A Importância de Procurar a Verdade Por Si Mesmo
Helena P. Blavatsky
Helena P. Blavatsky
000000000000000000000000000000000000000000000000000
Nota Editorial de 2017:
No texto a seguir, fragmento de
um artigo maior,
Helena Blavatsky menciona a
Sociedade Teosófica original,
que deixou de existir durante a
década de 1890. Há hoje uma vasta
diversidade organizativa nas
associações teosóficas. Onde se lê
“Sociedade Teosófica”, portanto,
deve-se ler “Movimento Teosófico”.
(Carlos Cardoso Aveline)
000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
..... Todos os
pensadores e investigadores originais do lado oculto da natureza, sejam
materialistas - aqueles que veem na matéria “a promessa e a potencialidade de
toda força terrestre” - ou sejam espiritualistas (aqueles que descobrem no
espírito a fonte de toda energia e também de toda matéria) foram e são, propriamente
falando, teosofistas. Porque, para ser teosofista, não é necessário reconhecer
a existência de qualquer Deus ou divindade especial.
Basta adorar o espírito da
natureza viva, e tentar identificar-se com ele. Trata-se de reverenciar esta Presença,
a Causa invisível, que no entanto está sempre se manifestando em seus
resultados incessantes; o Proteus intangível, onipotente, e onipresente:
indivisível na sua Essência e na sua forma indefinida, e no entanto aparecendo
sob todas as formas e sob cada uma delas; e que está aqui e lá, em todo lugar e
em lugar algum; que é TUDO e NADA; ubíquo e no entanto uno; a Essência que preenche,
reúne, amarra e contém todas as coisas, e que está presente em tudo.
Pode-se ver agora, cremos, que,
quer sejam classificados como teístas, panteístas ou ateus, tais homens estão
próximos de todos os outros.
Seja como for, uma vez que um
estudante abandona o velho e desgastado caminho da rotina e entra no caminho
solitário do pensamento independente - em direção à divindade - ele é um
teosofista. É um pensador original, um buscador da verdade eterna e que possui “uma
inspiração própria” para resolver os problemas universais.
A teosofia é aliada de todo
aquele que busca seriamente, da sua própria maneira, obter um conhecimento do
Princípio Divino, da relação do homem com este Princípio e das manifestações
deste Princípio na natureza. Ela é igualmente aliada da ciência honesta - algo
que é diferente de muita coisa apresentada como ciência exata, física - enquanto
esta última não invadir indevidamente os domínios da psicologia e da
metafísica.
E é também aliada de toda
religião honesta - isto é, qualquer religião que está disposta a ser avaliada
pelos mesmos critérios que aplica aos outros. Os livros que contêm a verdade
mais autoevidente devem ser inspirados (não revelados). Mas, devido ao elemento
humano presente neles, a teosofia vê todos os livros como inferiores ao Livro
da Natureza, para cuja leitura e compreensão corretas os poderes inatos da alma
devem estar altamente desenvolvidos. As leis do plano ideal só podem ser
percebidas pela função intuitiva; elas estão acima do território da
argumentação e da dialética, e ninguém pode entendê-las ou apreciá-las
corretamente através de explicações dadas por outra mente, mesmo que esta mente
pretenda possuir uma revelação direta. E como a Sociedade [Teosófica], além de permitir
o mais amplo exame dos reinos do puro ideal, tem uma igual firmeza na esfera
dos fatos, o seu respeito pela ciência moderna e pelos seus representantes
corretos é sincero. Apesar da grande falta de uma intuição espiritual mais
elevada por parte dos representantes da ciência física moderna, a dívida do
mundo para com eles é imensa; portanto, a Sociedade apoia o protesto nobre e
indignado do Rev. O. B. Frothingham contra aqueles que subestimam o valor dos
serviços prestados pelos nossos grandes naturalistas. “Falam da ciência como se
ela fosse não-religiosa, ateísta”, disse ele em uma palestra recente em Nova
Iorque. “A ciência está criando uma nova imagem de Deus. É só graças à ciência
que nós temos uma concepção de um Deus vivo.
