquei. E ousei acrescentar: Será melhor?
- Coisa diversa. São grandes perturbações a menos em uma Humanidade. É preciso, continuou ela, desprender-se inteiramente das sensações e das ideias terrenas, para estar em situação de compreender a diversidade infinita manifestada pelas diferentes formas da Criação. De igual modo que sobre o vosso planeta as espécies têm mudado de idade em idade, desde os seres tão esquisitos das primeiras épocas geológicas até o aparecimento da Humanidade; de igual maneira que ainda agora a população animal e vegetal da Terra é composta das mais diversas formas, desde o homem ao coral, desde a ave ao peixe, desde o elefante à borboleta; assim também, e em uma extensão incomparavelmente mais vasta, entre as inumeráveis terras do Céu, as forças da Natureza têm dado origem a uma infinita diversidade de seres e de coisas. A forma das criaturas é, em cada mundo, o resultado dos elementos especiais a cada globo, substância, calor, luz, eletricidade, densidade, peso. As formas, os órgãos, o número dos sentidos - vós outros tendes apenas cinco, e esses mesmos bastante pobres - dependem das condições vitais de cada esfera. A vida é terrestre na Terra; marciana em Marte; saturniana em Saturno; netuniana em Netuno -, isto é, apropriada a cada mansão, ou, para melhor dizer, mais rigorosamente ainda, produzida e desenvolvida por esse mundo em particular, conforme o seu estado orgânico, e segundo uma lei primordial a que obedece a Natureza inteira: a lei do Progresso.
Enquanto ela me falava, tinha eu acompanhado com o olhar o voo dos seres aéreos para a cidade florida, e vira com espanto as plantas a se moverem, erguendo-se ou abaixando-se para recebê-los; o sol verde descera abaixo do horizonte, e o sol alaranjado levantara-se no céu; a paisagem estava adornada de coloração feérica sobre a qual pairava uma lua enorme, metade alaranjada, metade verde. Então, a imensa melodia que musicava a atmosfera parou, e, em meio de profundo silêncio, ouvi um cântico, erguendo-se em voz tão pura que nenhuma voz humana lhe pudera ser comparada.
- Maravilhoso sistema, exclamei eu, o de tal mundo iluminado por semelhantes clarões! São estrelas duplas, tríplices, múltiplas, vistas de perto?
- São esplêndidos sóis essas estrelas - respondeu-me a deusa. Graciosamente associadas nos laços de múltipla atração, vós outros as vedes, da Terra, embaladas duas a duas no seio dos céus, sempre belas, sempre luminosas, puras sempre. Suspensas no Infinito, apoiam-se uma na outra sem jamais se tocarem, tal qual se a sua união, mais moral que material, fosse regida por um princípio invisível, e, seguindo harmoniosas curvas, gravitam em cadência em torno uma da outra, celestes casais desabrochados na primavera da Criação, nas campinas consteladas da imensidade. Enquanto os sóis simples qual o vosso brilham solitários, fixos, tranquilos, nos desertos do Espaço, os sóis duplos e múltiplos parecem animar, com os seus movimentos, a sua coloração e vida, as silenciosas regiões do eterno vácuo. Esses relógios siderais marcam para vós outros os séculos e as eras dos outros universos. Mas, acrescentou, continuemos a nossa viagem. Estamos apenas a alguns trilhões de léguas da Terra.
- Alguns trilhões?
- Sim. Se pudéssemos ouvir daqui os ruídos do vosso planeta, os seus vulcões, a sua artilharia, os seus trovões, os alaridos das grandes turbas nos dias de revolta, ou os cânticos piedosos das igrejas que se elevam para o Céu, a distância é tal que, admitindo pudessem esses ruídos transpô-la com a velocidade do som no ar, eles não empregariam menos de cento e cinquenta mil séculos para chegar até aqui. Ouviríamos hoje unicamente o que se passara na Terra há quinze milhões de anos.
“Entretanto achamo-nos ainda, em relação à imensidade do Universo, mui próximo da tua Pátria.
“Continuas a reconhecer o teu Sol, lá em baixo, pequenina estrela. Não saímos do universo, a que ele pertence com o seu sistema de planetas.
“Esse universo se compõe de muitos milhares de sóis, separados uns dos outros por trilhões de léguas.
“É tão considerável a sua extensão, que um relâmpago, com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, empregaria quinze milênios em transpô-la.
