Ciência
Materialista e Dogma Religioso
São
Os Dois Lados De Uma Moeda Falsa
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

Todos querem um planeta saudável e uma sociedade
justa.
Mais que um mero
desejo ou esperança, este é um projeto histórico que vale a pena
alimentar. E é oportuno perguntar-nos o que estamos fazendo a
respeito.
Pensar que “nada
podemos fazer” seria um pretexto e uma justificativa para não fazer
aquilo que está, efetivamente, ao nosso alcance e pode ser
feito.
A vida física
segue a vida do pensamento. A nossa relação com o mundo concreto e
visível é sempre uma materialização do que ocorre antes nas mentes. Só
uma espiritualidade planetária e uma filosofia universal podem abrir
caminho para uma sociedade planetária e uma cultura global baseada na
fraternidade. E o caminho está sendo aberto.
No início do
século vinte, Robert Crosbie escreveu:
“Se queremos uma
civilização melhor que a que temos agora, somos nós que devemos
começar agora mesmo a fazê-la. Mais ninguém a fará para nós. Temos
que colocar em movimento as linhas que levam a uma verdadeira civilização, a
partir de uma base verdadeira; mas se pensamos que não somos capazes de fazer
muita coisa, e não fazemos o que está ao nosso alcance, é certo que nunca
poderemos fazer mais.” [1]
É um
erro projetar sobre os outros o dever ético de tomar uma pequena
iniciativa para que as coisas melhorem. E devemos examinar com calma
a seguinte pergunta: “O que deve ser feito?” As possibilidades e as opções são
muitas. O mais importante é construir os alicerces. Um prédio firme
necessita alicerces sólidos. Podemos somar-nos mais ativamente aos
que estão construindo as bases e premissas de uma sociedade
correta. Em que plano da realidade estão os fundamentos de uma
civilização?
As civilizações
começam no pensamento. As bases do futuro não são físicas, mas
mentais. O que é que necessita ser mudado exatamente? O que há de errado
com a sociedade atual?
A árvore se mede
pelos frutos. A visão Igrejista de mundo - como podemos ver
pela história dos últimos 15 séculos - contraria o ideal do Jesus do Novo
Testamento e produz guerras,
injustiça, intolerância, acabando por legitimar um materialismo
inconfessado.
Por outro lado, a
visão darwinista da vida encerra um longo ciclo histórico de injustiça
social com um materialismo consumista baseado na ideia da competição pura e
simples.
O darwinismo
compete com o Igrejismo para dar a base filosófica da já velha civilização
materialista, e busca legitimar-se
com base na ideia “científica” da competição. Porém, para afirmar-se, o darwinismo necessita ignorar uma
verdade inconveniente. O fato incômodo é que a ajuda mútua
constitui o grande fator da evolução em todos os reinos da
natureza. A competição é um fator menor e complementar. Como demonstrou
Piotr Kropotkin, a regra geral é o apoio mútuo e a complementaridade entre
os indivíduos e entre as espécies. [2]
No plano social,
uma civilização mais conscientemente solidária começa a emergir de uma
filosofia e de uma visão de mundo universais.
A filosofia
teosófica não supera apenas os dogmas irracionais impostos pelas
Igrejas. Ela resgata parte do pensamento de Kropotkin a
respeito da evolução humana, e faz isso a partir de uma proposta
abrangente da vida no planeta e no cosmo.
A teosofia supera
a visão fragmentária do darwinismo, e ensina a lei da fraternidade entre
todos os seres. Esta lei é uma consequência da lei do carma.
A vida entre
irmãos nem sempre é fácil. Isso não nega o fato da fraternidade, nem elimina o
fato de que a solidariedade é a regra. A competição - quando deixa
de ser um fator secundário e passa a ser visto como principal - leva à
destruição mútua. A cooperação renova a vida a cada dia e abre as portas
para civilização do futuro.
NOTAS:
[1] “A Book of Quotations”, de Robert Crosbie, Theosophy Co., Mumbai, Índia,
107 pp., ver pp. 61-62. O livro está disponível em nossos websites associados.
[2] Leia-se por exemplo a obra “El Apoyo Mutuo”,
de Piotr Kropotkin, Editorial Proyección, Buenos Aires, 1970, 328 pp. Edição em inglês, “Mutual Aid, a
Factor of Evolution”, Peter Kropotkin, Dover Publications Inc., New York, 2006,
312 pp. O pensamento
de Kropotkin, príncipe russo e anarquista não-violento, tem pontos em
comum com a teosofia no que tange à evolução das espécies.
000
Veja os textos “Meditação pelo Despertar Planetário” e “O Centro do Círculo de Pascal”, que estão disponíveis em nossos websites associados.
000
Para conhecer a teosofia original desde o
ângulo da vivência direta, leia o livro “Três
Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.

Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi
publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.
000