25 de abril de 2025

Os Templários e Sua Regra de Vida

A Vivência Prática da Forma de
Vida Adotada Deve ser Afirmativa
 
Pinharanda Gomes 




0000000000000000000000000000000000000

Nota Editorial de 2025

O texto a seguir, do historiador português
Pinharanda Gomes (1939-2019), investiga
o que é pertencer de fato a um agrupamento
espiritualmente coeso, unido por uma
meta elevada e por uma disciplina comum.

Acrescentamos notas de rodapé com reflexões
desde o ponto de vista teosófico e com base na
experiência da Loja Independente de Teosofistas.

(Carlos Cardoso Aveline)

00000000000000000000000000000000000000000000



ORDEM E REGRA

Ordem, ‘ordo’, é nome que designa uma forma de vida corporativa. Predica-se de toda uma instituição, com sua Regra, seus membros e seus bens, um pouco por sinédoque [1], ou por alargamento de significado, mas o conceito iniciático significa ordem, quer dizer: regulamento, regra de vida, lex vita.

Quando duas ou mais pessoas se associam para um determinado propósito, mas carecem de um regulamento, de uma ‘régua’ por onde se veja a retidão dos atos e dos fatos, essa associação ainda não merece o nome de Ordem. As associações que contraem o vínculo de Ordem apresentam-se como uma organização regular, com juramento e prática de uma Regra, proposta aos membros, postulantes, noviços e professos.

Os testemunhos históricos das congregações e sodalícios [2] regulares, demonstram que a ‘ordo’ aparece como ato conclusivo para um caminho que se potencia, e cujo ato perfeito se revela com a instituição da Ordem, da Regra. Se considerarmos as três principais Ordens Mendicantes (Carmelitas, Frades Pregadores, ou Dominicanos, e Frades Menores, ou Franciscanos) vemos como apenas os Frades Pregadores se instituíram como Ordem, dispondo logo de Regra, porque S. Domingos de Gusmão propôs aos presbíteros e leigos, que desejassem militar na pastoral evangélica, uma associação da qual eles fossem sócios, regendo-se, em comunidade, pela Regra de Santo Agostinho.

Os Carmelitas só se intitulam Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, bastantes anos depois de um grupo de fiéis viver em comum monacal no Monte Carmelo, tendo sido por necessidade de uma disciplina comunitária, que esses monges, segundo se julga chefiados por [Brocardo] solicitaram do bispo de Jerusalém, Alberto Avogadro, uma regra de vida, que este lhes concedeu. Tomou do grupo os costumes bons já habituais, ordenou-os a uma causa final e, deste modo, aquele ajuntamento de monges se transforma em uma Ordem. Idêntico juízo se emite acerca dos amigos de Francisco de Assis, que o seguiram desde o momento da reconstrução da igreja de S. Damião (1205). Ele e os seus companheiros, ainda que coabitassem e convivessem, não dispunham de qualquer disciplina própria, salvo a que decorria da prática mandamental. Só em 1209 Francisco redigiu uma primeira e breve Regra, com ela se apresentando ao papa Inocêncio III, que a aprovou oralmente. Desde esse momento, há uma ordo, uma Ordem. [3]

Aderir a uma Ordem significa escolher uma ‘formula vitae’, fórmula de vida, uma ‘regula vitae’, regra de vida, um regime de vida, uma disciplina, aceitar um tratado de Direito, um regulamento canônico e jurídico com todas as suas implicações, e um bilhete de identidade. Professar uma Regra equivale a uma estrita observância de um determinado modo de vida, qual o proposto por essa Regra.

A vivência prática da forma de vida deve ser afirmativa, ou observante. Se for negativa, ou incorreta, ou indisciplinada, ou negligenciada, essa vivência dir-se-á relaxada, pelo que a estrita observância e o relaxamento são os contrastes possíveis da profissão regular. Contudo, a estrita observância é mitigável, pode ser mitigada, se os institutos jurídicos da Ordem, ou a autoridade universal do Pontífice entenderem que, sob certas condições, os professos são isentados do cumprimento de uma que outra norma de mais difícil observância.

