Confiança, Otimismo, Universalidade
Carlos Cardoso Aveline
Existe no céu uma fonte gigantesca de fé em nós mesmos,
que viaja acima das nuvens há eras insondáveis. O poderoso planeta Júpiter, o
mestre do otimismo, passa um ano em cada signo do zodíaco e tem uma relação
direta com a religião e a filosofia.
A energia irradiada pelas inteligências coletivas deste
gigante celestial expande a nossa visão das coisas e estimula a ação positiva.
Sua luz espalha aquele sentimento de amizade universal por todos os seres que
foi ensinado pela antiga escola pitagórica, e que constitui a meta primordial
do movimento teosófico moderno.
Quinto planeta a contar do Sol, Júpiter é muito mais
evoluído que a nossa Terra. Helena Blavatsky escreve:
“Se, por exemplo, a Filosofia Esotérica ensina que o
‘Espírito’ (também coletivo) de Júpiter é muito superior ao Espírito Terrestre,
isso não ocorre porque Júpiter é tantas vezes maior que o nosso planeta, mas
porque a sua substância e sua textura são muito mais finas que as da Terra, e
superiores.” [1]
Regente de Sagitário e corregente de Peixes, Júpiter
demora 12 anos a completar o seu ciclo orbital em torno do Sol. A sua
influência astrológica sobre indivíduos e comunidades estimula a capacidade de
construir novas estruturas. O planeta protege aqueles que acreditam em si
mesmos e na sabedoria universal. No entanto, vários desafios aparecem quando
sua energia divina encontra a nossa humanidade. É preciso evitar a indulgência
e permanecer longe do exagero. Devemos ter a quantidade adequada de moderação e
autocontrole.
Stephen
Arroyo afirma:
“Historicamente,
Júpiter tem sido associado ao rei, ao patriarca e ao chefe dos deuses em vários
panteões. Também se relaciona com o princípio divino da preservação e do crescimento
grandioso. Júpiter é conhecido como a ‘grande fortuna’ ou ‘grande benéfico’,
enquanto Vênus é o ‘pequeno benéfico’. Júpiter é visto como o patrono dos
filósofos, dos teólogos, dos líderes morais, dos líderes de campanhas e pensadores
especulativos de todo tipo. É difícil para nós hoje imaginar a visão grandiosa
que os povos antigos tinham de Júpiter, e provavelmente é impossível sentir
atualmente o assombro com que esta força ou (divindade) cósmica era
experimentada.” [2]
Referindo-se à antiguidade, H. P. Blavatsky traça esta
visão comparativa de planetas:
“…Se tem sido demonstrado que Marte era visto pelos [astrólogos pagãos] antigos simplesmente
como a força personificada da Divindade mais impessoal, Mercúrio [era] personificado como a sua onisciência,
Júpiter como sua onipotência, e assim sucessivamente.” [3]
Também é útil fazer uma
comparação com Saturno.
Enquanto Júpiter é o planeta do
Dharma e da potencialidade, Saturno é o mestre do Carma e da responsabilidade. O
astro do otimismo ensina sobre a construção do futuro; o senhor dos anéis (ou
ciclos) transmite lições do passado.
Saturno, Júpiter e o Selo de Salomão
Júpiter inspira confiança na
Vida; Saturno é o mestre da cautela e da perseverança. Um convida à
transcendência; o outro exige respeito pela ordem e pelas estruturas, e faz com
que saibamos a melhor maneira de construir sobre solo firme. Os dois
instrutores trabalham em uníssono com o conjunto do sistema solar: nossa vila
celestial é uma escola esotérica - uma escola de almas.
