Uma Pequena Linha do Tempo do Movimento Teosófico
Arnalene Passos do Carmo

Helena P.
Blavatsky
William Judge, cofundador do movimento teosófico em 1875, aluno e amigo de Helena Blavatsky, transmitiu a Robert Crosbie o que aprendera. Manter o trabalho ligado aos ensinamentos originais foi um legado para as gerações futuras.
Num texto sobre a vida de Judge, lemos:
Quando H.P. Blavatsky morreu, em 1891, William Judge era o vice-presidente mundial da Sociedade Teosófica. Dois ou três anos depois, Annie Besant e Henry Olcott deram os primeiros passos ostensivos no sentido de fazer com que o movimento abandonasse o rumo original traçado pelos Mahatmas. Coube a Judge defender a principal fundadora do movimento teosófico e a teosofia autêntica. Infelizmente, fez isso de maneira imperfeita, enquanto ele mesmo já perdia o foco. [1]
Judge morre em 1896 deixando um núcleo de estudantes nos Estados Unidos. Entre eles estava Robert Crosbie, conforme podemos ver em um texto disponível em nossos websites:
“Em 1888, Crosbie ingressou no movimento teosófico
em Boston. Pouco depois, conheceu William Judge. Nos anos seguintes, Crosbie
passou a ser um dos colaboradores mais próximos de Judge, e coordenou grupos de
estudos esotéricos em sete estados da região da Nova Inglaterra.” [2]
Robert Crosbie fundou a Loja Unida de Teosofistas em
18 de fevereiro de 1909. A inspirada Declaração da LUT é um mantra
atemporal. No primeiro parágrafo do texto, encontramos a decisão de iniciar um
trabalho focado na essência:
“O programa de ação dessa
Loja consiste em devoção independente à causa da Teosofia, sem vinculação
oficial a nenhuma organização teosófica. Ela é leal aos grandes fundadores do
movimento teosófico, mas não se ocupa com desavenças ou diferenças de opiniões
individuais.” [3]
A ausência de preocupação excessiva com questões
organizativas demonstra confiança no ensinamento. Crosbie encoraja-nos a
trabalhar ainda que aparentemente não estejamos prontos para fazê-lo. A
distância entre nossa condição e o ideal almejado diminui a cada esforço
sincero. Ele escreveu:
“Assumimos uma alta
missão e uma tarefa pesada - não porque pensemos que estejamos notavelmente à
altura dela, mas porque vemos que ela deve ser feita e não há mais ninguém para
fazê-la; e também porque sabemos que não estaremos sós no esforço.” [4]
Entre os fundadores da LUT em 1909 havia um
companheiro cujo nome ainda hoje é pouco conhecido internacionalmente: John
Garrigues. Resgatar e valorizar o trabalho de Garrigues tem sido uma tarefa dos
nossos websites associados. Já temos um certo número de textos escritos por
ele. A nota editorial que abre um dos seus artigos esclarece:
“John Garrigues (....) foi
um dos grandes teosofistas do século 20. Trabalhando anonimamente, ele deu um
impulso decisivo à preservação da teosofia original. Garrigues é o autor de livros
importantes e numerosos artigos publicados na revista ‘Theosophy’ entre 1912 e 1944.” [5]
Robert Crosbie morreu em 1919. A partir de então, ao
lado de John Garrigues, surgem novos valores e o trabalho da LUT ganha dimensão
global:
“Em 1922, o indiano B. P.
Wadia, um jovem líder de expressão internacional da Sociedade de Adyar,
abandonou o movimento de Annie Besant e aderiu à LUT, transformando a Loja
Unida em um movimento de expressão internacional mais significativa.” [6]
Após alguns anos de perfeita sintonia com o
trabalho da LUT nos Estados Unidos, durante os quais inspirou a criação de
grupos de estudos em vários estados e cidades, Wadia retorna para sua terra
natal, a Índia, e projeta a LUT internacionalmente, inspirando a abertura de
várias Lojas na Europa.
John Garrigues escreve e trabalha até deixar a vida
física em 1944. Wadia vive até 1958. O trabalho da LUT avança desde então com
outros líderes, sujeito à força dos ciclos e do carma. A literatura explica como
divulgar o ensinamento:
“... O que nós temos de
passar adiante são os pontos principais, claros e definidos, expressados de
modo conciso, de modo que o pensamento seja focado neles; colocar os pontos de
modo tão nítido que eles não possam ser ignorados, nem mesmo por um leitor
descuidado; e de modo que eles permaneçam como fatos, e apenas fatos, diante da
mente, e sejam verificáveis por qualquer um que se der ao trabalho de fazer
isso.” [7]
Para manter o ensinamento não basta reeditar a
literatura. Sua vivência elaborada e compartilhada em artigos é a principal
razão da existência de revistas ou boletins teosóficos. Este foi um ponto fraco
da LUT após a morte de John Garrigues em 1944.
