O Significado de um Documento Alquímico
Carlos Cardoso Aveline

“O que está abaixo é como aquilo que está acima…”
A Tábua de Esmeralda é considerada
o mais antigo dos ensinamentos que se relacionam com a alquimia e a pedra filosofal (lapis
philosophorum).
Trata-se
segundo a tradição de uma pedra preciosa - uma esmeralda - na qual certas
inscrições foram feitas em alto relevo, milhares
de anos antes da era cristã.
O texto pode
ser lido desde vários pontos de vista e é
a mais reverenciada das fórmulas alquímicas. Ele se refere tanto à
alquimia de metais como à alquimia divina ou regeneração interior da alma
humana. Também diz respeito ao indivíduo humano (microcosmo) e ao sistema
solar (macrocosmo).
A autoria
da Tábua é atribuída a Hermes na tradição esotérica. Ela está na origem da
lenda maçônica de Hiram (ou Chiram). Chiram
é o protótipo ou arquétipo do ser humano.
O
ensinamento esmeraldino possui uma relação direta com as três proposições fundamentais da Doutrina Secreta, formuladas por
H. P. Blavatsky com base na sabedoria esotérica do Oriente. H. P. Blavatsky escreve na sua obra “Ísis Sem Véu”:
“A
tradição declara que junto ao cadáver de Hermes, em Hebron, um Iniciado, um
Isarim, encontrou a tábua conhecida como
Smaragdine. Ela expressa, em poucas
frases, a essência da sabedoria hermética. Para quem a lê apenas com seus olhos
corporais, os seus preceitos não sugerem nada novo ou extraordinário, porque
ela começa simplesmente afirmando que sua mensagem não fala de coisas
fictícias, mas daquilo que é verdadeiro e seguro.”
Em
seguida vem a transcrição do texto:
O que está abaixo é como aquilo que está acima, e o
que está acima é semelhante a aquilo que está abaixo, para realizar os
prodígios da coisa única.
Assim como todas as coisas foram
produzidas pela mediação de um ser, assim também todas as coisas foram produzidas a partir
deste ser por adaptação.
O seu pai é o sol, sua mãe é a lua.
Ele é a causa de toda perfeição
por todo e qualquer lugar da terra.
O seu poder é perfeito se ele
for transformado em terra.
Separe a terra do fogo, o sutil
do grosseiro, agindo prudentemente e com critério.
Eleve-se com a maior sagacidade
desde a terra até o céu, e então desça de novo para a terra, e unifique o poder
das coisas inferiores e superiores. Assim você possuirá a luz do mundo inteiro e toda escuridão fugirá de
você.
Esta coisa tem mais força que a
própria força, porque ela domina todas as
coisas sutis e permeia todas as coisas sólidas.
Através dela o mundo foi
criado.
Tal é a
Tábua Esmeraldina, na versão publicada em “Ísis Sem Véu”.
H.P.B.