O contraste entre observância e relaxamento suscita uma dialética, ou reformista, ou fundamentalista. No ambiente humanista do século XVI, e perante as vagas de cismáticas opções na Igreja, as Ordens Religiosas tenderam a reformar-se, mas essa reforma quase sempre afluiu à restauração da estrita observância, com abandono das mitigações, por isso que os movimentos da descalcez (caso dos Carmelitas que optaram pela reforma de Santa Teresa de Ávila e de S. João da Cruz) caminharam na restauração do espírito e da seriedade iniciais da Regra [4], com abandono das possíveis facilidades, disponíveis à luz de uma canonicidade menos rigorosa.

A Regra é o paradigma da Ordem. Dela se dirá: este é o sinal, o signo, o cartão por onde cada professo se dá a conhecer. À luz do inventário patrimonial, é lícito afirmar que o genuíno património da Ordem é a Regra. Tudo o mais vem por acréscimo, ou como consequência da vida regular. Ela origina uma dinâmica e uma tradição, um depósito canónico, consuetudinário, hierático e jurídico, depósito esse que reveste quem o professa. E de tal modo o reveste que, mesmo sem hábito, ou sem emblema, ou sem sinal diviso, se reconhece que alguém é professo de uma determinada Regra, se acaso conhecermos essa Regra e a virmos incarnada na vida do professo. Em situação limite, o templário, para ser reconhecível, não carece de se paramentar; basta que, na frente do mundo, ostente a prática regular que professa.

Fons vitae’, a Regra tem a função paradigmática de mãe e de mestra, ‘mater et magistra’. Ela é a verdadeira mãe do professo. A casa onde o professo vive, as funções que lhe cumpre desempenhar, os bens de que dispõe, o direito de manutenção, ou seja, de enxerga, de manjedoura e de fato, são sequências da maternidade magistral da Regra. [5] Se gozar de tais direitos e não cumprir os deveres, constitui-se ladrão, parasita, ou hipócrita, na comunidade fraternal. [6]

Magistra’, a Regra contém os ensinamentos sobre o que cada professo regular deve à Ordem, aos Irmãos, e à Fraternidade, já que a Ordem se consolida numa fraternidade, numa ‘fraternitas’, onde cada professo é frade, ‘frater’, confrade de outros frades, irmãos e confrades ou confreires. Como é um caminho, um mapa para guiar na Vida, a Regra ensina, transmite um magistério, e identifica o que se pode, o que se deve, o que se pode mas não se deve, o que nem se pode nem se deve. E ensina como importa proceder em cada situação, mesmo que omita os pormenores casuísticos inerentes a situações insuscetíveis de serem preconizadas. A magistralidade da Regra é dogmática, porque a Regra não se discute. Aceita-se e cumpre-se, não há meio-termo.

Ela, porém, magistralidade dogmática, dispõe do afeto maternal. Neste sentido, a Regra permite a aferição às situações particulares, ao esclarecimento de temas omissos, e à interpretação casuística das surgências inusitadas, ou do aparecimento de novos condicionalismos. A Regra não carece de ser alterada. Ela tem o caminho para a interpretação e para a adequação ao concreto. Por isso, a Regra, que é tradição, suporta que, à luz do seu magistério, a Ordem proponha, mediante a experiência e o consenso, os cânones complementares, que são as Constituições, ou Estatutos, ou Disposições.

No princípio das fundações, os fundadores atenderam apenas à Regra, que seria a inspiratriz, a matriz espiritual dos posteriores desenvolvimentos. As Regras demarcam um carácter carismático, inspirador de uma espiritualidade, de onde a justeza das espiritualidades monásticas e mendicantes - carmelita, dominicana, franciscana e, já de antes, beneditina, ou posterior, jesuíta. As Constituições ou Estatutos evidenciam um caráter de predominância jurídica, casuística, ou decretal, que, nunca alterando a matriz regular, a ampliam aos pormenores, casos, singularidades, minudências e especialidades. Quando se olha para o sistema particular da Regra Templária, haverá quem diga que a Regra compendia 686 artigos. Na realidade, assim não é.

