Uma Advertência Profética e Uma
Orientação Valiosa Para o
Movimento Teosófico
Um Mestre de Sabedoria
Um Mestre de Sabedoria
1.
Nota Editorial Sobre a Carta de 1900
Em 22 de agosto de 1900, o Sr. B. W. Mantri
escreveu de Bombaim (hoje “Mumbai”) uma breve carta a Annie Besant expressando
sua dificuldade em compreender o que estava acontecendo com a Sociedade
Teosófica (Adyar). A carta dizia o seguinte:
Prezada Senhora --- Há muito tempo desejava
ver-lhe, mas de algum modo estava tão confuso, devido a tantas coisas que ouvi
de vários membros da Sociedade, que, na verdade, não compreendi quais são os
verdadeiros princípios e crenças da Sociedade. Que forma de Yoga a senhora recomenda? Há muito tempo
estou interessado nos estudos de Yoga
e envio-lhe o Panch Ratna Gita, de
Anandebai, muito avançada nesta ciência. Gostaria que a conhecesse. Estou indo
para Kholapoor, mas espero voltar em breve e saudá-la pessoalmente quando a
senhora regressar à Índia.
Respeitosamente, B.W. Mantri.”
C. Jinarajadasa, o editor de “Cartas dos
Mestres de Sabedoria”, explica: “Quando a dra. Besant abriu a carta do sr. Mantri, encontrou o
comentário do Mestre em letra azul”.
Ao editar as Cartas dos Mestres, Jinarajadasa
incluiu esta carta - publicada como Carta 46 da primeira série. Porém, ele a
censurou, e deixou de fora do texto as
suas partes mais incisivas. Além disso, é claro, os dirigentes de Adyar
ignoraram por completo as advertências presentes nessa carta. A íntegra do
documento só foi publicada pela primeira vez no número de setembro de 1987 na
revista “The Eclectic Theosophist”, dirigida por Emmet Small, um notável
teosofista e editor norte-americano ligado à
linha de pensamento teosófico de Point Loma. [1]
Para compreender o conteúdo da carta
deve-se lembrar que, quando ela foi recebida, havia insistentes boatos, estimulados por A. Besant, de que Helena Blavatsky (chamada pelo Mestre de “Upasika”) já havia
renascido e seria a pequena filha do sr. G. N. Chakravarti.
O sr. Chakravarti havia-se transformado em
uma espécie de guru de Annie Besant, e um dos objetivos desta carta foi pôr um
fim nos rumores sobre a falsa “volta de HPB”.
Nisso, pelo menos, a carta teve sucesso.
Por outro lado, mesmo sendo ignorada por Adyar, a carta de 1900 se
transformaria em um testemunho e um documento histórico de grande utilidade
para o futuro. Há
nelas indicações significativas sobre o modo pelo qual o movimento teosófico vem
recebendo de fato inspiração superior desde a morte de Helena Blavatsky em
1891.
A mais clara destas indicações
está neste trecho:
“Em períodos favoráveis,
liberamos influências elevadoras que impressionam várias pessoas de diferentes
maneiras. É o aspecto coletivo de muitos destes pensamentos que pode dar o rumo
correto à ação. Não temos favoritismos. A melhor maneira de corrigir o erro é
um exame honesto e com a mente aberta de todos os fatos, subjetivos e
objetivos.”
O Mestre se refere a “E.E.”, e
a “E.E.T.” nas partes censuradas. As
siglas significam “Escola Esotérica”, e “Escola Esotérica de Teosofia”, e se
referem à escola interna de treinamento fundada por Helena Blavatsky e
desvirtuada por Annie Besant. Devido à distorção da Escola, o Mestre afirma que
a E.E.T. devia ser reformada. A reforma,
naturalmente, não ocorreu no sentido indicado pelo Mestre. Desde 1900, o
abandono da teosofia autêntica por parte de Annie Besant apenas se tornou mais e
mais grave até sua morte em 1933.
Reproduzimos a seguir a Carta do Mestre,
incluindo em negrito, e sublinhando, as passagens censuradas pelos dirigentes
de Adyar. A Carta começa referindo-se ao sr. Mantri. [2]
(Carlos Cardoso Aveline)
2.