acrescenta:
“Essa
coisa misteriosa é o agente universal mágico, a luz astral, que nas correlações
das suas forças fornece o alkahest, a pedra filosofal, e o elixir da vida. A filosofia hermética a chama de Azoth, a
alma do mundo, a virgem celeste, o grande Magnes, etc.,etc. A ciência física a
conhece como ‘calor, luz, eletricidade, e magnetismo’, mas, ignorando as suas propriedades espirituais e a potência
oculta contida no éter, rejeita tudo aquilo que ignora.” [1]
Em “A
Doutrina Secreta”, H.P.B. comenta:
“Assim,
vemos na Tábua Esmeraldina, que foi
desfigurada por mãos cristãs: - ‘O
Superior está de acordo com o Inferior, e o Inferior está de acordo com o Superior,
para produzir aquele Trabalho único e verdadeiramente maravilhoso’ - que é o
HOMEM. Porque o trabalho secreto de Chiram, ou
Rei Hiram, na Cabala, ‘um em Essência,
mas três em Aspecto’, é o Agente Universal ou Lapis Philosophorum. A culminação do Trabalho Secreto é o Homem
Espiritual Perfeito, em uma extremidade da linha; a união dos três elementos é
o Solvente Oculto na ‘Alma do Mundo’, a Alma Cósmica ou Luz Astral, na outra extremidade; e, no plano material,
é o Hidrogênio em sua relação com os
outros gases.” [2]
Para
H.P.B., a combinação do superior e do inferior implica a existência de “duas
operações herméticas secretas, uma relativa ao espiritual, a outra relativa ao
material, e ambas unidas para sempre”.[3]
HPB reproduz
no mesmo trecho algumas ideias centrais da Tábua:
“Separe
a terra do fogo, o sutil do sólido ……. aquilo que sobe da terra para o céu e
desce de novo do céu para a terra. Isso (a luz sutil) é a força mais forte em
toda força, porque vence qualquer coisa sutil e penetra em todos os sólidos. O
mundo foi formado assim. (Hermes) ”
Há sete
chaves para a interpretação da Tábua de Esmeralda.
Ao nível
da chave antropológica, a “coisa única” mencionada no final do primeiro
parágrafo é o ser humano.
Na versão mais oculta e completa da Tábua, jamais
publicada, o primeiro parágrafo inclui a afirmação de que “o fogo Espiritual é
o instrutor (Guru) da coisa única”.
H.P.B. esclarece que o instrutor, o fogo, é o próprio eu superior, a alma imortal de cada indivíduo. [4]
Assim, o
fogo espiritual a ser separado da terra “prudentemente e com critério” é o aprendizado. Constitui a provação e o
processo alquímico pelos quais a alma inferior
se transforma à medida que se
aproxima da alma imortal.
A
transmutação começa quando a alma mortal passa a ouvir diretamente a voz suave
da alma imortal, a “voz do silêncio”, a voz da consciência.
O texto
fala de modo mais ou menos velado sobre a reencarnação do indivíduo, e ao mesmo
tempo sobre a manifestação periódica de um universo e de um sistema solar. Ele expressa
a lei da harmonia entre céu e terra, corpo e alma, matéria e espírito.
O Jesus
do Novo Testamento navega nas águas da mesma sabedoria quando ensina:
“Em
verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo
quanto desligardes na terra será desligado no céu.” (Mateus 18:18).
Há nas
mais diferentes culturas uma percepção de que o ser humano constitui uma ponte
entre céu e terra. A trindade está
presente em cada pessoa na forma de
espírito, alma e corpo. No extremo oriente, a tradição chinesa descreve o homem
como formando com o céu e a terra “a grande tríade”.
Para H.
P. Blavatsky, a Tábua de Esmeralda é o único fragmento que se conhece hoje dos
verdadeiros livros Herméticos. “Poimandres” e outros textos atualmente
atribuídos a Hermes são, segundo ela,
“meras recordações mais ou menos
vagas e equivocadas de diferentes
autores gregos e latinos”.[5]
NOTAS:
[1] “Isis Unveiled”, H.P. Blavatsky, vol. I, pp. 507-508. Veja também a edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, H.P.B., Ed. Pensamento, S.P., volume II, p. 189.
[2] “The Secret Doctrine” (“A Doutrina Secreta”), H. P. Blavatsky, vol. II, p. 113.
[3] Veja, na tradução gradual de “A Doutrina Secreta” em nossos websites associados, o comentário (c) do item 7, Estância III, no volume I da obra.
[4] “The Secret Doctrine”, obra citada, vol. II, p. 109.
[5] “Alchemy in the 19th Century”, H.P.B., texto incluído nos “Collected Writings” de H.P. Blavatsky, TPH, India/USA, 1973, volume XI, ver p. 549.
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O texto acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em fevereiro de 2014.
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Veja também o artigo “Sabedoria Hermética no Século 21”, de Carlos Cardoso Aveline.
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Leia mais:
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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