“E por toda a parte, por toda a parte sóis, para qualquer lado que volvamos o olhar; por toda a parte fontes de luz, de calor e de vida, fontes de inexaurível variedade, sóis de todos os esplendores, de todas as grandezas, de todas as idades, sustentados no eterno vácuo, no éter luminífero, pela atração mútua de todos e pelo movimento de cada um. Cada estrela, sol enorme, gira sobre si mesma, qual esfera de fogo, e voga rumo de um fim. Vosso Sol caminha e vos leva para a constelação de Hércules; este, cujo sistema acabamos de atravessar, caminha para o sul das Plêiades; Sírius se precipita para a Pomba; Pólux se dirige para a Via-láctea; todos esses milhões, todos esses bilhões de sóis correm através da imensidão com velocidades que atingem duzentos, trezentos e quatrocentos mil metros por segundo! É o Movimento que sustenta o equilíbrio do Universo, que lhe constitui a organização, a energia e a vida.”
Parte III
Desde muito tempo já, o sistema tricolor tinha fugido sob o nosso voo. Passamos pela vizinhança de grande número de mundos bem diferentes da pátria terrestre. Uns pareceram-me inteiramente cobertos de água e povoados de seres aquáticos; outros unicamente habitados por plantas. Alguns se acham absolutamente desprovidos de água: são os que pertencem a sistemas idênticos ao da estrela Alfa de Hércules - privados de hidrogênio. Outros parecem em labaredas. Paramos perto de muitos. Que inimaginável variedade!
Sobre um de entre eles, as rochas, as plantas e as paisagens reenviam, durante as horas da noite, a luz que receberam e acumularam no decurso do dia. Talvez o fósforo constitua importante contingente na composição desses corpos. É um mundo muito estranho, onde a noite é desconhecida, embora seja desprovido de satélites. Parece que seus habitantes desfrutam de uma propriedade orgânica muito preciosa: são conformados de tal sorte que percebem todas as funções da manutenção vital do organismo. De cada molécula do corpo, por assim dizer, parte um nervo que transmite ao cérebro as impressões variadas que recebe, de maneira que o homem se vê interiormente, e conhece, de início, todas as causas das doenças, os menores sofrimentos, os quais são detidos desde os seus germes.
Em outro globo, que atravessamos também durante a noite, isto é, do lado do seu hemisfério noturno, os olhos humanos estão organizados de tal sorte que são luminosos, alumiam, qual se alguma emanação fosforescente irradiasse do seu estranho foco. Uma reunião noturna, composta de grande número de pessoas, oferece aspecto verdadeiramente fantástico, porque a claridade, e assim a cor dos olhos, muda conforme as diversas paixões que as animam. Além disso, o poder desses olhares é tal que exercem influência elétrica e magnética de intensidade variável, e, em certos casos, podem fulminar, fazer cair morta a vítima na qual se fixe toda a energia da sua vontade.
Um pouco mais longe, a minha guia celeste assinala um mundo onde os organismos gozam de preciosa faculdade: a Alma pode mudar de corpo, sem passar pela circunstância da morte, muitas vezes desagradável, e sempre triste. Um sábio, que trabalhou a vida inteira pela instrução da Humanidade, e vê chegar o fim de seus dias, sem haver terminado os nobres empreendimentos, - pode mudar de corpo com um adolescente e recomeçar uma vida nova, mais útil ainda do que a primeira. Para essa transmigração basta o consentimento do adolescente e a operação magnética de um médico competente. Vêem-se também, às vezes, dois entes, unidos pelos tão suaves e fortes laços do amor, operar igual mudança de corpo, após vários lustros de união: a Alma do esposo vem habitar o corpo da esposa, e vice-versa, pelo resto da existência. O conhecimento íntimo da vida se torna incomparavelmente mais completo para cada um deles. Vêem-se também sábios, historiadores, desejosos de viver dois séculos em vez de um, mergulhar em sonos de hibernação artificial, que lhes suspendem a vida durante metade de cada ano e mesmo mais. Alguns conseguem até viver três vezes mais tempo do que a vida normal dos centenários.
Momentos depois, atravessando outro sistema, encontramos um gênero de organizações inteiramente diverso e, com segurança, superior ao nosso. Nos habitantes do planeta que tínhamos então sob os olhos, mundo iluminado por brilhante sol hidrogenado, o pensamento não é obrigado a passar pela palavra para manifestar-se. Quantas vezes não tem acontecido, quando uma ideia luminosa ou engenhosa nos vem ocupar o cérebro, querer exprimi-la ou escrevê-la, e, durante o tempo em que começamos a falar ou escrever, sentir já a ideia dissipada, esvaída, obscurecida ou metamorfoseada? Os habitantes desse planeta possuem um sexto sentido, a que se poderia chamar autotelegráfico, em virtude do qual, se aquele que pensa não se opõe a isso, o pensamento se comunica ao exterior e pode ser lido em um órgão situado pouco mais ou menos no mesmo lugar da fronte humana. Essas conversações silenciosas são muitas vezes as mais profundas e as mais preciosas; são sempre as mais sinceras.
