Uma Avaliação dos Primeiros Anos
publicada
em PDF em nossos e websites associados
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O texto a seguir foi publicado pela
primeira vez em julho de 2011 no blog
português “Aqui & Agora”. Dina Cristo faz no artigo
uma avaliação das atividades do blog, que propõe
uma
comunicação social baseada na ética e na
cidadania.
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Carlos Cardoso Aveline, autor
brasileiro, escreveu um livro que se intitula “A Informação Solidária”.
A obra serviu-nos de inspiração para a realização da conferência sobre
Informação Solidária em Portugal. Em Coimbra, estiveram presentes Henrique
Pinto e Gabriela Oliveira, e, via tecnológica, o autor. No seguimento,
encetamos, em Julho de 2007, este projeto. Os primeiros artigos foram sobre o
tema.
Quatro anos depois, temos mais de duas centenas e meia
de textos, de mais de meia centena de autores, sobre vários assuntos e em
diversos géneros jornalísticos. Além dos artigos semanais, à quarta-Feira, e as
rubricas, trimestrais - em cada nova estação -, temos tornado públicos,
mensalmente, vários ensaios, desde a literatura à política. Todas as produções
são inéditas, salvo uma ou outra exceção devidamente referida.
Ao longo destes anos, apresentámos o conceito de
Informação Solidária nas Jornadas Internacionais de Jornalismo, no Porto, promovemos
um workshop e entregamos dois Prêmios IS, o primeiro à revista “Biosofia”, em
2009, e o segundo ao blogue “Vislumbres da Outra Margem”, em 2010. Temos dado a
conhecer novos autores, como Elton Rodrigues Malta, e novas ideias, como a simplicidade
voluntária. Tivemos mais de 35 mil páginas consultadas por mais de 17 mil
visitantes, dos quais 12% durante mais de 20 minutos.
Quando começamos, a palavra “solidária”, era vista com
desconfiança e apenas no aspecto moral. Hoje, ela é visível, na publicidade,
audível, em programa de rádio, e presente até em seções próprias de jornais. Um
pouco como a sustentabilidade, primeiro, e a responsabilidade social, depois,
torna-se mais habitual. Na economia, na política, na justiça, no turismo, na
inovação, na informação o setor social ressurge.
Transformações
Atualização do espírito fraternal da Revolução
Francesa, hoje é mais perceptível a sua necessidade, existência e importância.
Com o colapso do sistema industrial, financeiro e social as propostas
alternativas, até aqui desprezadas, são revalorizadas. Neste início do terceiro
milênio, a consciência planetária acelera e as práticas mais altruístas ganham
dimensão.
Desde as áreas científicas, como a física quântica ou
a psicologia transpessoal, teorias de vanguarda, como os campos mórficos de Rupert
Sheldrake ou a ordem implícita de David Bohm, alargam horizontes. O digital,
com os blogues, redes sociais e o wiki, expande-se e há todo um terceiro sector
que se fortalece.
A informação é aquilo que dá forma a algo; como explica
Lucienne Cornu, é aquilo que permite estruturar. O acesso a uma nova informação
trará novas formas individuais, coletivas e planetárias, como ensina Dieter
Duhm. Na perspectiva de Carlos Cardoso Aveline, uma verdadeira informação dará
lugar a decisões mais correctas.
Enquanto superestrutura influenciará a infraestrutura
material, mas esta também não a prescinde. É assim que realidades como a economia
solidária, a inovação social, as ONG, as IPSS e os mais diversos movimentos,
desde a ecologia à saúde, do sincretismo religioso à proteção às crianças e
animais, precisam de se fazer ver e ouvir enquanto partes legítimas do grande
todo coletivo.
Fora dos grandes “media” conservadores, há um país a
desabrochar. Para além da crise objetivada em sons e imagens, há todo um outro Portugal
que se dinamiza: agentes, fontes e acontecimentos que retratam o lado mais
nobre e digno. Com ensejos filantrópicos, os acontecimentos multiplicam-se pelo
território nacional. Os pequenos, mais atentos e com novos critérios, dão-lhes expressão.
Os cidadãos, implodidos com a propaganda do
crescimento econômico contínuo, explodem no sentido do desenvolvimento interior.
Agonizados pelo curto-circuito, fechado, dos “mass media”, sentem novos ventos
de liberdade de expressão, de livre fluxo informativo. Dão, recebem, partilham.
Apesar da insistência na brutalidade, nos
acontecimentos egocêntricos e nos atos de selvajaria, há novos ares que sopram
no sentido da elevação da consciência: mais generosa e holística. Seja por um
livro, um filme, uma terapia, um blogue, a nova informação já circula, também
na internet.
É neste contexto que a Informação solidária se
evidencia. Desde logo parte de um novo pressuposto - o de que os recursos são
suficientes: matéria-prima, tempo, espaço, técnica, homens e mulheres chegam
para fazer uma informação melhor, mais útil e humana. Confiante nos meios,
assente em princípios (éticos) e desapegada dos fins, está segura de que, mais
cedo ou mais tarde, estes surgirão, para bem de todos.
