Examinando o Esforço Teosófico
Nas Primeiras Décadas do Século 21
Alguns Teosofistas

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O texto a seguir transcreve partes de um
estudo teosófico ocorrido em março de
2016.
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1. Carlos Cardoso
Aveline
Quero trazer aqui uma exposição breve e um convite às reflexões escritas e
pensadas de vocês. Peço que cada um examine e responda a cinco perguntas:
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1) Posso observar, no Brasil, em Portugal, no Oriente
Médio, nos Estados Unidos, em todo lado, sinais evidentes de decadência ética e
falta de visão de futuro saudável? Estes sinais são perceptíveis nas relações
políticas, sociais e econômicas, assim como na vida cultural?
2) Esta observação é isenta, e não coloco sobre os fatos
qualquer frustração ou impaciência pessoal? Um olhar isento é fundamental.
3) Vejo uma aceleração neste desfazer-se da teia ética
que sustenta sempre toda e qualquer sociedade ou civilização?
4) Consigo identificar, ao lado dos sinais de
decadência, também sinais positivos de renascer e de renovação da vida no que
ela tem de puro, honesto e de belo?
5) Como tenho lidado com este processo num plano
pessoal? Tenho uma estratégia consciente de ação? Ou, alternativamente, quais
poderiam ser alguns elementos para uma estratégia minha eficaz?
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Para ampliar a visão desta “consulta”, trago aqui um breve artigo publicado
no “Teosofista” de julho de 2015:
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Quatro Níveis de Placenta:
Preparando o Parto Planetário
Uma placenta cármica
sutil e a sua “bolsa amniótica” evitam que o nascimento da civilização fraterna
do futuro ocorra antes que todos os elementos necessários estejam prontos para
o acontecimento.
Um dos sinais de que
começa um trabalho de parto é a ruptura da bolsa amniótica e a perda do líquido
que contém a vida na fase da gravidez e garante a sua preservação. Assim como
no plano individual, o nascimento de uma civilização é uma bênção, e um perigo.
Desde as últimas décadas
do século 20, o elemento detonador central do nascimento de uma fase nova do
desenvolvimento humano tem pelo menos quatro aspectos, que são, não
necessariamente nesta ordem:
1) O perigo provocado
pela proliferação nuclear;
2) A crise ambiental,
climática e geológica;
3) O processo
socioeconômico e financeiro;
4) A consciência
ética-espiritual e o despertar da boa vontade em escala planetária.
O ponto de ruptura que
inviabiliza a continuação do egoísmo e da hipocrisia como princípios da
organização social é um, e é múltiplo, ao mesmo tempo. Os seus quatro aspectos
principais se aceleram de modo interligado.
O aspecto
interdependente desta aceleração, no entanto, está abaixo da superfície dos
acontecimentos visíveis.
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Até aqui, o texto sobre os quatro níveis de placenta.
Aguardo comentários. O mais importante é que cada um ouça o seu próprio
coração. Nossa responsabilidade é maior do que parece, e não por acaso um dos
nossos lemas é “melhorando sempre”. O
Carma exige isso.
2. Carlos Pasinato
Agradeço por este estudo ser uma excelente oportunidade para tecer considerações
a respeito do que vejo e sinto em relação ao movimento e à humanidade.
1) De fato, a falta de ética se apresenta cada vez mais forte por todos os
lados da civilização atual e de maneira abrupta promove a decadência de
governos, instituições e povos. Sendo assim, os frutos colhidos não estão
corretamente alinhados com o que é ético. A cultura, assim como qualquer
expressão do “Homem sem ética”, está à deriva num mar de desejos, egos e sentimentos
mesquinhos, até sensuais (é lógico que não podemos generalizar).
2) Com o incessante exercício de autoesquecimento e anulação dos sentimentos
pessoais obtemos um olhar “maior” sobre a vida e conseguimos ver acima das
opiniões e ações com base em interesses pessoais ou de grupos que não sejam a
favor da evolução humana. A visão se aperfeiçoa quando nos aliamos ao objetivo
fraternal, altruísta e de respeito para com o ser humano e suas relações
consigo mesmo e com sua moradia, o planeta, o universo. O máximo de anulação do
ego traz um olhar mais isento.
3) É notável a ruptura da teia ética que ainda sustenta parte das relações na
civilização.
