Teosofia Autêntica Ensina a Ir
Além da Rotina e das Formas Externas
Carlos Cardoso
Aveline
À esquerda, o manuscrito de uma carta de um Mahatma
A
teosofia é uma filosofia universal e por isso transcende cada uma das seitas,
religiões e filosofias existentes. Para a sabedoria esotérica, o próprio
estudante é o telescópio pelo qual ele deve olhar a vida. Por esta razão
prática, a compreensão da teosofia requer que o estudante tenha uma vida limpa,
uma mente aberta e um coração puro.
A sabedoria deve ser obtida por mérito próprio. É
indispensável libertar-se do apego a formas externas, rituais e crenças
supersticiosas. Este ponto é ensinado pela literatura teosófica original, e
ignorado pela pseudoteosofia fabricada por alguns líderes da Sociedade de Adyar
no período que vai de 1900 a 1934.
Os Melhores Rituais São
Bolhas Para Divertir Crianças
Em uma das “Cartas dos Mahatmas”, um raja-iogue dos
Himalaias menciona a ilusão da “crença na eficácia de vãos rituais e
cerimônias, em orações e em intercessão”.[1]
No mesmo trecho, há uma nota de pé de página em que é feita citação das
seguintes palavras de C. Jinarajadasa:
“Dos dez ‘grilhões’ existentes no Caminho da
Libertação, os três primeiros são: 1) Sakkayaditthi, a ilusão do eu; 2) Vichikicheha,
dúvida; e 3) Silabbataparamasa, crença na eficácia de ritos e
cerimônias.”
Em outro parágrafo da mesma carta, o raja-iogue menciona
um ritual feito por altos lamas no Tibete, bem antes da invasão chinesa de
meados do século 20, e um ritual de que ele próprio, um Mahatma, participaria.
E o Mestre esclarece que mesmo uma cerimônia deste nível não passa de uma
superficialidade fútil, cuja utilidade é limitada a almas infantis e pouco
evoluídas. O Mestre escreve:
“Dentro de cerca de uma semana - novas cerimônias
religiosas, novas bolhas resplandecentes para divertir os bebês, e mais uma vez
estarei ocupado noite e dia ...” [2]
A filosofia esotérica dá elementos para que cada
indivíduo se liberte de tais ilusões.
Na famosa carta de 1900, para Annie Besant, um Mestre profetiza
os principais erros que a Sociedade de Adyar cometeria a partir daquele
momento. Ele esclarece que o movimento teosófico moderno foi concebido “para
ser a pedra angular das futuras religiões da humanidade”. Para realizar este
objetivo, os que o lideram, diz o Mestre, “devem deixar de lado suas frágeis
predileções pelas formas e cerimônias de qualquer credo particular, e
demonstrar que são verdadeiros teosofistas, tanto no pensamento interno quanto
no comportamento externo.” [3]
A advertência foi inútil para Annie Besant. Poucos anos depois ela adotou diversos
ritualismos. Besant e seus colegas de falsa clarividência misturaram teosofia
com maçonaria, promoveram uma “igreja católica teosófica” e passaram a
organizar uma “volta de Cristo” através da pessoa de Jiddu Krishnamurti. Depois
de cumprir durante quase duas décadas o papel de Jesus Cristo enquanto era manipulado
por Annie Besant, Krishnamurti finalmente abandonou a Sociedade de Besant em
1929, encerrando a parte principal e
mais visível da tragicomédia “adventista”.
