Localizando as Fontes da Confiança na Vida
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
No
segundo parágrafo da sua Declaração de Independência de 1776, Benjamin
Franklin, Thomas Jefferson e outros membros do Congresso norte-americano mencionam
algumas “verdades autoevidentes”.
A
primeira delas é que todos os homens nascem iguais. E, desde um ponto de vista
teosófico, cabe explicar: “iguais perante a Lei do Carma”.
A
segunda verdade autoevidente é que todos os homens têm alguns direitos
inalienáveis: entre eles o direito à
vida, à liberdade, e à busca da felicidade.
Destes
“direitos”, o terceiro é essencial para a filosofia teosófica, porque se refere
ao melhor uso possível das duas condições anteriores, a Vida e a Liberdade.
Basta
observar os acontecimentos ao nosso redor para perceber que a Busca da
Felicidade está presente em todas as formas de vida. Esta meta não é uma
exclusividade do ser humano. Plotino, o
neoplatônico, escreveu que as plantas buscam a felicidade. É fácil compreender que todos os animais
compartilham a meta. Sabendo desse fato, os budistas costumam desejar “paz a
todos os seres”. O desafio específico a ser enfrentado pelo cidadão moderno é
como encontrar individualmente uma felicidade interior durável; e de que modo alcançar
uma “paz incondicional”, que não pode ser facilmente perturbada por
acontecimentos externos.
A
vida ensina que a jornada desde o medo para a felicidade não é fácil, e não é
curta. Ela exige coragem. Talvez tenhamos que perguntar-nos: de que temos medo,
exatamente? E por que motivo um sentimento de insegurança emerge uma e outra
vez em nossas emoções?
As
fontes externas de medo só podem
entrar em ação na medida em que fontes
internas deste sentimento entram em ressonância com elas. Sem uma
contrapartida subjetiva, nenhuma ameaça externa e objetiva ou situação difícil
pode provocar desconforto psicológico.
Em
outras palavras, nosso “eu inferior” nunca tem medo de algo puramente
externo. Ele teme ao mesmo tempo algum
impulso interno, algum sentimento ou situação que põe em risco “desde o
interior” o seu sentido de segurança e continuidade.
A
existência de medo está relacionada aos desejos pessoais e à dependência
emocional em relação a coisas, lugares ou pessoas. Temos instintivamente medo
de qualquer coisa que ameace nossas esperanças e expectativas; e estas
esperanças podem ser subconscientes.
Se
adotarmos como premissas noções pouco realistas, como a ideia de que
“nunca envelheceremos” ou de que “nunca
morreremos”, o medo surgirá.
Se
suprimirmos algum medo específico nas camadas voluntárias da nossa mente, o
receio se tornará subconsciente, sem deixar de existir. Ele pode ressurgir mais
tarde, sob outras formas. A raiva frequentemente funciona como um disfarce para
o medo.
Depois
de um processo de preparação subconsciente, o estudante de filosofia se torna
capaz de confrontar o seu medo central - sempre uma forma de ignorância - e
libertar-se dele. O que vale para o sentimento
de insegurança vale também para outras emoções negativas.
Parece
haver um “eixo simétrico”, uma “linha de equilíbrio” entre as fontes internas e
externas de ansiedade, bem-estar, autoconfiança e outras sensações
psicológicas.
Os estados individuais de
consciência acontecem em paralelo com as circunstâncias externas, e são
relativamente independentes delas.
Alguém pode estar internamente feliz enquanto enfrenta uma situação
externamente difícil. Pode sentir tristeza e desânimo enquanto no mundo
objetivo tudo parece OK. O bem-estar
interno depende da presença maior ou menor do eu superior nos acontecimentos da
vida. Não pode haver medo psicológico na presença de Atma e Buddhi, os
princípios superiores da consciência. Tudo é bom e belo enquanto a alma imortal
está diretamente engajada em nossa atividade. Quando o foco da consciência se
estabelece no templo do nosso ser espiritual, os apegos desaparecem e podemos
ter uma completa confiança na Vida. Isso produz o autoesquecimento da
bem-aventurança.
A ausência de egoísmo é a roupagem externa de um novo centro da consciência: a percepção
interior da nossa verdadeira identidade. “Esquecemos” do nosso ser estreito e
pequeno porque enxergamos o verdadeiro eu. Uma lei geral na
Natureza estabelece que todos os seres deixam
de lado as formas pequenas de bem-estar, cada vez que alcançam uma felicidade grande e durável. Na transição, o eu inferior pode ainda sofrer,
mas o principal foco de consciência já não estará limitado à dor pessoal nem
será enganado por ela.
Como Damos Significados à Vida
Em nossas vidas diárias, o
mundo interno e o mundo externo trocam “mensagens” e energias o tempo todo.
É o modo como você conecta os
fatores internos e externos em sua consciência que faz a diferença. A maneira
como você atribui significado a fatos ou objetos, no contexto da sua “visão da
vida”, faz de você uma pessoa mais feliz ou menos feliz no processo da
encarnação atual. Antahkarana é a ponte
metafórica entre consciência celeste e consciência terrestre. É uma
versão individualizada da escada de Jacó (Gênesis 28: 11-13), e ocupa um lugar
central na caminhada para a sabedoria e o contentamento.
A voz interior, que não necessita de palavras, é a voz do silêncio, e ela fala em nossa consciência através de
Antahkarana.
Ouvir este som sem som produz
uma felicidade que nada pode tirar de nós. Então um contentamento incondicional
de longo prazo e uma confiança ilimitada na vida passam a estar conosco para
sempre, mesmo quando enfrentamos obstáculos e dificuldades aparentemente grandes.
000
O
texto acima foi traduzido do artigo “From
Fear to Happiness”, de CCA, e apareceu originalmente na edição de dezembro
de 2006 da publicação “The Aquarian
Theosophist”.
000
Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
000