8 de julho de 2015

Helena Blavatsky e a Literatura Mundial

Nos Últimos 25 Séculos, Não Há
Nada Comparável aos Livros de HPB

Carlos Cardoso Aveline

Helena Blavatsky em seu escritório de Londres, em 1887



Um duplo fenômeno editorial chama a atenção de quem observa a trajetória da literatura esotérica entre a década de 1950 e a primeira parte do século 21.  

De um lado, os livros de Annie Besant e C.W. Leadbeater, antes best-sellers, têm sido abandonados por leitores e editores devido à superficialidade dos seus conteúdos e aos seus numerosos erros, que o tempo tornou óbvios. 

De outro lado, as obras de Helena P. Blavatsky (1831-1891) ganham novas edições em diferentes idiomas, e os ensinamentos dela atraem cada dia mais estudantes e novos pesquisadores.

Para compreender a estatura histórica de HPB, deve-se olhar a evolução humana como um todo. O uso da escrita generalizou-se gradualmente, começando cerca de 2.500 anos atrás. Desde então poucos pensadores de qualquer nação ou área de conhecimento tiveram, mais de um século depois de sua morte, as suas obras ainda publicadas em dezenas de volumes e em vários idiomas ao redor do mundo. HPB está entre eles. 

Mas qual é o perfil da sua obra?  

Na bibliografia teosófica, o grande empreendimento editorial do século vinte foi realizado por Boris de Zirkoff. Trata-se da coleção de 15 volumes dos “Collected Writings”, os “Escritos Reunidos” de H.P.B. em inglês. Ali estão os seus textos curtos, e a sua publicação foi completada já na década de 1990.

Além dos “Collected Writings”, temos as obras mais famosas de HPB, “A Doutrina Secreta”  e  “Ísis Sem Véu”. Os leitores são convidados a estudar também “A Voz do Silêncio”, “A Chave Para a Teosofia”, “Letters of H. P. B. to A.P. Sinnett” (“Cartas de H.P.B. para A.P. Sinnett”), “The Inner Group Teachings” (“Ensinamentos ao Grupo Interno de Londres”), “From the Caves and Jungles  of Hindustan” (“Das Cavernas e Florestas do Hindustão”), “Transactions of the Blavatsky Lodge” (“Atas da Loja Blavatsky”),  “The Secret  Doctrine Dialogues” [1], “The Esoteric Character of the Gospels” (uma compilação) e outras obras.  

Escritos espúrios são atribuídos a um certo número de grandes autores clássicos, e Helena Blavatsky está entre eles. O plágio e a distorção também ameaçam as obras de autores contemporâneos. Assim como temos um pseudo-Platão, também existem cartas atribuídas a HPB que nunca foram escritas por ela e cujo conteúdo a ataca de modo especialmente covarde.  O falso volume de “cartas de HPB” editado em inglês em dezembro de 2003 por John Algeo é um exemplo destacado deste tipo de política editorial, e não deve ser incluído na lista de obras de HPB. A coleção em dois volumes intitulada “HPB Speaks”, que o Sr. C. Jinarajadasa ingenuamente compilou, pertence à mesma categoria de literatura falsa. Uma versão de “A Doutrina Secreta”, adulterada por Annie Besant na década de 1890, já foi abandonada em língua inglesa, mas ainda circula em português e outros idiomas. [2] 

Seguindo o critério de afinidade de conteúdo e pontos de vista, devemos colocar ao lado da vasta obra escrita de H.P.B. e no primeiro plano da literatura teosófica as “Cartas dos Mahatmas” (editadas por Trevor Barker), as “Cartas dos Mestres de Sabedoria” (editadas por C. Jinarajadasa), assim como as obras “Luz no Caminho”, “The Dream of Ravan”, e outros livros clássicos.     

Os livros e escritos de Robert Crosbie, John Garrigues, William Q. Judge, B. P. Wadia, Subba Row, Damodar Mavalankar, Geoffrey Barborka, Geoffrey Farthing, e Eliphas Levi, entre outros, constituem uma valiosa literatura de apoio. 

Com este material, do qual apenas uma pequena parte já está disponível em português, temos hoje uma literatura ou um cânone  filosófico sem igual em extensão e em profundidade.  Um tal conjunto de ensinamentos não tem paralelo no âmbito do movimento esotérico. É também  único na literatura mundial dos últimos 2500 anos. Não há de fato, na literatura humana, um corpo de ensinamentos nem remotamente parecido. 

Outras grandes obras de sabedoria imortal, bem conhecidas por seu caráter abrangente, são:

* A Torá e o Talmude judaico;

* As grandes obras indianas (entre elas, os Vedas);

* Os ensinamentos de Confúcio e do Taoismo da China antiga;

* O vasto cânone budista, o Tripitaka, que possui mais de uma versão; e  

* Os escritos de Platão, o pitagórico de 23 séculos atrás.

