Cada Coisa que Vemos
Mostra Uma Parte
de Nós Mesmos
Augusto de Lima
O
autor, em foto publicada na biografia
“Augusto
de Lima, Seu Tempo, Seus Ideais” (MEC, 1959)
A
Araripe Junior
Ao nascer cada um
recebe
um
prisma risonho ou triste;
por
ele vê quanto existe
na
própria impressão que bebe.
Não
raro a vista mais fina
se
ilude, e aquilo que vemos
é
uma imagem que trazemos
impressa
em nossa retina.
Se,
as costas à luz voltadas,
andamos,
eis que adiante
uma
sombra itinerante
nos
guia em nossas jornadas.
Falas
aos ecos? As frases
dos
ecos soltas, disjuntas,
são
outras tantas perguntas
às
perguntas que lhes fazes.
Conosco
os destinos jogam,
mudando
os berços em lousas
interrogamos
as cousas
e
as cousas nos interrogam.
Se
lanças teus olhos, a esmo,
em
qualquer ponto da terra,
cada
fenômeno encerra
uma
porção de ti mesmo.
Mas,
se na vaga defesa
da
alma deres um mergulho,
apesar
do teu orgulho,
naufragarás
com certeza. [1]
Nessa
vaga escura, imensa,
morrerás,
novo Leandro [2],
mesmo
vestindo o escafandro
quer
da razão, quer da crença!
NOTAS:
[1] O eu inferior “naufraga”,
desde o ponto de vista do egoísmo, e “morre” no mundo da ignorância espiritual, para renascer na
dimensão da verdade, que é transcendente. (CCA)
[2] Referência a um mito
grego que aponta para a necessidade da presença da infinitude no amor. Leandro
amava Hero, sacerdotisa de Afrodite que vivia numa cidade do outro lado de um
curso d’água. Todas as noites Leandro atravessava as águas para encontrar-se
com Hero, sendo guiado pela luz que ela acendia no alto da casa dela. Numa das
travessias uma tempestade apagou a chama, tornando impossível que ele
encontrasse o caminho. Além disso, em meio à intensa tormenta, Leandro se
afoga. Na manhã seguinte a jovem Hero vê o cadáver do amado e lança-se às águas
para juntar-se a ele na morte. O mito ensina que o amor vai além do plano
físico, e a morte simboliza o abandono do egoísmo. (CCA)
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O poema acima é reproduzido de “Poesias”, Augusto de Lima, Editora H.
Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver pp. 133-134. A ortografia
foi atualizada.
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Para conhecer um
diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500
anos, leia o livro “Conversas na
Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.
Com 28 capítulos e
170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de
Blumenau, Edifurb.
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