A
Onipotência de Júpiter ajuda os humanos a perceberem a sua unidade com o
universo. Porém, a ética é tão importante quanto o otimismo. Blavatsky cita
estas palavras de Eliphas Levi:
“No
simbolismo teológico (….) Júpiter [o Sol] é o Salvador erguido e glorioso, e Saturno,
o Deus Pai, o Jeová de Moisés.” (‘Dogme et Rituel’, ii)
Helena
Blavatsky destaca o fato de que o Filho e o Pai, Júpiter e Saturno, “são
portanto um só”.[4] Em seu livro de
1996 sobre Júpiter, Stephen Arroyo registra o fato de que o símbolo de Saturno
é “essencialmente o mesmo símbolo de Júpiter, com o lado de cima colocado para
baixo”. [5]
Saturno
olha para o mundo inferior com severidade, e Júpiter olha para o que é elevado,
com otimismo.
A
polaridade sagrada corresponde aos dois triângulos entrelaçados do Selo de
Salomão ou Sri Yantra da tradição hindu, em que um aponta otimisticamente para
o céu, e o outro indica com rigor a Lei que rege a Terra.
Um
Mahatma dos Himalaias explica:
“O
duplo triângulo, visto pelos cabalistas judeus como o Selo de Salomão, é, como
muitos de vocês certamente sabem, o Sri-yantra
do Templo Ariano antigo, o ‘mistério dos mistérios’, uma síntese geométrica de
toda a doutrina oculta.”
E
o sábio oriental acrescenta:
“Dos
triângulos entrelaçados, o que aponta para cima é a sabedoria oculta, e o que
aponta para baixo é a Sabedoria revelada
(no mundo fenomênico). (…..) Cada triângulo é uma trindade porque apresenta um
aspecto tríplice.” [6]
Para
alcançar um Otimismo durável tal como ensinado por Júpiter, é preciso estudar e
aprender as lições do realismo e da autorresponsabilidade, cujo professor é
Saturno. Não há bem-aventurança a menos que possamos merecê-la. Júpiter
transmite entusiasmo a Saturno em nossas almas, assim como Saturno ajuda
Júpiter em nossas vidas, dando a ele prudência e método.
Stephen
Arroyo escreve:
“Ao
contemplar as qualidades e aspirações profundas que Júpiter representa em
astrologia, é inevitável sentir que a grandeza
de Júpiter e a sua visão ampla estão inextricavelmente ligadas à perene busca
humana por uma verdade maior e por uma experiência de unidade com o universo. Em
nenhum outro planeta, talvez (e em nenhum outro signo além de Sagitário, que é
governado por Júpiter), encontramos uma combinação tão natural, tão espontânea
e tão óbvia do físico com o não-físico; a aspiração material por melhorar a
nossa situação está unida com a preocupação libertadora e com os sonhos
elevados, ideais, inspirações e causas éticas.” [7]
Júpiter,
o Salvador, ajuda a produzir uma síntese abençoada entre terra e céu.
A
inteligência do planeta combina a existência física com a transcendência
espiritual, e torna melhores as ações espontâneas, na medida em que também
estiver presente o autocontrole. Quando as lições de Júpiter são corretamente
associadas com as de Saturno e de outros instrutores do sistema solar, as
pessoas começam a praticar uma generosa renúncia ao mundo da cobiça material e
do exagero, enquanto expandem a sabedoria e o contentamento no reino ilimitado
das almas.
O Caminho do Contentamento
Desde
o ponto de vista da filosofia esotérica, seria errada a ideia, defendida
aparentemente por Stephen Arroyo, de que a influência do planeta Mercúrio
representa a mente inferior, enquanto as energias de Júpiter expressam a
inteligência universal.[8]
Dane
Rudyard e outros astrólogos importantes também vinculam Mercúrio à “mente
analítica”. A ideia pode funcionar bem no plano psicológico de curto prazo,
enquanto o tema estiver limitado às personalidades; mas constitui um sério erro
desde a perspectiva teosófica, porque os estudantes de filosofia esotérica não
podem negar nem esquecer que todos os corpos celestes importantes são
setenários.