A Regra propriamente dita abrange 72 artigos, parágrafos, ou capítulos. Tudo o mais, exceto o Prólogo, é do âmbito das Constituições ou Estatutos, de redação posterior, inspirado na espiritualidade inicial e iniciática.

NOTAS:

[1] Sinédoque - figura de linguagem, maneira de dizer. (CCA)

[2] Sodalícios: confrarias, fraternidades. (CCA)

[3] Fr. Luís de Souza, O.P., História de São Domingos, Lx.ª, 1623; Joaquín Smet, Los Carmelitas. I. Madrid, 1987; Fontes Franciscanas. I.S. Francisco de Assis. Tradução ao português, Braga, 1994. (Nota de Pinharanda Gomes)

[4] “Caminharam na restauração do espírito e da seriedade iniciais da Regra”. Do mesmo modo, a Loja Independente de Teosofistas trabalha pela restauração da ética e do ensinamento dos primeiros anos do movimento teosófico, quando Helena Blavatsky vivia, e existia um contato direto com os Mestres do Conhecimento Divino. (CCA)

[5] A regra é a mãe do peregrino. Em outras palavras, graças ao cumprimento da Regra, o estudante “nascerá outra vez”, ou seja, terá uma experiência iniciática - grande ou pequena. A disciplina é a mãe daquele que nasce pela segunda vez. A mãe-regra alimenta o futuro renascido, conduz o peregrino, transforma o indivíduo e dá forma ao futuro ser. (CCA)

[6] É o caso do teosofista que pretende receber benefícios indefinidamente do movimento teosófico sem jamais começar a trabalhar com altruísmo pela Causa. Os benefícios que ele recebe permanecem superficiais, porque a sua relação com o movimento é infantil. Embora seja correto que nos primeiros anos ele apenas estude, no tempo adequado cabe a ele tomar a iniciativa de gradualmente começar a retribuir pelo que recebeu, tentando beneficiar outras pessoas que também merecem ser ajudadas, mas ainda não tiveram esta oportunidade. Deste modo o peregrino deixará de lado a etapa infantil e passará à etapa adulta da vida teosófica, sendo muito mais beneficiado. Ao tratar de ajudar outros, ele terá uma relação profunda e produtiva com o ensinamento e será cocriador do movimento. (CCA)

000

O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 25 de abril de 2025. O seu conteúdo reproduz as páginas 5 a 7 do livro “A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários”, de Pinharanda Gomes, Ed. Hugin Editores, Portugal, 1999, 155 pp., ver pp. 5 a 7. A partir deste ponto o autor analisa mais detalhadamente a estrutura institucional da igreja católica, que possui pouco interesse teosófico. Porém, o texto de Pinharanda sobre Ordem e Regra vai até a página 12 do livro. Na transcrição acima, a ortografia das palavras foi adaptada ao português brasileiro.

000

Leia também:







* Veja a seção temática Cristianismo e Teosofia.

000



Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

000




21 de abril de 2025

Páscoa - do Autossacrifício ao Despertar

 
A História de Jesus Narra a
História de Todas as Grandes Almas
 
Joana Maria Ferreira de Pinho
 



A Páscoa corresponde à ressurreição de Cristo e é uma das celebrações mais importantes do cristianismo. Ela representa a vitória da vida sobre a morte, e algo que alguns tendem a esquecer: que a bênção é fruto do autossacrifício.

A Páscoa está repleta de símbolos - alguns religiosos, outros herdados de tradições populares e pagãs. Todos, de alguma forma, estão ligados às ideias de renovação, fertilidade e recomeço, como podemos ver no texto “A Páscoa Como Renascimento Interior” [1].

