Lições de Altruísmo
Que os Humanos Devem Aprender
Márcio Linck
A etologia, ramo da
biologia que estuda o comportamento animal, tem descoberto e referendado aquilo
que as pessoas que convivem com animais descobriram intuitivamente há muito
tempo: que os animais sentem emoções, possuem inteligência e poder de
comunicação. Inclusive, já foram identificados padrões de linguagem em alguns
bichos, sendo os casos mais conhecidos os dos golfinhos, dos macacos e
papagaios. Também foi constatado que, a exemplo do ser humano, os animais têm
hábitos sociais, aprendem uns com os outros, estranham as perdas, organizam-se
coletivamente, possuem variações de QI entre os da mesma espécie e demonstram
atitudes típicas de elaboração lógica, como os casos de salvamento e de recusa
à alimentação (tentativa de suicídio) em decorrência da morte do companheiro de
espécie ou não, ou ainda da morte do dono.
Mas, além de sentir tudo aquilo que os humanos
sentem e expressam, os bichos impressionam pelos gestos de solidariedade e
altruísmo. E não trata-se somente daqueles casos em que a fêmea de uma espécie
adota e amamenta um filhote de outra espécie. São verdadeiras lições de vida
para nós, seres humanos, por vezes egoístas e presunçosos.
Na década de 1980, em Arkansas (EUA), um
recém-nascido abandonado num bosque dentro de saco plástico foi salvo por um
gato que, para protegê-lo do frio da madrugada, aqueceu-o com seu corpo até
conseguir socorro. Slowly, o gato herói, tinha o hábito de voltar para a casa
de seus donos antes do anoitecer. Certa manhã, ao acordar sem encontrá-lo,
estes foram procurá-lo no bosque e o encontraram dentro do saco plástico. Ele
começou a miar estranhamente, os donos se aproximaram e o encontraram lambendo
o bebê.
Em 1996, no zoológico de Brookfield, em
Illinois (EUA), um garoto de 3 anos foi salvo pela gorila Binti Jua. Ao
perceber que o garoto havia caído no recinto, a gorila pegou-o no colo e o
entregou aos guardadores do zoológico, que tentavam evitar o ataque de outros
primatas jogando neles água.
Outro caso famoso aconteceu em 1992, na cidade
italiana de Abruzzi, quando um bebê abandonado pela mãe foi salvo da morte pela
cadela Gina, que o arrastou até perto de seus filhotes e o amamentou por quase
quatro semanas. O bebê foi descoberto pelo fazendeiro Aldo Stefani, dono da
cadela.
Em 1992, no Japão,o gato Nekochin, depois de abandonado, percorreu mais
de 100 quilômetros para voltar à casa de seus donos, na província de Shiga.
Caso semelhante ocorreu em 1991, com Fido, um cachorro da raça belga, que
percorreu 1500 quilômetros para encontrar seus donos. Demorou dois anos para
sair da Bélgica e chegar à Espanha, para encontrar a belga Lise Deremier e o
marido espanhol. A dona encontrou Fido parado na porta de sua casa, e a emoção
foi tanta que o cachorro chorava feito criança.
Em Tenesse (EUA), Sadie, fêmea da raça
labrador, surpreendeu seu dono em uma caçada. Depois de sumir por algum tempo,
retornou com um pequeno filhote de bambi que havia perdido a mãe morta pelo
caçador. Sadie adotou-o com tal desvelo que chegou a ceder ao filhote sua
própria casa, ficando ela na chuva.
Outro caso emocionante é o da gata Daisy, que
foi alimentada por um casal que passava férias no norte do Estado de Nova
Iorque. Terminadas as férias, o casal abandonou a felina e voltou para casa, na
cidade de Nova Iorque. Um mês depois, o casal foi surpreendido na porta de casa
com os miados de Daisy, que carregava em sua boca um dos seus filhotes. Em
seguida, fez mais quatro viagens trazendo de cada vez um dos filhotes.
Mesmo num ambiente hostil, travado pela guerra
e violência humana, os animais dão exemplos de amor, lealdade e fidelidade. É o
caso da cadela Bena, de quatro anos, que foi deixada para trás quando a família
Radanovic abandonou a Krajina (na Croácia) durante ofensiva croata na guerra,
para refugiar-se em Ruma. Depois de percorrer 500 quilômetros em quatro meses, Bena
chegou com as patas ensanguentadas, sem unhas e com 22 quilos a menos. Esse é
um caso recente que serve de exemplo para os donos ingratos que abandonam seus
bichos de estimação.
