30 de outubro de 2012

Os Chelas

O Que é, e o Que Não é, Discipulado

Helena P. Blavatsky

 H. P. Blavatsky, em obra do  escultor Alexey Leonov
  

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Nota Editorial:

O artigo a seguir foi publicado pela
primeira vez na revista “The Theosophist”,
na Índia,  em outubro de 1884.  Título original:
Chelas”. A presente tradução é reproduzida da
edição de setembro de 2012 de “O Teosofista”.

O leitor deve levar em conta que, desde a década
de 1890, o movimento teosófico não possui Chelas
ostensivamente; e caso ele possua Chelas, vale o
antigo aforismo taoista: “quem sabe não fala; quem
fala, não sabe”. Por outro lado, o caminho da busca do
chelado leigo continua aberto aos aspirantes em todo o mundo.
Acrescentamos duas notas explicativas ao final do texto.

(CCA) 

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Apesar dos vários artigos que têm aparecido nesta revista [“The Theosophist”] sobre o tema do chelado, a falta de compreensão e as visões equivocadas ainda parecem predominar. O que são os Chelas, e quais os seus poderes? Eles cometem erros? Em que aspectos eles são diferentes dos que não são Chelas? Será que cada palavra pronunciada por um Chela deve ser aceita como uma verdade sagrada?

Estas questões surgem porque muitas pessoas têm alimentado pontos de vista absurdos sobre os Chelas já há algum tempo, e, quando chegou-se à conclusão de que era necessário mudar tais visões, a reação em vários casos foi bastante violenta.

A palavra “Chela” significa simplesmente “discípulo”, mas ficou cristalizada na literatura teosófica, e recebe nas diversas mentes tantas definições diferentes quanto a própria palavra “Deus”. Algumas pessoas chegaram ao ponto de dizer que quando alguém é um Chela é imediatamente colocado num plano em que cada palavra dita por ele é imediatamente encarada como uma palavra vinda de uma autoridade, e ele não possui mais o privilégio de falar como uma pessoa comum. Quando fica claro que alguma coisa foi dita por ele mesmo, por sua própria conta e risco, o Chela é acusado de enganar aqueles que o ouviram.  

Esta ideia errada deve ser corrigida de uma vez por todas. Há Chelas e Chelas, assim como há MAHATMAS e MAHATMAS.  Há MAHATMAS que, na verdade, são eles próprios Chelas de seres ainda mais elevados. Mas ninguém pode confundir, nem por um instante, um Chela que começa a sua arriscada viagem com aquele Chela maior que é um MAHATMA.

Na verdade o Chela é um homem infeliz que ingressou num “caminho não-manifestado”, e Krishna diz que “este é o mais difícil dos caminhos”.

Ao invés de ser o constante porta-voz do seu Guru, ele percebe que está mais sozinho no mundo do que aqueles que não são Chelas. O seu caminho é rodeado de perigos que provocariam desânimo em muitos aspirantes, se fossem descritos tal como são; de modo que ao invés de aceitar seu Guru e ser aprovado em seu exame de admissão, tendo como meta a sua qualificação em filosofia oculta sob o constante conselho solidário do seu Mestre, ele na realidade força  o seu caminho até um local protegido, e desde este momento deve lutar e vencer - ou morrer. Ao invés de aceitar, ele deve ser digno de ser aceito. Ele não deve oferecer-se. Um dos Mahatmas escreveu, há menos de um ano [1]: “Nunca se imponha a nós como candidato ao Chelado; espere que o Chelado desça sobre você.”

Uma vez que foi aceito como Chela, não é verdade que ele seja apenas um instrumento do seu Guru.  Ele continua falando como um homem comum, assim como fazia antes, e é somente quando o mestre manda através do magnetismo do Chela uma carta fisicamente escrita que os observadores podem dizer que houve uma comunicação através do Chela. [2]

Assim como ocorre ocasionalmente com qualquer autor, os Chelas talvez façam afirmações verdadeiras ou belas; mas não se deve concluir, por causa disso,  que naquele momento o Guru estava falando através do Chela. Quando há a semente de um bom pensamento na mente, a influência do Guru, tal como a suave chuva sobre o solo, pode fazer com que a semente germine, surgindo para a vida e florescendo de modo extraordinário. Mas esta não é a voz do mestre.  Na verdade, são raros os casos em que os mestres falam através de um Chela.

Os poderes dos Chelas variam de acordo com o progresso feito por eles. E todos devem saber que se um Chela possui quaisquer “poderes”, ele não tem a permissão de usá-los salvo em casos raros e excepcionais, e jamais pode contar vantagem sobre o fato de que os possui. Em consequência disso, aqueles que são apenas iniciantes não têm mais poderes do que um homem comum. A meta do Chela não é obter poder psicológico. Sua principal tarefa é libertar-se do sentido dominante de personalidade, o grosso véu que o impede de enxergar sua parte imortal - o verdadeiro ser humano. Enquanto permitir que este sentimento permaneça, ele ficará preso ao portal de ingresso no Ocultismo, incapaz de avançar mais além.

Assim, o sentimentalismo não faz parte dos equipamentos do Chela. Sua missão é árdua, seu caminho cheio de pedras, e o local de destino está muito afastado. Tendo apenas sentimentalismo, ele não pode dar um passo adiante. Ele espera que o mestre o convide a mostrar sua coragem atirando-se desde um precipício, ou desafiando as frias altitudes dos Himalaias? Essas são falsas esperanças; os mestres não o chamarão desta maneira. Em consequência disso,  assim como ele não deve vestir-se de sentimentalidade, o público, ao observá-lo, tampouco deve lançar um falso véu de sentimentalismo sobre todas as suas ações e palavras.

É recomendável, portanto, usar um pouco mais de discernimento em relação aos Chelas.

NOTAS:

[1] “Há menos de um ano”; estas palavras foram publicadas em outubro de 1884.

[2] Esta frase era válida para as condições reinantes na década de 1880. Desde o ano de 1900, cessou toda comunicação verbal ou visual entre Mestres e discípulos leigos, ou entre Mestres e o público. Os Mestres transmitiram ensinamentos suficientes; o movimento teosófico deve erguer-se agora por mérito próprio, com base numa leitura correta do ensinamento original.

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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.

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