Nesse artigo de Carlos lemos que “as principais datas do calendário cristão são adaptações de festividades não-cristãs dedicadas à celebração do Sol e dos ciclos naturais.” A Páscoa não é exceção:

“[Ela] é comemorada perto do equinócio da primavera, no hemisfério norte, e do equinócio do outono, no hemisfério sul. Nesta época do ano, a noite e o dia têm a mesma duração. A partir da época da Páscoa, o equilíbrio entre a luz e a sombra é rompido a favor da luz solar, no hemisfério norte. Por isso, tradicionalmente, a Páscoa é vista como o anúncio de um novo começo e como algo que abre espaço para o ressurgimento da vida em todas as dimensões da natureza.”

Em outro texto é feita uma associação entre o ciclo anual da distribuição da energia solar e as grandes iniciações, ou seja, os estágios superiores do caminho espiritual.

Temos em “A Magia do Final de Ano”:

“…A ‘ressurreição de Cristo’ é, na verdade, o despertar já no reino divino do grande adepto, mahatma, rishi ou sábio, que teve sua condição humana ‘crucificada’, isto é, se libertou da roda do renascimento obrigatório. (…) A quinta iniciação, aseka, corresponde à ressurreição. O adepto, o mahatma, o rishi, o Imortal - simbolizado por Jesus no Novo Testamento - ressurge em um reino superior ao humano e está livre do sofrimento tal como o conhecemos, mas ainda permanecerá guiando a humanidade no caminho da sabedoria.” [2]

O Cristo na Cruz e o Christos Cósmico

O termo específico Christos, para a Teosofia, representa o princípio divino mais elevado do ser humano. Embora Jesus Cristo represente em geral o sexto princípio, o princípio do absoluto altruísmo, há um outro aspecto de Cristo como instância cósmica; e este nível superior da consciência crística corresponde ao sétimo princípio da consciência, Atma.

Em “A Doutrina Secreta”, Helena Blavatsky compara “Christos” ao sétimo princípio - Atma.[3] Assim, a Páscoa simboliza tanto o sacrifício - no sexto princípio, Buddhi - como a ressurreição, no sétimo princípio, Atma. Trata-se de uma grande iniciação. É a vitória de Atma (Sol) e de Buddhi (Luz), unidos. É a derrota do egoísmo e do sentimento de separatividade. Carlos explica que a dialética entre Atma e Buddhi também está simbolizada pela cooperação entre Jesus e o seu Pai do Céu.

Após o período de sacrifício, simbolizado no hemisfério norte pelas perdas e renúncias do inverno, a Páscoa marca a passagem para uma nova fase: a expansão da consciência.

Durante o inverno, plantamos as sementes do desapego, da paciência, da humildade e da introspeção. Essas virtudes preparam a alma para a renovação. A Páscoa, então, é o renascimento e o florescimento dessas sementes, que começam a brotar com a manifestação da luz crescente.

Jesus Cristo sacrificou-se para salvar a humanidade. Essa é a história de todas as grandes almas. Esses seres abdicam de si mesmos para ajudar a libertar a humanidade da ignorância e do sofrimento desnecessário. No entanto, essa não é uma escolha que as almas fazem de um dia para o outro. Ela resulta da vivência acumulada durante várias encarnações. Ao longo de várias vidas, essas almas vão dedicando a sua existência à verdade. E a vida de Jesus, tal como narrada no Novo Testamento, resume a peregrinação de uma alma comprometida com a verdade e com a vida.

Não há outro caminho.

Todo aquele que se queira unir ao “pai do céu”, isto é a Atma, à alma universal, segue o caminho do autossacrifício, o qual engloba o autoconhecimento, o autoaperfeiçoamento e corresponde a uma vida dedicada ao altruísmo.

Como sabemos, as comemorações cristãs estão relacionadas com cultos pagãos. O Sol tem uma relação direta com os principais acontecimentos da vida de Jesus dos Evangelhos. Assim, por exemplo, os cristãos celebram o Natal logo após o solstício do inverno, no hemisfério norte. O nascimento de Jesus simboliza o nascimento da luz. E a Páscoa ocorre após o equinócio da primavera, quando os dias começam a ficar mais longos do que as noites e a vida desperta para um grande e novo ciclo de manifestação.

