Dez Ideias Úteis Para Usar A
Palavra Escrita Com Clareza e
Eficiência
Dad Squarisi
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Nota Editorial:
A busca da verdade inclui o uso
das palavras, e
o modo mais organizado de usar as
palavras ocorre
por escrito. Para um teosofista, redigir
é uma forma
de meditação, de reflexão e
produção de ideias.
Pensar, falar e escrever com
clareza são três funções
inseparáveis, e elas têm grande
importância no
caminho da sabedoria. Daí a
utilidade prática deste
texto da jornalista Dad Squarisi.
Ele foi publicado
no dia 04 de agosto de 2002 pelo
jornal “Correio
Brasiliense”, de Brasília. Do
texto original, omitimos
as primeiras linhas, que transcreviam a carta de um leitor.
(CCA)
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Redigir é técnica. Pode ser
aperfeiçoada. Nem sempre a atração reside no que você diz. Mas no jeito de
dizer. Uma frase particularmente elegante, capaz de veicular com clareza e
simplicidade a mensagem que você quer transmitir, é conquista pessoal,
exercício diário de desapego e humildade.
William
Strunk, professor de altos estudos da língua inglesa, costumava dizer: “A prosa
vigorosa é concisa. A frase não deve ter palavras desnecessárias, nem o
parágrafo frases desnecessárias, pela mesma razão que o desenho não deve ter
linhas desnecessárias, nem a máquina partes desnecessárias. Isso não quer dizer
que o autor faça breves todas as suas frases, nem que evite todo detalhe, nem
que trate seus temas só na superfície: apenas que cada palavra conta”.
Os
segredos do estilo mais eficiente podem ser resumidos em dez preceitos.
UM
Seja
natural: fique à vontade. Imagine que o leitor esteja à sua frente. Converse
com ele. Não fale difícil. Espaceje suas frases com pausas. Confira ao texto um
toque humano. Você está escrevendo para pessoas.
DOIS
Vá
direto ao assunto: não enrole. Comece pelo mais importante. E comece bem, com
uma frase atraente, que lhe desperte o interesse e o estimule a prosseguir a
leitura. No final, dê-lhe o prêmio - um fecho de ouro, como inesquecível
sobremesa a coroar um lauto almoço.
TRÊS
Use
frases curtas: a pessoa só consegue dominar determinado número de palavras
antes que os olhos peçam uma pausa. A frase muito longa dá trabalho, confunde.
Por isso, use sentenças de, no máximo, uma linha e meia. Lembre-se: uma frase
longa nada mais é do que duas curtas.
QUATRO
Prefira
palavras breves e simples: vocábulos longos e pomposos funcionam como cortina
de fumaça entre você e o leitor. Seja simples. Entre duas palavras, prefira a
mais curta. Entre duas curtas, a mais simples. Em vez de falecer, escreva
morrer; em lugar de somente, só; de matrimônio, casamento; de féretro, caixão;
de morosidade, lentidão.
CINCO
Ponha as
sentenças na forma positiva: diga o que é, não o que não é. Quer exemplos? “Não
ser honesto” é “ser desonesto”; “não lembrar” é “esquecer”; “não dar atenção”
é “ignorar”; “não comparecer” é
“faltar”; “não pagar em dia” é “atrasar o pagamento”.
SEIS
Opte
pela voz ativa: ela é mais direta, vigorosa e concisa que a passiva (a passiva,
como o nome diz, parece sem força, desmaiada). Prefira “um raio provocou o
blecaute” a “o blecaute foi provocado por um raio”.
SETE
Abuse de
substantivos e verbos: escreva com a convicção de que no idioma só existem
essas duas classes de palavras. As demais, sobretudo adjetivos e advérbios,
devem ser usadas com a sovinice do Tio Patinhas. Na dúvida, deixe-os pra lá:
(Normalmente) ao escrever textos (informativos), use substantivos (fortes) e
verbos (expressivos).
OITO
Seja
conciso: não diga nem mais nem menos do que você precisa dizer. Cultivar a
economia verbal sem prejuízo da completa e eficaz expressão do pensamento tem
dupla vantagem. Uma: respeita a paciência do leitor. Outra: poupa tempo e
espaço.
NOVE
Dê clareza
às citações: dificultar a compreensão do texto é colocar uma pedra no caminho
do leitor. Para quê? Facilite-lhe a vida. Nas declarações longas, não o deixe
ansioso. Identifique o autor imediatamente antes da citação ou depois da
primeira frase.
Veuillot
ensina: “É preciso escrever com a convicção de que só há duas palavras no
idioma – o substantivo e o verbo. Ponhamo-nos em guarda contra as outras
palavras.
Ou: “É
preciso escrever com a convicção de que só existem duas palavras no idioma: o
substantivo e o verbo”, ensina Veuillot. “Ponhamo-nos em guarda contra as
outras palavras.”
Nas
declarações curtas, identifique o autor no começo ou no fim da fala:
“Toda
questão tem dois lados”, escreveu Pitágoras.
Pitágoras
escreveu: “toda questão tem dois lados”.
DEZ
Escolha
termos específicos: há palavras mais precisas do que outras. “Gato siamês” é
mais singular do que simplesmente “gato”;
“homem” mais do que “animal”; “laranjeira” mais que “árvore”; “árvore”
mais do que “planta” ou “vegetal”.
Escrever
“foi um período difícil” constitui uma vagueza. “Estive desempregado durante
três meses” dá o recado.
Não foi
por acidente que Gonçalves Dias compôs: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta
o sabiá”. Se tivesse dito “minha terra tem árvores / onde canta o pássaro”,
seus versos estariam mortos e enterrados. Sem direito a missa.
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Veja também, em nossos websites
associados o artigo “A Arte de Fazer
Anotações”.
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Para conhecer um diálogo documentado
com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos
Cardoso Aveline.
Com 28 capítulos e 170 páginas, a
obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb.
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