Governar com Sabedoria é uma Ciência Antiga
Carlos Cardoso Aveline
Confúcio,
o sábio chinês
Carlos Cardoso Aveline
Há
hoje em Portugal, no Brasil e outras nações do mundo uma necessidade de ética na
política e em todas as circunstâncias humanas.
A necessidade pode ser particularmente aguda nas primeiras décadas do
século 21, porém ela existe em todas as épocas.
Cabe sempre examinar se os que estão em posições de liderança agem de
modo responsável. Os dirigentes de qualquer instância da vida devem dar
transparência às suas ações, facilitando tal exame crítico. A transparência os
protege de erros.
Ética não é sempre fácil, porque implica discernimento entre o que é
certo e o que é errado, e requer um grau de rigor e de severidade, para que as
escolhas necessárias sejam feitas com firmeza. Um Mestre dos Himalaias, um dos
principais responsáveis pela criação do movimento teosófico moderno, exemplificou a necessidade de ser rigoroso com
pessoas que possuem poder, mas não possuem ética. Ele escreveu:
“Oferecer honras a um homem cruel é como dar uma
bebida forte a alguém que está com febre.” [1]
O Sentido de Justiça
A filosofia esotérica ensina que para trilhar o
caminho da sabedoria não é suficiente um vago sentimento de boa vontade
emocional. É indispensável passar pelo fogo probatório da vida diária para que
se desenvolva o discernimento. O método a ser usado é experimental, e inclui a
tentativa, o erro, e o aprendizado com o erro. A sabedoria surge passo a passo,
tornando possível agir com justiça.
A teosofia transmite um sentido de equilíbrio
impessoal diante da vida. Um Mestre dos Himalaias cita Confúcio, o sábio chinês
que viveu no século 6 antes da era cristã:
“Todo teosofista ocidental deveria saber e lembrar -
especialmente aqueles que quiserem ser nossos seguidores - que em nossa
Fraternidade todas as personalidades submergem em uma ideia - o direito
abstrato e a justiça prática absoluta para todos. E que, embora nós não
digamos, com os cristãos, ‘retribua com o bem a quem lhe faz o mal’, nós
repetimos as palavras de Confúcio, ‘retribua com o bem a quem lhe faz o bem; a
quem lhe faz o mal - JUSTIÇA’.” [2]
Sem dar-se ao trabalho de indicar a fonte
bibliográfica exata, o Mestre citou com estas palavras o parágrafo 36 do Livro XIV de “Os Analectos”,
a obra que registra os ensinamentos de Confúcio. Diz o trecho completo:
“Alguém perguntou: ‘O que você pensa do princípio
segundo o qual se deve retribuir a inimizade com a amabilidade?’ E o mestre
perguntou: ‘E com o quê, então, você retribuiria a amabilidade? Responda à
inimizade com um tratamento justo, e à amabilidade com amabilidade’.”
Um dos motivos pelos quais devemos usar o
discernimento e agir da forma aconselhada pelo Mestre aparece no Livro II,
parágrafo XIX, de “Os Analectos”.
A passagem nos leva ao que se poderia chamar de teosofia das relações sociológicas:
“O Duque Ai perguntou dizendo: ‘O que devo fazer para
assegurar o contentamento do povo?’ E Confúcio respondeu: ‘Se você promover os
que são corretos e afastar os que agem mal, o povo estará contente; mas se você
promover os que agem mal e afastar os que são corretos, o povo ficará
descontente’.” [3]
Poucos parágrafos mais adiante, os Analectos
acrescentam:
“Ver o que é correto e não fazê-lo é covardia.” [4]
E, no Livro IV, podemos ler esta reflexão:
“O homem de caráter pensa em seu caráter, o homem
inferior em sua posição social. O homem honrado deseja justiça, o homem
inferior deseja ser favorecido.” [5]
Esses princípios básicos de teosofia e filosofia são válidos
para os vários aspectos da existência humana. Eles iluminam a arte de viver
corretamente, no âmbito familiar, na esfera profissional e nas diferentes situações
sociais e políticas.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mestres
de Sabedoria”, compiladas e editadas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica,
Brasília, 1996, p. 108.
[2] “Cartas
dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes, ver
Carta 120, volume II, p. 260.
[3] “The
Analects”, Confucius, Dover-Thrift Editions,
Dover Publications, N. York, 1995, 128 pp., ver p. 08.
[4] “The
Analects”, Dover Publications, ver Livro II, parágrafo XXIV, p. 9.
[5] “The
Analects”, Dover Publications, Livro IV, parágrafo XI, p. 18.
000
Uma versão anterior do texto acima
foi publicada de modo anônimo na edição de agosto de 2007 de “O Teosofista”. Título original: “Ética
na Política: a Teosofia de Confúcio”.
000
Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu
formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas
prioridades a construção de um futuro
melhor nas diversas dimensões da vida.
000