O Papel Invisível do
Pensamento Abstrato
No Desenvolvimento do
Brasil e de Portugal
Carlos Cardoso Aveline

A
filosofia metafísica expande a mente de um povo, fortalece seu pensamento e o
torna apto para o êxito nas diferentes dimensões da vida. Sua ausência empobrece as nações e impede decisivamente o progresso cultural e econômico.
Quando
o ponto de vista é imediatista, o essencial é invisível aos olhos: e mesmo
assim o essencial não deixa de existir. Não é a ambição cega que impulsiona o
progresso dos povos, mas a força mental dos seus cidadãos, e a sua capacidade
de criar. Daí a frase famosa atribuída a Monteiro Lobato:
“Um
país se faz com homens e livros.”
O
estudo das filosofias universais e clássicas expande a capacidade de pensar das
comunidades. Em qualquer momento histórico, os países mais poderosos e criativos do mundo
possuem filosofias profundas.
Sem exceção, o
lastro cultural dos países mundialmente influentes é grande. Seus sábios e pensadores
deixam marcas fortes no processo histórico humano como um todo. Este fato se
verifica facilmente ao examinarmos os exemplos históricos da Inglaterra, da Alemanha,
da China e dos Estados Unidos.
A Índia dispensa comentários: é o berço da atual humanidade. A força do seu pensamento abstrato e universal é ímpar. Na Rússia, ponte entre a Ásia e a
Europa, o papel dos filósofos foi cumprido em boa parte pelos grandes escritores.
O país tem uma profunda tradição mística e uma filosofia universalista forte. A França foi filosoficamente expressiva
desde o século 17 até a primeira metade do século 20. Dali em diante, sua
filosofia e outros aspectos da nação perderam relevância.
Roma antiga e pagã
era grande e poderosa, assim como sua filosofia, enquanto a Itália moderna, intelectualmente
asfixiada pelo Vaticano, anda às voltas com a Máfia. A Grécia desligou-se da filosofia
clássica e vive há séculos uma fase desimportante. O mesmo ocorre com o Egito. São
muitos os países islâmicos dominados por uma ideologia religiosa que justifica
o fanatismo. Deste modo mantêm suas populações na pobreza e na ignorância, o
que torna mais grave o problema do terrorismo muçulmano.
A filosofia universal se apoia no
pensamento livre e na sabedoria sem fronteiras, que desafiam as visões dogmáticas.
Portugal e Brasil têm uma literatura e uma filosofia respeitáveis, mas sofrem
há séculos sob a influência do ritualismo católico e de suas crenças paralisantes.
A imposição de uma fé cega coloca uma
invisível camisa de força na filosofia e na capacidade de pensar da
população.
Como resultado do dogmatismo religioso, Brasil
e Portugal têm tido limitações tanto no seu pensamento
metafísico-abstrato como no progresso econômico-social. Desde o século 16, o número de grandes pensadores nestas
nações tem sido limitado, e as obras que escreveram permanecem mais ou menos
esquecidas.
A relativa
pobreza
filosófica do Brasil e de Portugal está entre as causas ocultas das suas limitações
econômicas, e da relativa falta de ética existente nos seus mundos políticos. O
maior entrave enfrentado por estas nações não é social ou econômico. Tampouco
está em sintomas como a falta de uma honestidade
mais forte na administração pública. O grande adversário do progresso não é
um partido político nem uma ideologia qualquer: trata-se da preguiça mental,
estimulada pelo hábito social do dogmatismo.
Ampliando o Processo de Alvorecer
A
Alemanha é terra de grandes filósofos, berço da Reforma Luterana e bastião do
pensamento elevado - exceto durante os 12 anos de pesadelo nazista, no século
vinte. Não por acaso é uma das nações mais prósperas da Europa. Os Estados
Unidos e o Reino Unido tiveram suas culturas marcadas por uma afirmação da
liberdade de pensamento. Nestes três países, assim como na Índia, a atividade
filosófica é forte, o Vaticano tem tido
influência limitada, e o espírito humano
encontra estímulos para expandir-se.
Não
faltam exemplos desse fato. O mais importante é perceber que a liberdade de
pensamento e a visão profunda da vida estão na base do progresso econômico de
um povo.
No século 21,
amplia-se o processo do alvorecer, e a importância da filosofia teosófica não
deve ser subestimada. Em todos os povos e culturas são necessárias obras que
expliquem o mistério da alma imortal e ativem em cada ser de mente aberta a
ponte entre o eu superior e o eu inferior, a secreta “escada de Jacó” entre a
consciência celestial e a consciência terrestre.
À medida que o
catolicismo romano perde força, surge um espaço para a livre busca da verdade nos
países lusófonos.
O pensamento
ético universal deve preencher o vazio deixado pela decadência das estruturas
sem alma. A força do pensamento correto renova a vida dos países: o ponto de
vista teosófico é a perspectiva da alma espiritual, e abre as portas da
criatividade. A filosofia clássica, assim como a verdadeira filosofia esotérica,
alarga os horizontes de todos.
É ilimitado o potencial
positivo do Brasil, de Portugal e das outras comunidades lusófonas. Como todas
as nações do planeta, estes povos são abençoados. À medida que se libertam das crenças
medievais autoritárias, criam o seu destino avançando na direção de uma
civilização fraterna que respeite cada nação e comunidade.
Os países
lusófonos têm lições sagradas a aprender uns dos outros e das sabedorias
milenares do Oriente e do Ocidente. O despertar das nações para as filosofias
universalistas não pode ser acelerado por decreto, e tampouco pode ser evitado.
O amanhecer acontece através do indivíduo. A luz do novo dia surge na hora certa, sem
alarde.
Assim
como cada átomo é um resumo do sistema solar, todo cidadão é um centro do
despertar humano. A luz física do amanhecer é quase infinita e não pode ser
olhada de frente por muito tempo, mas o seu centro oculto está presente na consciência ética de cada cidadão.
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Uma versão inicial do texto acima foi
publicada de modo anônimo na edição de março de 2014 de “O Teosofista”.
Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria
do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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