Se não nos tornamos materialistas um dia destes sob o efeito enlouquecedor do
protestantismo, será graças à ciência, porque ela está libertando-nos das
ilusões medonhas que nos burlam e atrapalham, e porque ela nos coloca no
caminho para saber como raciocinar sobre as coisas que vemos…”.
É também graças ao trabalho
incessante de orientalistas como Sir W. Jones, Max Müller, Burnouf, Colebrooke,
Haug, de Saint-Hilaire e tantos outros, que a Sociedade, como um corpo, sente
um igual respeito e uma veneração pelas religiões védica, budista, zoroastrista
e outras religiões antigas do mundo, e tem um sentimento fraterno semelhante em
relação aos seus membros que são hindus, cingaleses [1], pársis [2],
jainistas, hebreus e cristãos, e que são estudantes individuais do “ser”, da
natureza e do que é divino no mundo natural.
Nascida nos Estados Unidos da
América do Norte, a Sociedade foi formada sobre o modelo da sua terra natal. Aquele
país, omitindo o nome de Deus na sua Constituição para que não houvesse
pretexto algum dia que justificasse fazer uma religião estatal, atribui
absoluta igualdade em suas leis a todas as religiões. Todas elas apoiam e são
por sua vez protegidas pelo Estado. A Sociedade [Teosófica], modelada sobre
esta Constituição, deve ser justamente chamada de “uma República da Consciência”.
Fica claro, agora - pensamos
nós - por que motivo os nossos membros, como indivíduos, estão livres para
pertencer ou não a qualquer crença que quiserem, uma vez que não tenham a
pretensão de que só eles possuem o privilégio da consciência, e que não tentem,
portanto, impor a sua opinião sobre outros. Neste aspecto as regras da
Sociedade são bastante restritas. Ela tenta agir com base na sabedoria do velho
axioma budista que diz: “Honra a tua própria religião, e não calunies a
religião dos outros”. O axioma tem um reflexo no nosso século atual [3] na
“Declaração de Princípios” de Brahmo Samaj [4], que afirma com nobreza: “nenhuma
seita será caluniada, ridicularizada ou odiada”. [5] Na seção VI dos
Estatutos Revisados da Sociedade Teosófica, adotados recentemente em assembleia
geral, em Bombaim (Mumbai), há esta determinação:
“Não é correto que qualquer
dirigente da Sociedade expresse, por palavras ou atos, qualquer hostilidade ou
preferência por qualquer seção (divisão sectária ou grupo dentro da Sociedade)
mais do que em relação a outra. Todas devem ser vistas da mesma forma,
recebendo a mesma atenção e o mesmo apoio. Todos os [membros da Sociedade] têm
o mesmo direito de colocar os traços essenciais das suas crenças religiosas
para julgamento de um mundo imparcial.”
Nas suas funções individuais,
os membros podem, quando atacados, quebrar ocasionalmente esta Regra, mas os
dirigentes não têm tal possibilidade, e a Regra é aplicada estritamente durante
as reuniões. Porque acima de todas as seitas está a Teosofia no seu sentido
abstrato. A Teosofia é demasiado ampla para que qualquer uma das seitas a
contenha, mas contém facilmente a todas elas.
Para concluir, podemos dizer
que, sendo mais ampla e muito mais universal em suas visões do que qualquer
Sociedade meramente científica que exista hoje, a Sociedade Teosófica possui além da ciência uma crença na
possibilidade, e uma vontade determinada de investigar aquelas regiões
espirituais desconhecidas que a ciência exata pretende que seus seguidores
jamais explorem. E ela tem uma qualidade que nenhuma religião possui, porque
não faz diferença entre o pagão, o judeu e o seguidor do cristianismo. É neste
espírito e sobre a base da Fraternidade Universal que foi estabelecida a
Sociedade.