4) Durante a decadência total e absoluta da civilização, alguns indivíduos ou
mesmo grupos se movem no sentido contrário, a expor os erros e propor o sentido
correto. Sempre houve muitos sábios e aqueles que de alguma forma despertaram
para a realidade.
5) Neste cenário de “caos” na sociedade pretendo continuar em adquirir
conhecimento, no esforço de autoaperfeiçoamento em busca da paz-ciência. Somente
neste caminho podemos exercer um domínio “mais correto” de nossas ações.
Em minhas considerações pessoais, pelo estudo e conhecimento, mesmo que
ainda saiba pouco do esoterismo e sobre a teoria das raças, e por um sentido
interno, creio que a nossa civilização atual e a civilização de milênios atrás
são idênticas quanto ao seu problema de ética. Isso não é um problema novo.
Vejo que nos dias atuais a decadência é muito mais forte, em relação a
dezenas de séculos atrás, devido aos desejos, egoísmo, inveja, exacerbados pela
própria cultura de consumo cada vez mais atuante, o que acaba por promover e alimentar
as partes menos nobres do ser humano.
A Teosofia é colocada como a ciência-religião-filosofia do futuro. O avanço
correto da ciência se dará conforme o avanço do aperfeiçoamento do homem, pois
as leis que operam no universo serão compreendidas e as tecnologias serão
melhor alinhadas em benefício da humanidade. Hoje vemos que a tecnologia atual
é usada para fins funestos e mais, acirrando as competições de consumo. E a “moeda”,
como meio de conseguir realizar os sonhos, desestabiliza ainda mais o homem.
Por outro lado, esta mesma tecnologia é usada por setores da humanidade
como ferramenta para a disseminação da ação correta e para a reflexão interna
daqueles que de certa forma despertam para uma realidade superior. Hoje vemos
um mutirão para promover a paz, a ecologia, a sustentabilidade, a igualdade, o
crescimento da humanidade como uma fraternidade.
No meu entendimento, tudo vai piorar até um ponto praticamente
insustentável em que de certa forma se poderá desencadear uma reação planetária
à altura. O ser humano terá de exercer todo seu lado desequilibrado até que
morra nele mesmo a sua decadência, adubando o que nascerá no futuro. A dor e
sofrimento, assim como a ganância e o egoísmo serão vividos ao extremo até que
o homem decida retirá-los definitivamente de si mesmo.
Hoje o ser humano não busca a reflexão, ele opta pelo pronto. As dores e
sofrimentos são parte de sua vida e ele já está acostumado.
Mesmo pessoas que buscam a espiritualidade têm uma dificuldade e quase
nenhum interesse por algo que exija reflexão, raciocínio, desapego.
Acredito que na América do Sul e no caso do Brasil, a busca pela sabedoria-filosofia
acontece para poucos simplesmente por não ser cultivada a educação que leva a uma
reflexão. No entanto a aceitação da pseudoteosofia e suas manifestações “fantásticas”
é alta.
As relações estão tão corrompidas de uma forma geral, que quando alguém age
de maneira altruísta, de forma correta e buscando o aperfeiçoamento das relações
dentro de um grupo, isso é “algo” que pode incomodar. Neste contexto, a
aplicação do conteúdo do texto “A Eficiência no Trabalho em Grupo” [1] se encaixa para auxiliar o
trabalhador que se propõe a viver o correto e generoso. Tão bem auxilia neste
caso quanto dá orientação em várias situações envolvendo o “relacionar-se”.
A minha impressão quando compreendi melhor a Teosofia foi que seria mais
fácil disseminar seu conteúdo mais potente e transformador para outras pessoas.
Engano meu. Não gosto de ser pessimista, mas agora compreendo bem o fato de que
as ações e ensinamentos corretos dos mestres, dos teosofistas e HPB, são um
ponto a ser alcançado pela humanidade. De certa forma a humanidade terá de se
elevar para buscar a teosofia, a Teosofia não necessariamente terá de “descer”
para salvar a humanidade.
Que busquemos ser melhores para ajudar e dar um exemplo a ponto de
despertar os que nos rodeiam. Sigamos em nossa transcendência alquímica ao
deslumbrar cada vez mais no alto uma porção da Verdade Universal.
NOTA:
[1] Disponível em nossos
websites.
3. Arnalene Passos do
Carmo
Agradeço pelo tema apresentado e pelas outras excelentes contribuições.