O Texto do Documento, Completo e Sem Cortes
[Para Annie Besant.]
Um sensitivo e praticante de pranayama que se deixou confundir pelas
fantasias dos membros. A S.T. e seus membros estão lentamente fabricando um
credo. Diz um provérbio tibetano, “credulidade gera credulidade e termina em
hipocrisia”. Muito poucos são aqueles que podem saber qualquer coisa a nosso
respeito. Deveríamos ser venerados e idolatrados? A adoração de uma nova Trindade, constituída pelo abençoado M., por
Upasika e por você mesma, irá substituir as crenças denunciadas? Nós não
pedimos que haja uma adoração de nós mesmos. O discípulo não deve ser
acorrentado de modo algum. Tenha cuidado
para evitar um Papado Teosófico.
O intenso desejo de alguns de ver Upasika reencarnada imediatamente criou
uma ideação Mayávica deturpadora. Upasika tem trabalho útil a fazer nos
planos superiores e não pode retornar tão breve. A S.T. deve ser conduzida com
segurança ao novo século. Você tem
estado há algum tempo sob influências ilusórias. Evite o orgulho, a vaidade e a
busca de poder. Não seja levada pelas emoções, mas aprenda a manter-se de pé sozinha.
Seja correta e crítica, ao invés de crédula. Os erros do passado nas
velhas religiões não devem ser encobertos com explicações imaginárias. A E.E.T. deve ser reformada de modo que seja tão
não-sectária e livre de credos quanto a S.T.
As regras devem ser poucas e simples e aceitáveis para todos. Ninguém tem o direito de reivindicar
autoridade sobre um estudante ou sobre sua consciência. Não lhe pergunte em quê
ele acredita. Todos os que são
sinceros e de mente pura devem ser admitidos. A crista da onda do progresso intelectual
deve ser influenciada e guiada para a Espiritualidade. Não se pode forçá-la a
adotar crenças e adoração emocional. A essência dos pensamentos mais elevados
dos membros em seu conjunto deve guiar toda a ação na S.T. e na
E.E. Nunca tentamos
submeter a nós próprios a vontade de outros. Em períodos favoráveis, liberamos
influências elevadoras que impressionam várias pessoas de diferentes maneiras.
É o aspecto coletivo de muitos destes pensamentos que pode dar o rumo correto à
ação. Não temos favoritismos. A melhor maneira de corrigir o erro é um exame
honesto e com a mente aberta de todos os fatos, subjetivos e objetivos. O segredo enganoso tem dado o golpe
mortal em numerosas organizações. O falatório acerca dos “Mestres” deve
ser silenciosa mas firmemente eliminado. Que a devoção e o serviço sejam somente
por aquele Supremo Espírito do qual cada um é uma parte. Nós trabalhamos
anônima e silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos e a repetição
dos nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha o nosso trabalho. Você terá que deixar de lado boa parte
das suas emoções e da sua credulidade, antes de tornar-se uma líder segura em meio às
influências que irão começar a operar no novo ciclo. A S.T. foi concebida para ser a pedra angular
das futuras religiões da humanidade. Para realizar este objetivo, aqueles que a
lideram devem deixar de lado suas frágeis predileções pelas formas e cerimônias
de qualquer credo particular, e demonstrar que são verdadeiros teosofistas,
tanto no pensamento interno quanto no comportamento externo. A maior das suas
provações ainda está por vir. Nós estamos zelando por você, mas você deve usar
toda sua força. (Segue-se a assinatura
do Mestre.)
NOTAS:
[1]
A linha de pensamento de Point Loma reúne teosofistas presentes em pelo menos
três países: Alemanha, Holanda e Estados Unidos. Trata-se de uma cisão da Sociedade Teosófica de Pasadena. As
“Sociedades de Point Loma” surgiram na década de 1940.
[2] A versão incompleta da Carta de 1900 está publicada
em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, transcritas e compiladas por C.
Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 296 pp., 1996, pp. 106-107. O texto
completo da Carta está publicado nas páginas 116 e 117 da edição de Outubro de
1987 da revista “Theosophical History”, que na época era publicada em Londres.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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