Desde o ano 2000, formas tradicionais de trabalho
teosófico vêm desaparecendo, e algumas revistas publicadas em papel deixaram de
circular. Isso ocorreu inclusive no caso da LUT (revista “Theosophy”) e da
Sociedade Teosófica de Pasadena (revista “Sunrise”).
Apesar disso, a teosofia original cresce.
Surgir, manter-se durante algum tempo e desaparecer
faz parte dos ciclos naturais da vida. As organizações também obedecem a esta
lei, em períodos maiores ou menores. Neste sentido podemos usar as palavras de
Garrigues:
“Nenhum organismo tem
qualquer inteligência ou poder de ação em si mesmo; ele é um produto, um
efeito, e não uma causa. (.....) Mas todo organismo, de qualquer tipo ou
característica, é composto de formas de consciência, ou ‘vidas’, cada uma com o
seu próprio círculo de percepção, sua capacidade de iniciar ações, sua
capacidade de mudar - todas elas são mantidas em algum tipo de coerência de
direção pela força de uma Vida superior que as usa como veículos ou instrumentos
para a sua própria ação (...).” [8]
Através dos seus ciclos, a Lei permite e provoca a
retomada de ações feitas anteriormente. Ela se encarrega de unir preparação com
oportunidade.
Um novo ciclo de defesa
internacional de H. P. Blavatsky começou em 2004 por iniciativa do teosofista brasileiro
Carlos Cardoso Aveline, que trabalhou inicialmente de modo quase isolado.
Em seguida, o esforço encontrou aliados.
Entre eles estavam a revista canadense “Fohat”
(publicada em papel) e a publicação eletrônica mensal dos Estados Unidos “The Aquarian Theosophist”. Esta última
era então editada por Jerome Wheeler, um destacado teosofista em Los Angeles e
pesquisador da obra e da vida de John Garrigues.
Nasce a Loja Independente
Com o crescimento do esforço ao
longo do tempo e devido também à necessidade natural de renovação do movimento,
a responsabilidade pela edição do “Aquarian”
passou em fevereiro de 2012 para os nossos websites associados.
Em setembro de 2016, tendo
observado detalhadamente a situação do movimento teosófico internacional, os
associados brasileiros e portugueses da LUT decidiram declarar sua autonomia diante
da Loja Unida, da qual ainda são aliados em muitos aspectos, e à qual são
gratos. Decidiram também formar a Loja
Independente de Teosofistas.
Entre as metas da Loja
Independente estão a de trabalhar por um futuro saudável da vida em todos os
níveis e a de renovar o movimento teosófico com base em uma lealdade ativa aos
ensinamentos originais de Helena Blavatsky.
O movimento é essencial para o
futuro da humanidade, e deverá expandir-se no futuro. A cada nova geração de
teosofistas, a decisão de avançar deve ser renovada com a mesma força dos
fundadores originais. O trabalho recomeça a cada década, a cada ano - e a cada
dia.
Muitos são os gestos inspiradores
que estão na origem do novo impulso do século 21. Devido ao poder do seu
exemplo e dos seus escritos, John Garrigues é considerado como uma fonte de
inspiração para a Loja Independente de Teosofistas. Ao lado de Helena Blavatsky
e outros, ele é uma referência.
A gratidão é um fator na busca da
sabedoria, porque permite que aprendamos mais profundamente com os sábios.
Resgatando a vivência interna e o trabalho editorial, a Loja Independente realiza
em mais de um idioma pesquisas, estudos e publicações que abrem caminho para o
futuro.
NOTAS:
[1] Texto “A Vida
de William Q. Judge”, disponível nos websites associados.
[2] “Quem Foi Robert Crosbie”, de Carlos Cardoso Aveline, texto publicado em
nossos websites.
[3] Artigo “A
Declaração da Loja Unida de Teosofistas”.
[4] “The Friendly Philosopher”,
Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, p. 370.
[5] Nota de “A Verdadeira Concentração”, de John Garrigues, disponível em nossos
websites.
[6] “Quem Foi Robert Crosbie”.
[7] “The Friendly Philosopher”,
Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, p. 370.
[8] “A Lei da
Dificuldade”, artigo de John Garrigues. Disponível nos websites associados.
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Uma versão
inicial do artigo acima foi publicada na edição de fevereiro de 2013 de O Teosofista. A atualização mais recente foi feita em maio
de 2022.
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Leia
mais:
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Sobre a
missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a
vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso
Aveline.

A obra
tem 255 páginas e foi publicada em outubro de 2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de
Amazon Books.
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