O Caminho da Sabedoria Depende
Do Uso Correto das Forças Pessoais
John Garrigues
John Garrigues
J.
Garrigues (1868-1944)
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O texto a seguir foi publicado pela
primeira vez de modo anônimo na revista
“Theosophy”,
de Los Angeles, EUA, edição
de dezembro de 1927, pp. 63-64. O título
original é “The Modern Vice”, e uma análise de
seu conteúdo indica
que foi escrito por Garrigues.
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“Tu vês no outro o que há no
teu coração.”
Nenhum defeito ilustra melhor este antigo
aforismo que o defeito da hipocrisia. Nenhum erro pode ser mais desprezível,
nem mais universal. Sem a sua presença, que tudo permeia, o tecido da
civilização deixaria de existir. Será um
exagero dizer isso? Que cada um calcule por si mesmo as consequências de passar
24 horas agindo exatamente como deseja!
Nenhuma filosofia
é mais oposta que a teosofia a este vício universal. No entanto, diante da
tentação da hipocrisia, nenhum ser humano corre um risco maior que o teosofista.
O caráter do
indivíduo - isto é, o seu carma - faz parte do carma humano e do carma
nacional. A falsidade consciente e inconsciente em sua alma é inerente à etapa
atual da evolução humana. Mas há uma armadilha sutil presente no ato de estudar
e admirar uma filosofia elevada e nobre: esta prática regular estimula a autoestima a partir da sua capacidade de
compreender e de admirar. O altruísmo é frequentemente um outro nome para a
autoindulgência. A meditação sobre uma filosofia elevada leva inúmeras vezes ao
esquecimento do que a meditação é na realidade - apenas meditação. Neste caso,
a planta da autoestima, crescendo desde a lama da natureza humana, produz
sutilmente um crescimento tão grande da hipocrisia que chega a ficar fora de toda proporção.
Havendo nos
transformado em teosofistas do ponto de vista intelectual, nós ficamos
bêbados com o vinho mental do desprezo por aqueles que não escolheram ser
teosofistas, nem sequer de forma teórica.
Tendo obtido algum
conhecimento sobre a lei do Carma, o nosso sentimento em relação a quem não
compreende esta lei passa a ser - ao invés de compaixão impessoal - um desprezo
sorridente, uma vaidosa surpresa diante de tamanha ignorância.
É muito humano o
hábito de recusar-se a pensar em seus próprios defeitos e, com o tempo,
hipnotizar a si mesmo passando a acreditar que foram superados.
Mas reconhecer os
seus próprios erros, inclusive o da hipocrisia, é muito melhor do que tornar-se
hipócrita até para si mesmo, além de ser falso para com o mundo externo. O
reconhecimento de um defeito envolve um sofrimento e uma relativa humildade, e
isso abre uma brecha pela qual a luz do Espírito pode brilhar na natureza
inferior da consciência humana.
Os defeitos não
podem ser arrancados por um simples ato de vontade, porque às vezes eles se
instalam em cada fibra da natureza. Por outro lado, todas as energias são espirituais, embora estejam sempre em
autotransformação.
Portanto, todo o
problema pode ser solucionado pela distribuição correta e pelo uso sábio das
forças pessoais. Cada energia que se
volta para uma finalidade espiritual e altruísta é uma energia drenada das
áreas do eu pessoal inferior, e a recíproca é verdadeira. Se as energias
pessoais estiverem completamente devotadas a um uso espiritual, o vazamento delas
no mundo do eu inferior cessará.
Sem dúvida, há
momentos em que a natureza inferior, tendo recebido devido à nossa insensatez
uma energia vital vigorosa e maléfica, irá perceber os perigos do jejum e fará
uma perigosa ofensiva. Em tais casos, pode ser necessário fazer durante algum
tempo um grande esforço de autocontrole. Mas, em geral, a autotransformação depende
de um trabalho construtivo na direção oposta à do erro. São muitos os que,
depois de diversos anos ou de uma vida inteira de luta com o eu inferior, apenas
se esquecem do eu inferior no serviço altruísta, sem darem atenção a
vitória ou derrota pessoais.
Esse é o caminho
mais adequado.
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Sobre o crescimento interior e a
transformação pessoal no século 21, leia a obra “O Poder da Sabedoria”, de Carlos Cardoso Aveline.
O livro foi publicado pela Editora
Teosófica, de Brasília, tem 189 páginas divididas por 20 capítulos e inclui uma
série de exercícios práticos. Está na terceira edição.
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