A Teosofia dos Ovos de Páscoa

Nas celebrações populares da Páscoa os ovos estão muito presentes. Sejam usados em jogos, em doçaria tradicional ou como elementos decorativos, não podem faltar ovos na Páscoa. As famílias e as escolas em Portugal tinham o costume de pintar ovos como forma de celebração. As crianças adoravam esta atividade. Nasciam verdadeiras obras de arte.

Em “A Páscoa Como Renascimento Interior” lemos que “os ovos de Páscoa são herança dos festivais pagãos da primavera do hemisfério norte.  Eles simbolizam o renascimento da vida em toda sua variedade.”

Em “A Doutrina Secreta” temos muitas passagens sobre o “Ovo”.

Partilho aqui algumas delas:

* “O ovo virgem é num sentido abstrato a condição-de-ovo, ou o poder de desenvolver-se através da fecundação, e é portanto eterno e sempre igual. E assim como a fecundação de um ovo ocorre antes de ele ser posto, também o germe periódico e não-eterno, que se transforma mais tarde no simbolismo do ovo do mundo, contém em si, quando emerge, ‘a promessa e a potência’ de todo o Universo. Embora a ideia em si mesma seja, naturalmente, uma abstração, uma expressão simbólica, ela é um símbolo real porque sugere a noção da infinitude como um círculo infinito. Ela traz para a visão mental a imagem do Cosmo emergindo do espaço ilimitado, no espaço ilimitado; um Universo que é tão destituído de fronteiras em seu tamanho como na sua manifestação objetiva.” (p. 99, Parte I, do Volume I)

* “A imagem de um ovo também expressa o fato, ensinado em Ocultismo, de que a forma primordial de tudo o que é manifestado, desde um átomo a um globo, desde um ser humano até um anjo, é esferoidal. Em todas as nações, a esfera tem sido o símbolo da eternidade e da infinitude - uma serpente engolindo sua própria cauda. Para compreender o seu significado, no entanto, deve-se pensar a esfera como se ela fosse vista desde o seu centro. O campo de visão ou de pensamento é como uma esfera. Os seus raios saem do nosso ser em todas as direções e vão até o espaço exterior, abrindo visões ilimitadas ao nosso redor. Ela é o círculo simbólico de Pascal e dos Cabalistas, ‘cujo centro está em toda parte, e cuja circunferência não está em parte alguma’, uma noção que faz parte desta imagem.” (pp. 99-100, Parte I, do Volume I)

* “O ‘Ovo do Mundo’ talvez seja um dos símbolos mais adotados universalmente, e é altamente sugestivo, tanto no sentido espiritual como no sentido fisiológico e cosmológico. Ele é encontrado, portanto, em todas as teogonias universais, e é amplamente associado ao símbolo da serpente. Esta última é em toda parte, em filosofia como em simbolismo religioso, um emblema da eternidade, da infinitude, da regeneração e do rejuvenescimento, assim como da sabedoria. (…) O mistério da aparente autogeração e da evolução a partir do seu próprio poder criador repete, no ovo, em miniatura, o processo da evolução cósmica.” (p. 100, Parte I, do Volume I)

* “O ovo foi incluído como símbolo sagrado na cosmogonia de todos os povos da Terra, e era reverenciado tanto por causa da sua forma como devido ao seu mistério interno. Desde as primeiras concepções mentais do ser humano, ele era visto como aquilo que representa do modo mais eficiente a origem e o segredo da existência. O desenvolvimento gradual do germe imperceptível dentro da casca fechada; o trabalho interior, aparentemente sem qualquer interferência de forças externas, que, desde um nada latente, produziu um ativo algo, que não necessita de coisa alguma exceto calor; e que, tendo gradualmente evoluído até ser uma criatura concreta, viva, quebra a sua casca, aparecendo aos sentidos externos de todos como um ser autogerado e autocriado, - este deve ter sido desde o início um milagre notável.” (p. 377, Parte II, do Volume I)

* “Os cristãos - especialmente das igrejas grega e romana - adotaram completamente o símbolo, e veem nele uma comemoração da vida eterna, da salvação e da ressurreição. Isso é corroborado pelo antigo costume de trocar ‘Ovos da Páscoa’.” (p. 386, Parte II, do Volume I)

Percebemos que o ovo, presente nas tradições populares da Páscoa, carrega um simbolismo que vai muito além do recreativo ou decorativo. Permanece no subconsciente de todos o significado desse símbolo e as associações feitas a ele.

