O Trabalho dos Irmãos
Mais Velhos da Humanidade
Mais Velhos da Humanidade
Robert Crosbie
É
impossível compreender ou explicar a natureza de qualquer ser exceto através da
Evolução, que é sempre um desenvolvimento de dentro para fora, isto é, a
expressão do espírito ou da consciência através da inteligência adquirida. A
vontade do espírito produziu tudo o que existe.
Se nós entendermos que a vontade inteligente está na base de tudo o que
existe, que ela é a causa de tudo o que ocorre e é a Criadora no Universo,
talvez possamos ter uma ideia do que é necessário saber para usar adequadamente
as nossas energias.
Nós todos existimos como criadores no meio das nossas criações. Há
criadores abaixo de nós na escala da inteligência. Estamos em outro lugar, com
uma visão mais ampla, um fundo maior de experiência adquirida; assim, podemos
ver que abaixo de nós, infinitamente abaixo de nós, há seres tão pequenos que
muitos deles poderiam ser reunidos na ponta de uma agulha. No entanto, os
cientistas, depois de examiná-los de muitos modos, não podem negar que estes
organismos infinitesimais possuem uma certa inteligência, uma capacidade de
procurar o que gostam e de evitar o que não gostam. A partir do menor ponto de
percepção e ação que se possa conceber, há um campo sempre crescente de
expressão, de evolução, um desenvolvimento cada vez maior na direção de uma
escala mais ampla de existência. Esta evolução da inteligência, ou alma, ocorre
muito lentamente nos reinos inferiores, ganha mais rapidez no reino animal, e
no homem ela atinge aquele estágio em que o próprio ser sabe que existe, sabe
que é consciente, sabe que pode entender até certo ponto sua própria natureza e
a natureza dos seres abaixo dele, e ver as relações deles entre si.
O homem atingiu agora um ponto em que começa a se perguntar o que mais
existe que ele possa conhecer. Ele deixou de pensar exclusivamente nas coisas
materiais; ele está percebendo sua própria natureza, e pergunta: “o que sou eu,
de onde venho e para onde vou?”
Se temos estas ideias, podemos perceber que deve ter havido no passado
alguns seres humanos que se fizeram estas mesmas perguntas que estamos fazendo,
e que deram os passos necessários para chegarem a um nível mais elevado de
experiência do que aquele em que estamos agora. São estes mesmos seres, agora
mais elevados que nós, que formam uma camada de consciência, de conhecimento e
de poder, que nós não temos -; homens que passaram pelos estágios em que
estamos agora. São eles que de tempos em tempos vêm a este mundo como
Salvadores. [1]
Se somos cristãos, olhamos para o advento de um destes Seres, no
passado, e pensamos que Ele é único. No entanto ele veio, em Seu tempo, apenas
para uma pequena nação; ele mesmo disse que veio apenas para os judeus. Por
acaso não sabemos que todas as civilizações e todas as tribos que existiram em
qualquer tempo sempre tiveram registros similares sobre algum grande Personagem
que surgiu entre eles?
Em todas as religiões há o registro e a tradição de algum grande
Personagem. E nós descobrimos um fato assombroso ao estudar as escrituras e os
ensinamentos de outras épocas: todos estes grandes Professores ensinaram as
mesmas doutrinas. Não há diferença entre os ensinamentos de Jesus e os
ensinamentos de Buddha, embora estejam registrados em línguas diferentes e um
período de tempo de seiscentos anos tenha separado os dois grandes Professores.
E este fato também ocorre em relação a todos os outros numerosos Salvadores de
diferentes épocas e povos -; todos eles ensinaram as mesmas ideias fundamentais.
Este fato sugere que há um conjunto de Homens, de seres humanos
aperfeiçoados, que resultaram de evoluções e civilizações passadas; nossos
Irmãos Mais Velhos, na verdade, que adquiriram e são os Guardiães do
conhecimento e da experiência obtidos ao longo de longas eras. O conhecimento
que eles têm é de fato a própria Ciência da Vida, porque inclui cada
departamento da existência, da natureza. Eles conhecem a realidade e os
processos dos seres abaixo do homem e acima do homem assim como nós conhecemos
os processos da vida comum da experiência
diária. Eles registraram e preservaram este conhecimento, e lembram dele
do mesmo modo como nós lembramos das experiências e acontecimentos do dia de
ontem.