Em
teosofia clássica, cada planeta é completo e inclui os sete níveis de
consciência. Mercúrio, o sagrado mensageiro dos deuses, é um planeta
integralmente iluminado, embora também inspire uma visão ambígua e fragmentária
da vida, sempre que o foco da alma se
reduz aos níveis inferiores de percepção.
Mercúrio
não está de modo algum limitado à mente inferior, assim como Júpiter não está
limitado aos níveis superiores de consciência. O Sol, a Lua e todos os planetas
do nosso sistema influenciam tanto Buddhi-Manas (a mente universal) como
Kama-Manas (a mente animal). Naturalmente, eles também produzem efeitos nos
aspectos físicos da vida.
Apesar
disso, Arroyo está certo ao ver uma forte influência de Júpiter sobre os níveis
elevados do pensamento humano.
Ele
escreve:
“Uma
característica especialmente importante de Júpiter em mitologia, assim como na
interpretação astrológica de Júpiter, é a ligação deste planeta com o que era
chamado com frequência, tradicionalmente, de ‘mente mais elevada’.” E Arroyo
esclarece que a “mente mais elevada” de Júpiter não é irracional; ela é uma
forma de razão, mas razão inspirada. [9]
As
influências emitidas pelo planeta têm muito em comum com a substância da teosofia
moderna. Donna Cunningham usa as seguintes palavras-chave para definir a ação
jupiteriana:
“Onde
nós buscamos a verdade; filosofia, religião; conhecimento, sabedoria; a mente
elevada; o mestre.” [10]
A
mitologia está intimamente associada à percepção astrológica, e Isabelle Pagan escreveu
em seu livro “Signs of the Zodiac
Analysed”:
“Júpiter
é portanto o representante que governa a ‘Mente Divina’ na mitologia dos tempos
clássicos, e é consequentemente saudado como o ‘Ótimo Máximo’. O seu
equivalente no mundo grego é tratado com igual reverência, porque o Zeus de
Homero é o Maior e o Melhor entre todos os deuses, e aquele que inspira a maior
devoção; o Deus da Luz, da Justiça e da Verdade; o Pai dos Deuses e dos homens.
Ele domina todos os planos, porque seu pensamento compreende todas as coisas.
Uma vibração da sua poderosa vontade faz o universo inteiro tremer.” [11]
O
pensamento antecede os fatos externos, abre o caminho para eles e prepara as ações.
Nuvens de pensamento correto irão “chover”, mais cedo ou mais tarde, na forma
de fatos objetivos sobre o solo da realidade concreta.
E
se as ideias precedem os acontecimentos, deve ser verdade que o otimismo planta
as sementes da felicidade.
Júpiter,
o planeta do futuro, transmite uma confiança filosófica na Vida. Ele ensina a
humanidade a trilhar o caminho do contentamento enquanto aprende a aprender as
lições dadas pelos outros instrutores da nossa aldeia solar.
Resgatando os Aspectos Abençoados de Júpiter
Para
melhorar a substância média do seu carma acumulado, a humanidade deve
aperfeiçoar a sua interação com a dimensão sutil do nosso sistema solar.
O
modo como nossa civilização se relaciona com as influências astrológicas que
nos chegam dos planetas, e a maneira como nós em geral olhamos para os
“professores do céu” precisam ser radicalmente melhorados. Júpiter é um exemplo
disso.
Stephen
Arroyo escreve:
“Muitas
das expressões mais positivas de Júpiter estão fora de moda atualmente, porque
as preocupações de Júpiter são em grande número de casos o oposto dos
interesses racionalistas e analíticos de Mercúrio, e do enfoque detalhado que
Mercúrio tem em relação à vida.”
Vimos
acima que na realidade Mercúrio não está de modo algum preso a um “enfoque detalhado”,
exceto quando visto desde o plano mental inferior. Assim como as influências superiores
dos vários planetas são bloqueadas pelo Carma da ignorância humana, também
Mercúrio é ignorado e distorcido em seus aspectos mais elevados.