Somos ingenuamente dispostos a crer que a organização humana não deixa nada a desejar na Terra. Entretanto, não temos muitas vezes lamentado ser a criatura obrigada a ouvir, mau grado seu, palavras desagradáveis, um discurso absurdo, um sermão orgulhoso em vácuo, música péssima, maledicências ou calúnias? As nossas gramáticas têm pretendido que podemos “fechar os ouvidos” a esses discursos; assim não é, infelizmente. Não podemos fechar os ouvidos, tal qual fechamos os olhos. Há aí uma lacuna. Fiquei surpreendidíssimo de assinalar um planeta onde a Natureza não esqueceu essa particularidade. Porque quando nos detivemos nele um momento, mostrou-me Urânia esses ouvidos que se fechavam à maneira de pálpebras, e interceptavam radicalmente a transmissão do som. “Há aqui, disse-me ela, muito menos cóleras surdas do que entre vós outros; mas as dissidências entre os partidos políticos são muito mais acentuadas, não querendo os adversários ouvir coisa alguma, e triunfando efetivamente, apesar dos mais loquazes advogados e dos tribunos dotados de melhores pulmões.”
Em outro mundo, cuja atmosfera está constantemente eletrizada, cuja temperatura é muito alta, e onde os habitantes têm tido quase ou nenhuma razão suficiente para inventar vestimentas, certas paixões se traduzem pela iluminação de uma parte do corpo. É em ponto grande o que se passa em ponto pequeno em nossas campinas terrestres, onde se veem, durante as serenas noites de estio, os pirilampos consumindo-se, silenciosamente, em amorosa flama. O aspecto dos casais luminosos é curioso de observar, à noite, nas grandes cidades. A cor da fosforescência difere segundo os sexos, e a intensidade varia segundo as idades e os temperamentos. O sexo forte acende uma flama vermelha, mais ou menos ardente, e o sexo gracioso uma flama azulada, às vezes pálida e discreta. Só os nossos pirilampos poderiam formar uma ideia, mui rudimentar, da natureza das impressões sentidas por esses entes especiais. Não queria eu dar crédito a meus olhos quando atravessávamos a atmosfera de tal planeta; porém, ainda muito mais surpreendido fiquei, chegando ao satélite desse mundo singular.
Era uma lua solitária, iluminada por uma espécie de sol crepuscular. Sombrio vale ofereceu-se aos nossos olhares. Das árvores disseminadas nos dois lados, pendiam criaturas humanas envoltas em sudários. Tinham-se atado elas mesmas aos ramos, pela cabeleira, e dormiam ali no mais profundo silêncio. O que eu tomara por sudários era um tecido formado pelo alongamento dos cabelos emaranhados e encanecidos. E porque me admirasse de semelhante posição, disse Urânia que era aquele o seu modo habitual de sepultamento e de ressurreição. Sim, naquele mundo os entes humanos gozam da faculdade orgânica dos insetos, que têm o dom de dormir no estado de crisálida para se metamorfosearem em aladas borboletas. Há nisso uma espécie de dupla raça humana, e os estagiários da primeira fase, os seres mais grosseiros e materiais, não aspiram senão a morrer, para ressuscitar na mais esplêndida das metamorfoses. Cada ano desse mundo representa cerca de dois séculos terrestres. Vive-se ali dois terços de ano em estado inferior, um terço (o inverno) em estado de crisálida, e, na primavera seguinte, sentem, os suspensos, gradualmente a vida voltar à carne transformada; agitam-se, despertam, deixam a carcaça na árvore, e desprendendo-se, maravilhosos entes alados voam nas regiões aéreas, para viver aí um novo ano fenixiano, isto é, duzentos dos de nosso rápido planeta.
Atravessamos assim grande número de sistemas, e parecia-me que a eternidade inteira não teria sido bastante longa para permitir-me gozar de todas essas criações desconhecidas à Terra; mas minha guia me deixava apenas o tempo para respirar, e novos sóis, e novos mundos continuavam aparecendo. Em nosso trajeto, tínhamos quase abalroado uns cometas transparentes que erravam, quais sopros, de um a outro sistema, cujas Humanidades teriam sido novos assuntos de estudo.
Os cinco pobres sentidos incompletos, que constituem a nossa bagagem orgânica, são verdadeiramente insignificantes à riqueza de percepções dos seres munidos de quinze, dezoito e mesmo vinte e seis sentidos diferentes, conforme constatamos em muitas Terras no céu. No entanto, a Musa celeste continuava a levar-me sem parar, sempre cada vez mais alto, cada vez mais longe, até que, enfim, chegamos ao que me pareceu o subúrbio do Universo. Os sóis tornavam-se mais raros, menos luminosos, mais pálidos; a noite se fez mais completa entre os astros, e em breve nos achamos no meio de verdadeiro deserto; os milhares de estrelas, que constituem o Universo visível da Terra, estavam afastados e reduzidos a uma pequena via-láctea, isolada no vácuo infinito.
