1 de outubro de 2014

Sobre o Dever

O Altruísmo Necessita de
Discernimento Para Ser Eficaz

John Garrigues




Normalmente, o indivíduo que “descobre a Teosofia” de modo intenso e  que se dedica a ela profundamente faz isso, em grande parte, porque está cansado de si mesmo. A Teosofia abre uma janela para outro universo. Pela primeira vez, ele compreende que está preso em si mesmo -;  que o egoísmo, tanto o inerente como o cultivado, criou uma carapaça em torno dele, e que as restrições dessa carapaça, embora ele não tivesse percebido, estavam rapidamente tornando-se intoleráveis. 

Como uma onda de ar puro, surge diante dele a ideia de que não há uma real necessidade de estar pegando coisas para si,  de ser egoísta, insensível, mal-educado ou ambicioso; e de que, na verdade, a própria morte, se for apenas uma libertação da tirania desses sentimentos, deve ser muito bem recebida.

Com essa compreensão, as dores da inveja, do ódio, da má vontade e do medo começam a abandonar o seu coração, e deixam que ele bata livremente e sem dor. O indivíduo aprendeu que o inegoísmo é a lei da vida; mas como essa lição é espiritual, a aplicação dela se limita ao instrumento mental. Para ele, no início, a ideia de inegoísmo não tem outro significado além daquele que o mundo lhe atribui.  Esse significado se baseia na crença de que o bem-estar físico ou mental é a meta a ser alcançada, e só aquele que leva os outros em direção a essa meta faz serviço altruísta. 

Surge então a vontade de considerar os  homens como eles próprios veem a si mesmos; de ver cada indivíduo como moralmente igual a si, e de sentir que  as duras pétalas de cada coração irão cair ao simples toque do espírito de autossacrifício da fraternidade. Este é um sentimento nobre; mas ele é todo do coração e nem um pouco da cabeça, e há uma desilusão esperando por aqueles que sentem desta maneira.

A vida não é assim tão simples. 

A humanidade não é só egoísta, mas também deseja continuar desse modo; não está  apenas iludida, mas também intensamente apegada às suas ilusões. Há milhões e milhões entre os nossos companheiros de humanidade para quem o altruísmo parece fraqueza, e para quem a justiça e o equilíbrio não passam de um tolo sentimentalismo. Há milhões e milhões de pessoas que irão aceitar os presentes dados pelo filantropo esperançoso, e aceitarão até o último centavo das suas posses mentais, morais e físicas; e depois disso o destroçarão órgão por órgão,  e rosnarão impacientes para os ossos, porque eles não têm mais carne.

Toda confiança sem discernimento está destinada ao desastre, e se não fosse assim o mundo já seria como o céu, a esta altura. 

O mundo só pode ser ajudado pelo despertar da percepção moral e espiritual. Esse despertar pode ser alcançado apenas quando se transforma em chamas de um fogo vivo as centelhas humanas que estão dentro do círculo Cármico.

000

O artigo acima foi publicado  inicialmente de modo anônimo na revista “Theosophy”, de Los Angeles, edição de agosto de 1926, p. 470. Título original: “Regarding Duty”.

000

Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

000