Estamos num momento que exige serenidade e o esforço maior de todos, e
principalmente para quem conhece a lei dos ciclos. Quando compreendemos a
evolução cíclica com sua constante renovação, repetindo-se nas devidas
proporções desde o mais elevado até o menos desenvolvido ser, nos recolhemos na
convicção de que Aqueles que guiam e sabem estão na linha de frente.
A teosofia explica que civilizações chegam e partem e a cada etapa, há novas
lições e maior desenvolvimento.
Estamos atualmente avançando em polos bem nítidos. Os acontecimentos
mostram de um lado uma degradação moral sem precedentes e do outro, um número
cada vez maior de pessoas fraternas e cuidadosas com o planeta e com tudo que
nele evolui. Crianças chegam com mais consciência que seus pais. Uma geração
mais ecológica e respeitosa com a vida cresce entre nós.
Eles chegam prontos em coisas que são difíceis para esta geração que
envelhece. É muito lindo aprender com crianças e com jovens. É um aprendizado
leve. De forma doída no entanto aprendemos com o que não devemos fazer. Com
este aprendizado enxergamos como se reproduz a ignorância, alimentada pelo
egoísmo que desonra a condição humana.
Vivendo na realidade brasileira, me esforço para não entrar na energia
pesada de revolta e confronto que paira no país. A luta é atenta porque quando
menos esperamos, somos abordados com imagens, piadas e discussões em nosso círculo
de relacionamentos. Fazer o melhor possível principalmente em condições
diversas, tem sido uma lição viva na vivência do ensinamento. Não é sempre que
tiramos boa nota e nestas ocasiões, o aprendizado é ainda mais vivo.
Em nosso primeiro encontro de equipe em Brasília, anos atrás, foi questionado
por diversas vezes: “Como seria carregar o mundo nas costas?” Penso que as perguntas
“o que mais está ao meu alcance fazer”, e “em qual esforço posso ir além do
possível” começam a ser repetitivas e a incomodar demais. Umas poucas gramas do
mundo chegam aos nossos ombros e, ao invés de tristeza, somos tomados por um
entusiasmo não conhecido até então. É hora de fazer mais e ir além do possível.
Cabe ouvir e ser conduzido pela consciência que fala sem palavras.
O parto é eminente e a hora soa. O foco é a quarta ruptura. Sinto que basta
um fio de luz para dissipar toda uma densa nuvem no coração de cada ser humano.
Nesta certeza devemos trabalhar incessantemente. Quero ressaltar estas palavras:
“Um grupo humano em que predomina a boa vontade reeduca a todos no sentido
de dissolver as causas do sofrimento e despertar a luz da intuição divina.” [1]
Gratidão por este grupo e pelos nossos encontros toda semana.
NOTA:
[1] Do texto “A Eficiência
no Trabalho em Grupo”, de Carlos Cardoso Aveline, publicado em nossos websites
associados.
4. Joana Maria Pinho
Agradeço pelo estudo e pelos excelentes comentários.
A decadência social e o despertar ético têm acelerado. As bases da
civilização atual estão ruindo mas novas bases e uma melhor civilização vêm
sendo construídas. Não há motivo para desânimo. Carlos escreveu:
“As civilizações passam: o ser humano permanece, renascendo sempre.” [1]
Os ciclos menores estão ligados aos grandes ciclos. Renascemos todos os
dias e cada renascimento traz a oportunidade para fazer melhor. Nosso esforço
deve ser dirigido para aquilo que faz realmente diferença - a ética, pois como
Blavatsky ensinou:
“...A Ética da Teosofia é muito mais importante que qualquer divulgação de
leis e fatos psíquicos. Estas leis e fatos se referem inteiramente à parte
material e passageira do homem setenário, mas a Ética é absorvida e guia o
homem real - o eu superior reencarnante.” [2]
No mundo inteiro vejo sinais evidentes de decadência ética e falta de visão
de futuro saudável. No entanto, também vejo um grupo crescente de indivíduos
cultivando o futuro luminoso. Penso que esse contraste reflete de certa forma a
luta interior daqueles que buscam a verdade.