- Eis-nos finalmente, exclamei, nos limites da Criação!
- Olha! Respondeu-me ela, mostrando-me o zênite.
Parte IV
Quê! Era verdade? Outro universo descia em nosso rumo! Milhões e milhões de sóis grupados planavam, novo arquipélago celeste, e se iam desenvolvendo qual vasta nuvem de estrelas, à proporção que subíamos. Tentei sondar com a vista, em torno de mim, em todas as profundezas, o Espaço infinito, e por toda a parte avistei clarões análogos, montões de estrelas disseminados em todas as distâncias.
O novo universo em que penetrávamos era principalmente composto de sóis vermelhos, rubis e granadas. Muitos tinham absolutamente a cor do sangue.
Sua travessia foi uma verdadeira fulguração. Corríamos rapidamente de sol em sol, mas incessantes comoções elétricas nos atingiam, à semelhança dos clarões de uma aurora boreal. Que estranhos estádios, esses mundos iluminados unicamente de sóis rubros! Depois, em um distrito desse universo, notamos um grupo secundário, composto de grande número de estrelas cor-de-rosa e outras azuis. De súbito, precipitou-se em nosso rumo, e nos envolveu, um enorme cometa, cuja extremidade dianteira semelhava uma goela colossal. Aconcheguei-me com terror à ilharga da deusa, que durante um momento desapareceu da minha vista em luminosa névoa. Mas nos tornamos a encontrar em escuro deserto, pois que esse segundo universo se afastara igual ao primeiro.
- A Criação, disse-me ela, se compõe de um número infinito de universos distintos, separados uns dos outros por abismos de nada.
- Um número infinito?
- Objeção matemática, replicou. Sem dúvida, um número, por muito grande que seja, não pode ser presentemente infinito, pois que, pelo pensamento, se pode aumentá-lo sempre de uma unidade, ou mesmo duplicá-lo, triplicá-lo, centuplicá-lo. Lembra-te, porém, de que o momento atual não é mais do que uma porta por onde o futuro se precipita para o passado. A eternidade não tem fim, e o número dos universos será, ele também, sem fim. Além disso, as estrelas, os sóis e os universos não formam um - número. Eles são, por melhor dizer, sem número. Olha! Vês ainda, sempre e por toda parte, novos arquipélagos de ilhas celestes, novos universos.
- Parece-me, oh Urânia! que há muito tempo já, e com grande velocidade, estamos subindo no céu sem limites!
- Poderíamos sempre subir assim, respondeu ela, sem jamais atingir um limite definitivo. Poderíamos vogar para a esquerda, para a direita, para a frente, para trás, para baixo, para não importa qual direção, e jamais, em parte nenhuma, depararíamos uma fronteira... Nunca, nunca um fim. Sabes onde estamos? Sabes que caminho temos percorrido? Estamos... no vestíbulo do Infinito, tal qual o estávamos na Terra. Não temos avançado um único passo!
Grande comoção se apoderara do meu Espírito. As últimas palavras de Urânia tinham-me penetrado até à medula, qual calafrio glacial. “Nunca um fim, nunca, nunca!”, repetia eu. E não podia dizer, nem pensar outra coisa. Entretanto, a magnificência do espetáculo reapareceu a meus olhos e o aniquilamento cedeu lugar ao entusiasmo.
- A Astronomia! exclamei. É tudo! Saber estas coisas! viver no infinito. Oh Urânia! Que é o resto das ideias humanas perante a Ciência! Sombras, fantasmas!
- Oh! disse ela, tu vais despertar na Terra, tu admirarás ainda, e legitimamente, a ciência de teus mestres; mas, fica sabendo: a Astronomia atual das suas Escolas e dos Observatórios, a Astronomia matemática, a bela ciência dos Newton, dos Laplace, dos Le Verrier, não é ainda a ciência definitiva.
“Não está lá, meu filho, o fim que busco desde os dias de Hiparco e de Ptolomeu. Vê esses milhões de sóis análogos àquele que dá vida à Terra e, tal qual ele, fontes de movimento, de atividade e de esplendor; pois bem, é esse o objeto da ciência futura: o estudo da vida universal e eterna. Até hoje, não se há penetrado no templo. Os algarismos não são um fim, mas um meio; não representam o edifício da Natureza, mas os métodos, os andaimes. Vais assistir à aurora de um novo dia. A Astronomia matemática vai ceder o lugar à Astronomia física, ao verdadeiro estudo da Natureza.
