Como Abrir Caminho Para
Uma Primavera da Fraternidade
Carlos Cardoso Aveline

Sigmund Freud e Helena Blavatsky
É inegável a responsabilidade cármica dos administradores
públicos que deixam de lado a ética, usando mecanismos de poder coletivo para
iludir e manipular os povos.
A lei do carma não abre exceções. Quanto maior o poder,
maior a responsabilidade. Um raja-iogue dos Himalaias escreveu:
“...Para nós um lustrador de botas honesto é tão bom
quanto um rei honesto, e um varredor de ruas imoral é muito melhor e mais
desculpável do que um imperador imoral”.
[1]
Nenhum detentor de poder político, econômico ou
“espiritual” está acima da lei do carma. A seu tempo, todos colhem os
resultados de suas ações, certas e erradas.
Porém, os dirigentes públicos desonestos não são os
únicos responsáveis pelos abusos que cometem. Todos os aspectos da vida se
interrelacionam. Não é suficiente combater exclusivamente este ou aquele
indivíduo desonesto. Devemos examinar as premissas das quais os “Irmãos
Metralha” partem, e ver quem as produziu.
O problema inclui uma dimensão cultural. A desonestidade
tem uma causa. A sua fonte está em uma visão falsa da felicidade como se ela
fosse produzida meramente pela posse de dinheiro e pelo poder egoísta. A origem
da desonestidade está também na ideia de que o ser humano não tem acesso
próprio à sabedoria nem à felicidade interior e eterna.
Há 15 séculos a teologia do Vaticano insiste em descrever
o ser humano como um “pecador” que só pode ser salvo por alguma força externa e
graças a uma crença cega, mas não por mérito próprio. Cria-se então a farsa do
clientelismo divino: a crença em que Deus salvará como um favor pessoal aqueles
que obedecerem cegamente a um clero interessado no dinheiro dos fiéis. Este
cristianismo falso está hoje desmascarado e vai destruindo a si mesmo, primeiro
no plano moral.
Na mesma linha, desde o século 20, as correntes
dominantes da Psicologia descrevem o indivíduo humano como um ser manipulável,
sem alma, escravo dos seus instintos, e completamente controlável através de
estímulos deste ou daquele tipo. O behaviorismo é a principal destas correntes,
e alimenta os mecanismos de marketing e propaganda dominantes na mídia, assim
como no mundo político e econômico.
A Psicologia autêntica pretende descrever a natureza
interior do ser humano. Ela valoriza os laços humanos profundos. A psicologia
convencional, por outro lado, transformou-se em grande parte numa pseudociência
mercantil que ignora tanto a existência da alma como a necessidade cármica da
honestidade.
O pensador judeu Sigmund Freud formulou uma psicologia ética
e profunda, embora impotente diante das forças destrutivas de seu tempo.
Carl G. Jung, por sua vez, teve proximidade com o nazismo
e distorceu as descobertas de Freud, levando-as para um território destituído
de respeito pela vida.
Quando um psicólogo se apresenta como conhecedor do ser
humano e ao mesmo tempo ignora a Ética, inventando meios para manipular as
pessoas, está na verdade praticando Magia antievolutiva. No tempo certo, o
Carma destruirá as ilusões egocêntricas construídas por tais pseudocientistas.
Os “especialistas da consciência humana” que buscam obter
dinheiro de modo egoísta definem implicitamente o cidadão como um ser menor,
tão instintivo como os ratos. Veem-no como controlável por um sistema sutilmente
autoritário de estímulos e desestímulos dirigidos ao nível involuntário da sua
consciência e fabricados pela indústria da propaganda.
Entre as consequências desta falsa visão do processo
humano está o surgimento de várias gerações de cidadãos egoístas e de políticos
antiéticos. A popularização do consumo de drogas e álcool - estimulada por uma
certa elite - é uma forma de inutilizar a juventude, de roubar o discernimento
dos cidadãos e boicotar o poder humano de renovar a vida.
A corrupção na política é, portanto, apenas a ponta do
iceberg. O mundo das instituições reflete o que vai na mídia e em outros setores
da sociedade.
Combatendo a Fonte da
Desinformação
Para a filosofia esotérica a ação desonesta deve ser
compreendida em suas causas.
A vida se desdobra assim no céu como na terra. A
ignorância ocorre tanto no plano do materialismo como na esfera religiosa. Há
uma semelhança profunda, portanto, entre a psicologia superficial, que busca a
mera adaptação do indivíduo à ignorância coletiva organizada, e a teologia
dogmática, que visa dominar as mentes dos seus fiéis reduzindo-as à obediência
cega. Ambas tratam o ser humano como simples coisa e como animal instintivo.
O pensamento científico mercantilizado possui pontos
fundamentais em comum com as igrejas dogmáticas.
Enquanto a religiosidade superficial define o ser humano
como alguém irresponsável, nascido para obedecer cegamente, as escolas de
pensamento “científico” que obedecem a interesses monetários descrevem o cidadão
como alguém igualmente irresponsável, que pode ser manipulado completamente por
mídia, propaganda e promessas de “líderes carismáticos”.
Nos meios chamados “esotéricos”, os seguidores de Carl G.
Jung, Annie Besant, Jiddu Krishnamurti e outros preparam o caminho da
irresponsabilidade fazendo de conta que a lei do carma pode ser esquecida, e sugerindo
que a opção entre sinceridade e hipocrisia tem pouca importância.
Estas várias escolas de pensamento e suas doutrinas devem
ser enxergadas com clareza. Para que floresça a paz social, é necessário que os
indivíduos conscientes se libertem do relativismo ético.
Do século vinte para cá, Erich Fromm, Viktor Frankl, Pitirim
A. Sorokin, Fritz Künkel e Karen Horney estão entre os numerosos pensadores honestos
da Psicologia. Seus livros têm afinidade com a filosofia esotérica, assim como as
obras baseadas na Análise Transacional. A psicologia, associada à ética, abre
caminho para o nascimento da primavera da fraternidade que, segundo H. P.
Blavatsky, deve ocorrer antes do final do século 21, resgatando o melhor de
cada religião e da tradição cultural de todos os povos. [2]
A teosofia clássica e a psicologia profunda atuam em
harmonia com os grandes sábios de todos os tempos. Elas mostram que o ser
humano está em evolução. Sua etapa presente, de relativa ignorância espiritual,
constitui um momento passageiro.
Nada escapa à ação da Lei do Carma. Tudo tem sua hora.
A fonte do sentimento de boa vontade está na alma imortal
do indivíduo. No momento certo da vida dos povos, surgem lideranças capazes de
trazer outra vez a ética para a agenda diária da população. Nada pode atrasar o
momento em que surge o novo dia. Na hora adequada de cada ciclo, os povos veem
a Oportunidade cármica à sua frente, e a ação comunitária e a ajuda mútua passam
pelo devido processo de renascimento.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, Volume I, Carta 29, p.
158.
[2] “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, Volume XIV, TPH, Wheaton, EUA, 1985,
733 pp., página 27. Em português, veja o subtítulo “O Mestre Mais Severo
Anuncia a Vitória” no artigo “O Lado Luminoso de Saturno”.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada, sem
indicação de nome de autor, na edição de agosto de 2009 de “O Teosofista”, pp. 1-3. Sua publicação
como artigo independente em nossos websites associados ocorreu dia 19 de
setembro de 2018.
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Leia em nossos websites os artigos “Rompendo a Manipulação Mental”,
“A Guerra Mundial em Nossas Mentes”,
“O Carma da Mídia, da Arte e da Literatura”
e “O Poder de Sugestão”.
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