A eficiência do trabalho coletivo depende do esforço de cada um de nós no
sentido do autoconhecimento e da alquimia interior. Estamos já fazendo muito
pelo despertar da ética e penso que mais pode ser feito. Sem cobrar dos outros,
mas cobrando de nós mesmos aquilo que sabemos ser correto e que ainda não
fazemos.
Pessoalmente, penso que posso fazer muito mais, sobretudo no plano interno.
Reconheço parte das minhas limitações e sei o que deve ser feito para
ultrapassá-las. Então por que adio dar novos passos?
Devo respeitar o ritmo com que absorvo e assimilo os ensinamentos. Porém,
pela vontade, pela pureza e perseverança, o ser humano é capaz de realizar o
extraordinário. Como Blavatsky escreveu: “…A autoconfiança é o primeiro passo
para aquele tipo de vontade que faz mover uma montanha.” [3]
Refletir sobre o propósito da nossa vida, sobre o trabalho que
desenvolvemos e a nossa responsabilidade, desperta-me ainda mais para a decisão
tomada no meu coração de dedicar minha vida à causa teosófica. Esse compromisso
ocorreu fortemente nos níveis superiores da consciência. Agora vejo que esse
compromisso precisa ser reafirmado diariamente para que todos os aspectos da
minha consciência trabalhem nesse sentido. É certo que os votos com o eu
superior funcionam por osmose. Mas é necessário que eu não boicote esse
processo e trabalhe em todos os sentidos para ser de fato um instrumento a
serviço da vida.
Até que ponto aceito a tarefa de carregar o mundo? Sei cuidar de mim ao
ponto de conseguir cuidar dos outros? Estou disposta a colocar de lado medos,
fantasias e ambições pessoais? Carregar o mundo não significa abdicar de mim.
Cada um de nós é também o mundo que carrega. No entanto se eu pensar apenas no
meu conforto, na minha jornada pessoal, desvio a atenção e a energia para o
chão em vez de colocá-las em frente e para o alto.
Tenho pensado sobre o que preciso para dar o salto. Não um salto cego e num
vazio, mas um salto da natureza que o Corpus
Hermeticum coloca:
“Mediante um salto que supere todos os corpos, adquire a condição do que é
imenso. Supera todos os tempos, converte-te na própria eternidade! Então
poderás compreender Deus [a Lei]. Aceita a ideia de que nada é impossível para
ti.” [4]
Carlos escreve no texto “Sabedoria Hermética no Século 21” sobre o que é
necessário:
“À medida que o indivíduo se liberta da ilusão das formas externas, ele
aprende a navegar no oceano insondável e sem limites da verdade suprema. No
mundo externo, ele se afasta gradualmente das ilusões teológicas criadas por
igrejas. Ele passa a vivenciar pessoalmente uma ética universal que resulta da
percepção da sua própria unidade individual com todos os seres. Ele sabe que o
universo é um ecossistema. Assumindo responsabilidade por seus atos e por tudo
o que lhe acontece, ele abandona a ignorância espiritual para cruzar o portal
da gnose, o conhecimento sagrado, a
sabedoria divina ou theos-sophia, que
o liberta gradualmente dos ciclos de vida inconsciente.” [5]
O subconsciente tanto pode ser o nosso melhor amigo como o nosso maior
inimigo. Devemos ampliar o olhar interior e ver os aspectos belos e menos
bonitos do nosso ser. Não é fugindo da feiúra que ela deixa de existir.
Reconhecer e observar a feiúra são passos fundamentais para que ela seja
transmutada em beleza. O ouro alquímico não está escondido numa montanha ou na
bacia de um rio. Sua descoberta não é fruto do acaso. Ele se obtém transmutando
materiais inferiores. Isso requer estudo, prática, tentar sempre o melhor na
direção da ética e da pureza original.
Como muitos autores afirmam, devemos ser o que queremos ver no mundo. É
dessa forma que a humanidade se transforma e avança. Somos o mundo e o mundo é
o que cada um de nós cultiva em seu interior.
NOTAS:
[1] Do texto “A História
Secreta da Humanidade”, de Carlos Cardoso Aveline. Disponível em nossos
websites associados.
[2] Palavras de HPB citadas
no texto “Não Há Religião Mais Elevada que a Verdade”, de Carlos Cardoso
Aveline.
[3] Do artigo “Extracts
From Private Letters”, de Helena P. Blavatsky, que pode ser encontrado em nossos
websites associados.
