O Propósito Essencial do
Movimento
Teosófico Vai Muito Além do Curto
Prazo
Carlos Cardoso Aveline
“A alma do ser humano é imortal,
e o seu futuro é o futuro de algo cujo
crescimento e esplendor não têm limites.”
(“The Idyll of the White Lotus”,
M. Collins,
Cap. 8, p. 114, Quest Books, 1974. Há uma
tradução menos precisa da frase na
edição brasileira,
“O Idílio do Lótus Branco”, Ed.
Pensamento, p. 83.)
“….. Digam-me se sou demasiado otimista
quando afirmo que se ... [o Movimento
Teosófico]
sobreviver e permanecer leal à sua missão e aos seus
impulsos originais ao longo dos próximos cem anos,
digam-me, repito, se vou demasiado
longe ao
asseverar que, então, a Terra será
um paraíso no
século vinte e um, se comparada com o que é agora!”
(Frase final de H.P. Blavatsky na
obra
“A Chave da Teosofia”, publicada
em 1889.)
Nas últimas linhas de “A Chave da Teosofia”, Helena P. Blavatsky
vê uma relação direta entre a situação do movimento teosófico, de um lado, e a
situação do carma humano e da civilização da nossa humanidade, de outro. O
movimento é para ela um fator causal: o estado da civilização pertence ao mundo
dos efeitos.
A importância oculta da afirmação de H. P. B. é grande.
Ela revela a natureza magnética do vínculo entre o movimento teosófico e a
humanidade. O movimento é um processo coletivo, dinâmico, não-burocrático, que
possui sementes ativas de atividade buddhi-manásica, isto é, de consciência
universal, impessoal, transcendente, eterna.[1] A humanidade é a terra na qual as sementes são lançadas. Se o
tipo correto de grão é semeado de modo eficiente, no tempo devido começará a
colheita.
A frase de H. P. B. menciona a responsabilidade oculta do
movimento em relação à humanidade. O dever é invisível para o mundo
convencional, mas a tarefa para a qual ele aponta é inevitável, porque faz
parte do processo da evolução humana. Está, portanto, na própria essência do
movimento, na sua substância na luz astral, na sua aura.
O fato de que ajudar a humanidade em seu conjunto é uma
vocação central do movimento teosófico é claramente colocado em várias passagens
de “Cartas dos Mahatmas” e de “Cartas dos Mestres de Sabedoria”.[2] A ideia também está registrada no primeiro objetivo do movimento, que é “criar
um núcleo da fraternidade universal”.
É verdade que um número variável de indivíduos poderá
negar - mais em suas ações práticas do que em palavras - que este é o propósito
central do movimento. Há aqueles que se comportam como se este dever sagrado fosse
apenas um slogan de propaganda e uma frase bonita a ser repetida para
impressionar o público.
No entanto, o movimento só pode ter vida interna real na
medida em que se mantiver em harmonia com sua própria natureza magnética, cuja
substância é feita de ética e sabedoria.
A vitalidade do movimento não depende do poder material
ou do número maior ou menor de seus associados.
Se em uma ocasião qualquer o movimento tem menos
vitalidade do que deveria e alguém busca identificar a fonte do problema, bastará
examinar a quantidade de motivação altruísta que há em seus membros. Neste
exame o observador deve começar verificando o seu próprio grau de altruísmo.
Quando na balança das motivações a intenção altruísta é
fraca, a meta de longo prazo é esquecida e o movimento passa a ter uma sub-existência.
Então ele cai numa vida vegetativa, e seus membros se refugiam na rotina, nos
rituais, na tradição cega, ou na busca de “novidades” instantâneas.
Para o cumprimento da sua tarefa de longo prazo, o
movimento necessita de indivíduos que tomem medidas práticas para expandir os
seus Antahkaranas, ampliando o contato com os seus eus superiores
ou almas espirituais. Isso requer autodisciplina. Mas é deste modo que eles
se capacitam para assumir de fato sua corresponsabilidade pelo futuro
humano.
O número aritmético de tais indivíduos é de importância
secundária. Em geral, um único cidadão decidido ajuda mais do que milhares de
cidadãos indecisos. No entanto, a decisão da alma não pode ser apressada. Tudo
tem o seu ritmo natural. Uma caminhada de dez mil quilômetros começa com o
primeiro passo.
Os Poucos que trabalham pela humanidade podem
estimular o despertar interior de muitos outros. Este processo está ocorrendo
em escala mundial, mas sua rapidez depende do Carma. O progresso humano se dá
por milênios. Embora o despertar tenha começado a tomar impulso e ganhar
velocidade em 1875, os seus resultados não são necessariamente visíveis, ainda.
Para os estudantes de teosofia original, é um privilégio estimular
o processo pelo qual um número crescente de indivíduos se harmoniza com os
novos tempos, marcados pela necessidade de autorresponsabilidade e de cooperação
sem fronteiras, em escala planetária. Há desafios, é claro. Para alcançar sua
meta, o movimento esotérico deverá superar o apego à rotina. Isso não ocorre da
noite para o dia. Visto coletivamente e a longo prazo, este esforço vai abrindo
espaço para o surgimento do sexto tipo ou etapa evolutiva da
atual humanidade.
