A Sabedoria Teosófica Em
Um Poema de Christina Rossetti
Carlos Cardoso Aveline
Na terceira e
última parte do livro “A Voz do Silêncio”, vemos a referência a um Caminho que
é -
“…Íngreme
e serpenteia morro acima; sim, até o seu topo rochoso.” [1]
A
mesma imagem aparece em outras obras da literatura teosófica. No parágrafo
final de uma Carta, um Mestre de Sabedoria escreve a um discípulo leigo sobre o
problema da impaciência durante o estudo de teosofia:
“Você
escolheu uma tarefa para uma vida inteira, e por algum motivo, em vez de
generalizar, você se fixa em alguns detalhes que são extremamente difíceis para
um principiante. Fique atento, meu bom Sahib. A tarefa é difícil e K.H., em homenagem aos velhos tempos, quando gostava de
recitar poesia, pede-me que encerre a carta com o seguinte, para você:
O caminho serpenteia montanha acima o
tempo todo?
Sim, até o final.
E o trajeto de cada dia toma o dia todo?
Da manhã à noite, meu amigo.” [2]
Desde
que o Mahatma escreveu esta carta, em 1882, os mesmos versos foram citados várias
vezes na literatura teosófica. Helena P. Blavatsky usa-os na abertura do seu
notável artigo intitulado “O Progresso Espiritual”. [3]
A
autora dos versos, Christina Rossetti (1830-1894), está entre os poetas mais populares
da Inglaterra do século 19.
Segundo
um estudioso de literatura, Christina “teve na própria vida a prova de seu
poder de renunciar: viveu com muito pouco, segundo os critérios mundanos, na
esperança e na expectativa de uma recompensa mais completa. (.....) Com 24 anos
de idade, durante a guerra da Crimeia, quis ser enfermeira voluntária (….);
rejeitada, trabalhou entre os pobres de Londres. (....) Depois de 1873, sua
saúde piorou e ela dedicou-se cada vez mais aos escritos religiosos.” [4]
O poema
“Up-Hill” (“Montanha Acima”) é vivencial e merece ser lido na íntegra:
O caminho serpenteia montanha acima o
tempo todo?
Sim, até o final.
E o trajeto de cada dia toma o dia inteiro?
Da manhã à noite, meu amigo.
Mas há, durante a noite, um local de
descanso?
Um teto para quando começam as lentas horas escuras.
A escuridão não irá escondê-lo de mim?
Não poderás perder esse abrigo.
Encontrarei outros peregrinos à noite?
Aqueles que partiram antes.
Devo então bater à porta, ou chamar,
quando estiver à vista?
Eles não te deixarão esperando à porta.
Cansado e fraco, encontrarei conforto?
Encontrarás a recompensa do trabalho.
Haverá camas para mim e para todos os que
buscam?
Sim, camas para todos os que vêm. [5]
O
que se planta, se colhe: o “abrigo”, o “teto” e o “local de descanso” simbolizam
o bom carma e o mérito dos peregrinos.
NOTAS:
[1] “A Voz do Silêncio”, de Helena
P. Blavatsky, edição completa online dos nossos websites associados, ver
aforismo 233, p. 30.
[2] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta 42, p. 193.
[3] “O Progresso Espiritual”, artigo
de Helena P. Blavatsky, disponível em nossos websites.
[4] Martin Corner, da Kingston University, na introdução
do volume “The Works of Christina Rossetti”, The Wordsworth Poetry Library,
Wordsworth Editions Limited, Kent, Reino Unido, 450 pp., 1995, p. VI.
[5] “The Works of Christina Rossetti”, The Wordsworth
Poetry Library, p. 194.
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O artigo acima está disponível em inglês em nossos websites associados sob o
título de “The Up-hill Road”. A
tradução ao português é de Joana Maria Pinho.
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Em setembro de 2016 um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas. Duas
das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir
um futuro saudável.
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