Nos Últimos 25 Séculos, Não Há
Nada Comparável aos Livros de HPB
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Helena Blavatsky em seu
escritório de Londres, em 1887
Um duplo fenômeno editorial chama a atenção
de quem observa a trajetória da literatura esotérica entre a década de 1950 e a
primeira parte do século 21.
De um lado, os
livros de Annie Besant e C.W. Leadbeater, antes best-sellers, têm sido
abandonados por leitores e editores devido à superficialidade dos seus conteúdos
e aos seus numerosos erros, que o tempo tornou óbvios.
De outro lado, as
obras de Helena P. Blavatsky (1831-1891) ganham novas edições em diferentes
idiomas, e os ensinamentos dela atraem cada dia mais estudantes e novos
pesquisadores.
Para compreender a
estatura histórica de HPB, deve-se olhar a evolução humana como um todo. O uso
da escrita generalizou-se gradualmente, começando cerca de 2.500 anos atrás.
Desde então poucos pensadores de qualquer nação ou área de conhecimento tiveram,
mais de um século depois de sua morte, as suas obras ainda publicadas em
dezenas de volumes e em vários idiomas ao redor do mundo. HPB está entre
eles.
Mas qual é o
perfil da sua obra?
Na bibliografia
teosófica, o grande empreendimento editorial do século vinte foi realizado por
Boris de Zirkoff. Trata-se da coleção de 15 volumes dos “Collected Writings”,
os “Escritos Reunidos” de H.P.B. em inglês. Ali estão os seus textos curtos, e a
sua publicação foi completada já na década de 1990.
Além dos
“Collected Writings”, temos as obras mais famosas de HPB, “A Doutrina
Secreta” e “Ísis Sem Véu”. Os leitores são convidados a
estudar também “A Voz do Silêncio”, “A Chave Para a Teosofia”, “Letters of H. P.
B. to A.P. Sinnett” (“Cartas de H.P.B. para A.P. Sinnett”), “The Inner Group
Teachings” (“Ensinamentos ao Grupo Interno de Londres”), “From the Caves and
Jungles of Hindustan” (“Das Cavernas e
Florestas do Hindustão”), “Transactions of the Blavatsky Lodge” (“Atas da Loja
Blavatsky”), “The Secret Doctrine Dialogues” [1], “The Esoteric Character of the Gospels” (uma compilação) e outras
obras.
Escritos espúrios
são atribuídos a um certo número de grandes autores clássicos, e Helena
Blavatsky está entre eles. O plágio e a distorção também ameaçam as obras de
autores contemporâneos. Assim como temos um pseudo-Platão, também existem
cartas atribuídas a HPB que nunca foram escritas por ela e cujo conteúdo a
ataca de modo especialmente covarde. O
falso volume de “cartas de HPB” editado em inglês em dezembro de 2003 por John
Algeo é um exemplo destacado deste tipo de política editorial, e não deve ser
incluído na lista de obras de HPB. A coleção em dois volumes intitulada “HPB
Speaks”, que o Sr. C. Jinarajadasa ingenuamente compilou, pertence à mesma
categoria de literatura falsa. Uma versão de “A Doutrina Secreta”, adulterada
por Annie Besant na década de 1890, já foi abandonada em língua inglesa, mas
ainda circula em português e outros idiomas. [2]
Seguindo o
critério de afinidade de conteúdo e pontos de vista, devemos colocar ao lado da
vasta obra escrita de H.P.B. e no primeiro plano da literatura teosófica as
“Cartas dos Mahatmas” (editadas por Trevor Barker), as “Cartas dos Mestres de
Sabedoria” (editadas por C. Jinarajadasa), assim como as obras “Luz no Caminho”,
“The Dream of Ravan”, e outros livros clássicos.
Os livros e
escritos de Robert Crosbie, John Garrigues, William Q. Judge, B. P. Wadia,
Subba Row, Damodar Mavalankar, Geoffrey Barborka, Geoffrey Farthing, e Eliphas
Levi, entre outros, constituem uma valiosa literatura de apoio.
Com este material,
do qual apenas uma pequena parte já está disponível em português, temos hoje
uma literatura ou um cânone filosófico sem igual em extensão e em
profundidade. Um tal conjunto de
ensinamentos não tem paralelo no âmbito do movimento esotérico. É também único na literatura mundial dos últimos 2500
anos. Não há de fato, na literatura humana, um corpo de ensinamentos nem
remotamente parecido.
Outras grandes obras
de sabedoria imortal, bem conhecidas por seu caráter abrangente, são:
* A Torá e o
Talmude judaico;
* As grandes obras
indianas (entre elas, os Vedas);
* Os ensinamentos
de Confúcio e do Taoismo da China antiga;
* O vasto cânone
budista, o Tripitaka, que possui mais de uma versão; e
* Os escritos de
Platão, o pitagórico de 23 séculos atrás.
