O Reformador Nazareno Recebeu
Sua Educação nas Moradas Essênias

Foi dada a um contemporâneo de Jesus a possibilidade de mostrar à posteridade, interpretando a literatura mais antiga de Israel, a que ponto a Filosofia Cabalística concordava em seu esoterismo com a dos mais profundos pensadores gregos. Esse contemporâneo, ardente discípulo de Platão e Aristóteles, foi Fílon, o Judeu. Porque explica os livros mosaicos de acordo com um método puramente cabalístico, ele é o famoso escritor hebreu a quem Kingsley chama de Pai do Novo Platonismo.
É evidente que os terapeutas de Fílon são um ramo dos essênios. Seu nome o indica - ’Εσσαίοι, médicos. Daí, as contradições, as falsificações e outros desesperados expedientes para reconciliar as profecias do cânone judaico com a natividade e a divindade do Galileu.
Lucas, que era médico, é designado nos textos siríacos como Asaya, o essaiano ou essênio. Josefo e Fílon descreveram bastante bem essa seita para não deixar nenhuma dúvida em nossa mente de que o Reformador nazareno, após ter recebido sua educação nas moradas essênias do deserto, e ter sido profundamente iniciado nos mistérios, preferiu a vida livre e independente de um nazaria errante, e assim se separou ou se desnazarianou deles, tornando-se um terapeuta viajante, um nazaria, um curador. Todo terapeuta, antes de deixar sua comunidade, tinha de fazer o mesmo. Tanto Jesus como João Baptista pregaram o fim da Idade [1], o que prova seu conhecimento da computação secreta dos sacerdotes e dos cabalistas, que partilhavam com os chefes das comunidades essênias o segredo exclusivo da duração dos ciclos. Esses últimos eram cabalistas e teurgistas; “tinham seus livros místicos, e prediziam os eventos futuros”, diz Munk [2].
Dunlap, cujas pesquisas pessoais parecem ter sido coroadas de sucesso nessa direção, constata que os essênios, os nazarenos, os dositeus e algumas outras seitas já existiam antes de Cristo: “Elas rejeitavam os prazeres, desprezavam as riquezas, amavam uns aos outros e, mais do que outras seitas, desprezavam o matrimônio, considerando o domínio sobre as paixões como uma virtude”[3], diz ele.
Todas essas virtudes eram pregadas por Jesus; e se devemos aceitar os Evangelhos como um padrão de verdade, Cristo era um partidário da metempsicose, um reencarnacionista - tal como esses mesmos essênios, que eram pitagóricos em todos os seus hábitos e doutrinas. Jâmblico afirma que o filósofo samiano passou algum tempo com eles no monte Carmelo [4]. Em seus discursos e sermões, Jesus sempre falou por parábolas e empregou metáforas com seus ouvintes. Esse hábito é também característico dos essênios e dos nazarenos; os galileus que habitavam em cidades e aldeias jamais foram conhecidos por empregarem tal linguagem alegórica. Na verdade, sendo alguns de seus discípulos galileus, como ele próprio, ficaram estes surpresos ao vê-lo empregar tal modo de expressão com o público. “Por que lhes falas por parábolas?”, perguntavam com frequência. “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não”, foi a resposta, que era a de um iniciado. “É por isso que lhes falo por parábolas: porque veem sem ver, e ouvem sem ouvir, nem entender.” [5] Além disso, vemos Jesus expressando ainda mais claramente seus pensamentos - e em sentenças que são puramente pitagóricas - quando, durante o Sermão da Montanha, diz:
“Não deis o que é sagrado aos cães,
Nem atireis as pérolas aos porcos;
Pois os porcos as pisarão
E os cães se voltarão e vos morderão.”
O Prof. A. Wilder, o editor de Eleusinian and Bacchic Mysteries, de Taylor, observa “uma idêntica disposição da parte de Jesus e Paulo para classificar suas doutrinas como esotéricas e exotéricas, ‘os mistérios do Reino de Deus para os apóstolos’ e ‘parábolas’ para a multidão. ‘Pregamos a sabedoria’, diz Paulo, ‘àqueles dentre eles que são perfeitos’ (ou iniciados)” [6].
NOTAS:
[1] O significado real da divisão em eras é esotérico e budista. Os cristãos não iniciados tão pouco o compreenderam que aceitaram as palavras de Jesus literalmente e acreditaram firmemente que ele falava do fim do mundo. Já antes houvera muitas profecias sobre a era vindoura. Virgílio, na quarta Écloga, faz menção a Metatron - uma nova prole que terminará com a idade de ferro para renascer com a idade de ouro.
[2] Palestine, p. 517 e s.
[3] Dunlap, Sōd, the Son of the Man, p. XI.
[4] T. Taylor, Iamblichus’ Life of Pythag., p. 10; Londres, 1818. Munk deriva o nome Iesseus ou Essênios do siríaco Asaya - os curadores, ou médicos, assinalando, dessarte, a sua identidade com os terapeutas egípcios. - Palestine, p. 515.
[5] Mateus, XIII, 10-3.
[6] Página 47, na quarta edição.
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O artigo “Jesus, um Sábio do Deserto” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 11 de novembro de 2025. Ele foi foi reproduzido da obra “Ísis Sem Véu”, de H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, São Paulo, volume III, pp. 131-132. O texto faz parte também da edição de abril de 2024 de “O Teosofista”, pp. 1-3. Veja outros dados sobre o tema Jesus no Deserto em Lucas, capítulo 4, Novo Testamento.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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