Como a Força do Conhecimento
Universal Ilumina o Mundo da Ignorância
John Garrigues
Ao longo do esforço
por praticar e divulgar a teosofia e ter uma vida correta, há momentos em que o
indivíduo enfrenta uma falta de vitalidade interior e um tédio. A luz viva e o
amor universal que antes se irradiavam espontaneamente do nosso coração, e se
dirigiam a todos os seres, parecem perder força, e deixam de aquecer e provocar
satisfação.
É
nesse ponto que temos uma tendência de dirigir nossa atenção para fora,
procurando nas ideias e nos trabalhos de outros por aquilo que já não
encontramos em nossos próprios corações. Como pessoas que se afogam, nos
agarramos às práticas e às formas externas que antes buscávamos; mas nisso permanecemos
divididos, e caímos mais profundamente nos jogos mentais de ideias e frases de
efeito.
Quando
tudo em nosso interior parece frio e sem vida, olhamos para fora, em busca de
luz e ajuda, enquanto a alma fica muda e esquecida dentro de nós. Este é o
momento para pegar as rédeas com firmeza e erguer o nosso olhar outra vez, com
uma motivação firme e pura, para enxergar a profundidade dos nossos corações, e
para sentir com o coração, pensar com o coração, e falar desde o coração. A luz
está nele; o amor divino e a
compaixão estão lá.
Quem
já ouviu alguma vez o sussurro deste prisioneiro solitário em seu coração,
quando ele acorda para a vida, sabe que a ele deve ser dado espaço para que
possa despertar e crescer. Não deve estar imobilizado pelas correntes da mente
pensante e do raciocínio intelectual; ele deve poder falar, ou ficará mudo e
morto ao longo de eras, talvez para sempre.
Caminhe
pelas ruas cheias de gente da cidade e veja a multidão indo para lá e para cá,
todos sobrecarregados pelo peso de mágoas e lutas criadas por eles próprios.
Veja os rostos expressando sofrimento e ansiedade, acabrunhados e sem
esperança, ou os rostos que riem com riso sem alma, cada indivíduo pensando em
suas pequenas intenções e planos pessoais, tendo na melhor das hipóteses alguns
poucos anos de existência pela frente, e suas almas saturadas, sem esperança,
desesperadas, ignorantes do fato de que aquilo que é divino está adormecido tão
perto, dentro delas. Deixe que o divino dentro de você fale a estes seres. Isso é possível, e irá acontecer, se você
deixar de lado seu pequeno eu e aproveitar a oportunidade.
Um
raio de luz e esperança entrará nestes outros fragmentos do divino, voando numa
linha reta desde o seu coração até o coração deles. Esta é a voz do eu superior
que fala por si próprio, e palidamente se transmite até o próprio cérebro
físico deles, sussurrando que em algum lugar há esperança, contentamento,
compaixão; que em algum lugar há uma vida mais ampla, uma vida que não é
limitada pelo tempo que morre, nem pelos medos mortais. Quando o coração fala
deste modo, e vive apenas a solidariedade, não há necessidade de esperar para
sentir a presença da “iluminação” em nosso interior, porque, veja, ela já está
lá.
Como
foi possível que durante a vida de H.P. Blavatsky, onde quer que ela estivesse,
para lá fossem atraídas pessoas às centenas e aos milhares? Era aquele coração
ígneo, vivo, pulsante, que as chamava. Um raio daquele coração atravessou as
profundezas sombrias da ignorância delas, tocando interiormente os adormecidos.
As almas sonolentas agitavam-se e escutavam com atenção, e eram atraídas para
aquele centro de luz e amor.
Ignorando
o que as atraía, incapazes de interpretar os fatos internos exceto no plano
pessoal, muitos (mais da metade, embora nos entristeça admitir isso) perderam a
oportunidade pela qual suas almas haviam esperado durante eras. Mas não foi em
vão que aquela grande luz brilhou no mundo dos seres humanos, porque aqueles
que acordaram, mesmo que apenas por algum tempo, nunca mais voltaram a ser o
que eram. A alma não esquece. Cada coração pode tornar-se um foco para os raios
daquele grande coração universal. Cada coração pode tornar-se um centro vivo de
luz, um canal que faz fluir para todos os humanos a corrente vitalizadora da
verdade.
É
necessário apenas um esforço centrado no coração, decidido, firme, e também a
renúncia incondicional a todos os planos e propósitos pessoais.
Nós
com frequência dizemos, “Ah, eu posso
fazer tão pouco pela teosofia e pela humanidade. Não tenho dinheiro, nem
talentos. Não sei falar em público, não sei escrever para publicações.”
Será difícil ver que estas palavras só expressam um desejo, um desejo de fazer
algo pessoalmente? Não se trata de desenvolver
alguma atividade pessoal. Trata-se, isso sim, de ser; a tarefa é viver como um centro da energia impessoal do
coração puro. Garantido isso, as ações práticas surgirão como resultado
natural.
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O artigo “A Energia da Luz e
da Esperança” foi publicado pela primeira vez de modo anônimo pela revista
“Theosophy”, em dezembro de 1920, pp. 46-47. Ele está disponível em inglês em
nossos websites associados sob o título de “The Energy of Light and Hope”. Em
português, apareceu pela primeira vez na edição de outubro de 2015 de “O Teosofista”.
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Para
acompanhar um diálogo com a sabedoria de vida de grandes pensadores dos últimos
2500 anos, leia o livro “Conversas na
Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.
O livro
foi publicado pela Edifurb, de Blumenau, Santa Catarina. Com 170 páginas
divididas em 28 capítulos, ele foi publicado em 2007.
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