Na perspectiva esotérica, como ensinado por Helena Blavatsky em “A Doutrina Secreta”, o ovo representa o mistério da criação, o potencial criativo que se manifesta a partir do invisível. Símbolo da origem do cosmos, da alma e da vida, o ovo pode ser encontrado em todas as grandes cosmogonias antigas.

O ovo contém em si a promessa de uma nova existência. Assim, ao pintar, ao oferecer ou contemplar ovos na Páscoa, mesmo que subconscientemente, participamos de um ritual ancestral que celebra o renascimento, não apenas da natureza, mas da própria alma humana, em seu caminho rumo ao despertar espiritual.

E o que tem o ovo a ver com o que representa a ressurreição?

Um Estado de Unidade com o Absoluto

O ovo é símbolo do eterno e do universal. A ressurreição, como vimos anteriormente, corresponde a uma etapa avançada do caminho, na qual o peregrino ressurge em um reino superior ao humano. Os Mahatmas dizem em uma das suas cartas que a ressurreição corresponde ao Nirvana [4]. O Nirvana, segundo os próprios Mestres, é um estado de unidade com o Absoluto.

O trabalho interior, do qual Helena Blavatsky fala, que ocorre dentro do ovo e aparentemente sem qualquer interferência de forças externas, aparecendo como um ser autogerado e autocriado (p. 377, Parte II, do Volume I), representa de certa forma a longa jornada da alma humana, o trabalho de todo o aprendiz de sabedoria eterna.

A Páscoa, mais do que uma celebração religiosa, é um evento interno de renascimento, onde o verdadeiro “milagre” acontece quando conseguimos romper as limitações do eu inferior e entrar em contato com a nossa natureza espiritual profunda.

Nesta época do ano, o calendário convida-nos a refletir sobre a peregrinação interior.

Lembra-nos também que a bênção implica desafios e sacrifícios. A Páscoa, portanto, pode ser celebrada todos os dias do ano, quando a meta é servir a Vida e melhorar a nós mesmos.

NOTAS:

[1]A Páscoa Como Renascimento Interior”, texto de Carlos.

[2]A Magia do Final de Ano”, artigo de Carlos.

[3] “The Secret Doctrine”, vol. II, nota de rodapé, p. 231.

[4] “Cartas dos Mahatmas”, Vol. II, Ed. Teosófica, Brasília, Apêndice I de LBS, p. 372.

000

O artigo “Páscoa - do Autossacrifício ao Despertar” foi publicado dia 21 de abril de 2025 nos websites da Loja Independente de Teosofistas.

000

Leia mais:








* Examine a seção temática “Cristianismo e Teosofia”.  

000 



Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

000


18 de abril de 2025

O Teosofista - Abril de 2025

 




A edição de abril apresenta na página um algo que vem direto das Cartas dos Mahatmas:

A Prática Diária Que Permite Obter Sabedoria.

Na página dois temos A Vontade Espiritual Segundo Epicteto, com cinco trechos valiosos da filosofia estoica.

Em seguida, o leitor encontra um texto clássico escrito na primeira pessoa:

A Disciplina de Benjamin Franklin”. Um trecho da sua autobiografia em que este pensador brilhante do século 18 descreve uma experiência concreta em autotreinamento espiritual.

Outros temas de abril:

* Bispo Católico Visita Plantações em Marte - Viagens Espaciais de um Sacerdote Desorientado.