Na obra “A Doutrina Secreta”, este tipo humano é
chamado de “sexta-sub-raça da quinta raça-raiz”.
A palavra “raça”, aqui, abrange pessoas de diferentes
cores de pele, povos, classes sociais, culturas e etnias, e se refere a
características de muito longo prazo. O novo “tipo” ou “sub-raça” da atual raça-raiz
estará apto para viver conscientemente a fraternidade universal. O respeito à
vida é uma chave para chegar a esta consciência. Os cidadãos pioneiros do
futuro reconhecem a fraternidade universal como uma lei e um fato, e trabalham
para que a prática do fratricídio seja abandonada no momento certo.
O dharma dos teosofistas não é fazer um esforço para impedir
mudanças geológicas graves através de ativismo ou militância social.
É verdade que os efeitos das mudanças climáticas e
ambientais serão menos dramáticos se a consciência planetária e ecológica
expandir-se mais rapidamente. Esta é uma meta nobre a ser apoiada. Mas os
ciclos geológicos são inevitáveis. Eles fazem parte da evolução humana e
planetária e constituem uma necessidade. O dever teosófico é alcançar uma
compreensão dos desafios geológicos atuais desde o ponto de vista da filosofia
esotérica, e partilhar esta compreensão de modo a acelerar o despertar interno da
humanidade.
O planeta é setenário. Os sete níveis da sua consciência
estão inevitavelmente interligados, e na primeira metade do século 21 já é
possível perceber que está ocorrendo uma transição multidimensional.
Graças à sua filosofia universalista, o movimento
esotérico opera, ou deveria operar, em níveis superiores da mente da humanidade.
No entanto, as suas velhas estruturas e formas de ação estão se tornando
disfuncionais. Os novos métodos de agir ainda não apareceram, ou estão na primeira
fase do seu surgimento.
A perda de vitalidade das formas antigas do trabalho
teosófico se expande simultaneamente com a crise externa da civilização
materialista. Estes dois processos ocorrem ao lado da aceleração dos eventos
geológicos por toda parte.
Está tudo sincronizado no processo da vida planetária. O
desafio é agir construtivamente, de dentro para fora, de modo pioneiro. Cada
estudante deve decidir por si, enquanto ajuda e é ajudado pelos seus colegas de
caminhada.
Um Mestre de Sabedoria escreveu sobre a responsabilidade
dos Poucos em relação ao conjunto do carma humano:
“A crise atual que está abalando os alicerces da S.T. [Sociedade Teosófica] é uma questão de
perdição ou salvação para milhares; uma questão de progresso ou retrocesso da
raça humana; da sua glória ou desonra, e para a maior parte desta raça, de ser
ou não ser, de aniquilação, realmente – e se a sua L.L. [Loja de Londres] pudesse ao menos entender, ou mesmo suspeitar
disso, talvez muitos de vocês olhassem para a própria raiz do mal, e em vez de
seguirem aparências e decisões científicas falsas, vocês se poriam a trabalhar
e salvariam a situação…”. [3]
No século 21, o trecho acima se aplica a cada grupo de
teosofistas sinceros que estudam os ensinamentos originais e tratam de
expressá-los em sua vida diária. Ao refletir sobre o princípio da responsabilidade
estabelecido nas linhas acima e no parágrafo final de “A Chave da Teosofia”, podemos escolher duas questões para meditação
e contemplação:
* Há mesmo uma relação de causa e efeito entre, A) o processo de preservação e expansão
do movimento teosófico de acordo com o seu Impulso Original, e B) a necessária autorrenovação da
civilização de hoje em direção à ética universal e ao altruísmo?
* Qual é a melhor maneira pela qual cada um de nós, e
todos nós, podemos TENTAR ser úteis neste processo unificado e permanente de
criação, preservação e renovação, que ocorre a longo prazo e principalmente no
plano causal?
NOTAS:
[1] No sentido essencial, o movimento teosófico abrange todas as pessoas de boa
vontade que transcendem os sectarismos religiosos, nacionais, políticos ou
filosóficos, percebendo a sabedoria universal e procurando vivenciá-la. Há
teosofistas que não pertencem a qualquer associação teosófica, e há membros das
sociedades teosóficas que não são teosofistas.
[2] As duas obras estão publicadas pela Editora Teosófica, de Brasília. Em
nossos websites associados pode-se ler “A Carta do Grande Mestre”, que tem como
nome de autor “Um Mahatma dos Himalaias”.
[3] “Cartas dos Mahatmas”, volume II, Carta 136, p. 315.
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O texto acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em maio de 2013.
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Leia mais:
* Examine a seção temática Autodisciplina e Concentração: Para Fortalecer a Vontade Espiritual.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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