29 de outubro de 2025

Ideias ao Longo do Caminho - 65

 
Prática do Sossego na Ioga e na Teosofia
  
Carlos Cardoso Aveline




* Em que consiste a ciência de viver? Em aproveitar as oportunidades para compreender a tempo a nossa própria natureza superior e imortal.

* Perder demasiada energia com coisas passageiras produz frustração mais cedo ou mais tarde. Por outro lado, a construção de uma ponte com o eterno é a base da liberdade do espírito. A vida aqui e agora tem mais sabor quando faz parte de um horizonte ilimitado.

* Há uma paz que ultrapassa o entendimento. Ela surge quando os pensamentos e os sentimentos são incondicionalmente honestos e apontam com persistência humilde e imperturbável para o que é elevado. Neste caso o equilíbrio da alma gera um silêncio abrangente.

* A ausência de ruído, alimentada pela renúncia ao que é secundário, produz um tipo de bem-estar interior que as palavras não podem descrever.

* Há uma febre cármica em nosso planeta. Se as situações confusas se multiplicam a seu redor, opte pela simplicidade. Pague sem hesitação o preço de ficar com o que é prioritário, e lave as mãos em relação a fatores de menos importância. Concentre-se no essencial. Se sua agenda fica abarrotada, opte pelo que é decisivo e preserve a clareza do seu rumo.  

* Quando a roda da vida fica agitada, situe-se no centro de tudo, onde moram o silêncio e a paz, e onde se encontra a sabedoria. Deve ficar claro para todos que a teosofia só pode existir como uma experiência em primeira mão.

A Quietude

* Tanto a ioga como a teosofia provocam, no seu devido tempo, uma espécie de sossego interior que jamais abandona o peregrino. O centro de gravidade da vida se afasta pouco a pouco dos altos e baixos cotidianos, e se estabelece sobre um alicerce mais sólido do que as ilusões da aparência.

* Acontece então que pessoas acostumadas a ter pensamentos instáveis e a viver numa gangorra de emoções - ora em cima, ora em baixo - passam a encontrar a paz como algo que nasce de dentro para fora, e é duradouro. As tempestades externas deixam de desorientar a alma. Feridas psicológicas perdem importância. O bem-estar se aprofunda.

* A capacidade de sentir gratidão ganha força, e o contentamento se consolida. A autorresponsabilidade surge como fator central. O indivíduo passa a irradiar a outros a paz que ele tem consigo mesmo.

A Transmissão de Sentimentos

* Não há separação nem isolamento no universo, e muito menos no mundo humano. A dra. Flanders Dunbar escreveu:

* “O contágio emocional é um fenômeno de existência real. A criança, por menor que seja, pode ser contaminada por medo, cólera, desprezo ou horror, ainda mais facilmente que por sarampo. Qualquer pai perspicaz pode reconhecer os sintomas. Eles aparecem em ponto pequeno e isoladamente muito antes de se transformarem em tragédias de vulto. Da mesma forma, pode também a criança ‘pegar’ amor, confiança e respeito.” [1]

Dize-me Quem Lês, e Direi Quem És

* “Dize-me com quem andas, e dir-te-ei quem és”, afirma o antigo ditado. E no mundo da leitura este axioma significa:

* “Dize-me quem lês, e direi quem és”.

* De fato, as leituras formam o caráter. Livros e textos inferiores distorcem a personalidade. Leituras elevadas constroem a estrutura da alma à imagem e semelhança do que há de melhor.
Se alguém deseja elevar-se, é preciso ler aquilo que aponta para o alto.

* A alma tem asas, quando há paz e desapego. O pensamento profundo é o pensamento calmo, que resulta da leitura sem pressa. Se o mundo atual tem uma rapidez excessiva, sai perdendo o ingênuo que se adapta ao mundo da ansiedade crônica.

* Todos sabem que o exagero da aceleração provoca desastres. A lentidão permite construir, viver melhor, e dormir bem à noite. A vida junto à natureza, recomendada por clássicos como José de Alencar e Helena Blavatsky, oferece a possibilidade de respirar sem pressa um ar puro; de conhecer a nós mesmos e conviver com grande variedade de seres não-humanos, inclusive o vento, os rios e as árvores.

* Cada leitura pode ser um privilégio. Quem lê textos escritos por almas nobres convive com sábios e é capaz de erguer-se até a vivência dos ideais universais.

NOTA:

[1] Do livro “Corpo e Mente - Medicina Psicossomática”, Dra. Flanders Dunbar, Livraria Atheneu S.A., Rio de Janeiro, Brasil, 1958, 436 pp., p. 4. A ortografia foi atualizada.

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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 65” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 29 de outubro de 2025. Uma versão inicial e anônima dele pode ser vista na edição de dezembro de 2020 de “O Teosofista”, pp. 13-14. As notas “A Transmissão de Sentimentos” e “Dize-me Quem Lês, e Direi Quem És” são do mesmo autor e fazem parte da edição indicada do “Teosofista”.

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Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos do autor. Desde 2018 a série “Thoughts Along the Road” está sendo publicada também em espanhol sob o título de “Ideas a lo Largo del Camino”.

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Leia mais:







Veja a série completa Ideias ao Longo do Caminho.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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