Pioneiro em Teosofia, Poeta
Clássico Aborda a Lei Universal
Múcio Teixeira
Foto de Múcio na
obra “Terra Incógnita”, edição de 1916
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Nota Editorial:
Múcio Teixeira nasceu em 13 de setembro de 1857 e
viveu até agosto de 1926. É um dos principais
pioneiros
do pensamento teosófico em língua portuguesa, e está
entre os maiores poetas brasileiros de todos os
tempos.
Há pelo menos dois motivos para que seu nome seja
ainda relativamente pouco conhecido. Um deles é que
foi
amigo leal do imperador Dom Pedro II, e não
arrependeu-se
disso quando veio a República. Depois de 1889, deixou
de ser politicamente
correto valorizar a sua obra.
O segundo motivo é que, sendo Múcio um estudante
da Teosofia de Helena Blavatsky, o consenso “católico”
dos sepulcros caiados das letras brasileiras armou em
torno dele a ação do “silêncio organizado contra os
hereges”. No século 21, cabe resgatar a sua valiosa obra.
(Carlos Cardoso Aveline)
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A Natureza não pode escravizar
a Alma que obtém o Poder por meio
da Sabedoria, e em ambos emprega a
Lei do Carma, que nos conduz à Verdade.
(Helena Blavatsky)
O Deus da Teosofia
Não
é esse das seitas religiosas,
Que
dorme noite e dia
Nas
aras [1] luminosas
Das
antigas mesquitas maometanas,
Ou
das modernas catedrais romanas.
Força
motriz dos múltiplos sistemas
Que
dirigem os vultos planetários,
É a
vibração, que despedaça algemas
Na
eterna irradiação dos Setenários.
Essência
pura, primordial, divina,
Desce
do Todo à simples unidade;
E,
se a matéria anima,
Volta
de novo à espiritualidade.
E
tanto impele as simples criaturas
Como
equilibra os astros no infinito,
Por
leis evolutivas e seguras
Do
seu poder universal prescrito.
Pois
bem: nós somos parte desse Todo;
Não
o verme no lodo,
Mas
a faísca que partiu da chama
Que
este Universo inflama,
Semeando
na amplidão as nebulosas
Entre
as constelações mais radiosas,
E os
errantes cometas solitários
Que
fogem sempre aos corpos planetários.
Mas
no eterno vaivém das existências,
Restritas
da matéria às contingências,
Desde
que o livre arbítrio nos foi dado,
Temos
em nossa mão o próprio fado.
A
lei, que determina a recompensa
Dos
males e dos bens que praticamos,
A
lei de causa e efeito, que aplicamos,
Por
lógica permuta
De
princípios inatos,
É
também aplicada em nossos atos,
Desde
que o homem sente, e quer, e pensa,
E
pode, e executa.
O
homem é senhor do seu destino;
Mas
já que tem tamanha liberdade,
Não
deve se queixar do Ser Divino,
Nem
recuar ante a Fatalidade.
Se o
raciocínio é arma,
De
que até nos servimos contra a crença,
Já
foi lavrada Além nossa sentença,
Temos
de obedecer à lei do Carma.
O
que semeia o mal nesta existência,
Na
seguinte existência há de expiá-lo:
Assim
como o que nós hoje sofremos
É o
castigo do mal que praticamos
Na
vida já vivida
Neste
mesmo planeta, onde ora estamos,
Ou
em outra qualquer região perdida
Na
multiplicidade das estrelas
Que
povoam o azul do Firmamento,
Pois
não foram criadas, todas elas,
Para
estar em inútil movimento.
Os
rápidos prazeres e alegrias
Que
embalam nossos dias,
Já
são as recompensas merecidas
Do
bem que semeamos noutras vidas.
Quanto
ao céu e o inferno, de que falam
As
velhas escrituras,
São
coisas que afinal já não abalam
As
consciências seguras:
Por
cinquenta ou noventa anos de vida
Na
terra pervertida,
Lentas
penas não há de
Penar
a alma em toda a Eternidade.
A lei
de causa e efeito
Sabiamente
aplicada às nossas dores,
Como
castigo ao mal que temos feito,
E às
nossas alegrias
Premiando,
com o bem, o bem perfeito,
É a
corrente que enlaça os nossos dias
Desde
a série das vidas anteriores
Até
às mais remotas existências,
Nesses
núcleos solares, onde as flores
Têm
alma, e as almas - divinais essências.
(Rio
de Janeiro, 1909)
NOTA:
[1] De “Ara”, altar. (CCA)
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O poema “O Carma” é
reproduzido do volume “Terra Incógnita”, de Múcio Teixeira, Casa Duprat
Editora, São Paulo, 1916, 407 pp., ver pp.
139-143.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia
a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete
capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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