Os Primeiros Cristãos Ensinavam a
Reencarnação Usando a Palavra “Ressurreição”
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
O conceito de reencarnação está presente na
cultura ocidental desde o seu berço. Seiscentos anos antes da era cristã, a metempsicose
ou reencarnação era ensinada por Pitágoras. O Cristianismo dos primeiros tempos
conhecia e ensinava a reencarnação sob o nome de “ressurreição”.
Foi durante o
processo de montagem política do cristianismo como religião imperial e dominante
que as passagens sobre reencarnação foram radicalmente distorcidas ou eliminadas
do Novo Testamento.
O conceito atual
e convencional de ressurreição é
destituído de sentido e contraria as leis da natureza. Ele supõe que em algum momento futuro os
mortos sairão fisicamente vivos das suas sepulturas, usando os mesmos corpos
que morreram e apodreceram longo tempo atrás. Além de absurda, tal ideia é de
um evidente mau-gosto. O conceito original de ressurreição, por outro lado,
corresponde à ideia de reencarnação, não entra em choque com as leis da
natureza e faz todo o sentido do ponto de vista da visão evolutiva das
coisas. Dele restam alguns indícios nas
escrituras cristãs.
No capítulo 15
da primeira epístola de Paulo aos Coríntios, Jesus é descrito como o ser que
abre espaço para a ressurreição de todos. Segundo a leitura esotérica dos
evangelhos, “Jesus” é na verdade um símbolo do sexto princípio, Buddhi, a sede
da alma espiritual. É, realmente, através e a partir do princípio divino na
consciência humana que se dá a reencarnação ou ressurreição. Em 1 Coríntios 15:
44, vemos:
“Semeia-se o
corpo natural, ressuscita o corpo espiritual. Se há corpo natural, há também
corpo espiritual.”
A frase
significa que, conforme o corpo natural é semeado, ou concebido e
gerado, o corpo espiritual “ressuscita” ou reencarna nele.
Em 1 Coríntios
15: 36-42, por exemplo, vemos:
“O que você
semeia não readquire vida a não ser que morra. E o que você semeia não é o
corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão, de trigo ou de
qualquer outra espécie. (...) Há corpos celestes e há corpos terrestres. São,
porém, diferentes o brilho dos celestes e o brilho dos terrestres. Um é o
brilho do sol, outro o brilho da lua, e outro o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há diferença de
brilho. O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos.”
Vemos no
primeiro livro de Samuel outra passagem que, apesar do “pente fino” que visou eliminar
a ideia da reencarnação do velho testamento, ainda sugere este conceito:
“O Senhor é o
que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir.”
Também em
Eclesiastes, apesar da censura dos teólogos, a reencarnação permanece implicitamente
presente. No capítulo um, versículo nove, vemos:
“O que foi é o
que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo
debaixo do sol”.
Seria de fato absurdo
imaginar que cada vez que um feto é concebido uma nova alma imortal é
“fabricada”, e que esta alma só terá uma única chance de viver, no máximo cerca
de cem anos, jamais tendo a possibilidade de retomar e prosseguir sua evolução
natural em direção à libertação.
As leis da
natureza apontam na direção oposta. Como diz a lei de Lavoisier, “na natureza
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, e as almas humanas não são
uma exceção à regra.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada em abril de 2008 em “O Teosofista”, edição especial sobre
reencarnação, sem indicação do nome do autor. A maior parte daquela edição especial está publicada como um artigo
independente sob o título de “A Teosofia
e a Reencarnação”. O presente artigo foi revisado e publicado
como texto independente em fevereiro de 2014.
Sobre o mesmo tema, veja os textos
“Jesus Ensinou Sobre Reencarnação” e “O Processo Entre Duas Vidas”, de
Carlos Cardoso Aveline. Os dois artigos estão disponíveis em nossos websites
associados.
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