[4] Palavras citadas no
texto “Sabedoria Hermética no Século 21”, de Carlos Cardoso Aveline, disponível
em nossos websites.
[5] Do texto “Sabedoria
Hermética no Século 21”, citado acima.
5. Silvia Caetano de
Almeida
Gratidão pelo estudo extremamente valioso e pelos comentários
enriquecedores.
Estamos vivendo dias difíceis, em que a falta de ética e a corrupção são
vistas como algo quase natural por muitas pessoas, exatamente por faltar
conscientização entre os seres humanos que ainda se encontram em um sono
profundo. E isto se torna mais grave quando ocorre entre aqueles que se
encontram na liderança de grupos e nações.
Os questionamentos quanto à nossa contribuição para o despertar e o bem-estar
da humanidade são profundamente pertinentes.
Há muito por aprender, por crescer e por desapegar-se. É imperativo que
aqueles que vislumbram o despertar da nova era mantenham o padrão luminoso da
verdade acima das contingências, que são passageiras. Um futuro ético está
sendo construído. E cada um pode ser um centro de paz, a partir do qual muito
pode ser melhorado.
Agradeço pela oportunidade de refletir em grupo: para mim é uma bênção.
6. Emanuel Machado
Agradeço
a possibilidade de estar presente entre os amigos atentos, podendo partilhar
impressões acerca das vivências de cada um. As contribuições dos amigos, tanto
neste espaço como no e-grupo SerAtento e nas redes sociais - nas quais eu já
interajo com alguns - constituem valiosas lições que estão colaborando
significativamente no desenvolvimento de minha pacificação interior.
Sou
sinceramente grato.
Passo
agora a contribuir com algumas reflexões acerca das questões colocadas:
[1.Posso observar sinais evidentes de decadência?]
Sim. Nas últimas décadas verifica-se que ocorreu e ainda ocorre uma
sensível decadência de valores. Falando do meio em que vivo, vejo que há muito
poucas décadas o homem era capaz de extrair todo o sustento físico e espiritual
que precisava da própria natureza, possibilitando isso que ele levasse uma vida
saudável e longeva. Tal contato com a natureza se configurava como um convite à
contemplação e ao recolhimento sobre si mesmo. O homem era mais capaz de ouvir
sua voz interior, e inestimáveis discursos proferidos pelo ir e vir das marés,
pela lua brilhante sobre os rios, pelo curso dos ventos e das nuvens, e pelos
próprios animais. Infelizmente, os projetos industriais de desenvolvimentismo
da Amazônia trouxeram consigo o “progresso” e o consequente afastamento do
homem, da natureza e de si próprio. Essa é uma longa e triste história.
Atualmente a ignorância transformou as cidades em ambientes hostis à
civilidade.
Acredito que no mundo como um todo a degradação de valores se processe de
modo semelhante, haja vista as notícias que nos chegam através dos meios de
comunicação, sejam eles isentos ou não de interesses. Os conflitos que se
alastram pelo mundo, ocasionando atrocidades genocidas e crises com refugiados,
os atentados ao meio ambiente, o crime generalizado contra a pessoa humana e
contra a cultura clássica, a degradação política e social, são tristes exemplos
de que a humanidade não consegue lidar com a ignorância de uma enorme massa
populacional. Mesmo os governos mais bem-intencionados e organizados têm
dificuldades em gerir uma grande massa humana órfã. Um bom referencial sobre o
estado de coisas consiste no nível de educação e de cuidados que são
proporcionados às nossas crianças. Está tudo bem com elas?
Verifica-se, inclusive, que a própria natureza reage ao atual estado de
vibração da humanidade.
Por todo o exposto, entendo que de fato a humanidade chega a um grande
ponto de ebulição, em que ocorrerão sensíveis e dolorosas mudanças.
[2.Esta observação é isenta?]
As observações que faço partem de uma perspectiva realista dos fatos.
Procuro ter isenção, tentando observar os fatos como são. Apenas vejo o quanto
a humanidade órfã sofre. Acredito que a visão correta das coisas parte de uma
perspectiva serena, sob o olhar do Eu Superior.
[3.Vejo uma aceleração no desfazer-se da ética?]
A dinâmica social deste início do século chega a ser surpreendente. A
exploração dos recursos naturais, a evolução tecnológica, a densidade
demográfica, a concentração de recursos, o acirramento de conflitos, crescem
aceleradamente. O espaço para a teia ética, que deve permear as relações
sociais e o estado como um todo, deixa de existir na mesma velocidade. Isso de
fato é perceptível.
