Carta a um Teosofista
Robert Crosbie
É correto sustentar a posição que você está tomando - manter a verdadeira
atitude da “indiferença superior”. Não faz nenhuma diferença o que nós fazemos; o que importa é como nós fazemos qualquer coisa. E como sempre há algo sendo feito, nós sempre temos
a oportunidade de fazê-lo corretamente.
Não adianta estar ansioso; tudo o que devemos fazer é
fazer o melhor possível com cada momento, e vivê-lo à medida que ele vem. “Se o
candidato tem firme confiança na Lei, ele não terá que esperar demasiado.” Deste
modo, qualquer coisa que aconteça estará bem para ele. Devemos adotar o ponto
de vista de que seja o que for que seja correto, o que for correto ocorrerá, e,
ao mesmo tempo que usamos e aproveitamos cada oportunidade, devemos sentir que,
se aquilo que parecia bom não ocorreu como esperávamos, é melhor que seja
assim, do ponto de vista do principal objetivo pelo qual trabalhamos. Nesse
caso nós preservamos nossas melhores energias, e nem nos orgulhamos nem
desanimamos por seja o que for que aconteça.
Temos a tendência de subestimar o bem que possibilitamos
aos outros através dos nossos esforços. Cada um que nós influenciamos, mesmo no
menor grau, influencia outros, e ninguém sabe dizer o que pode ser feito no
futuro através de métodos indiretos. Há muito encorajamento nesse fato, e
encorajamento significa uma continuação da coragem. Nós só temos que manter a
coragem com que começamos, porque todo grande esforço seguramente causará
reações; e sabendo que essa é a Lei, estamos preparados, e nunca desanimamos, mas,
como na canção, “esperamos a mudança da maré” e nos fixamos nos aspectos
superiores da situação.
Estive olhando o artigo da revista que você mencionou. É
interessante, em alguns lugares instrutivo, inteligente, e generosamente
entremeado com diagramas. Dá a impressão de um grande conhecimento sobre o
assunto. Mas ele fala aqui e ali do Logos e do Seu cuidado para com Seus filhos.
Há muito de Deus pessoal sob outro nome, o que nada ensina a “Seus” pobres
filhos ignorantes e pecadores sobre a natureza divina deles! O artigo me fez
pensar sobre o modo como os Jesuítas desvirtuaram a Maçonaria. Eles entraram
nela, obtiveram os seus segredos, inventaram “graus mais elevados” para desviar
a atenção do que estava oculto nos graus originais, e gradualmente a
transformaram em algo inócuo e incapaz de levar ao conhecimento que eles
temiam. Muito do que está acontecendo e já aconteceu na sociedade ….. leva aparentemente
a uma inócua falta de praticidade. Esse é o modo de trabalhar das forças
bramânico-jesuíticas, e que o pensador convencional é incapaz de perceber, ou
de compreender o aviso, se for alertado. Ele não acredita que existam Forças
Escuras com agentes no mundo, nem que eles façam guerra desde dentro, contra aquilo
que eles buscam destruir; nem que eles se vistam com “pele de cordeiro” de modo
a não despertar suspeitas. Porém isto é muito verdadeiro. Cada fracasso de uma
tentativa de estabelecer a Religião-da-Sabedoria, se investigado, acabará sendo
atribuído ao trabalho dos Escuros no meio dos tolos “cordeiros” que nada
suspeitam, e que são usados através das suas fraquezas, e desorientados. Não há
panaceia para a tolice e a ignorância a não ser o autoconhecimento, o discernimento;
qualquer coisa que afaste alguém desses dois, leva à desolação. Eu gostaria que
houvesse alguma maneira pela qual os olhos pudessem ser abertos, de modo que
surgisse uma observação sábia e adequada de todas as coisas. No entanto, se
alguém assinalar publicamente essas coisas, a mais suave das acusações feitas
contra tal indivíduo será a de que ele é “antiteosófico”. Tudo o que podemos
fazer é assinalar a diferença entre a Doutrina do Olho e a Doutrina do Coração,
com ampla exemplificação. Os …… falam muito sobre isso, mas, nas palavras de
Kipling, “o que eles compreendem?” Aqueles que estão naquela sociedade e que
têm o “desejo do coração” podem encontrar aquela doutrina, mas a massa não tem
tal desejo, e é afastada dele por todos os meios.
Sem qualquer presunção, você sabe que aqueles que o escutam
admitiriam que seria algo fácil para você desenhar diagramas e dar palestras
sobre a diferenciação das espécies, sobre os vários Logoi, Dhyanis, e tipos
de seres, Rondas e Raças e assim por diante; mas você sabe, e qualquer um pode
ver, que se alguém tiver todas essas qualidades na ponta da língua, não será em
nada melhor em caráter, nem possuirá qualquer real conhecimento - o
conhecimento que leva à sabedoria e ao poder do Adepto.[1] O conhecimento intelectual é bom para quem gosta de passar o
tempo com esse tipo de coisa, mas quem busca o autoconhecimento, quem não fica satisfeito com nenhuma distração,
não vai por esse caminho. O autoconhecimento é o objetivo central; o outro é
secundário, e é inútil na ausência do primeiro. O autoconhecimento requer
dedicação total, autodisciplina, trabalho constante, determinação incansável. Sua
busca só é empreendida por almas determinadas, e continuada por um crescente heroísmo
- tal como ilustrado pelos heróis imortais de eras passadas. O segundo
conhecimento pode ser obtido por qualquer criança de escola de primeiro grau, e
até certo ponto é necessário, como um instrumento para o bem de outras pessoas,
mas a menos que esteja a serviço do primeiro, é inútil como um meio para o
crescimento. A tendência geral é para o “intelectualismo”, e é fácil seguir
aquela linha de aquisições. O esforço deveria ser, portanto, no sentido de
apresentar e praticar o estudo que leva ao crescimento, usando o “processo”
apenas para ajudar a compreensão. A prática generalizada é o oposto disso. Há
teosofistas de nome e teosofistas de fato; e eles são diferentes.
NOTA:
[1] Em teosofia, a palavra “Adepto”
não significa “um seguidor de alguma coisa”, mas sim “Apto em Sabedoria”. Um
Adepto é um alto Iniciado na Sabedoria divina. (CCA)
000
O texto acima foi traduzido do livro “The Friendly
Philosopher”, de Robert Crosbie, The Theosophy Company, Los Angeles, EUA, 1945,
414 pp.; e corresponde à Carta 12 da seção “Living the Life”, nas pp.
160-162.
000
Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu
formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas
prioridades a construção de um futuro
melhor nas diversas dimensões da vida.
000