Poema do Final do Século 19 Faz 
Defesa Pioneira do Ambiente Natural
Augusto de Lima
Páginas
de abertura da obra que contém o poema “Visita a uma Mineração”
00000000000000000000000000000000
Nota
Editorial de 2016:
Décadas antes de Henrique Luiz 
Roessler [1], Augusto de Lima era já um 
defensor ativo do meio ambiente no Brasil.
O poema a seguir foi escrito no século 19 
e reeditado em 1909 no volume “Poesias”.
(Carlos Cardoso Aveline)
000000000000000000000000000000000000
Duro penhasco, abre teu seio duro,
em que a luz primitiva adormecera;
o aço da Indústria, o cetro do futuro,
abutre novo, as fibras te lacera. 
E eis já rasgada funda galeria, 
túmulo aberto da avareza insana,
onde nunca chegaste, ó grande Dia,
mas onde chega a intensa força humana.
Partindo aos estilhaços o veeiro,
a dinamite  à rocha dá
combate, 
e em compassados golpes o mineiro
a retumbante picareta bate. 
Um estampido, - e lasca-se o granito,
outro tiro, - e o granito rola em seixos. 
Das máquinas de ferro ao forte atrito, 
rincham as rodas nos candentes eixos. 
E a rica flora mineral desata
e rompe o véu ao rútilo tesouro:
- brota o esmeril, em fios corre a prata, 
floresce a gema, abrem-se rosas de ouro. 
Feérica visão, mas verdadeira.
Aqui fantástico alvanel [2]
gravara,
em fino esmalte, na época primeira, 
plástica ideal da perfeição avara. 
Colunas, arcarias, arabescos 
brilham, para que a Memória [3]
nos esconda
os fabulosos paços principescos, 
e os tesouros de Ofir [4]
e de Golconda [5]. 
Creso [6] da Lídia,
foste um miserável, 
também, Lúculo [7], um
miserável foste, 
Alhambra, arquitetura detestável, 
Coluna de Vendôme, humilde poste. 
O íris compõe-se em luz, a luz se coalha
e decompõe-se em íris, e de novo 
cintila, ora na luz que o raio espalha, 
ora na suave cor da gema de ovo. 
Em cimbre augusto a abóbada suspendem 
palmeiras de cristal e bronze e cobre;
racimos de ouro de seus troncos pendem, 
entre a enroscada silva que as encobre. 
E com a picareta e o camartelo [8],
o Homem que tem da criação o reino, 
de destruir o esplêndido castelo, 
novo Átila fatal, nada detém-no. 
Demole, arrasa e quebra e faz escombros, 
e ei-lo de novo ascende em áurea insânia, 
levando sobre os suarentos ombros 
os espólios da flora subterrânea.
E toda aquela maravilha imensa, 
que de espanto  e de luz nos
embebeda, 
se apouca, se constringe e se condensa
no disco miserável da moeda!
NOTAS:
[1] Veja
em nossos websites associados o artigo “Roessler, um Pioneiro da Ecologia”, de
Carlos Cardoso Aveline.
[2]
Alvanel: operário que trabalha com pedras. 
[3] No
original, “porque a Memória…” tem o sentido de “para que a Memória…”.
[4] O
nome “Ofir” aparece na Bíblia judaica e designa uma terra onde se recolhia
ouro.
[5]
Golconda: cidade e fortaleza em ruínas da região central da Índia, conhecida
por seus tesouros.
[6]
Creso: rei da Lídia.
[7] Lúculo:
político e militar romano do século I. 
[8]
Camartelo: um tipo de martelo terminado por uma parte em gume e a outra em
forma esférica ou quadrangular. É usado como instrumento de demolição.
000
O poema acima foi
reproduzido do volume “Poesias”,
Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver
pp. 104-106. A ortografia foi atualizada.
Sobre o custo sociológico
e ambiental da atividade mineradora, veja em nossos websites associados o conto
“A Mina de Prata”, de Selma
Lagerlöf.
000
Sobre a ecologia da
mente e a teosofia do ambiente natural, veja o livro “A Vida Secreta da Natureza”, de Carlos Cardoso Aveline. 
A obra foi publicada
pela Editora Bodigaya, de Porto Alegre, tem 157 páginas divididas por 18
capítulos, e está na terceira edição, de 2007.
000
 


 
