9 de julho de 2015

Nem Darwin, Nem Igrejas

Ciência Materialista e Dogma Religioso
São Os Dois Lados De Uma Moeda Falsa

Carlos Cardoso Aveline
A ajuda mútua constitui  o grande fator da evolução em todos os reinos da natureza



Todos querem um planeta saudável e uma sociedade justa.

Mais que um mero desejo ou esperança, este é um projeto histórico que vale a pena alimentar.  E é oportuno perguntar-nos o que estamos fazendo a respeito.

Pensar que “nada podemos fazer” seria um pretexto e uma justificativa para não fazer aquilo que está, efetivamente, ao nosso alcance e pode ser feito.  

A vida física segue a vida do pensamento.  A nossa relação com o mundo concreto e visível é sempre uma materialização do que ocorre antes nas mentes.  Só uma espiritualidade planetária e uma filosofia universal podem abrir caminho para  uma sociedade planetária e uma cultura global baseada na fraternidade.  E o caminho está sendo aberto.  

No início do século vinte,  Robert Crosbie escreveu:

“Se queremos uma civilização melhor que a que temos agora,  somos nós que devemos começar agora mesmo a fazê-la.  Mais ninguém a fará para nós. Temos que colocar em movimento as linhas que levam a uma verdadeira civilização, a partir de uma base verdadeira; mas se pensamos que não somos capazes de fazer muita coisa, e não fazemos o que está ao nosso alcance,  é certo que nunca poderemos fazer mais.” [1]  

É um erro projetar sobre os outros o dever ético de tomar uma pequena iniciativa para que as coisas melhorem.  E devemos examinar com calma a seguinte pergunta: “O que deve ser feito?” As possibilidades e as opções são muitas.  O mais importante é construir os alicerces. Um prédio firme necessita alicerces sólidos. Podemos somar-nos mais ativamente aos que estão construindo as bases e premissas de uma sociedade correta. Em que plano da realidade estão os fundamentos de uma civilização?  

As civilizações começam no pensamento. As bases do futuro não são físicas, mas mentais.  O que é que necessita ser mudado exatamente? O que há de errado com a sociedade atual?

A árvore se mede pelos frutos.  A visão Igrejista de mundo - como podemos ver pela história dos últimos 15 séculos - contraria o ideal do Jesus do Novo Testamento e  produz guerras, injustiça, intolerância, acabando por legitimar um materialismo inconfessado.    

Por outro lado, a visão darwinista da vida encerra um longo ciclo histórico de injustiça social com um materialismo consumista baseado na ideia da competição pura e simples. 

O darwinismo  compete com o Igrejismo para dar a base filosófica da já velha civilização materialista,  e busca legitimar-se com base na ideia “científica” da competição.  Porém,  para afirmar-se,  o darwinismo necessita  ignorar uma verdade inconveniente. O fato incômodo  é que a ajuda mútua constitui  o grande fator da evolução em todos os reinos da natureza. A competição é um fator menor e complementar. Como demonstrou Piotr Kropotkin, a regra geral é o apoio mútuo e a complementaridade entre os indivíduos e entre as espécies. [2]

No plano social, uma civilização mais conscientemente solidária começa a emergir de uma filosofia e de uma visão de mundo universais. 

A filosofia teosófica não supera apenas os dogmas irracionais impostos pelas Igrejas.  Ela resgata parte do pensamento de Kropotkin a respeito da evolução humana, e faz isso  a partir  de uma proposta abrangente da vida no planeta e no cosmo. 

A teosofia supera a visão fragmentária do darwinismo,  e ensina a lei da fraternidade entre todos os seres. Esta lei é uma consequência da lei do carma.  

A vida entre irmãos nem sempre é fácil. Isso não nega o fato da fraternidade, nem elimina o fato de que a solidariedade é a regra. A competição -  quando deixa de ser um fator secundário e passa a ser visto como principal - leva à destruição mútua.  A cooperação renova a vida a cada dia e abre as portas para civilização do futuro.  
  
NOTAS:

[1] “A Book of Quotations”, de Robert Crosbie, Theosophy Co., Mumbai, Índia, 107 pp., ver pp. 61-62.  O livro está disponível em nossos websites associados.

[2] Leia-se por exemplo a obra “El Apoyo Mutuo”, de Piotr Kropotkin, Editorial Proyección, Buenos Aires, 1970, 328 pp.  Edição em inglês, “Mutual Aid, a Factor of Evolution”, Peter Kropotkin, Dover Publications Inc., New York, 2006, 312 pp. O pensamento de Kropotkin, príncipe russo e anarquista não-violento, tem pontos em comum com a teosofia no que tange à evolução das espécies.

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Veja os textos “Meditação pelo Despertar Planetário” e “O Centro do Círculo de Pascal”, que estão disponíveis em  nossos websites associados.

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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília. 

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