18 de agosto de 2014

Rindo da Dor Desnecessária

A Arte de Romper Com o Hábito do Sofrimento 

Carlos Cardoso Aveline

O amor da alma imortal transcende barreiras e elimina as causas da aflição  



“A vida implica sofrimento”, segundo ensina a primeira nobre verdade do budismo. Mas nem todo sofrimento é inevitável. 

O hábito de sofrer é nocivo. O culto à dor ocorre através do apego a ela: há quem goste de sofrer e alguns protegem zelosamente as suas fontes de desconforto emocional e físico. Eles preferem a dor que conhecem, ao invés da liberdade e do bem-estar que não conhecem. Estão desinformados. A verdade é que na fase atual da evolução planetária a maior parte da dor humana é absurda, não faz sentido e pode ser deixada de lado. Sua fonte está em uma ignorância ética e espiritual que já é insustentável. 

Para eliminar o sofrimento sem base legítima basta que haja um despertar para a sabedoria eterna. O conhecimento das leis da vida cura as feridas da alma. O saber ético elimina as causas da aflição. O autoconhecimento e o autocontrole provocam uma transmutação no eu inferior, que passa a colaborar conscientemente com a alma imortal. Em alguns casos, a transmutação se dá pelo riso. Escrevendo sobre o eu inferior, o teosofista indiano B. P. Wadia escreveu: 

“Subjugar o inferior mas evitar irritá-lo é ação habilidosa. As duas características necessárias para esse empreendimento são um senso de humor para com as fragilidades do eu inferior, e uma vigilância ininterrupta para com suas maneiras insidiosas.” [1] 

Devemos rir das misérias exageradas e das dramatizações psicológicas do nosso eu emocional.  O que não se pode fazer é rir da dor alheia. O riso que humilha o outro é covarde. O sorriso que surge da sabedoria é diferente: ele abençoa e liberta. 

O hábito da autopiedade pretende provocar um choro sem fim, mas quando surge a compreensão o choro desemboca num sorriso saudável. 
 
A filosofia esotérica afirma que a dor humana merece todo respeito, e suas causas devem ser combatidas. Os dramalhões ridículos feitos em torno das aflições naturais que fazem parte da vida merecem, com frequência, uma gargalhada. Os shows emocionais de piedade por si mesmo dificultam o contato com a vida cósmica. É o amor sem fronteiras da alma imortal que permite transcender o sofrimento e rir das limitações autofabricadas do eu inferior.
 

Podemos enfrentar com bom humor os desafios da vida, e Robert Crosbie escreveu: 

“Todo estudante de teosofia que trabalha ativamente pela causa irá passar, cedo ou tarde, por algum solavanco teosófico. É bom que haja sacudidas; e, se nós passamos por um solavanco, pode ser que tenhamos saído do caminho. Os solavancos servem como indicadores para que observemos com atenção onde estamos, e para que vejamos se nossas ações são corretas. Não sentiríamos solavanco algum se não tivéssemos uma bússola em nosso interior. O propósito da vida é aprender, e tudo é feito de aprendizagem; portanto, embora os desafios não sorriam para nós inicialmente, eles serão mais tarde temas sobre os quais nós poderemos rir. Entre os gregos antigos se dizia que, quando a Terra foi colocada em movimento e começou a rolar no espaço, os deuses caíram numa longa série de gargalhadas, só por estarem vendo a coisa acontecer. Assim, nós, que somos como aqueles deuses, também podemos sorrir das loucuras que encontramos e continuar com o trabalho de promulgar ideias corretas para aqueles que são capazes de recebê-las.” [2] 

Ri melhor quem ri com um coração puro. 

O riso saudável expressa um amor incondicional à vida e um respeito por todos os seres. Ele resulta de um contentamento cuja origem está no contato com a alma imortal e com a lei do universo. 

NOTAS:

[1] Do artigo “On Getting Ready”, de B.P. Wadia, que faz parte do seu livro “Living the Life” Theosophy Co., Mumbai, India, 2004, 156 pp., ver pp. 25-26.

[2] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, 415 pp., ver p. 117.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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