Eles não ampliaram o seu poder de saber. Cada um de nós tem o mesmo
poder de saber que eles possuem. Mas eles ampliaram as funções dos instrumentos
que possuem. Eles melhoraram o que possuem. Eles têm cérebros melhores. Têm
corpos físicos melhores. Como os adquiriram? Fizeram isso através do cumprimento
de cada dever colocado diante deles, fossem quais fossem as consequências para
eles próprios. Não pensavam em adquirir poder e conhecimento para si mesmos;
pensavam apenas em obter poder para beneficiar todos os seres vivos. Ao fazer
isso, abriam as portas do poder do Espírito interior.
Nós fazemos exatamente o oposto. Contraímos o poder divino do Espírito e
o colocamos dentro de buracos do tamanho de cabeças de alfinete, feitos de
desejos pessoais e egoísmo. Não vemos isso? Não vemos que nós próprios impedimos
o uso do poder dentro de nós, porque nossas ideias são egoístas, pequenas,
mesquinhas?
O grande trabalho da evolução ocorre de dentro para fora. A Alma é o
Observador; ela olha diretamente para as coisas. A ação da vontade flui através
das ideias. As ideias dão as direções. Com ideias pequenas, a força é pouca;
com grandes ideias, a força é grande; a Força em si mesma é ilimitada, porque é
a força do Espírito, infinita e inesgotável. O que nos falta são ideias
universais. Necessitamos despertar em nós mesmos o poder de percepção que irá
abrir diante de nós todo o campo do ser. Uma corrente não pode erguer-se acima
da sua fonte.
A natureza do homem nunca pode ser compreendida, nem sequer
parcialmente, através das ideias e dos métodos que os psicólogos e cientistas
modernos, e as religiões populares, têm seguido. Todos eles operam a partir da
vida física, e muitos deles acreditam que haja uma vida apenas. Eles registram
e classificam muitos tipos de experiências, sem qualquer base firme sobre a qual
colocar o seu pensamento, a sua razão, e assim nunca chegam a qualquer
conclusão definida ou conhecimento real sobre o que é o ser humano, ou sobre os
poderes que o ser humano pode ter. Este é o uso que eles fazem do poder
criativo, mas é um uso limitado, é um mau uso. Aqueles que seguem este caminho
normalmente têm algum propósito egoísta na base do seu desejo; há alguma coisa
ou alguma vantagem que desejam alcançar para si mesmos. Este não é o caminho
correto.
A teosofia afirma que se o desejo e a aspiração forem inegoístas,
nobres, universais, então a força que flui através do indivíduo será grande,
nobre e universal em seu caráter. Afirma também que cada ser humano possui em
si mesmo os mesmos elementos e as mesmas possibilidades que qualquer outro,
inclusive os seres mais nobres e mais elevados neste sistema solar ou em
qualquer outro. Isso coloca o ser humano em uma posição muito diferente de onde
ele é colocado pelas nossas religiões, nossa ciência, ou nossa filosofia
ocidental.[2] Todas elas tratam o homem como se ele fosse
seu corpo ou sua mente, como se ele fosse a criatura, e não o criador.
O corpo muda; nós mudamos as nossas mentes; mas há Alguma Coisa em nós
que não muda, que não depende de mudanças, sejam mudanças do corpo, da mente ou
das circunstâncias; este Algo é o criador, o governante, o vivenciador de todas
as mudanças de qualquer tipo. É esta parte da nossa natureza - o real Ser
Humano dentro de nós - que devemos conhecer em sua essência. Se pudermos
atingir um ponto de percepção que nos permita captar o fato que é a presença do
Espírito dentro de nós, teremos alcançado um ponto em que é possível um
conhecimento de nós mesmos; e se tivermos um conhecimento de nós mesmos, então
teremos, através dele, um conhecimento de todos os outros seres.
Os grandes Professores destacam o fato de que a base real da natureza
humana é a Divindade, o Espírito, Deus. A Divindade não é algum outro ser, por
maior que seja. Não é algo externo. Ela é o que há de mais elevado em nós
mesmos e em todos os outros. Isso é o Deus, e tudo o que qualquer homem sabe
deste Espírito é o que conhece em si mesmo, de si mesmo, e através de si mesmo.
Esta é a ideia que todos os antigos expressam ao dizer que há apenas um Ser, e
que devemos ver o Ser em todas as coisas e todas as coisas no Ser. Isto é o que
todos nós fazemos até certo ponto; nós vemos o Ser, mais ou menos. Nada é visto
fora de nós; tudo o que nós vemos ou sabemos está dentro de nós. Mas nós
pensamos no Ser em nós como algo mortal, perecível, como se ele não tivesse
existência fora deste corpo e desta mente, e como se ele fosse algo separado de
todas as outras formas do Ser.