“Sim, acrescentou, os astrônomos, que calculam os movimentos aparentes dos astros na sua passagem de cada dia pelo meridiano; os que anunciam a chegada dos eclipses, dos fenômenos celestes, dos cometas periódicos; os que observam com tanta atenção as posições exatas das estrelas, dos planetas de vários graus da esfera celeste; os que descobrem os cometas, os planetas das estrelas variáveis; os que buscam e determinam as perturbações produzidas nos movimentos da Terra, pela atração da Lua e dos planetas; os que consagram suas vigílias à descoberta dos elementos fundamentais do sistema do mundo; todos, observadores ou calculistas, são os preparadores de materiais, precursores da nova Astronomia. São imensos trabalhos, labores dignos de admiração, transcendentes obras que põem em evidência as mais elevadas faculdades do espírito humano. Mas é o exército do passado. Matemáticos e geômetras. Doravante o coração dos sábios vai pulsar por uma conquista mais nobre ainda. Todos esses grandes Espíritos, estudando o céu, não têm na realidade saído da Terra. O fim da Astronomia não é mostrar a situação aparente de pontos brilhantes, nem pesar pedras em movimentos no Espaço, nem nos fazer conhecer com antecedência os eclipses, as fases da Lua ou as marés. Tudo isso é belo, mas insuficiente.
“Se a vida não existisse na Terra, este planeta seria absolutamente destituído de interesse para qualquer espírito que fosse, e a mesma reflexão se pode aplicar a todos os mundos, que gravitam em torno de milhares de sóis, nas profundezas da imensidade. A vida é o fim da Criação inteira. Se não houvesse vida, nem pensamento, tudo isto seria como que nulo e não acontecido. A Criação é um poema, do qual cada letra é um sol. Estás destinado a assistir a uma completa transformação da Ciência. A matéria vai ceder lugar ao Espírito.
- A vida universal! disse eu. Os planetas do nosso sistema solar serão todos habitados? ... São habitados os milhares de mundos que povoam o infinito? ... Essas Humanidades assemelham-se à nossa? ... Conhecê-las-emos algum dia? ...
- A época em que vives na Terra, a própria duração da Humanidade terrestre não é mais do que um momento na eternidade.
Não compreendi essa resposta às minhas perguntas.
- Nenhuma razão há, acrescentou Urânia, para que todos os mundos sejam habitados agora. A época presente não tem mais importância do que as precedentes ou as que se hão de seguir.
“A duração da existência da Terra será muito mais longa - talvez dez vezes mais longa - do que a do seu período vital humano. Em uma dezena de mundos, tomados ao acaso na imensidade, poderíamos, por exemplo, conforme os casos, achar apenas um atualmente habitado por uma raça inteligente. Uns o foram outrora; outros sê-lo-ão no futuro; estes se acham em via de preparação, aqueles têm percorrido todas as suas fases; aqui, berços; além, túmulos; e depois, uma variedade infinita se revela nas manifestações das forças da Natureza, não sendo a vida terrestre de modo algum o tipo da vida extraterrestre. Seres podem viver, em organizações inteiramente diversas das conhecidas no vosso planeta. Os habitantes dos outros não têm a vossa forma, nem os vossos sentidos. São outros.
“Dia virá, e muito proximamente, pois que estás chamado a vê-lo, em que o estudo das condições da vida nas diversas províncias do Universo será o objeto essencial - e o grande encanto - da Astronomia. Bem depressa, em vez de se ocuparem simplesmente com a distância, com o movimento e com a massa material dos vossos planetas vizinhos, os astrônomos descobrir-lhe-ão a constituição física, os aspectos geográficos, a climatologia, a meteorologia; penetrarão o mistério da sua organização vital e discutirão a respeito dos respectivos habitantes. Afirmarão que Marte e Vênus se acham atualmente povoados de seres pensantes; que Júpiter está ainda no seu período primário de preparação orgânica; que Saturno plana em condições inteiramente diferentes das que presidiram ao estabelecimento da vida terrena, e, sem jamais passar por estado análogo ao da Terra, será habitado por seres incompatíveis com os organismos terrestres. Novos métodos farão conhecer a constituição física e química dos astros, a natureza das atmosferas. Instrumentos aperfeiçoados permitirão mesmo descobrir os testemunhos diretos da existência dessas Humanidades planetárias, e pensar em estabelecer comunicação com elas. Eis a transformação científica que há de assinalar o fim do décimo-nono século e que há de inaugurar o vigésimo”.
