Notas Sobre a Pedagogia do Autoconhecimento
Regina Maria Pimentel de Caux
O anseio por milagres é cultural, e é um
gesto que mostra ignorância. Muitos educadores dizem: - eu gostaria que a escola fosse assim! A atitude mostra desconhecimento e também
impotência. As transformações ocorrem através de uma aspiração consciente rumo
de uma ação contínua, num eterno desdobrar-se. O progresso educacional advém do
trabalho por um ideal.
Se a educação é um
processo contínuo de busca de um saber ampliado e aprofundado, de um viver
inteiro, é preciso que os indivíduos estejam inteiros nessa busca. Iluminar o
espaço desse trabalho e buscar o seu sentido, bem como estimular seu
desenvolvimento fundamentado dos valores humanos e da perspectiva ética, é
descobrir rumos na direção de uma vida mais justa e feliz.
Aderir ao novo
paradigma educacional significa aceitar que alguns princípios aparentemente
certos já não são mais válidos. Cabe ver e sentir com força a unidade de tudo e
todos. John Garrigues afirma que nossas ações estão sempre de acordo com as
visões que temos da vida, do tempo e da lei divina. E acrescenta:
“A crença governa a conduta. (...) Se nós
reconhecermos a unidade da vida que se estende por todo o universo, nós teremos
cuidado para não agredir a nenhuma das suas manifestações, e reconheceremos que
a fraternidade [universal] não é apenas um sentimento, mas uma
lei em vigor e que não pode ser evitada.” [1]
A preocupação
ética se constitui na preocupação com o outro e tem a ver com sua aceitação. A
indiferença é uma atitude de distanciamento e anula totalmente o outro em sua
humanidade. No espaço escolar verdadeiramente democrático as ações e relações
sustentam-se em princípios éticos, as identidades se afirmam no diálogo, na
justiça, no respeito mútuo e na fraternidade.
O artigo 6º das Diretrizes
Curriculares Nacionais afirma que “na
Educação Básica, é necessário considerar as dimensões do educar e do cuidar, em sua
inseparabilidade, buscando recuperar, para a função social desse nível da educação,
a sua centralidade, que é o educando, pessoa em formação na sua essência
humana.” O reconhecimento do outro e o respeito a ele devem coexistir com o
autoconhecimento e a exigência de respeito da parte dele. Isto vale para todas
as instâncias da vida.
Antônio J. Severino escreveu:
“A escola é o lugar do
entrecruzamento do projeto coletivo e político da sociedade com os projetos
pessoais e existenciais dos educadores. É ela que viabiliza a possibilidade de
as ações pedagógicas dos educadores tornarem-se educacionais, na medida em que
as impregna das finalidades políticas da cidadania que interessa aos educandos.
Se, de um lado, a sociedade precisa da ação dos educadores para a concretização
de seus fins, de outro, os educadores precisam do dimensionamento político do
projeto social para que sua ação tenha real significado enquanto mediação da
humanização dos educandos.” [2]
Quantas vezes já não se ouviu um
aluno dizer que o professor deu uma ótima aula? Certamente ele trouxe
contribuições à descoberta do mundo pelos alunos, proporcionou a interação, a
criatividade, a cooperação, a valorização do progresso, a alegria na construção
do conhecimento.
Ensinar à luz destas contribuições
traz todo dia o desafio de olhar para a experiência do ensinante-aprendiz. Esse
trabalho serve para expandir a visão de nós mesmos como seres autoconscientes
em evolução.
A teosofia abre espaço para a forma
de aprendizado ensinada e
estimulada pelos Mestres orientais de Sabedoria. O conhecimento pode, e deve,
ser testado diretamente pelo aprendiz, que confirma por si próprio sua
veracidade. Além de crescer em conhecimento, o estudante, à medida que avança,
também cresce em capacidade de aprender.
Helena P. Blavatsky escreveu em “A
Chave Para a Teosofia”:
“Se tivéssemos dinheiro, fundaríamos
escolas que não produzissem candidatos alfabetizados à miséria. Deveríamos
ensinar às crianças, acima de tudo, a autoconfiança, o amor por todos os
homens, o altruísmo, a caridade mútua e, mais do que qualquer outra coisa, a
pensar e raciocinar por si mesmas. Reduziríamos o trabalho puramente mecânico
da memória a um mínimo absoluto e dedicaríamos todo o tempo ao desenvolvimento
e treinamento dos sentidos internos, das faculdades e das capacidades
latentes.”[3]
O progresso do trabalho docente está
em superar a opressão, a fragmentação do conhecimento e possibilitar o diálogo
dos saberes e práticas, promover o autoconhecimento, o autodesenvolvimento e
superar a massificação que se revela decorrente da globalização.
O conhecimento de
si mesmo não é fácil de obter e só pode ser alcançado gradualmente. É
necessário obter níveis crescentes de autoconhecimento, isto é, de conhecimento
do nosso Verdadeiro Eu. Blavatsky
apresenta o modo de alcançar o autoconhecimento:
“A primeira condição necessária para
obter autoconhecimento é tornar-se profundamente consciente da ignorância; sentir
com cada fibra do seu coração que se é incessantemente autoiludido.
O segundo requisito é uma convicção ainda mais profunda de que tal conhecimento
- um conhecimento intuitivo e seguro - pode ser obtido por esforço
próprio. A terceira condição, a mais importante, é uma determinação indômita de
obter e enfrentar aquele conhecimento.”[4]
O professor deve
se transformar no conhecedor de si mesmo, da sua própria cotidianidade e da
cotidianidade dos alunos, já que ensinar é também aprender. Neste sentido as
dúvidas, a indiferença, a curiosidade, a falta de interesse dos alunos, devem
ser assumidas como desafios pelo professor.
NOTAS:
[1] “Consciência Ética e Interesse Pessoal”,
de John Garrigues, artigo disponível em nossos websites associados.
[2] “Compreender e Ensinar, Por uma Docência
da Melhor Qualidade”, Terezinha Azerêdo Rios, Cortez Editora, p. 127.
[3] “A Chave Para a Teosofia”, H. P. Blavatsky, Ed. Teosófica, Brasília,
2004, pp. 233-234.
[4] “Como Alcançar o
Autoconhecimento”, de Helena P. Blavatsky, texto publicado em nossos websites associados.
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A educadora mineira Regina Maria Pimentel de
Caux é licenciada em Pedagogia, com Pós-graduação em Processo
Ensino-Aprendizagem e Psicopedagogia.
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