Se tivéssemos dentro de nós e como nosso alicerce todo o poder que
existe no universo, e não tivéssemos um canal pelo qual aquela energia pudesse
fluir - ou tivéssemos apenas um canal estreito, torcido e distorcido - aquele
grande Poder não seria útil para nós. Seria como se não existisse. Para abrir o
canal é preciso entender a base real: o Deus interior, imortal e eterno, a
Fonte de todo ser, os nossos verdadeiros seres; e em segundo lugar, entender
que toda ação procede daquela Fonte e Centro do nosso ser e de todos os seres.
Quem é, então, o construtor de tudo? Como foi provocada toda esta
evolução? Todos os seres envolvidos nela fazem tanto o mundo como os seus
habitantes. Tudo o que existe é autoproduzido, autoevoluído -; a criação dos
seres espirituais atua em cada um, sobre cada um, através de todos eles,
reciprocamente. A força inteira da evolução, e todo o poder que está por trás
dela, é a vontade humana, no que diz respeito à humanidade. Nós não
compreendemos que toda forma ocupada por qualquer ser é composta de Vidas, cada
uma delas passando por uma evolução própria, ajudada, impelida ou dificultada
pela força da forma mais elevada de consciência que a gerou. Porque este
universo é Consciência ou Espírito corporificados.
E assim como uma só gota de água contém dentro de si todos os elementos e
características do oceano inteiro, assim também cada ser, por mais baixo que
seja o seu grau de inteligência, contém dentro de si a potencialidade e a
possibilidade daquilo que é de suprema elevação. A vontade do Espírito em ação
produziu tudo.
A grande mensagem da teosofia tem
dado a cada buscador interessado o meio pelo qual ele pode conhecer a
verdade sobre si mesmo e sobre a natureza. Assim como os Irmãos Mais Velhos
ajudaram no passado, eles têm ajudado no presente. Tudo o que a humanidade
necessita foi dado a nós. Mas como você consegue transmitir a alguém aquilo que
ele não quer? Como você consegue fazer com que entre na mente de alguém o que a
mente não deseja receber?
É preciso que haja uma mente aberta, um coração puro, um intelecto
ardente, uma clara percepção espiritual, antes que haja qualquer esperança para
nós. Enquanto nós estivermos centrados em nós mesmos, enquanto estivermos
satisfeitos com o que sabemos e com o que temos, esta grande mensagem não será
para nós. Ela é para os famintos, os cansados, para aqueles que estão desejosos
de conhecimento, para aqueles que veem a absoluta escassez daquilo que foi colocado diante deles como
conhecimento por parte daqueles que se apresentam como professores. Ela é para
aqueles que não encontram uma explicação em parte alguma para os mistérios que
nos rodeiam, que não conhecem a si mesmos, que não compreendem a si mesmos.
Para eles, há um caminho; para eles há alimento mais do que suficiente; para
eles todo este Movimento é mantido vivo por uma única vontade, a vontade dos
Irmãos Mais Velhos, que têm preservado estas grandes verdades eternas através
de momentos melhores e piores, de modo que a humanidade pudesse ser
beneficiada; sem desejar recompensa alguma, sem desejar qualquer
reconhecimento, mas desejando apenas que os Seus companheiros de humanidade, Seus
irmãos mais jovens, possam conhecer, possam compreender o que Eles sabem.
NOTAS DO EDITOR:
[1] O termo “salvadores”,
neste contexto, significa apenas instrutores divinos e movidos por compaixão universal.
Tais Professores não “salvam” ninguém no sentido cristão do termo. Seu objetivo
não é esse. O instrutor divino dá elementos para que todos os seres resgatem a
si mesmos, gradualmente, da ignorância e do sofrimento desnecessários. Cada ser
deve libertar-se por mérito próprio. Os Mestres colocam uma sabedoria divina ao
alcance dos seres humanos, mas não “salvam” ninguém. (CCA)
[2] Robert Crosbie se
refere aqui à filosofia ocidental recente. O problema não ocorre com a
filosofia ocidental clássica. (CCA)
000
O texto acima é reproduzido do
boletim mensal “O Teosofista”,
edição de julho de 2008. Foi traduzido do livro “The Friendly Philosopher”, de Robert Crosbie, Theosophy Company,
Los Angeles, USA, 416 pp., 1945, pp. 268-273. Título original: “The Creative
Will”.
000
Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
000