Eu escutava, enlevado, as palavras da Musa Celeste, que iluminavam para mim, com luz inteiramente nova, os destinos da Astronomia, e me inundavam de ardor mais vivo ainda. Tinha sob os olhos o panorama dos mundos inumeráveis que rolam no Espaço, e compreendi que o fim da Ciência devia ser tornar conhecidos esses longínquos universos, fazer-nos viver nesses horizontes imensos. A formosa deusa continuou:
- A missão da Astronomia será mais elevada ainda. Depois de vos haver feito sentir e dado a conhecer que a Terra não é mais do que uma cidade na pátria celeste, e que o homem é cidadão do céu, irá mais longe. Descobrindo o plano sobre o qual o universo físico está construído, mostrará que o universo moral se acha alicerçado sobre esse mesmo plano; que os dois mundos não formam senão um mesmo mundo, e que o Espírito governa a Matéria. O que ela houver feito quanto ao Espaço, realizará quanto ao Tempo. Depois de haver apreciado a imensidade do Espaço, e reconhecido que as mesmas leis reinam simultaneamente em todos os lugares, e fazem do imensurável Universo uma exclusiva unidade, sabereis que os séculos do passado e do futuro estão associados ao tempo presente, e que as mônadas pensantes viverão eternamente, por transformações sucessivas e progressivas; aprendereis que há Espíritos incomparavelmente superiores aos maiores Espíritos da Humanidade terrestre, e que tudo progride para a perfeição suprema; ficareis sabendo também que o mundo material não é mais do que uma aparência e que o ser real - consiste em uma força imponderável, invisível e intangível.
“A Astronomia será, pois, eminentemente e antes de tudo, a diretriz da Filosofia. Os que raciocinarem fora dos conhecimentos astronômicos, ficarão à margem da Verdade. Os que, fiéis, seguirem o seu fanal, irão subindo gradualmente na solução dos grandes problemas.
“A filosofia astronômica será a religião dos espíritos superiores.
“Deves assistir, acrescentou ela, a essa dupla transformação da Ciência. Quando deixares o mundo terrestre, a ciência astronômica, que tão legitimamente já admiras, estará de todo renovada, tanto na forma quanto na essência.
“Isso, porém, não é tudo. A renovação de uma ciência antiga pouco serviria ao progresso geral da Humanidade, e se esses sublimes conhecimentos, que desenvolvem o Espírito, iluminam a Alma e a libertam das mediocridades sociais, ficassem encerrados no acanhado círculo dos astrônomos de profissão. Esse tempo vai passar também. O alqueire deve ser entornado. Cumpre empunhar o facho, aumentar-lhe o fulgor, levá-lo às praças públicas, às ruas populosas, até às mais escusas vielas. Todo o mundo é chamado a receber a luz; estão todos sequiosos dela, principalmente os humildes, principalmente os deserdados da fortuna, pois esses pensam mais, estão ávidos de ciência, enquanto os satisfeitos do século nem suspeitam da sua própria ignorância, e têm quase orgulho em permanecer assim. Sim, a luz da Astronomia deve ser espalhada pelo mundo; deve penetrar até as massas populares, iluminar as consciências, elevar os corações. E será essa a sua mais bela missão; será esse o seu benefício.”
Parte V
Assim falou a minha celeste guia. O seu semblante era tão formoso quanto o dia, os olhos brilhavam com luminoso fulgor, a sua voz parecia música divina. Eu via os mundos circulando em torno, no Espaço, e sentia que imensa harmonia rege a Natureza.
- Agora, disse-me Urânia, designando com o dedo o lugar onde o nosso Sol terrestre havia desaparecido, regressemos à Terra. Mas, olha ainda. Compreendeste que o Espaço é infinito. Vais compreender que o Tempo é eterno.
Atravessamos várias constelações e tomamos o rumo da volta para o sistema solar. Vi, com efeito, aparecer novamente o Sol, sob o aspecto de pequena estrela.
- Vou dar-te por um momento, prosseguiu ela, senão a visão divina, ao menos a visão angélica. A tua Alma vai sentir as vibrações etéreas que constituem a luz, e saber de que modo a história de cada mundo é eterna em Deus. Ver é saber. Olha!
De igual maneira que o microscópio nos mostra a formiga do tamanho do elefante; que, penetrando até os infinitamente pequenos, nos torna o invisível visível; assim também, à ordem da Musa, a minha vista adquiriu, de súbito, um inesperado poder de percepção e distinguiu no Espaço, ao lado do Sol, que se eclipsou, a Terra, que, de invisível, se tornou visível. Eu a reconheci, e, à medida que a olhava, o seu disco ia aumentando, oferecendo semelhança com a Lua - alguns dias antes da fase do plenilúnio. Cheguei em breve a distinguir, nesse disco crescente, os principais aspectos geográficos, a mancha nebulosa do Polo Norte, os contornos da Europa e da Ásia, o mar do Norte, o Atlântico, o Mediterrâneo. Quanto mais fixava atenção, melhor via. As minudências se tornavam cada vez mais perceptíveis, como se eu houvesse mudado gradualmente de oculares microtelescópicas. Reconheci a forma geográfica da França, mas a nossa bela Pátria parecia inteiramente verde, do Reno ao Oceano e da Mancha ao Mediterrâneo, como se a cobrisse uma só e imensa floresta. Conseguia, entretanto, distinguir, cada vez melhor, as menores particularidades, pois os Alpes, os Pireneus, o Reno, o Ródano e o Loire eram fáceis de reconhecer.