Mas só a obra de HPB,
escrita em estreita cooperação com os Raja-Iogues dos Himalaias, nos dá uma
chave universal que permite abrir todas as portas da Torre de Babel do conhecimento humano. E HPB o faz em uma linguagem relativamente
acessível ao público moderno.
A tendência
bibliográfica no movimento teosófico tem sido indiscutível, e por bons motivos,
portanto.
Os escritos do
ensinamento original têm tido o seu valor reconhecido à medida que passa o
tempo, enquanto as obras da fase pseudoteosófica (1900-1935) caem no
esquecimento, assim como outras obras superficiais mais recentes. Cabe esperar
que esta tendência natural irá prosseguir. Nas próximas décadas e séculos, a
literatura teosófica autêntica deve chegar a mais idiomas e mais países,
influenciando novas gerações de autores.
Os autores que
produziram uma versão adulterada do ensinamento criaram o tabu segundo o qual
“é impossível ler HPB”. De acordo com este mito, a obra dela seria “excessivamente
difícil”. Assim, apresentaram a sua
própria versão falsificada e açucarada de teosofia como se fosse algo
equivalente à obra de H.P.B.
É necessário, por
isso, examinar de frente a questão: até que ponto a leitura de HPB é “demasiado
difícil”?
Seguramente, a
preguiça mental deve ser deixada de lado quando vamos ler teosofia clássica. Os
textos da filosofia esotérica original não estão dirigidos aos setores mais
opacos do eu inferior.
Eles estão
dedicados a aquela parte da alma humana que quer
ter olhos para ver. A sua leitura desperta novas conexões
cerebrais e estimula um funcionamento mais profundo da inteligência do
estudante. Este é o motivo por que ela parece difícil à primeira vista. Trata-se
da inteligência espiritual ou buddhi-manásica, a nova inteligência planetária e
universal, a inteligência que permite o verdadeiro autoconhecimento.
Esta percepção da
vida é a marca pioneira das civilizações do futuro. Ela caracteriza os pioneiros de uma
mentalidade universal que é chamada, em filosofia esotérica, de “sexta sub-raça
da quinta raça-raiz da humanidade”.
Neste termo técnico, a palavra “raça” não se refere a características
físicas, mas sim a uma estrutura psicoespiritual que surge simultaneamente em
indivíduos de todos os povos, raças físicas, castas e classes sociais, e que
emerge através do sentimento da fraternidade essencial entre todos os seres.
Deste modo são vencidas pragas sociais como racismo, nazismo, antissemitismo e destruição
do meio ambiente.
O despertar desta
nova inteligência é gradual. Ele pode ser vivido mais diretamente por aqueles
que vencem a preguiça no plano dos sentimentos e dos pensamentos. Os pioneiros
tomam a decisão de trilhar firmemente o Caminho do autoconhecimento,
enquanto reúnem os elementos da verdade universal espalhados pelas diferentes tradições culturais,
religiosas e filosóficas.
Em seus textos, HPB
se refere a cada página a muitas obras, realidades e épocas distintas. Toda atenção é necessária ao ler o que ela
escreveu. Dicionários e uma enciclopédia podem ser indispensáveis. Avançando
devagar, aprende-se mais. Em compensação pelo esforço, o estudante é levado a
compartilhar sem intermediários a visão intelectual e intuitiva dos Iniciados e
dos Raja-Iogues.
Para tais sábios,
a evolução humana é como uma única página aberta do livro da vida, um panorama
abrangente que corresponde a um momento da evolução maior do universo e do
planeta. A “biografia” ou história de vida do cosmo é compreendida pelo estudante ao mesmo
tempo que ele alcança o conhecimento do
seu próprio e verdadeiro eu.
NOTAS:
[1] Este
volume de 722 pp., publicado em 2014 pela Theosophy Co., de Los Angeles, é uma
versão ampliada de “Transactions of the
Blavatsky Lodge” e apresenta a transcrição literal dos diálogos entre HPB e os
seus alunos em Londres. A mesma compilação foi publicada em 2010 na Europa sob o
título de “The Secret Doctrine Commentaries”.
[2]
Sobre falsificações editoriais na literatura teosófica, veja os livros “The
Fire and Light of Theosophical Literature”, Carlos Cardoso Aveline, The
Aquarian Theosophist, Portugal, 255 pp., 2013, e “H. P. Blavatsky - a Great
Betrayal”, Alice Leighton Cleather, Thacker, Spink & Co., Calcutta, India, 96
pp., 1922. A tradução ao português da
edição original de “A Doutrina Secreta” começou alguns anos atrás. Ela está
sendo publicada gradualmente, e a parte já traduzida pode ser encontrada em
nossos websites associados.
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Uma versão inicial do texto acima foi
publicada sem indicação do nome de autor em “O Teosofista”, edição de junho de 2008.
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Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a obra
clássica “Luz no Caminho”, de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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