[4.Consigo identificar também sinais positivos de
renascer da vida no que ela tem de puro e honesto?]
Sem dúvida existem sinais positivos de renascer, bem como sinais de que
muitos valores nunca deixaram de estar presentes na humanidade. Quantos de nós
não convivem com, ou conhecem, pessoas confiáveis, justas, determinadas e
virtuosas? Quantos abnegados que conhecemos não contribuem voluntariamente para
promover ações altruístas? Posso falar pelas pessoas com quem tive contato e
que de fato confio que assim o são. Boas pessoas existem, meu coração já as
viu.
Nossa sociedade também fornece exemplos de tentativas de se civilizar.
Iniciativas populares procuram promover ações coletivas de defesa social,
preservação e defesa do meio ambiente, promoção da cultura e da Sabedoria, e de
amparo aos necessitados. Os exemplos que vemos são muitos. E nos enchem de
esperança em um futuro despertar da consciência coletiva do povo brasileiro. O
Brasil luta por civilidade. O largo arcabouço legal de nosso país não é um
exemplo disso? Nosso legislativo, embora alvo de ampla e notória degradação
ética, ainda foi capaz de organizar, ao longo de décadas um sistema de leis,
ainda carente, é verdade, de aperfeiçoamento, mas que procura primar pela
defesa social e do meio ambiente. São exemplos o Código Florestal, a Lei de
Crimes Ambientais, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso,
o Código de Defesa do Consumidor, a própria Constituição Federal, e tantos
outros dispositivos legais que se fossem plenamente observados, seriam capazes de
tornar o Brasil um país melhor.
É necessário que membros dos três poderes da República se façam imbuir de
referenciais virtuosos e espirituais, a fim de que desempenhem seu sagrado
papel de custodiar o estado e promover a civilização, de forma altruísta e
visando o bem comum.
[5.Como tenho lidado com este processo?]
Meu projeto de vida visa contribuir positivamente com o carma da
humanidade. Consigo ver três frentes de trabalho. A primeira se constitui em
servir ao Eu Superior, na forma de identificar e combater vícios, reconhecendo
as virtudes que lhes fazem frente; ler, estudar e reverenciar os clássicos,
principalmente os Mestres da Sabedoria; meditar e desenvolver a atenção,
ouvindo a voz do Eu Superior, adquirindo a serenidade para obter lições das experiências
positivas e negativas que se apresentarem.
Uma segunda frente de contribuição, a qual julgo ser consequência da
primeira, é a constante vigilância necessária à prática de tudo o que se
aprende. Por fim, e mais importante, vem a consciência de que o desenvolvimento
espiritual coletivo se sobrepõe a todo o resto. É necessário apresentar a
Teosofia a todos, seja na forma do exemplo pessoal de cada um ou de maneira
direta, com a apresentação de textos clássicos aos interessados. Mas sobretudo
passa por contribuir, mesmo que minimamente, para que todos os seres possam
desenvolver suas potencialidades latentes, tornando-se um pouco melhores e mais
felizes.
7. Conclusão
Agradeço pelas respostas e reflexões, escritas e pensadas. Elas enriquecem
a minha pesquisa do processo que a humanidade vive. Aprendo com elas. Penso que
este diálogo deve continuar presente em tudo o que fazemos, de modo falado e
também no plano contemplativo. O estudo desta semana mostra novos aspectos da
nossa responsabilidade compartilhada. Foi importante para mim ver nos
testemunhos de vocês uma confirmação independente de grande parte do que eu
também julgo perceber no carma atual da nossa civilização. Encerro o estudo
dando parabéns a todos pela profundidade e pelo conteúdo dos testemunhos. E agradeço
pela loja teosófica pioneira que vocês e os outros associados constituem.
(CCA)
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Leia também o artigo “Eficiência no
Trabalho em Grupo”, de Carlos Cardoso Aveline. O texto pode ser encontrado
em nossos websites associados. Para acelerar a reação em cadeia do despertar individual
e planetário, escreva para indelodge@gmail.com e pergunte como pode
participar do esforço teosófico.
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Veja aqui um vídeo de um minuto, produzido pelos nossos websites
associados:
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