Arroyo
faz uma vigorosa defesa da dimensão nobre do maior planeta do nosso sistema
solar:
“Temas
e qualidades [jupiterianos] como
ética, nobreza, franqueza, altruísmo e elevação mental são na verdade
catalogados quase como coisa antiga e fora de moda, atualmente, porque a mídia,
assim como os estabelecimentos educacionais, esconderam estas preocupações
generosas sob grossas camadas de desprezo, e riram delas como se fossem
irrelevantes desde o ponto de vista da nossa era ‘científica’, individualista
(isto é, egocêntrica).”
Incapaz
de ver Júpiter em seus aspectos mais verdadeiros e elevados, nossa civilização
interage com o planeta de maneiras infelizes.
Arroyo
acrescenta em uma nota de rodapé:
“Muitas
das manifestações mais negativas de Júpiter, no entanto, são destacadas,
idealizadas e até promovidas no mundo de hoje: a arrogância, as crenças
religiosas intolerantes, a cobiça, os ‘estilos de vida dos ricos e famosos’, o
culto da celebridade como se ela fosse uma meta valiosa em si mesma, um estilo
de vida exagerado onde reina o desperdício e que puxa constantemente o cidadão
para fora do seu centro e para longe dos seus deveres, empurrando-o para
trivialidades como se ele fosse uma criança. Há um crescimento e desenvolvimento
econômico excessivo, às custas da atmosfera terrestre, da herança
arquitetônica, do meio ambiente, etc. Podemos inclusive dizer que a expressão
negativa de Júpiter está exemplificada na sociedade ocidental de hoje.” [12]
O
progresso social depende da regeneração do indivíduo. O renascimento espiritual
de um cidadão ajuda a preparar o renascimento espiritual de todos.
Em
nosso constante diálogo com os planetas deste sistema solar, é dever de cada um
resgatar e expandir os aspectos sagrados da sua interação individual com o
cosmos.
NOTAS:
[1] H.P. Blavatsky, “Collected Writings”, TPH, Vol. X, p.
342, ou também “Transactions of the Blavatsky Lodge”, Theosophy Co., Los
Angeles, p. 50.
[2] Do livro “Exploring Jupiter”, de Stephen
Arroyo, CRCS Publications, Sebastopol, Califórnia, EUA, copyright 1996, 300
pp., ver p. 9.
[3] “Souls of the Stars - Universal Heliolatry”, em “Collected
Writings”, H.P. Blavatsky, TPH, EUA, volume XIV, ver p. 335.
[4]
“Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, volume XIV, p. 339, veja o texto
intitulado “Souls of the Stars - Universal Heliolatry”.
[5] “Exploring
Jupiter”, de Stephen Arroyo, CRCS Publications, Sebastopol, CA, EUA, copyright
1996, 300 pp., ver p. 15.
[6] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica,
Brasília, edição em dois volumes, 2001, ver volume II, Carta 111, pp. 213-214.
[7] “Exploring
Jupiter”, de Stephen Arroyo, CRCS Publications, ver p. 10.
[8]
“Exploring Jupiter”, Stephen Arroyo, CRCS Publications, ver pp. 16 a 28.
[9]
“Exploring Jupiter”, p. 14.
[10] “How
to Read Your Astrological Chart”, Donna Cunningham, Samuel Weiser, Inc., York
Beach, Maine, 1999, 204 pp., ver p. 123.
[11] Citado em “Exploring Jupiter”, mesma página 14.
[12]
“Exploring Jupiter”, Stephen Arroyo, ver p. 01.
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“A Luz e a
Força de Júpiter” é uma tradução do artigo “The Light and Power of Jupiter”, que está disponível em nossos
websites associados.
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Em 14 de setembro de 2016, depois
de uma análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu criar a Loja
Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um
futuro saudável.
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