- Fixa bem a tua atenção, disse minha companheira.
Pronunciando essas palavras, punha-me ao mesmo tempo na fronte a extremidade de seus alongados dedos, como se tivesse querido magnetizar-me o cérebro e dar às minhas faculdades de percepção um poder maior ainda. Então sondei, penetrei mais atentamente ainda os detalhes da visão, e tive diante dos olhos a Gália da época de Júlio César. Era no tempo da guerra da independência, animada pelo patriotismo de Vercingetorix.
Via esses aspectos do alto, tal qual vemos as paisagens lunares com o telescópio, ou da barquinha do aeróstato avistamos uma região; mas reconheci a Gália, o Auvergne, Gergovia, Puy de Dôme, os vulcões extintos, e meu pensamento viu, reproduziu a cena gaulesa, da qual resumida imagem me chegava.
- Achamo-nos a tal distância da Terra, disse Urânia, que a luz consome para chegar de lá até aqui todo o tempo que nos separa da época de Júlio César. Aqui, recebemos, somente agora, os raios luminosos partidos da Terra naquele período. Entretanto, a luz viaja no Espaço etéreo com a velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo. É rápido, muito rápido, mas não é instantâneo. Os astrônomos da Terra, que estão agora observando as estrelas situadas à mesma distância em que nós nos achamos, não as avistam tal qual elas são atualmente, mas tal qual eram no momento em que partiram os raios luminosos que lhes chegam somente hoje, isto é, com o aspecto de mais de dezoito séculos atrás. Da Terra, acrescentou, nem de nenhum ponto do Espaço, jamais se avistam os astros no aspecto do que eles são, mas do que foram. Tanto mais atrasado se está sobre a sua história, quanto mais afastado deles se acha.
“Vós outros observais com o maior cuidado, ao telescópio, estrelas que não existem mais. Algumas mesmo dessas estrelas, que se avistam a olho nu, já não existem. Várias nebulosas, cuja distância é analisada com o espectroscópio, já se tornaram sóis. Muitas das vossas belas estrelas rubras estão presentemente apagadas e mortas: aproximando-vos delas, não as veríeis mais!
“A luz emanada de todos os sóis que pululam na imensidade, a luz refletida no Espaço por todos os mundos iluminados por esses sóis, leva através do céu infinito as fotografias de todos os séculos, de todos os dias, de todos os instantes. Olhando para um astro, só se vê o que era no momento em que partiu a fotografia que dele se recebe, tal qual, ouvindo um sino, só se recebe o som depois que partiu, e tanto mais tempo depois quanto mais afastado dele se está.
“Daí resulta que a história de todos os mundos viaja atualmente no Espaço sem jamais desaparecer absolutamente, e todos os acontecimentos passados estão presentes no seio do Infinito e são indestrutíveis.
“A duração do Universo não terá fim. A Terra há de acabar, e um dia não será mais do que um túmulo. Mas haverá novos sóis e novas terras, novas primaveras e novos sorrisos, e a vida florirá sempre no Universo sem limites e sem fim.
“Quis mostrar-te, continuou depois de uma pausa, quis mostrar-te de que modo o Tempo é eterno. Tinhas sentido o infinito do Espaço. Tinhas compreendido a grandeza do Universo. Agora, está feita a tua viagem celeste. Aproximemo-nos da Terra, e volta à tua Pátria.
“Quanto a ti, ajuntou ainda, fica sabendo que o estudo é a única fonte de todo o valor intelectual, e que o conhecimento do coração humano conduz à indulgência e à bondade; jamais sejas nem pobre, nem rico; livra-te de toda a ambição, e assim de toda a servidão; sê independente: a independência é o mais raro dos bens e a primeira condição de felicidade.”
Urânia falava com a sua voz suave. Mas, a comoção produzida por todos aqueles extraordinários quadros, de tal modo me abalara o cérebro, que fiquei subitamente possuído de grande temor. Um calafrio percorreu-me da cabeça aos pés, e foi sem dúvida o que ocasionou o meu súbito despertar, em meio de viva agitação... Ai! a deliciosa viagem celeste estava terminada.
Procurei Urânia e não a encontrei mais. Um límpido raio de Lua, penetrando pela janela do meu aposento, vinha afagar a orla de uma sanefa, e parecia desenhar vagamente a forma aérea do meu celeste guia; mas era apenas um raio de lua.
Quando, no dia seguinte, tornei ao Observatório, o meu primeiro impulso foi correr, sob qualquer pretexto, para o gabinete do Diretor e tornar a ver a Musa sedutora que me favorecera com tal sonho...
A pêndula havia desaparecido!
Em seu lugar, ostentava-se o busto, em mármore branco, do ilustre Astrônomo.
