Ciência Psicológica Atual
Deve Redescobrir a Alma Eterna
Carlos Cardoso Aveline
A alma humana imortal possui grande número de aspectos
e facetas externas
A teosofia é uma psicologia. Ela constitui uma
“ciência da alma” e é chamada nas Cartas dos Mahatmas de psicologia asiática.
A teosofia clássica é científica. Segue o método experimental, ainda que não
esteja presa a ele, e se baseia em fatos. Ela faz parte da tradição da
Raja Ioga, que lida com realidades e despreza ideias não examinadas e
não verificáveis.
Muito antes de
Sigmund Freud, a psicologia entendida como conhecimento da alma e como conhecimento
do caminho para o contato ampliado com a alma imortal já fazia parte
da filosofia clássica ocidental e oriental.
Apesar de diferenças culturais e de nomenclatura, a investigação e o
conhecimento da alma são ensinados em Platão, Epicteto, Cícero, Sêneca,
Porfírio, Plotino, Schopenhauer, Montaigne e outros pensadores de todos os
tempos e países, assim como no taoismo, no budismo e no hinduísmo.
Infelizmente, os
setores dominantes da psicologia comercializada
do século 21 ignoram que existe uma alma imortal e, portanto, também não
sabem como se poderia ampliar o contato com ela. Para a psicologia materialista,
o cidadão é um consumidor e ele deve pagar com seu cartão de crédito por
uma muleta e um alívio momentâneos. É conveniente, do ponto de vista do mercado, que o consumidor permaneça na dependência da chamada terapia.
As Psicologias Que Parecem Espirituais e Não São
Um certo número de
autores escreve sobre psicologia abordando nominalmente o tema
espiritual, enquanto se negam a apontar e diagnosticar a psicopatologia da
sociedade mercantil que hoje asfixia o espírito humano. Nisso abandonam o
pensamento ético e profundo de Sigmund Freud. Exemplos destacados desta infelicidade
coletiva são Carl Jung e vários dos seus seguidores.
Os pensadores pseudoespirituais da psicologia talvez sejam mais nocivos que o
materialismo puro e simples, porque desorientam aqueles que estão aptos para
uma busca mais profunda.
No outro extremo
estão os psicólogos que veem toda e qualquer preocupação espiritual
intensa como uma psicopatologia e uma doença a ser extirpada. A lenda de
Jesus no Novo Testamento, se fosse examinada desde o ponto de vista da psicologia
superficial, seria definida como a história de um narcisista com delírios de
grandeza: um caso típico de messianismo, e provavelmente uma compensação emocional
diante de problemas como o Pai Ausente e Pai Desconhecido. Um resultado da
perseguição sofrida na primeira infância
e da relação conflitiva com o
pai adotivo, José.
Já a lenda
oriental de Gautama Buddha conta que ele abandonou sua mulher e o primeiro
filho recém-nascido.
Isso é no
mínimo estimulante para o psiquiatra convencional, que poderá enumerar as
patologias de alguém que deixa
de lado sua bela mulher e uma criança recém-nascida para ir viver na floresta e
meditar em busca de uma suposta “libertação interior”.
Eis então alguém
que, ao invés de assumir a paternidade e cumprir seus deveres
profissionais e familiares, opta por “salvar a humanidade”. Num enfoque superficial,
a atitude de Buddha na lenda da sua vida “não é normal”. Sua teoria
sobre o Vazio (Sunya) pode ser vista como a racionalização de um sentimento
depressivo, cuja solução moderna seria levar uma receita de psiquiatra até a farmácia
mais próxima.
O que dizer de Giordano Bruno, Paracelso e outros místicos das mais
diferentes nações? Na sua juventude, São Francisco de Assis foi
literalmente catalogado como louco por seus contemporâneos, segundo a lenda da
sua vida. Tudo o que foge à mediocridade míope é visto como “anormal”.
Segundo alguns
doutores em psicologia, o ser humano normal é aquele que renuncia à ética
para ficar rigorosamente neutro e “a favor do status quo” diante das questões éticas, espirituais e
filosóficas. Esta é a realidade denunciada por Erich Fromm em seus textos sobre
ética e psicanálise. O pensador José Ingenieros denunciou o mesmo fato em
um best-seller do século vinte intitulado “El Hombre Mediocre”.
As Psicologias Compatíveis Com a Ética
Psicanalista e
autor de renome mundial, Erich Fromm escreve que a psicoterapia mercantil limita-se
a adaptar os cidadãos à mediocridade. Ele demonstra que a adaptação à
ignorância coletivamente organizada não é saúde. Ainda assim,o objetivo
de alguns psicólogos e psiquiatras parece ser “normalizar” o cidadão com
ajuda de drogas antidepressivas. Em grande número de situações, a psicologia
atual insiste em fugir das questões de fundo que dizem respeito ao bem-estar
emocional do ser humano.
Desde um ponto de
vista filosófico, o bom terapeuta profissional é aquele que transcende o amor
ao dinheiro e transmite independência ao paciente. Devem ser reforçados os processos
de crescimento psicológico que dispensam a terapia profissionalizada. Como
estratégia de longo prazo, o correto é o
caminho do autoconhecimento, do autorrespeito e do autocontrole, que leva à
autolibertação. A solidariedade deve estar ao lado da independência.