Mas só a obra de HPB, escrita em estreita cooperação com os Raja-Iogues dos Himalaias, nos dá uma chave universal que permite abrir todas as portas da Torre de Babel do conhecimento humano.  E HPB o faz em uma linguagem relativamente acessível ao público moderno.

A tendência bibliográfica no movimento teosófico tem sido indiscutível, e por bons motivos, portanto. 

Os escritos do ensinamento original têm tido o seu valor reconhecido à medida que passa o tempo, enquanto as obras da fase pseudoteosófica (1900-1935) caem no esquecimento, assim como outras obras superficiais mais recentes. Cabe esperar que esta tendência natural irá prosseguir. Nas próximas décadas e séculos, a literatura teosófica autêntica deve chegar a mais idiomas e mais países, influenciando novas gerações de autores.  

Os autores que produziram uma versão adulterada do ensinamento criaram o tabu segundo o qual “é impossível ler HPB”. De acordo com este mito, a obra dela seria “excessivamente difícil”.  Assim, apresentaram a sua própria versão falsificada e açucarada de teosofia como se fosse algo equivalente à obra de H.P.B.

É necessário, por isso, examinar de frente a questão: até que ponto a leitura de HPB é “demasiado difícil”?

Seguramente, a preguiça mental deve ser deixada de lado quando vamos ler teosofia clássica. Os textos da filosofia esotérica original não estão dirigidos aos setores mais opacos do eu inferior.

Eles estão dedicados a aquela parte da alma humana que quer ter olhos para ver.  A sua leitura desperta novas conexões cerebrais e estimula um funcionamento mais profundo da inteligência do estudante. Este é o motivo por que ela parece difícil à primeira vista. Trata-se da inteligência espiritual ou buddhi-manásica, a nova inteligência planetária e universal, a inteligência que permite o verdadeiro autoconhecimento.

Esta percepção da vida é a marca pioneira das civilizações do futuro.  Ela caracteriza os pioneiros de uma mentalidade universal que é chamada, em filosofia esotérica, de “sexta sub-raça da quinta raça-raiz da humanidade”.  Neste termo técnico, a palavra “raça” não se refere a características físicas, mas sim a uma estrutura psicoespiritual que surge simultaneamente em indivíduos de todos os povos, raças físicas, castas e classes sociais, e que emerge através do sentimento da fraternidade essencial entre todos os seres. Deste modo são vencidas pragas sociais como racismo, nazismo, antissemitismo e destruição do meio ambiente.  

O despertar desta nova inteligência é gradual. Ele pode ser vivido mais diretamente por aqueles que vencem a preguiça no plano dos sentimentos e dos pensamentos. Os pioneiros tomam a decisão de trilhar firmemente o Caminho do autoconhecimento, enquanto  reúnem os elementos  da verdade universal espalhados  pelas diferentes tradições culturais, religiosas e filosóficas.  

Em seus textos, HPB se refere a cada página a muitas obras, realidades e épocas distintas.  Toda atenção é necessária ao ler o que ela escreveu. Dicionários e uma enciclopédia podem ser indispensáveis. Avançando devagar, aprende-se mais. Em compensação pelo esforço, o estudante é levado a compartilhar sem intermediários a visão intelectual e intuitiva dos Iniciados e dos Raja-Iogues.

Para tais sábios, a evolução humana é como uma única página aberta do livro da vida, um panorama abrangente que corresponde a um momento da evolução maior do universo e do planeta. A “biografia” ou história de vida do cosmo é  compreendida pelo estudante ao mesmo tempo  que ele alcança o conhecimento do seu próprio e verdadeiro eu.  

NOTAS:

[1] Este volume de 722 pp., publicado em 2014 pela Theosophy Co., de Los Angeles, é uma versão ampliada de  “Transactions of the Blavatsky Lodge” e apresenta a transcrição literal dos diálogos entre HPB e os seus alunos em Londres. A mesma compilação foi publicada em 2010 na Europa sob o título de “The Secret Doctrine Commentaries”.

[2] Sobre falsificações editoriais na literatura teosófica, veja os livros “The Fire and Light of Theosophical Literature”, Carlos Cardoso Aveline, The Aquarian Theosophist, Portugal, 255 pp., 2013, e “H. P. Blavatsky - a Great Betrayal”, Alice Leighton Cleather, Thacker, Spink & Co., Calcutta, India, 96 pp., 1922.  A tradução ao português da edição original de “A Doutrina Secreta” começou alguns anos atrás. Ela está sendo publicada gradualmente, e a parte já traduzida pode ser encontrada em nossos websites associados.

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Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação do nome de autor em “O Teosofista”, edição de junho de 2008.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a obra clássica “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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