18 de outubro de 2014

A Dor Dói Duas Vezes

Como Se Eliminam as Causas do Sofrimento

Carlos Cardoso Aveline



A felicidade durável é uma
função do eu superior, e deve ser
obtida através da sabedoria imortal.



A dor dói duas vezes. Na primeira vez, ela dói para instalar-se na vida da pessoa. Na segunda vez ela dói para ser retirada. Em outras palavras, toda cura tem os seus próprios modos de sofrimento. Por isso alguns se apegam ao processo da dor e fogem da Cura.  Preferem o sofrimento velho, que conhecem, ao sofrimento novo desconhecido, e mesmo à felicidade desconhecida, porque nem mesmo ela é totalmente isenta de dor.

Vejamos um exemplo prático de sofrimento que envolve skandhas, ou registros cármicos, de vidas passadas. Examinemos um skandha sagrado e positivo, relativo à alma imortal e à sabedoria divina, para então verificar se até ele causa sofrimento no caminho da Cura. 

Pensemos em algo ótimo, que ocorre com alguma frequência entre teosofistas. Uma pessoa entra em contato com o movimento esotérico autêntico, com a filosofia esotérica, e percebe, conscientemente, e até comenta com outras pessoas, que este é um Re-Encontro. Cada pessoa que passa por esta experiência coloca isso com suas próprias palavras.  Alguns dizem:

“Encontrei o que estava procurando”.

Outros declaram:

“Nunca ouvi falar disso, mas este ensinamento me é familiar, como se eu trouxesse esta visão das coisas dentro de mim”.

Nestes casos, há “skandhas teosóficos” de vidas anteriores. Porque, como se sabe, a teosofia é algo de muitos milhares de anos - e já existia mesmo entre os habitantes de continentes hoje submersos. E o que vai ocorrer, então, a partir do re-despertar destes skandhas positivos de vidas anteriores?

A pessoa vai revisar aspectos da sua vida. Coisas acomodadas vão se des-acomodar. Coisas antes cômodas vão in-comodar.  Aspectos da sua vida vão ruir.  Outras coisas terão que ser construídas com muito esforço.   Surgirá todo um processo probatório. O crescimento pessoal se dará através de testes e contrastes. Será um sofrimento que cura gradualmente a doença da alma chamada Ignorância.

Ou seja, o Caminho é estreito e íngreme, e cheio de espinhos. No Caminho, sofre o eu inferior, enquanto o eu superior vive no plano da bênção. 

O Caminho consiste em levar por mérito próprio o foco da consciência desde o nível externo do sofrimento até o nível superior da bênção. Por isso Francisco de Assis, H. P. Blavatsky, Alessandro Cagliostro e João da Cruz, entre tantos outros, eram felizes (internamente) enquanto seus eus externos e inferiores sofriam grandemente.

Quando se fala de sofrimento como a primeira das Quatro Nobres Verdades do budismo, fala-se de sofrimento do eu inferior. O eu superior, imortal, não sofre; apenas inspira o processo pelo qual o foco de consciência se eleva, desde o mundo da dor, até o mundo da bem-aventurança. A felicidade durável é uma função do eu superior, e deve ser obtida através da sabedoria imortal.

Mas a dor da ignorância deve doer duas vezes. 

“O que arde cura, o que aperta segura”, diz um velho ditado popular.  Os remédios são frequentemente amargos, e mesmo os skandhas sagrados que eliminam as Causas do sofrimento, mesmo eles provocam desconforto, no curto prazo, enquanto preparam as bases duráveis da felicidade incondicional.


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Uma versão inicial deste artigo foi publicada na edição de dezembro de 2010  de “O Teosofista”.

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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.

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