29 de agosto de 2025

Ideias ao Longo do Caminho - 64

 
Se Não Vemos o Dia de Hoje Como Uma
Batalha, é Porque Estamos Perdendo a Luta 
 
Carlos Cardoso Aveline
 



Temos mais força do que vontade, e é
com frequência para evitar trabalho que
imaginamos as coisas como impossíveis.

(La Rochefoucauld)



* Sinceridade não é sinônimo de transparência. Quem busca a sabedoria eterna deve ser sincero sempre, e seu dever é ser transparente quando as circunstâncias permitem. Se uma criança faz perguntas, há temas em que você terá de guardar silêncio. O conhecimento em mãos erradas, ou em mãos imaturas, causa dor desnecessária.

* É fácil ver se as crianças estão preparadas e têm responsabilidade e compreensão diante do que você pode dizer a elas. Você é responsável pelas palavras que pronuncia. Por outro lado, a sua intenção precisa ser sempre honesta e sincera. Esta honestidade deve ser temperada - e protegida - pelo uso correto do silêncio.

* Em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, um Mahatma revela a importância do uso ativo do silêncio: “ ‘Ousar, querer, agir e manter silêncio’ é o lema nosso e de todo cabalista e ocultista.” [1]

* O silêncio preserva magnetismo e expande a eficiência do trabalho dos que compreendem uns aos outros, evitando a dispersão mental. As vantagens de falar pouco são decisivas para quem busca a sabedoria. Mas manter silêncio anda sempre ao lado da sinceridade e jamais se separa dela.

* Há muitos tipos diferentes de silêncio, e nem todos são bem-intencionados. No caminho do conhecimento divino só se pode usar os silêncios que estão ligados à boa intenção e a um propósito nobre.

* O exame das nossas motivações, em seus vários níveis, é um dever básico.

* A transparência é exercida sempre que as circunstâncias e a maré do carma permitem. A valente declaração de princípios deve ser exercida. Devemos ser o mais claros e transparentes possível, mas é preciso bom senso.

* A prática do silêncio faz aumentar o valor daquilo que dizemos. Assim, na caminhada espiritual, o silêncio é um instrumento necessário, mas desligar-nos da sinceridade é algo muito diferente. No território da verdadeira filosofia, não é possível abandonar a atitude honesta em momento algum. O carma da falsidade afasta a pessoa do Caminho, tornando a sua relação com a Ética e com a essência da Sabedoria apenas superficial e decorativa.

* O lema do movimento teosófico inclui a ideia de que “não há coisa alguma superior à verdade”. E a verdade é inseparável da sinceridade. O coração humano rejeita a atitude dos falsários, porque sabe que ela leva à desorientação e à perda de rumo, para não falar de coisas ainda mais graves. Com razão a Bíblia afirma: “a boca mentirosa mata a alma” (“A Sabedoria de Salomão”, 1: 11).

A Certeza da Vitória

* Que garantia tem o teosofista, enquanto avança pelo caminho estreito morro acima, rumo à sabedoria?

* Para Marc Edmund Jones, a vida oferece “recompensas duradouras sempre que é aceita tal como ela é, fundamentalmente, ou quando é aceita com uma compreensão do caráter basicamente amistoso do mundo em geral”. Existe, diz ele, “um encorajamento com o qual todos podem contar, sabendo que a sua coragem imperturbável ao avançarem em sua peregrinação da escuridão para luz, é a maior de todas as garantias de vitória.” [2]

* Há um enorme potencial inexplorado naquela vontade espiritual que dorme ainda como semente na alma humana. O pensador francês La Rochefoucauld (1613-1680),  escreveu:

* “Temos mais força do que vontade, e é com frequência para evitar trabalho que imaginamos as coisas como impossíveis.” [3]

* Se quisermos enfrentar e vencer a preguiça, cabe reconhecer que cada dia é sempre uma batalha. Se não vemos o dia de hoje como um combate contra a nossa ignorância, é porque estamos perdendo a luta.

* O ciclo solar de 24 horas, incluindo os seus pontos altos como o amanhecer e o anoitecer, tem suprema importância em teosofia. O motivo do caráter decisivo de um dia está na sua ressonância e correspondência com os ciclos cósmicos. Os manvântaras e os pralayas são grandes dias e noites do universo, em que o cosmo e os sistemas solares ressurgem, vivem, e outra vez dormem. Todo novo dia de 24 horas é um microcosmo sagrado que traz oportunidades valiosas para a renovação e o aprofundamento das experiências da vida.

* Assim, a filosofia teosófica clássica ensina que despertar pela manhã é como  renascer. Dormir, à noite, é, potencialmente, unir-se ao cosmos como um todo, por algumas horas.

* Por outro lado, H.P. Blavatsky escreveu: “Minhas noites são os meus manvântaras”.[4] De fato, enquanto seu corpo físico estava adormecido e inconsciente, Blavatsky trabalhava ativamente como alma no plano sutil. O descanso (pralaya) do corpo físico pode ser o manvântara ou período mais intenso de trabalho da alma.

NOTAS:

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Ed. Teosófica, Brasília, 2010, Carta 65, p. 241.

[2] Estas palavras são do livro “The Sabian Symbols in Astrology” (Os Símbolos Sabianos em Astrologia), de Marc Edmund Jones, Aurora Press, Santa Fe, New Mexico, EUA, Copyright 1993, 437 páginas. Ver p. 177, no comentário sobre o grau 28 de Libra.

[3] Traduzido do livro «Maximes», de La Rochefoucauld (1613-1680), Classiques Garnier, Bordas, Paris, 1992, Édition de Jacques Truchet, 682 pp., ver p. 13. (Aforismo 30 da edição de 1678.) La Rochefoucauld nasceu em 15 de setembro de 1613.

[4] Palavras citadas no terceiro parágrafo de um artigo de John Garrigues.

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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 64” foi publicado como item independente em 29 de agosto de 2025. Uma versão inicial e anônima dele pode ser vista na edição de novembro de 2020 de “O Teosofista”, pp. 10-11.

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Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos do autor. Desde 2018 a série “Thoughts Along the Road” está sendo publicada também em espanhol sob o título de “Ideas a lo Largo del Camino”.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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