José Leite de Vasconcellos
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Nota
Editorial de 2019
A citação de abertura do poema
afirma : “L’histoire
naturelle a fourni
une conception de l’univers bien autrement
élevée que de l’antiquité.” Ou seja: “A
história natural forneceu
uma concepção do universo muito melhor
que a da antiguidade.”
O uso desta frase como citação de
abertura parece ter
sido feito com ironia por parte do
autor, já que o poema
trata as árvores como deusas e como
filhas das estrelas, tal
como faziam os antigos, para quem os
bosques eram templos.
José Leite de Vasconcellos nasceu em 7
de julho de 1858 e
viveu até 1941. Dedicou a vida inteira a
documentar de modo
brilhante a força da sabedoria antiga na
vida de Portugal. Uma
das suas obras mais importantes desde o
ponto de vista teosófico
é “Religiões
da Lusitânia”, reeditada em quatro volumes
em 1998 pela Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, em Lisboa.
(Carlos Cardoso Aveline)
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L’histoire naturelle a fourni une conception de
L’univers bien autrement élevé que de l’antiquité.
A. Langel
Firmes,
na solidão dos verdes prados,
Nos
montes ou na florida devesa [1],
Por
que sois os fantásticos soldados
Que
fazem sentinela à Natureza?
Por
que, presas ao chão pelas raízes,
E
os braços levantados para a glória,
Como
saudosas deusas infelizes,
Andais
sofrendo a anátema da História?
Pois
não tendes acaso, como nós,
Vida,
paixões e sentimento e almas?
Quem
não escuta uma sonora voz
Nas
doces virações das noites calmas?
Quem
não entende o pranto que chorais,
Quando
o orvalho vos cobre e inclina ao chão,
E
não ouve gemer os vegetais
No
ramalhar das folhas n’amplidão?
A
flor que em vossos peitos desabrocha
É
um sorriso de cândida bondade,
Que
doma as feras e enternece a rocha,
Como
a lira de Orfeu na antiguidade.
Amai,
crescei, flori nas várzeas belas,
Ainda
que opressas de uma lei tirana…
Ó
fantásticas filhas das estrelas,
Ó
gloriosas irmãs da raça humana!
NOTA:
[1] “Devesa”-
arvoredo. (CCA)
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O poema “As Árvores” foi
publicado nos websites associados dia 29 de outubro de 2019. Ele é reproduzido de “O
Pantheon”, revista de ciência e letras, Porto, Portugal, Typographia Nacional,
1880, N. 1, p. 12.
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