* História da Literatura: Munchhausen e a Teosofia do Século 20.

* Ideias ao Longo do Caminho - Para Que a Sabedoria Possa Renascer: Os Deveres de um Templário no Século 21.  
                                                           
* A Deusa Kwan Yin ou as Armadilhas da Personalização

* O Conselho de Donald J. Trump - Jogue as Suas Dúvidas no Lixo.

Com 22 páginas, o Teosofista inclui a lista dos itens publicados recentemente nos websites da LIT.



000

A edição acima foi publicada no dia 18 de abril de 2025, com Lua em Capricórnio, Mercúrio e Netuno em Áries, e Marte em Leão.        

A coleção completa de “O Teosofista” está disponível nos websites associados.

000



Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

000


15 de abril de 2025

Santo Antônio Explica a Teosofia

 
A Afinidade Entre o Cristianismo
Místico e a Filosofia de Helena Blavatsky
  
Carlos Cardoso Aveline
  
Santo Antônio, imagem em azulejos na Câmara
Municipal de Cascais, em Portugal; pintura de Eduardo Leite.



Escrevendo no final do século 19, a teosofista Helena Blavatsky abordou a luta que se trava na alma de quem pretende trilhar o caminho espiritual.

Ela afirmou que, na aprendizagem de teosofia, “o conflito é entre a vontade do chela [o aprendiz] e a sua natureza carnal”. [1]

E Santo Antônio de Lisboa e Pádua - que nasceu 700 anos antes de Helena Blavatsky escrever as palavras acima - explica este ensinamento básico:

“Os [seres] carnais amam como irmãos os cinco sentidos do corpo. Os justos, porém, têm-nos como servos.” [2]

Em outra passagem, Antônio amplia a ideia:

“Os príncipes [governantes] do povo [mundano] são os cinco sentidos corporais. Estes príncipes devem ser suspensos nas forcas da penitência [a prática da austeridade] por causa dos pecados cometidos. E isto à face do Sol. O Sol designa a claridade do mundo. E já que pecamos ao Sol da claridade mundana, insistamos à face dela com obras de penitência.” [3]

O controle dos cinco sentidos e a colocação deles a serviço do aprendizado da alma é um princípio essencial da filosofia esotérica, e também está presente nas principais religiões da humanidade. Constitui um desafio prático decisivo na vida diária do buscador da verdade.

A vitória sobre as ilusões dos cinco sentidos deve ser obtida com esforços estáveis, regulados pela autoridade do nosso próprio julgamento, que é a voz da nossa consciência. Antônio cita palavras de S. Agostinho:

“Sobe, ó homem, ao tribunal do teu espírito; [e] seja a razão quem te julgue; a consciência quem te acuse; a dor quem te crucifique; o temor, o teu carrasco; [e] as obras [as ações] tomem o lugar das testemunhas.” [4] 

Antes de julgar precisamos ter acesso à verdade, e a figura de Jesus é um símbolo da nossa própria alma imortal. Nas páginas 435-436 do volume I das suas Obras, Antônio pede a Jesus que nos faça seguir o exemplo dos santos e dos sábios, e que nos transmita o espírito da verdade, o qual ilumina e ensina verdade toda.

NOTAS:

[1] Do artigo “Chelas e Chelas Leigos”.

[2] Santo Antônio, em “Obras Completas”, Lello & Irmão Editores, Porto, Portugal, 1987, edição em dois volumes, ver volume I, pp. 542-543.

[3] Santo Antônio, “Obras Completas”, Lello & Irmão Editores, 1987, volume I, p. 429.

[4] Santo Antônio, “Obras Completas”, Lello & Irmão Editores, 1987, volume I, p. 428.

000

O texto acima foi publicado dia 15 de abril de 2025 nos websites da Loja Independente de Teosofistas. Uma versão inicial dele faz  parte da edição de julho de 2021 de “O  Teosofista”, pp. 1-2.

000

Leitura recomendada:






* Examine nos websites da LIT a seção temática sobre Cristianismo e Teosofia.

000



Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

000