Erich Fromm não
está só: outros pensadores da psicologia cujas obras confluem com a visão de
mundo teosófica são Viktor Frankl, Karen Horney e Rollo May. Vários aspectos centrais da obra de Sigmund Freud
têm interesse teosófico num plano relativamente abstrato.
Desde um ponto de vista prático, o leque de possibilidades emocionais nos
padrões de relacionamentos humanos é muito variado. A análise transacional
constitui uma abordagem simples, profunda e útil diante do problema.
A alma humana imortal possui grande número de aspectos e facetas externas.
A vida humana ocorre através de interações, e o esquema criado por Eric Berne
nos anos 1950 propõe modos práticos de estabelecer a justiça, o equilíbrio e a
reciprocidade como princípios que guiam a vida diária e as relações entre as
pessoas. Os conceitos da análise transacional são ferramentas especialmente úteis
quando se trata de enfrentar o desafio teosófico da fraternidade universal.[1]
A Ação Que Previne o Sofrimento
A sociedade materialista gera injustiça social em grande escala e
depois dá esmola para alguns dos marginalizados. Produz miséria em grande
escala, e depois tenta combater a criminalidade que avança por todo lado.
Estilos de vida equivocados produzem doenças físicas para toda a
população, e se expande então uma medicina que corre atrás da doença agindo no
plano individual e visando lucro.
A sociedade materialista destrói o meio ambiente em proporções
gigantescas, e em seguida trata de combater alguns dos efeitos da destruição
com paliativos pouco eficientes, e sem remover as causas.
Através dessas situações, a ignorância socialmente organizada desrespeita a
vida em grande escala, enquanto explora comercialmente a desgraça e o
sofrimento de milhões. A intenção é adaptar o comportamento externo dos indivíduos
às exigências da chamada convivência social
e, mais precisamente, do mercado de
capitais. No plano da psicologia e da psiquiatria, a lógica monetarista aponta
para alimentar a indústria da saúde,
cuja máquina aproveita a produção de milhões de novos doentes a cada ano para
expandir seus lucros.
A teosofia rompe com este círculo vicioso. Ela propõe um enfoque global em que
se pense o conjunto da civilização e o conjunto da vida de cada ser humano.
Cabe produzir saúde e bem-estar a partir do autoconhecimento de cada indivíduo,
nos termos da sabedoria universal presente nas diferentes religiões e
filosofias que ensinam a ética do altruísmo. Esta mudança ocorre inicialmente
em pequena escala e já começou. Surge com ela pouco a pouco uma nova economia.
Todo processo de curar é fundamentalmente uma autocura, e as terapias legítimas
estimulam a autonomia e a autorrecuperação de cada ser. A visão teosófica apoia mais a justiça social
sistêmica do que a esmola isolada. Ela aplaude a preservação do meio ambiente e
não tanto as medidas de mera regulamentação da destruição ambiental.
Ela propõe a homeopatia e outras formas suaves e preventivas de
medicina, e não tanto a medicina agressiva. A teosofia original promove os
hábitos saudáveis de vida. Ela busca
estimular o plantio do que é saudável e o contato de cada um com a sua própria consciência
interior, e guarda certa distância das formas mais agressivas de psicoterapia,
geradoras de dependência química e emocional.
Evitar o erro e plantar o correto é mais eficaz do que tratar de limitar o errado depois que ele já é uma
dinâmica estabelecida. Embora as duas coisas sejam úteis, é recomendável saber
onde está a maior eficácia. Uma dose de
realismo permite que vivamos com a humildade necessária para enxergar a verdade
e conhecer a nós próprios.
Para Paulo Freire, Somos Todos Iniciados
O ser humano é um ser em construção. Ele já se iniciou, e ainda é
incompleto. Somos todos iniciados, e precisamos prosseguir nossa aprendizagem.
A lei da reencarnação nos permite caminhar para a plenitude em nosso
ritmo natural: o tempo eterno está à nossa disposição. Sabendo disso, vivemos
melhor aqui e agora e aproveitamos bem o momento presente. O educador Paulo
Freire, cuja proposta pedagógica é teosoficamente correta, escreveu:
“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser inacabado, mas,
consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.” [2]
Assim como nós, os maiores sábios da nossa humanidade são seres em
construção. Os Mestres de Sabedoria aprendem. A mudança cíclica é uma lei do universo,
e nenhum ser está fora ou acima da lei. A expansão da consciência ocorre sem
cessar em todos os pontos e aspectos do espaço-tempo infinito, expressando
sempre a lei do carma e da harmonização constante.
NOTAS:
[1] Veja, por
exemplo, o livro “Eu Estou OK, Você Está OK”, também publicado sob o título de
“As Relações do Bem-Estar Pessoal”. Seu autor é Thomas A. Harris. Outros volumes
interessantes são “Pais OK, Filhos OK”, de Dorothy Babcock e Terry D. Keepers,
e “O Fantástico Mundo da Análise Transacional”, de Gilbert Garibal.
[2] “Pedagogia da
Autonomia”, Paulo Freire, Ed. Paz e Terra, várias edições, Cap. 2, item 2.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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