Indiferente em relação à
política [6], hostil aos sonhos insanos do socialismo e do comunismo,
que ela rejeita, porque ambos são apenas conspirações disfarçadas da força
bruta e da preguiça contra o trabalho honesto, a Sociedade dá pouca importância
à administração externa e humana do mundo material. O conjunto das suas
aspirações está voltado para as verdades ocultas dos mundos visíveis e invisíveis.
O fato de que o homem físico esteja sob a orientação de um império ou de uma
república diz respeito apenas ao ser material. O seu corpo pode ser
escravizado; quanto à sua alma, ele tem o direito de dar a seus governantes a
orgulhosa resposta de Sócrates aos seus juízes. Eles não têm controle nem
influência sobre o homem interno.
Esta é, pois, a Sociedade
Teosófica, e estes os seus princípios, as suas múltiplas metas e seus
objetivos. Será necessário ficar perplexo diante das concepções erradas
alimentadas no passado pelo público em geral, e diante do modo fácil como o
inimigo tem podido rebaixá-la junto à opinião pública? O verdadeiro estudante
tem sido sempre um recluso, um homem de silêncio e de meditação. Seus hábitos e
sua maneira de ser têm tão pouco em comum com o mundo agitado que, enquanto ele
está estudando, os seus inimigos e detratores têm oportunidades irrestritas.
Mas o tempo cura tudo e as mentiras não resistem ao tempo. Só a verdade é
eterna.
NOTAS:
[1] Cingaleses: nativos do Ceilão, atual Sri Lanka.
(CCA)
[2] Pársis - a palavra significa
“persas”, nativos da Pérsia, atual Irã, e se refere aos seguidores do
zoroastrismo que emigraram para a Índia visando evitar a perseguição religiosa
promovida pelos muçulmanos. (CCA)
[3] Isto é, no século 19. (CCA)
[4] Brahmo Samaj - movimento reformador do hinduísmo. (CCA)
[5] Por outro lado, o cidadão e o
teosofista devem discutir com respeito os pontos falhos de todas as religiões,
já que elas são humanas e imperfeitas, assim como o movimento teosófico o é. Ninguém
pode impor a sua opinião aos outros, mas cada um tem o direito de expressar respeitosamente
suas opiniões. HPB fez críticas severas aos erros das mais diversas religiões.
(CCA)
[6] HPB se refere aqui à política
partidária, eleitoral, e à política vista como luta entre “direita” e
“esquerda”. O próprio fato de a teosofia ser contrária ao marxismo, como afirma
HPB nesta mesma frase, mostra que não é indiferente à política quando ela é examinada
desde o ponto de vista filosófico. A teosofia ensina que o ser humano evolui de
dentro para fora, a partir da alma, e não através da implantação de algum
sistema político. Neste mesmo artigo, ela afirmou mais acima que o movimento
teosófico original foi criado com base na estrutura político-institucional dos Estados
Unidos, o que significa uma apreciação da prática democrática e do respeito aos
direitos humanos. Veja em nossos websites associados os artigos “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial”,
“Blavatsky, ONU e Democracia”, e “Blavatsky, Judaísmo e Nazismo”. (CCA)
000
O texto acima
faz parte do artigo “What Are The Theosophists?”, publicado pela primeira vez em
1879 e incluído na coletânea de três volumes “Theosophical Articles”, de Helena
P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume I, 1981 - ver pp. 48-55. Nos
“Collected Writings” de HPB, o texto está no volume II, pp. 98-106. Em
português, parte dele está também publicada na edição de março de 2010 de “O Teosofista”.
000
Em 14 de setembro de 2016, depois de uma análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu criar
a Loja Independente de Teosofistas.
Duas das prioridades da LIT são tirar
lições práticas do passado e construir um futuro saudável.
000