Onde Está o Teu Tesouro, Ali Está o Teu
Coração
Carlos Cardoso Aveline

Indivíduos
diferentes valorizam coisas diferentes, é claro.
Ainda
quando veem valor nas mesmas coisas, na maior parte das vezes eles atribuem
tipos diferentes de valor àquilo que apreciam em comum.
Por
que motivo uma floresta tem grande valor para você: é por causa do preço da
madeira? Talvez você valorize as árvores por outras potencialidades econômicas,
mais corretas desde o ponto de vista ecológico.
Será
que a floresta é valiosa para você porque ela desempenha papel central na
preservação da vida tal como a conhecemos nesta civilização?
Ou
talvez a floresta possua valor em si mesma, independentemente dos muitos usos
práticos que ela tenha para a humanidade e demais espécies de seres vivos?
Sabemos também que todos os níveis de valor de um objeto coexistem: é preciso
saber a ênfase e o peso relativo de cada nível de apreciação.
Além
do valor real de uma floresta, outros exemplos são possíveis e merecem ser
examinados. As várias formas de valor são vistas desde diversos níveis de
consciência. A importância física de algo pode ser muito diferente da sua importância
emocional, ou mental, ou espiritual.
A
profundidade do respeito que temos pelos outros seres depende do ponto de vista
desde o qual a vida está sendo olhada. Você mede o seu próprio valor pelo
número de aparentes amigos que você tem, ou pela firmeza da aprovação que você
recebe da sua própria alma e da sua consciência?
A
sua autoestima depende do poder de compra do seu cartão de crédito, e da
quantidade de aplauso e elogios que você recebe todo mês? Há maneiras mais
inteligentes de viver.
A
ciência da ética fala de dois grandes níveis de valor.
No
nível instrumental ou utilitário, a sua vida é importante porque você ajuda
pessoas, é útil para a sociedade e faz bem ao seu país.
Sua
esposa o faz feliz de várias maneiras; ela é extremamente valiosa. Seus filhos
são parte da sua felicidade. Seus amigos, seus colegas, sua nação e mil outros
fatores da vida contribuem para o seu contentamento; portanto são valiosos para
você. E também o calor dos raios de Sol no inverno, a beleza de um pássaro que
voa e a sombra de uma árvore no verão.
Neste
nível do ser, o valor é instrumental. Se você for incapaz de ir além desta
dimensão do valor, estará ainda fundamentalmente cego e surdo para a beleza da
vida.
A
sua esposa tem um valor intrínseco: a importância dela não pode ser medida pela
quantidade de contentamento que ela faz você experimentar.
O
mesmo se aplica aos filhos e à nação.
É
pouco inteligente ter respeito pelas outras pessoas apenas na medida em que elas
concordam com você. A função dos outros seres na sua existência não é fazer as
suas vontades todas. Através deles, a Vida ensina a você várias maneiras de
melhorar a si próprio.
Quando
vemos o valor intrínseco de uma floresta, de uma nação, da amizade ou da
capacidade de ser humilde, reconhecemos as dimensões elevadas e nobres do valor
instrumental.
As
duas coisas são inseparáveis.
É
um privilégio ser útil ao crescimento interior dos outros. Nossos deveres são
tanto materiais como espirituais. Há uma bênção em ter profundo respeito pelos
nossos cocidadãos, e pelas florestas, pelos habitantes das florestas e por todos
os seres.
Neste
processo, nos tornamos irmãos conscientes Daqueles que estão muito mais
adiantados que a nossa humanidade e no entanto mantêm um contato sutil com os
seres humanos, para garantir que eles trilham o caminho da ética universal.
A Teosofia Segundo Jesus
Em
todas as épocas, pensadores independentes apontaram sempre o rumo da evolução
da alma. Desde o século 19, muitos têm questionado o sistema de valores de uma
sociedade cujo verdadeiro deus - o centro da vida das pessoas - é o dinheiro.
Quando
os valores materiais são vistos como o fator decisivo na vida, os valores
morais e religiosos constituem uma questão de mera aparência, um disfarce para
a ambição pessoal, um instrumento a serviço do egoísmo.
Erich
Fromm mostrou a necessidade da escolha entre “ter” e “ser”. É evidente que em
teosofia, coisas como liderança política,
dinheiro, poder corporativo e posses
materiais não têm importância em si mesmas. Elas não produzem real
felicidade ou contentamento. No Evangelho segundo Mateus, Jesus ensina a teoria do valor adotada em teosofia
clássica:
“O
reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem
achou e escondeu; e, para aproveitar o tesouro, ele vende tudo quanto tem e
compra aquele campo. E também o reino dos céus é semelhante ao homem,
negociante, que busca boas pérolas; e que, encontrando uma pérola de grande
valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.” (Mt., 13:44-46)
Aquele mestre judeu, que nunca quis fundar
uma igreja e menos ainda uma igreja luxuosa, ensinou também:
“Não
tentes reunir tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e
onde os ladrões dominam e roubam; mas reúne tesouros no céu, onde nem a traça
nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não dominam nem roubam. Porque
onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt., 6:19-21)
O
mesmo ensinamento é encontrado no Dhammapada e outras escrituras.
Ao
deixar de lado o apego a posses visíveis (dinheiro, aplauso, poder), o
peregrino pode alcançar o tesouro celestial e invisível, o tesouro permanente,
e também a pérola eterna da sabedoria universal.
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Em setembro de 2016, depois de uma
análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das
prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um futuro
saudável.
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