Em algumas situações, os animais parecem
demonstrar uma certa paranormalidade e, até mesmo, um sexto sentido. É o caso
de Hector, um cão terrier que pertencia ao primeiro-oficial a bordo do navio
holandês Simaloer e que foi acidentalmente deixado em terra quando o navio foi
de Vancouver (Canadá) para Yokohama (Japão). Hector andou por todo o cais antes
de escolher e entrar no único navio, dos cinco que ali estavam, cujo destino
era o Japão. Na viagem, o cão não mostrou nenhuma agressividade em relação à
tripulação. Depois de dezoito dias, o barco atracou em Yokohama e Hector
começou a latir para uma pequena embarcação ao lado do Simaloer. Esse pequeno
barco veio do Simaloer e um dos dois homens a bordo era o seu dono.
No Canadá, em 1996, uma família foi salva do
incêndio porque quando este começou, os três filhotes de gato correram para a
janela dos donos da casa e miaram até acordá-los, permitindo que saíssem ilesos
e pudessem chamar os bombeiros. Em meio às lágrimas de gratidão, a dona dos
animais atribuiu o salvamento da família aos animais.
Em fevereiro de 1939, cães de São Bernardo dos
Alpes Suíços recusaram-se pela primeira vez a dar sua caminhada matinal com os
monges do local. Cerca de uma hora depois, uma avalanche cobriu a parte da
estrada onde todos eles deveriam estar.
Assim como esses, há inúmeros casos de pessoas
que foram salvas de tragédias por pressentimento e alerta de seus bichos de
estimação.
Os cães descendem dos lobos selvagens e mesmo
com a domesticação há milhares de anos carregam instintos típicos de sua
espécie desde a sua origem. Uma dessas características é a convivência em
grupo, em matilha. Quando solitário, o cão substitui a ausência dos
companheiros de espécie pelos seus donos humanos, onde cada pessoa da casa é
reconhecida, entre várias coisas, pelo seu cheiro particular. Por isso, os
humanos nunca deveriam desfazer-se de seus fiéis companheiros “de espécie”. A
família humana da casa também é a família canina. Não é a toa que à noite,
quando solto no pátio, o cão prefira dormir junto a uma das portas de entrada
da casa, pois só assim obterá a proximidade máxima dos companheiros da matilha.
Dormir juntos é uma característica desta espécie. Outro exemplo bem comum é a
reação agressiva do cão quando tentam-lhe tirar um osso. Na competição pela
sobrevivência, talvez ele imagine que o dono também queira saborear aquele
apetitoso osso cheio de saliva, terra e grama.
Mas assim como o cachorro, todos os animais,
sejam domésticos, cativos ou selvagens, possuem reações e sentimentos como os
humanos. Sentem tristeza, nostalgia, desapontamento, amor, sofrimento, afeto,
amizade, medo, esperança, felicidade, raiva, compaixão, sonhos, pesadelos,
ciúmes, solidão, solidariedade, curiosidade, etc. Talvez, num dia próximo, se
cumpra a profecia de Leonardo da Vinci: “Chegará um dia em que os homens
conhecerão o íntimo dos animais e, então, um crime contra qualquer um deles
será considerado crime contra toda a humanidade”.
Para que possamos nos sensibilizar, e quem
sabe começar a vivenciar o pensamento de Leonardo da Vinci, veremos mais dois
casos surpreendentes envolvendo animais. Em 1993, na Rússia, um cão ficou o
tempo inteiro ao lado do caixão em que estava sendo velado o seu dono. O
velório estava acontecendo no próprio apartamento (no 6º andar) do defunto. De
repente, o cão surpreendeu a todos saltando pela janela e espatifando-se no
chão. Todos interpretaram aquele gesto como sendo um suicídio do cão frente ao
sofrimento pela perda do amigo.
Num instituto de pesquisa, a chimpanzé de nome
Washoe, mantida em cativeiro, arriscou a vida pulando uma cerca eletrificada
para salvar uma outra chimpanzé que estava se afogando, e que ela nunca havia
visto. A macaca heroína demonstrou empatia, ou seja, teve a capacidade de se
colocar na pele de outro ser, coisa inexistente em muitos seres humanos.
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