Procurei em outros compartimentos, e, a propósito de mil pretextos, até nos aposentos particulares; ela, porém, havia desaparecido.
Durante dias, durante semanas procurei, sem conseguir tornar a vê-la, nem mesmo saber o que era feito dela.
Tinha eu um amigo, um confidente, pouco mais ou menos da minha idade, embora parecesse um tanto menos moço por causa de sua barba nascente, mas do mesmo modo grandemente apaixonado do ideal, e mais sonhador ainda, talvez o único, além disso, de todo o pessoal do Observatório, com quem eu me havia intimamente ligado. Compartilhava das minhas alegrias e dos meus pesares. Tínhamos os mesmos gostos, as mesmas ideias, os mesmos sentimentos. Compreendera não só a minha adolescente admiração por uma estátua, mas também a personalidade com que a minha imaginação a animara, e, portanto, a minha melancolia por haver assim subitamente perdido a minha querida Urânia, no momento justamente em que mais preso a ela estava. Por mais de uma vez a admirava, comigo, e, sorrindo de meus êxtases, qual irmão mais velho, zombando mesmo, um tanto vivamente, às vezes, da minha paixão por um ídolo, ia a ponto de chamar-me de Camille Pygmalion [1]. No fundo, porém, eu via perfeitamente que ele a amava também.
Esse amigo, que ai! devia ser arrebatado algum tempo mais tarde, em plena flor da mocidade, o bom Jorge Spero, Espírito eminente e grande alma, cuja lembrança me há de ficar eternamente querida, era então secretário particular do Diretor, e a sua afeição tão sincera me foi testemunhada nessa circunstância, por uma atenção tão amável quanto imprevista.
Um dia, recolhendo-me a casa, vi, com espanto quase incrédulo, a formosa pêndula colocada em cima da minha chaminé, justamente defronte de mim!...
Era ela mesma! De que maneira, porém, se achava ali? Que caminho tomara? Donde viera?
Soube que o ilustre autor do descobrimento de Netuno a enviara, a fim de ser consertada, à casa de um dos principais relojoeiros de Paris, e que este, tendo recebido da China uma antiga pêndula astronômica do mais alto interesse, propusera a troca, que fora aceita; e que Jorge Spero, incumbido da transação, comprara a escultura de Pradier para oferecer-ma, em lembrança das lições de matemáticas que eu lhe havia dado.
Com que alegria tornei a ver a minha Urânia! Com que felicidade saciei nela o meu olhar! Essa sedutora personificação da Musa do Céu nunca mais me deixou depois. Nas minhas horas de estudo, a bela estátua se conservava defronte de mim, parecendo recordar o discurso da deusa, a anunciar-me os destinos da Astronomia, dirigir-me nas minhas adolescentes aspirações científicas. Depois, emoções mais apaixonadas puderam seduzir-me, cativar-me, perturbar-me os sentidos; jamais, porém, esquecerei o sentimento ideal que a Musa das estrelas me inspirara, nem a viagem celeste em que ela me levou, nem os inesperados panoramas que desdobrou sobre a extensão e constituição do Universo, nem a felicidade que me deu, assinalando definitivamente ao meu Espírito as calmas contemplações da Natureza e da Ciência.
[FIM.]
NOTA:
[1] “Camille Pygmalion”. Jogo de palavras com o nome do autor, Camille Flammarion, e “Pigmalião”, o personagem da mitologia grega. Pigmalião era um rei, e também escultor. Desgostoso com a atitude libertina das mulheres do seu tempo, ele preferiu o celibato, e fez uma escultura representando a mulher ideal. Em seguida apaixonou-se pela estátua. Graças à interferência de uma deusa, Pigmalião foi levado a beijar a estátua. Quando isso ocorreu, a obra de arte tornou-se mulher, e foram felizes. George Bernard Shaw escreveu uma peça famosa sobre o tema da “construção da mulher ideal”. Até certo modo, a construção do cônjuge ideal ocorre em todos os casais em que há amor profundo, porque viver é construir, e também é ensinar e aprender a partir de imagens ideais. (CCA)
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O conto “A Musa do Céu” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 24 de agosto de 2025. Ele é reproduzido do livro “Urânia”, de Camille Flammarion, Federação Espírita Brasileira, tradução de Almerindo Martins de Castro, Copyright 1937, quarta edição, 197 pp., ver pp. 9-41. Está publicado também em forma seriada nas edições de fevereiro, março, abril, maio e junho do ano de 2021 da publicação “O Teosofista”. Na transcrição, foram corrigidos erros de ortografia e gramática. (CCA)
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Leia “Camille Flammarion e a Defesa de uma Causa”. Em francês, veja um texto de Flammarion sobre os Pralayas: “L’Origine et la Fin des Mondes”.
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Leia mais:
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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