A Lógica da Violência, Quando é
Usada pelo Fanatismo
Augusto de Lima
Páginas de abertura
do volume “Poesias”, publicado em 1909
O grande Inquisidor escreve à luz
de um círio:
corre de
seu tinteiro o sangue do martírio.
Súbito,
uma mulher acerca-se da mesa
e
prostra-se: “Senhor! um dia a natureza
bradará
por meu filho, a vítima inocente,
que
amanhã vai ser posta à morte iniquamente!
Da
sentença riscai, com generoso traço,
o
confisco, o pregão [1], o anátema e
o baraço [2];
e mandai
demolir a forca que abre a cova
à
decrépita mãe, à esposa ainda nova,
e a três
filhos, Senhor, entes que Cristo adora!
A
maldição não tisna, é certo, a luz da aurora,
e nem
pode manchar a fronte encanecida,
que a
tarde da velhice é a aurora da outra vida.
Como
Xerxes punindo o mar com ferro em brasa,
em vão
buscais cortar a inacessível asa
do
pensamento: - o ideal é um lúcido oceano
e uma
invencível águia o pensamento humano;
mas, se
preciso for, em nome dele abjuro
a razão,
a ciência, os astros, o futuro.”
Fez-se
solene pausa; e com acento triste
fala o
grande juiz: “Pois bem! mulher, feriste
a fibra
paternal do Inquisidor austero;
volta
tranquila ao lar, pois choraste, e não quero
espalhem
os clarins da vil maledicência
que a
justiça de Deus mais pode que a clemência.
Acolhi
teu clamor humilde e o vão perdoo,
vai na
paz de Jesus, por Ele te abençoo;
quanto a
teu filho amado, ileso das mais penas,
há de
ser, para exemplo, esquartejado apenas.”
NOTAS:
[1] Pregão - proclamação pública.
[2] Baraço - corda ou laço usados
para estrangular.
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Reproduzido de “Poesias”, Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de
Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver pp. 21-22. A ortografia foi atualizada.
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