Como o Bom Senso Destrói a Ilusão
do Orgulho
Carlos Cardoso Aveline
Karen Horney aos 33 anos de idade, e a capa de seu livro
Haverá um problema de vaidade pessoal entre os líderes
teosóficos? Existe uma luta pelo poder
nas associações esotéricas, especialmente nas maiores, em que a política, e a politicagem,
exercem uma influência significativa?
Na maior parte dos casos, as pessoas que conhecem o
movimento têm realismo suficiente para responder afirmativamente às duas
perguntas acima.
Os sepulcros caiados são fáceis de encontrar.
Especialmente desde o começo do século 20, muitos tiveram conversas imaginárias
com mestres de sabedoria, e alguns obtiveram até mesmo um número expressivo de
falsas iniciações. Os tipos inferiores e
imaginários de clarividência se espalharam entre grupos de pessoas de boa
vontade que buscam pelo caminho espiritual.
O amor neurótico e antinatural pelo poder e pelo
“controle” está presente hoje na maioria das relações humanas e comunidades. Esta
doença em grande parte subconsciente exerce forte influência sobre as maiores
associações internacionais de teosofistas, e sobre os grupos locais ao redor do
mundo. No entanto, os teosofistas têm a seu dispor instrumentos valiosos para
lidar com a enfermidade e podem partilhar a cura com todos.
A ilusão do poder político e do “prestígio pessoal” está
longe de ser incurável. Basta dar alguns passos com base no bom senso para que
o seu processo seja compreendido e as comunidades teosóficas comecem a recuperar-se
dos efeitos deste veneno sutil.
Há uma complexa rede de causas e efeitos emocionais, operando
debaixo da aparência de fenômenos externos como a ambição pessoal, o orgulho
“espiritualizado”, a ilusão de “parecer um santo diante dos outros” e outras
moléstias semelhantes.
Uma visão psicanalítica do eu inferior pode ajudar as
pessoas a verem a fragilidade pessoal sob a máscara “politicamente correta” usada
por mais de um líder do movimento esotérico.
Karen Horney escreve:
“A ânsia de poder constitui, antes de mais, proteção
contra a carência de defesas, a qual (…) aparece como um dos elementos básicos
da angústia.” [1]
Ela acrescenta:
“…O neurótico tanto desejará subjugar os outros como
tentará dominar a si próprio.”[2] Ele
“experimenta premente necessidade de impressionar, ser admirado e respeitado.”[3]
Esta tendência, é claro, não se limita aos líderes de
associações cujas metas são altruístas. Existe pelo menos potencialmente em
cada grupo humano, sejam quais forem os seus objetivos, e em todos os seus
integrantes, não só entre os líderes. Os teosofistas, no entanto, podem ser
mais conscientes do problema do que o cidadão médio.
A criação de uma personalidade autoidealizada é uma ilusão
bastante frequente entre aqueles que buscam o caminho espiritual. Muitos tentam evitar o confronto com a sua
própria ignorância através do apego a formas ingênuas de devoção. Seguem variantes
falsificadas de espiritualidade, cuja base é a crença falsa, e agarram-se a uma
imagem artificialmente idealizada de si mesmos, como se fossem seres por
completo evoluídos. Tratam de convencer a si mesmos e aos outros de que “estão acima
das falhas humanas”.
Referindo-se ao tipo de pessoas cujo intenso amor ao
poder e ao prestígio é na verdade uma fuga de medos subconscientes, Karen
Horney escreveu:
“Com fins meramente descritivos, poder-se-ia qualificar
tal pessoa de narcisista; mas, se a contemplarmos dinamicamente, o termo
aparece equívoco; embora sempre preocupada em exaltar o eu, não o faz primordialmente
por amor real a si própria mas para se proteger do sentimento de
insignificância e diminuição - ou, em termos positivos, para restabelecer um
auto-apreço mutilado.” [4]
Em filosofia esotérica, um contato ampliado com o eu
superior produz a cura.
Observar o processo da dor e da autoilusão é um elemento
importante para que a ignorância se transforme em sabedoria. Isso ocorre
através da humilde renúncia ao egoísmo e da construção de melhores padrões
energéticos, à medida que se avança pelo caminho de uma visão iluminada da
vida.
Um contato verdadeiro com a sabedoria imortal faz com que
o peregrino descubra a simplicidade. Ele aceita os seus erros e, com gratidão,
tenta o melhor a cada novo dia.
Os ensinamentos de Helena Blavatsky e dos Mestres de
Sabedoria são claros sobre este ponto. Ali onde há vaidade pessoal ou orgulho cego
não existe presença divina.
O bom senso mostra o caminho, quando o modo como o
peregrino sincero encara os ensinamentos teosóficos é prático, tendo como base
um diálogo constante com a vida diária. Ao aprender com suas derrotas, o
estudante constrói uma vitória durável.
NOTAS:
[1] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, Editorial
Minotauro, Lda., Lisboa, 1961, 314pp., ver p. 187. A obra está publicada em PDF
em nossos websites associados.
[2] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 188. A obra está disponível em PDF em nossos
websites associados.
[3] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 192. A obra
está disponível em PDF em nossos websites associados.
[4] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 193.
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O texto acima foi publicado inicialmente em inglês sem
indicação do nome de autor na edição de abril de 2017 de “The Aquarian Theosophist”, pp. 12 a 14. Título original: “The
Psychoanalysis of Theosophical Politics”. A coleção completa do “Aquarian” está disponível em nossos
websites associados.
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