Henry S. Olcott, Contra o
Culto a Formas Externas
O pensador norte-americano Henry S. Olcott foi um dos
principais fundadores do movimento teosófico, em 1875. Em seu livro Catecismo Budista, Olcott escreveu o
seguinte, referindo-se a Gautama Buda:
“Desde o começo, ele condenou o costume das cerimônias
e outras práticas exteriores que não tendem senão a aumentar nossa cegueira
espiritual e nosso apego às formas inertes.” [4]
Numa das Cartas dos Mahatmas, um mestre afirma que é
impossível fazer boa magia cerimonial no Ocidente. Ele narra a experiência frustrada
de algumas reuniões de que ele participou pessoalmente, em Londres em torno de
1860, com Edward Bulwer-Lytton, Eliphas Levi e outros ocultistas.[5]
Rituais Vãos e Cerimônias
Vazias
Esclarecendo o significado mais profundo da palavra
“budista”, um sábio dos Himalaias escreveu:
“Muitos preferem chamar-se budistas não porque a
palavra se refira ao sistema eclesiástico construído sobre as ideias básicas da
filosofia do nosso Senhor Gautama Buddha, mas pela palavra sânscrita ‘buddhi’ -
sabedoria, iluminação; e como um protesto silencioso contra os vãos rituais e
cerimônias vazias que, em um número excessivo de casos, têm produzido as
maiores calamidades. Esta é a origem também do termo caldeu mago.” [6]
“Ísis Sem Véu” é uma das obras mais importantes de
Helena Blavatsky. Ali podemos ver a abordagem crítica que ela desenvolveu em
relação aos rituais maçônicos modernos. HPB revela que a maçonaria foi
amplamente infiltrada e seus rituais alterados e adulterados pelos jesuítas,
que formavam o aparelho de inteligência e espionagem a serviço do Vaticano.[7]
No artigo “The Beacon of the Unknown” (“O Farol do
Desconhecido”), H.P. Blavatsky referiu-se à “ST”, isto é, à Sociedade Teosófica
original, que deixaria de existir depois da sua morte devido à deslealdade de
Annie Besant e outros. HPB escreveu:
“Não tendo nenhum dogma nem ritual - e estes dois são
apenas obstáculos, um corpo material que sufoca a alma - nós não empregamos a
‘magia cerimonial’ dos cabalistas ocidentais. Sabemos muito bem dos seus
perigos para termos qualquer coisa a ver com ela. Na ST cada membro tem a
liberdade de estudar o que deseja, uma vez que não se aventure em caminhos
desconhecidos que o levariam certamente à magia
negra, a feitiçaria contra a qual Eliphas Levi advertiu o público tão
abertamente.” [8]
Grande parte do movimento
teosófico ainda não compreende a importância das palavras citadas acima. No
entanto, uma parcela considerável do movimento teosófico internacional
permaneceu livre da crença cega e disponível para o livre pensamento. No século
21, é possível imaginar um futuro em que o movimento teosófico todo, inclusive
Adyar, esteja livre de estruturas burocráticas e ritualistas e organizado de
modo espontâneo em torno dos ensinamentos autênticos.
É deste modo que a Loja Independente de Teosofistas, LIT,
visualiza o futuro do movimento teosófico. A Sociedade de Adyar está caminhando
nesta direção, ainda que, talvez, tão lentamente que a maior parte das pessoas
não consegue perceber.
Um velho ditado popular afirma que “a mentira tem pernas
curtas”. Enquanto a falsa teosofia de
Annie Besant e C. W. Leadbeater vai sendo abandonada, cresce em diferentes
países o número de teosofistas de Adyar que descobrem o valor permanente da
literatura teosófica verdadeira e se voltam para o ensinamento de Helena
Blavatsky.
Com o tempo, a velocidade deste
processo sofre uma aceleração, o que é benéfico para o movimento esotérico como
um todo.
Não há necessidade
real de arrastar durante mais cem ou duzentos anos o processo pelo qual Adyar deixa
de lado as envelhecidas ilusões produzidas por falsos clarividentes durante a
primeira parte do século vinte.
NOTAS:
[1] Carta 68, na metade da p. 311, do volume um de “Cartas dos
Mahatmas”, Ed. Teosófica. Há um erro
neste trecho da edição brasileira das Cartas dos Mahatmas. Os três grilhões são
mencionados por C. Jinarajadasa como os três primeiros, e não como os três
últimos.
[2]
Carta 68, p. 317.
[3] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”,
editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, Carta 46, primeira
série, p. 107.
[4] “Catecismo Budista”, H. S. Olcott, Edições
IBRASA, SP, 132 pp., ver p. 68.
[5] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, vol.
I, Carta 11, pp. 75-76.
[6] “Cartas
dos Mahatmas”, Carta 120, vol. II, pp. 257-258.
[7] Veja “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento,
vol. IV, Capítulo VIII, pp. 9 e seguintes. Na edição original em inglês (“Isis
Unveiled”, Theosophy Co.), veja o volume II, pp. 385-391, entre outros trechos.
[8] “Collected Writings”, H.P. Blavatsky, TPH, Adyar, Índia, volume XI, p. 266.
000
Uma
versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação do nome de autor na
edição de setembro de 2010 de “O
Teosofista”.
000
Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
000