(Des)créditos informativos
Alternativa, a IS é uma informação ecológica e
dourada. Sem se arrogar de independente, muito menos dependente do receptor, a
Informação solidária afirma-se e (a)firma a interdependência, não só na sua
relação interlocutiva mas entre todo o universo. Necessariamente
reticular, pura, saudável, natural e estética, ela é benfazeja, terapêutica,
regenerativa e sustentável.
Sinal dos novos tempos de descoberta espiritual, a IS
é uma informação solar, amorosa, intuitiva, por vezes abstrata. Inspiradora,
ela é criativa, profunda, livre, essencial e transpessoal. Estrutural e íntegra,
é simples e significativa. Corajosa, diferente e coerente com os seus valores,
por vezes inconveniente, é interventiva.
Ocupada com questões de médio-longo prazo, desacelerada, lenta e extensiva, próprio do “slow journalism”,
é autônoma, realista e pauta-se pela inovação e correção. Caracterizada pelo
equilíbrio e a moderação, usa a média tecnologia. Democrática, ela é uma
espécie de informação branca, no sentido de refletir as demais cores (políticas,
religiosas, sociais ...).
De origem aquariana, ela é vincadamente feminina e grupal.
Descentralizada, local, voluntária, informal e doméstica. Inofensiva e
construtiva, prudente e discreta, ela é escrupulosa, animada, alegre e
entusiasmada. Serena, graciosa, confiante, desperta, consistente e respeitosa,
ela concilia a autonomia com a responsabilidade.
Aos poucos, vai desatualizando a informação
interessada, grosseira e agressiva. Para trás vai ficando uma comunicação
social carente, desnutrida, insaciável e hipnotizadora. Relatos violentos,
repetitivos, fragmentados, formais, superficiais e irrelevantes tornar-se-ão
inaceitáveis. Informação rápida, imediata, intoxicante, indiferente, negativa,
conveniente, fútil e contraditória será abandonada. Notícias exageradas,
tendenciosas, à base de cosmética e alta tecnologia, baseadas no valor
comercial, opacas, demasiado masculinas, cruéis, em quantidades astronómicas,
impulsivas, assustadoras, indiscretas e desgraçadas desvanecerão.
Espiral informativa
Mais de 30 anos depois do relatório Macbride, a IS
reequilibra os fluxos de informação e enceta uma economia não monetária, onde
todos colaboram com todos. Depressiva - no sentido em que honra a diferença e
promove a unidade, possui bons sentimentos e partilha o poder (de saber) com os
outros cidadãos - é talvez motivo para se dizer: “silêncio que se vai ler,
ouvir ou ver Informação Solidária”.
Mais (além) e melhor do que a informação alternativa,
social, de paz, de cidadania ou responsabilidade social que integra, a
informação solidária comprometida com a Paz, o Amor e a Vida, ultrapassa o
impasse das mais diversas dicotomias e transcende-as, sintética e
harmoniosamente. Ela é o ponto de partida, em expansão, para um novo portal
comunicacional, transformador e curador das feridas deixadas pela guerra,
intolerância e incompreensão.
Pólo ativo e passivo, romântico e industrial, racional
e emocional, direito e dever, onda e partícula, optimismo e pessimismo,
quantidade e qualidade, substância e forma, tempo e espaço, idealismo e
positivismo, política e economia, autor e leitor, hemisfério direito e
esquerdo, meios quentes e frios, objetividade e subjetividade, global e local,
ética e mercado serão vistos como duas expressões da mesma realidade. Ao
conciliá-los e ordená-los, a IS supera os conflitos separatistas e atuará como
consoladora na Nova Era de Liberdade, de Ser e de Comunicar.
Como escreveu Aveline:
“Na nova era, a conduta do cidadão não será comandada
por programas de auditório de televisão ou necessidades comerciais de grandes
empresas. Informações inúteis não serão vendidas com tanto zelo como hoje, e a
novidade deixará de ser vista como mais importante que a verdade. Velhas
tradições ressurgirão. A arte e ciência de viver corretamente ocupará lugar de
destaque em escolas, locais de trabalho e meios de comunicação social.” [1]
NOTA:
[1] “A
Informação Solidária”, Edifurb, SC, Brasil, 2001. O livro está
disponível em nossos websites associados.
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Dina
Cristo é Mestre em Ciências da
Comunicação, pela Universidade Nova, em Lisboa, e Docente de Teoria e História
dos “Media” na Escola Superior de Educação de Coimbra. É autora do livro “A Rádio em Portugal e o Declínio do Regime de Salazar e Caetano (1958-1974)”, editado em 2005, por
Edições Minerva Coimbra.
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Para
conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos
últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas
na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.
Com 28
capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da
Universidade de Blumenau, Edifurb.
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